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2 AS TRANSEXUAIS E TRAVESTIS LIGADAS AO GRUPO

3.2 O papel dos direitos humanos na construção de um espaço adequado para o “ser

“Diversidade” do Município de Cruz Alta-RS como exemplo

Pontualmente, o estudo encaminha-se em analisar a tradição dos oprimidos, numa perspectiva crítica sobre a estrutura do poder soberano e as implicações da biopolítica nos Estados modernos. Aos indesejáveis, o Estado dispõe a ambiguidade de reservar-lhes direitos ao mesmo tempo em que os abandona. Os “inadequados” não merecem a vida, tampouco a sua morte merece ser lamentada, eis que suas ações não condizem com os padrões estipulados para o “bom convívio” em sociedade e suas condutas proliferam a desordem.

Ao analisar as relações de poder estabelecidas ao longo da história, Foucault (2010) identifica a existência de dois distintos momentos, que marcam diferentes características: primeiramente, destaca-se o poder de um soberano, que, na sociedade contemporânea, transmutou-se para a esfera do biopoder.

Neste último, a articulação entre as categorias modernas do poder relaciona-se com as questões de gênero, sendo atributos necessários para o desvendamento da desigualdade de gênero e da subordinação feminina, o que submete ao enfrentamento acerca da violência através da microresistência. Agamben (2010, p. 118) sustenta que

antes de emergir impetuosamente à luz do nosso século [século XX], o rio da biopolítica, que arrasta consigo a vida do homo sacer, corre de modo subterrâneo, mas contínuo. É como se, a partir de um certo ponto, todo evento político decisivo tivesse sempre uma dupla face: os espaços, as liberdades e os direitos que os indivíduos adquirem no seu conflito com os poderes centrais simultaneamente preparam, a cada vez, uma tácita porém crescente inscrição de suas vidas na ordem estatal, oferecendo assim uma nova e mais temível instância ao poder soberano do qual desejariam libertar-se.

Pensar as relações de gênero articuladas com as relações de poder sugere o debate da visibilidade trans, eis que tal categoria fornece subsídios analíticos para o entendimento das identidades relacionadas à ordem social. A travestilidade e a transexualidade são experiências relacionadas à identidade, socialmente construídas.

No viés da biopolítica, a sexualidade é um dos dispositivos de controle, inseridos na sociedade, circunstancialmente, orientados para a (re)produção de subjetividades. Estes mecanismos sustentam questões de ordem masculina ou feminina, calcados na binariedade das coisas. Através destes dispositivos articulam-se os modos de vida e a adaptação dos sujeitos, subjugando os corpos não adaptáveis pela sujeição do sexo masculino ou feminino. No entanto, percebe-se que, ao serem formadas em resistência às normas de gênero, como é o caso da microresistência do Grupo Diversidade, determinados sujeitos são socialmente marginalizados, restando vulneráveis a violências físicas e simbólicas. Como ressalta Castro (2014, p.104), a importância da sexualidade reside no situar do “cruzamento entre dimensão das disciplinas e a biopolítica, e desse modo, permite articular os dois eixos do biopoder”.

Talvez o adequado não seja simplesmente dizer que gênero esteja relacionado à noção de poder, mas sim que gênero é fundado nesta relação: gênero deve ser concebido como uma relação de poder e não uma posição fixa atribuída às pessoas. E ainda ressaltamos que ser mulher, do mesmo modo que ser homem, não são modos de viver universais, nem mesmo quando se toma como exemplo uma única pessoa: esta pessoa vive de modos variados o que supõe ser a sua vida. (LIMA; MÉLLO, 2012, p. 191).

O exemplo da resistência dos sujeitos trans do Grupo Diversidade do município de Cruz Alta/RS é uma espécie de enfrentamento à biopolítica, considerando que travestis e transexuais são, diariamente, classificados na categoria da indisciplina e relacionados à figura do homo

reconhecimento do direito de existir, revela a face política do Estado quando efetiva/promove o sustentáculo do estado de exceção:

Esta cultura, por sua vez é que reproduz a ilegitimidade das políticas de segurança pública do Estado Brasileiro que rotulam como inimiga, parcela da população, como forma de justificar e legitimar uma atuação penal violenta, seletiva e opressora, estas, incompatíveis com a atual conformação do Estado Democrático de Direito no Brasil. (RESENDE, 2015, p. 77).

