• Nenhum resultado encontrado

A Comissão de Implantação constituía se no fórum de discussão e decisão sobre os rumos do projeto. Questões que iam desde a seleção e capacitação das famílias acolhedoras até o dia a dia do trabalho com as famílias, tanto as de origem como as acolhedoras, eram matéria de discussão durante todo o processo.

A SMADS era responsável pela coordenação geral do projeto, além de assumir as ações de divulgação e de articulação da rede de proteção social encarregada de atender às necessidades da criança, adolescente e famílias.

Além da indicação de crianças e adolescentes para participarem do projeto, cabia ao Judiciário formalizar o acolhimento, a partir da realização de uma audiência com a família acolhedora e da assinatura de um documento em que ela se comprometia com o processo.

Bruno e Luiz foram indicados para o acolhimento pelo Poder Judiciário, por meio das Varas da Infância e Juventude do Foro Regional de Santo Amaro, em conjunto com os abrigos, já que suas mães mantinham contato com eles, visitando os com freqüência, o que indicava a manutenção de vínculo, aspecto importante, já que um dos critérios para a indicação era a possibilidade de retorno à família de origem. Desta indicação não participaram, portanto, os demais parceiros.

Foi o Judiciário também que determinou a guarda provisória da criança ou adolescente em benefício da família acolhedora e acompanhou os casos por meio de relatórios e das reuniões da Comissão. O Instituto de Terapia Familiar de São Paulo ITFSP, por sua vez, foi responsável pela dimensão técnica do projeto, tendo como função selecionar, capacitar e atender às famílias antes, durante e após o

acolhimento. O Instituto atuou também no processo de desabrigamento da criança e do adolescente e na aproximação deles às famílias acolhedoras.

Após a pré seleção no CRAS, as famílias acolhedoras foram encaminhadas para a seleção no ITFSP, que levava em conta, para tanto, a motivação das famílias, o entendimento sobre a transitoriedade da medida, a compreensão da não possibilidade de adoção e, ainda, a impossibilidade de a criança ou o adolescente constituir se numa tentativa de solução para os problemas familiares.

Era observado, ainda, como a família organizava sua história, a comunicação verbal e não verbal dos seus membros, o desenvolvimento do ciclo vital familiar, a rede social e institucional a que pertenciam, entre outros aspectos psicossociais.

A responsável pelo ITFSP, Tai Castilho, comenta que, entre a indicação do abrigo, a concordância do Judiciário e o desenrolar do processo burocrático, até que o juiz convocasse a família, passaram se mais dois meses.

Esse tempo inviabilizou um acolhimento, pois a situação da família candidata mudou, não sendo mais a mesma de quando havia sido avaliada. Há uma morosidade entre a indicação e o início do trabalho do ITFSP; até chegar a ordem do juiz para começar o processo de acolhimento. Várias tentativas de apressar esse processo foram feitas, mas em função das instâncias inter setoriais e da rede isso era difícil. (Tai Castilho)

Depois de realizada a seleção, teve início a capacitação das famílias. Os principais temas abordados foram: legislação, noções sobre dinâmica do desenvolvimento infanto juvenil, dinâmica familiar e ciclo vital da família e suas transições, reflexão sobre a criança e o adolescente institucionalizado, reflexão acerca do acolhimento (negociação de conflitos, limites, regras de convivência, garantia de vínculos já existentes anteriormente, condições do subsídio financeiro), narrativas de histórias e experiências de acolhimento, sobre o respeito às diferenças culturais, além de outros temas, entre eles especialmente o dos aspectos relativos ao retorno da criança ou adolescente à sua família de origem, principalmente quanto às implicações, para a família acolhedora, do processo de separação.

O acompanhamento do processo junto às famílias acolhedoras se deu por meio de encontros quinzenais e, quando necessário, semanais, tanto na sede do ITFSP como em visitas domiciliares.

Para as famílias de origem, a abordagem foi diversa. Elas foram atendidas em terapia familiar incluindo a criança ou adolescente. A terapia com as famílias se pautava em acolher seu sofrimento, apoiar o acesso à rede de proteção social e ajudar na busca de alternativas para o seu desenvolvimento, entre outras questões.

O Instituto de Terapia Familiar de São Paulo encaminhava relatórios mensais para o Poder Judiciário sobre o andamento dos casos e para a SMADS sobre a estrutura do projeto (seleção de famílias, capacitação, etc.).

A análise e encaminhamentos dos casos eram discutidos na Comissão.

Os casos eram discutidos na Comissão. Todos os passos que o Instituto deu com relação às famílias; as visitas domiciliares, as sessões de terapia, [...] por exemplo, já havia passado um tempo que Bruno estava acolhido quando a equipe se deu conta, numa visita domiciliar, que ele dormia de mãozinha dada, num bercinho de criança pequenininha [...] isto tudo era discutido na comissão. (Tai Castilho)

A diretora do ITFSP comenta também a dinâmica da comissão, em que as discussões, muitas vezes, acabavam em conflitos entre as instituições, mas sempre se tentava chegar a um consenso. Houve apenas uma vez, durante todo o processo, a necessidade de votação na comissão.

[...] houve uma votação quando as técnicas do Instituto não concordaram que Laura e sua mãe dessem uma entrevista na TV, porque consideramos que elas estavam num momento muito delicado e expor sua dor seria uma coisa muito delicada. Mas houve uma reação do pessoal de divulgação da SMADS que achava que tinha que divulgar o programa. Nós levamos para a comissão que votou contra a ida das pessoas para a TV. Os votos de todas as instâncias tinham o mesmo peso. (Tai Castilho)

Apesar dos conflitos, o desenvolvimento do trabalho, as reuniões e as discussões trouxeram ganhos, já que houve uma maior articulação e reconhecimentos mútuos.

A responsável pelo Instituto comentou que uma discussão sobre a seleção de uma família acolhedora pode trazer elementos para a equipe fazer uma reflexão. Em princípio, as técnicas do Instituto tinham dúvidas com relação ao ingresso de determinada família no projeto. Os membros da comissão levantaram questões que fizeram as técnicas refletirem se não estariam idealizando a família acolhedora, o

que as fez repensar a questão do perfil das famílias. Para Tai Castilho, “apesar dos conflitos, houve muito aprendizado na comissão”.

Realizavam se reuniões semanais da equipe do ITFSP, em que eram discutidos os casos e se decidia sobre os encaminhamentos necessários. Todo o trabalho era pautado na metodologia relacional sistêmica e nas decisões da Comissão Central do projeto.

/$')% F 0 % $ ! % & '& #$ " !%& % % &&% %)2!" #$% & &' -G & %&&/F !&

%#F!FH# ! "!)!

Neste capítulo será discutida a prática do projeto piloto à luz dos referenciais teóricos, realizando se também alguns paralelos com outras experiências e estudos sobre acolhimento comentados no primeiro capítulo. Trata se de uma tentativa de efetuar aproximações com o objeto de estudo: o convívio e seus componentes em um projeto público de acolhimento familiar.