Desguarnece do estado de exceção o papel dos Direitos Humanos, no sentido de internalizar a atuação para/na construção de um espaço adequado para o “ser tal” das travestis e transexuais na sociedade contemporânea. Os sujeitos trans enfrentam as questões de gênero e conquistam, de grão em grão, espaços no ambiente social. A classe não é um dado abstrato, portanto, não se está a falar somente de um direito de minoria, eis que a partir do reconhecimento da igualdade esses sujeitos são “acolhidos” através do princípio da dignidade da pessoa humana. O alcance dos Direitos Humanos deve basear-se amplamente no reconhecimento de ser aquilo que se é, no íntimo da alma e da identidade humana, independente da condição de gênero, mas pela “constituição de regras de convivência e de organização da comunidade política que asseveram as liberdades individuais e impõem limitações e deveres de ação ou omissão ao Estado.” (SALES, 2010, p. 01).

A obra de Agamben (2013) ressalta o sujeito “qualquer”, despido de preconceitos e ordens, de modo singular, para o fazer parte do todo. Essa comunidade não tem nada a ver com o comunismo ou o comunitarismo, mas sustenta uma união de sujeitos com suas características próprias, relacionando a construção de novos ideais políticos.

Para o autor (2013), o ser “qualquer” não supõe a singularidade na sua indiferença, como em relação a uma propriedade comum determinando a um conceito, como por exemplo: o ser vermelho, francês, muçulmano, etc., mas apenas no íntimo do seu ser, tal qual é. Outrossim, tal “singularidade liberta-se assim do falso dilema que obriga o conhecimento a escolher entre o carácter inefável do indivíduo e a inteligibilidade do universal.” (AGAMBEN, 1993, p. 11). Destarte, o ser tal é aquele revelado através da singularidade do indivíduo, assim como ocorre pela singularidade do amor, cuja condição de pertença não é pré determinada por qualquer predicado. Ou seja:

Porque o amor nunca escolhe uma determinada propriedade do amado (o ser-louro, pequeno, terno, coxo), mas tão-pouco prescinde dela em nome de algo insipidamente genérico (o amor universal): ele quer a coisa com todos os seus predicados, o seu ser tal qual é. Ele deseja o qual apenas enquanto tal – este é o seu particular fetichismo. Assim, a singularidade qualquer (o Amável) nunca é inteligência de algo, de

determinada qualidade ou essência, mas apenas inteligência de uma inteligibilidade. (AGAMBEN, 1993, p. 12).

As singularidades dos sujeitos e a condição de pertença remete-nos ao ser tal na comunidade trans, tendo em vista que a identidade de cada sujeito trans não se configura pelo sexo masculino ou feminino, contrapondo toda a divisão binária do certo ou errado e do bem ou do mal, pois decorre da condição humana do sentir-se como um sujeito qualquer. O desapego à questão de sexo, de gênero e de rotulação vai ao encontro da comunidade que vem, compreendendo que o

sucesso da teoria dos conjuntos na lógica moderna nasce do facto de a definição de conjunto ser simplesmente a definição da significação linguística. A compreensão num todo M de cada um dos objectos distintos m não é mais do que o nome. Daí os paradoxos inextricáveis das classes, que nenhuma <<grosseira teoria dos tipos>> pode pretender reduzir. Os paradoxos definem, na verdade, o lugar do ser linguístico. Este é uma classe que pertence e, ao mesmo tempo, não pertence a si própria, e a classe de todas as classes que não pertencem a si próprias é a língua. (AGAMBEN, 2013, p. 15).

Neste norte, não é o ser trans, mas o ser dito trans, aquele que é definido em propriedades e influenciado pela dogmática artificial do controle. Essas singularidades impostas expropriam- se de toda a identidade, pois sugerem a questão de pertença condicionando cada indivíduo.

Contrapondo a abrangência dos direitos para todos, a sociedade atual caracteriza-se por uma massa humana em busca da realização pessoal: “cidadãos dóceis e submissos sempre foram e continuam sendo o ideal de nossos governantes. Não é à toa que nossa geração vive a era do individualismo.” (DREHER, 2008, p. 244). Surge então, a dogmática relativa à questão do pertencimento, da possibilidade de ser em qualquer lugar, e, o encontro deste lugar num mundo de pertenças estipuladas como num jogo de quebra-cabeças, cujos atos são penalizáveis e condutas repreendidas pelo esquema de estigmatização do outro – a sacralidade utilizada nos julgamentos faz parte deste enredo binário entre o sacro e o pecado:

Deus, ou o bem, ou o lugar, não têm lugar, mas são o ter-lugar dos entes, a sua íntima exterioridade. Divino é o ser-verme do verme, o ser-pedra da pedra. Que o mundo seja, que algo possa surgir e ter rosto, que existam exterioridade e não-latência como determinação e limite de cada coisa: é isto o bem. Assim, é precisamente o seu ser irremediavelmente no mundo aquilo que transcende e expõe cada ente do mundo. O mal é, pelo contrário, a redução do ter-lugar das coisas a um facto igual aos outros, o esquecimento da transcendência inerente ao próprio ter-lugar das coisas. Em relação a estas, o bem não está porém num outro lugar: é simplesmente o ponto em que elas alcançam o seu próprio ter lugar, tocam a sua intranscendente matéria. Neste sentido - e apenas nele -, o bem deve ser definido como uma auto-apreensão do mal, e a salvação como o próprio facto de o lugar advir a si próprio. (AGAMBEN, 1993, p. 20).

Por este viés, considerando que o pertencimento é uma condição que transcende aos sujeitos, pontua-se em que medida a condição de travesti ou transexual produz, em um contexto de heteronormatividade, a “vida nua” desta população?

A biopolítica exposta por Agamben (2010) é referenciada por Souza (2014) quando exposta a “luta” da vida e das formas da vida contra o poder, pressupondo que a condição da identidade trans rompe com a padronização imposta pelo Estado, que ao manifestar a vida biológica no centro de seus cálculos, atua com a intenção de (re)conduzir o vínculo artificial que une o poder à (re)produção da vida nua – a exceção funciona como um dispositivo de captura entre o direito e a vida. Nessa perspectiva, Souza (2014, p. 412) evidencia que

a função básica dos dispositivos é a subjetivação e dessubjetivação dos viventes capturados e tornado sujeitos, e no capitalismo atual, com o excesso de dispositivos, estes processos ‘[...] parecem tornar-se indiferentes e não dão lugar a recomposição de um novo sujeito, a não ser de forma larvar e, por assim dizer, espectral’.

Diante disso, o soberano na biopolítica moderna é aquele que decide sobre o valor ou

desvalor da vida enquanto tal, se o poder do soberano captura o valor e influencia a conditio de

violência para determinados contingentes populacionais, ao revelar a nudez da identidade trans, ele reproduz o desvalor da vida, e, nesta sistemática, decorre a exclusão destes sujeitos denominados como homo sacer. O poder determinado como plural

se exerce em práticas heterogêneas e sujeitas a transformações: isto significa que o poder se dá em um conjunto de práticas sociais constituídas historicamente, que atuam por meio de dispositivos estratégicos que alcançam a todos e dos quais ninguém pode escapar, pois não se encontra uma região da vida social que esteja isenta de seus mecanismos. Tais considerações questionavam a concepção tradicional, jurídico-política, do poder como instância unificada na figura do Estado e do Soberano, ativo apenas no sentido vertical, de cima para baixo, impondo, por meio da repressão e da lei que diz ‘não’, o espaço do possível e do permitido. (DUARTE, 2011, p. 04).

No intuito de reverter essa simbiose entre a sacralidade da vida, a microresistência do Grupo Diversidade caminha na contramão de tudo o que é visivelmente exposto pela ordem – cuja exposição dá-se em nome do Estado, divulgada no ambiente religioso e intensificada pelos meios de comunicação. No intuito de desvelar a normalidade do “ser tal”, o papel dos Direitos Humanos em relação à comunidade trans é (re)construir a dignidade do ser determinado como inimigo.

Sobretudo, num contexto exacerbado de heteronormatividade, como é o caso do Brasil, qualquer forma de resistência à ordem é acintosamente determinada como um ato contrário ao curso normal da vida – a naturalização de padrões héteros é uma construção abstrata do estado

de exceção. Outrossim, uma uniformidade de sujeitos reduz todos a condição de obediência, isto é, o ápice da ordem é a sociedade formada pela docilidade de todos os corpos.

Acerca da sustentação de micropoderes, Saffioti (1999) relata que o sexo feminino lida “melhor” com a noção de resistência, pois as mulheres não se intimidam com a incapacidade no âmbito da macropolítica,

quando se apercebem de que há uma profunda inter-relação entre a micropolítica e a macropolítica, elas podem penetrar nesta última com grande grau de sucesso. Na verdade, trata-se de processos micro e processos macro atravessando a malha social. [...] Evidentemente, há uma malha grossa e uma malha fina, uma sendo o avesso da outra e não níveis distintos. E as mulheres sabem como tecer a malha social, operando em macro e em microprocessos. (SAFFIOTI, 1999, p. 05).

Ressalta-se, pontualmente, que a visibilidade conquistada pelo Grupo Diversidade do município de Cruz Alta/RS é um exemplo de microrresistência inserido no campo da macropolítica. Neste sentido, há de se destacar que o Grupo Diversidade é um conjunto independente, composto por gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais, na cidade de Cruz Alta/RS. O grupo reúne-se algumas vezes no ano para debater acerca de temáticas que estejam em pauta no ambiente social, discutindo sobre a inserção da comunidade trans e a aceitação dos membros do grupo na esfera municipal.

Tal atuação desenvolve a visibilidade do grupo diante da biopolítica (re)produzida com a conduta “normal” de estigmatização dos sujeitos. O grupo foi criado no ano de 2006 e é presidido por Leandro Dal Forno. No âmbito político, Everlei Martins é membro do grupo e vereador, sendo que sustenta a ponte da identidade trans com o legislativo da cidade.

Em dezembro de 2017 o Grupo Diversidade desenvolveu uma “mateada” sobre a diversidade, explorando as múltiplas heterogeneidades do “ser tal” de modo informal, e, também, distribuindo folders com informações acerca da diversidade de gênero, além de orientar acerca do uso de preservativos, bem como realizar a sua distribuição. Uma cultura difundida pelo conjunto é a comemoração do carnaval, utilizando-se do espaço de fala para expor a participação do grupo nos eventos realizados pelo município, esclarecendo, desta forma, a condição do viver trans na sociedade.

Salienta-se ainda, que o grupo promove todo o ano a escolha da “Corte da Diversidade”, ou seja, aqueles que representam a classe de gênero trans em todo o Estado. De modo complementar, Sales (2010, p. 01) orienta que “tem-se os direitos humanos como um produto cultural, extraído da marcha progressiva da história das sociedades humanas”.

Para Duarte e César (2011, p. 154) as comunidades plurais são espaços políticos comuns, designadas pelo “caráter alternativo em relação às instituições democráticas formais,

espaços nos quais as práticas e discursos dos agentes políticos são considerados em vista de sua capacidade para potencializar e singularizar a experiência democrática contemporânea”. As comunidades trans, são, portanto, uma reação/resistência às relações de poder inseridas no contexto social, cujo projeto analítico determina-se pela dominação dos corpos, a partir da dominação destes,

sendo pensado como o campo de batalha no qual se travam conflitos cotidianos entre as exigências da normalização disciplinar institucional e as linhas de fuga da resistência. Os micro-poderes disciplinares investem e atuam sobre o corpo, penetram o corpo, forjam-no. Em síntese, a disciplina é um a forma de organização do espaço e de disposição dos homens no espaço visando otimizar seu desempenho, bem como é uma forma de organização, divisão e controle do t empo em que as atividades humanas são desenvolvidas, com o objetivo de produzir rapidez e precisão d e movi mentos. (DUARTE, 2011, p. 07).

O Grupo Diversidade é exemplo de comunidade plural, no qual os agentes estão em movimento devido à sua capacidade de interação na vida pública/política, compartilhando novos saberes e, também, disseminando as novas formas de vida social – sustentadas em conflito às experiências hegemônicas. A aceitação da forma de comunidade plural não enfatiza a formação de consensos e entendimentos mútuos abrangentes e estáveis, mas age também no intuito de harmonizar todos os sujeitos, unificados numa espécie de totalidade social, pois não estamos a falar somente sobre imposições por meio da intolerância e da exclusão de certos grupos sociais, privações de direitos ou da possibilidade de viver uma vida digna (DUARTE; CÉSAR, 2011).

Enfatiza-se, sobretudo, que pensar o “ser tal” significa pensar toda a comunidade trans “enquanto instâncias geradas pelas ações e discursos dos agentes dos novos movimentos sociais e dos coletivos autônomos, é pensar a pluralidade dos vínculos que unem tais agentes priorizando a performance de seus atos e palavras, para além da ênfase exclusiva na obtenção de resultados práticos previsíveis.” (DUARTE; CÉSAR, 2011, p. 155). Para Agamben (1993) todos os corpos têm em comum o fato de exprimirem o atributo divino da extensão, e, neste sentido, a extensão abrange o que é comum, mas isso não significa que esta tenha a tarefa de constituir a essência de uma coisa singular. Sustenta-se, portanto, a ideia de uma comunidade “inessencial”, (in)definida por uma

conformidade que não diz de modo nenhum respeito a uma essência. O ter-lugar, a

comunicação das singularidades no atributo da extensão, não as une na essência, mas

dispersa-as na existência. Não é a indiferença da natureza comum em relação às singularidades, mas a indiferença do comum e do próprio, do género e da espécie, da essência e do acidente que constitui o qualquer. Qualquer é a coisa com todas as suas

propriedades é o que individua e dissemina as singularidades, as torna amáveis (quodlibetais). Tal como ajusta palavra humana não é nem a apropriação de algo comum (a língua) nem a comunicação de um próprio, assim o rosto humano não é nem a individuação de uma facies genérica nem a universalização de traços singulares: é o rosto qualquer, no qual o que pertence à natureza comum e o que é próprio são absolutamente indiferentes. (AGAMBEN, 1993, p. 22-23, grifos do autor).

Diante disso, Duarte e César (2011, p. 155) ampliam a concepção de comunidades plurais, deslocando as “abordagens convencionais dos movimentos sociais que os enfocam exclusiva ou prioritariamente segundo a ótica jurídico-política da luta por reconhecimento e conquista de direitos, ou segundo a ótica econômica da avaliação das perdas e ganhos dos sujeitos”. A política democrática pós Constituição de 1988 compreende o exercício da cidadania a todos os sujeitos, bem como a liberdade, e, esta, comporta as dimensões expressivas e criativas que excedem as esferas do direito e da economia, cujas nuances determinam a identidade do sujeito na sociedade contemporânea. Acerca das estratégias biopolíticas, os autores exaltam o pensamento de Foucault (1996),

[...] na medida em que nos permite pensar uma articulação entre vida e política de caráter não identitário e não redutível à esfera jurídica, orientando-se, antes, pela noção de resistência contra as mais variadas estratégias biopolíticas de captura do sujeito no mundo contemporâneo, desde aquelas organizadas no nível da gestão estatal das populações até aquelas organizadas pelo mercado econômico neoliberal em sua capacidade de produzir desejos, aspirações coletivas e modos de vida. (DUARTE; CÉSAR, 2011, p. 156)

O novo conceito da ordem, abrange (ou deveria!), de modo democrático, a inter-relação das identidades dos sujeitos, articulando a existência das comunidades plurais e a estética desenvolvida neste meio, tendo em vista que as práticas e/ou discursos dos agentes dos novos movimentos sociais de minorias (como por exemplo feminista e LGBT) vislumbram exercícios refletidos de crítica e de liberdade.

Tal atuação amplia os horizontes para além da figura conceitual do sujeito, que além de reivindicar direitos fundamentais através da ação redefinida por discursos em concepções de caráter identitário ou essencialista, (re)pensa a comunidade no plural – o papel dos Direitos humanos é assegurar as “práticas ético-políticas de uma estética da existência contemporânea, marcadas pela enunciação de um discurso público, verdadeiro e corajoso, e pela invenção de novas formas de vida e de amizade entre os agentes.” (DUARTE; CÉSAR, 2011, p. 156).

Como um esforço para (re)afirmar o reconhecimento do outro, o objeto a ser difundido pelos Direitos Humanos calcado está na liberdade de viver a vida do sujeito determinado como inimigo pela padronização social. Ao explicitar as contribuições a serem alcançadas no âmbito dos Direitos Humanos, a sensibilidade e a sociabilidade norteia

a potência singular das ações e dos discursos dos agentes dos novos movimentos sociais ao entender tais práticas e discursos não como o resultado da manifestação de uma essência ou identidade previamente existentes, mas como o exercício de práticas

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