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Ao longo desta primeira fase do estágio estive a acompanhar o trabalho desenvolvido pelo SE, com o objetivo de aprender, compreender, refletir e analisar as suas lógicas de trabalho. Para além desse acompanhamento, participei noutras ações do MME/FACE, fora do âmbito direto do SE. Serão aqui destacados os principais eventos e atividades profissionais, que acompanhei até dezembro de 2018 e janeiro de 2019.

Após a fase inicial de inserção no terreno comecei a verificar, progressivamente, algumas melhorias relativamente ao meu papel no SE/FACE e na forma como os profissionais encaravam a minha presença, especialmente a equipa do SE.

“Outro ponto relevante no dia, foi a Beatrizter aceitado a minha sugestão de alterar a foto do evento no Facebook sobre a Festa do Outono, em Serralves. Isso foi um pequeno passo, mas importante, pois foi a primeira vez que aceitaram, de uma forma direta, uma sugestão minha.” (NT6, de 20/9/2018)

Neste sentido, foi igualmente importante o pedido de colaboração que me fizeram, o primeiro “convite” para participar com o SE na “Festa do Outono” em Serralves, no fim de setembro de 2018. Foi a primeira participação do SE nesse evento, tendo ido em representação da Câmara Municipal de Espinho (CME). O facto de prontamente me ter disponibilizado para participar foi reconhecido, tendo também ajudado a equipa nos preparativos necessários, embora não tenha tido qualquer influência na opção da atividade que foi desenvolvida (NT7- 8).

“Pelo que me disseram, as indicações/orientações de Serralves foram limitadas, tendo apenas sido transmitido ao SE que a atividade teria de ser relativa ao Outono. Assim, optaram por fazer um origami de uma concha por ser alusivo à cidade de Espinho, bem como ao outono na praia, (…) chamar a atenção para as alterações que acontecem na praia durante o outono, tais como o maior aparecimento de pássaros e os “tesouros do mar” – conchas, búzios, algas, etc. Para além da preparação do material para a atividade, estivemos a construir umas grinaldas, enfeitadas com diferentes origamis – com formas de conchas, estrelas-do-mar, peixes e barcos - para decorar o espaço e demonstrar o que é possível criar/construir com os origamis.” (NT7, de 25 e 27/9/2018)

45 Paralelamente às visitas e sessões específicas do SE, participei em várias montagens de diferentes exposições, tendo feito o acompanhamento da logística e das lógicas de organização inerentes a esse tipo de processo. A principal e mais importante ação que acompanhei nesta fase, foi a exposição “Amadeo de Souza-Cardoso – Exposição de Pintura com o Tributo de Artistas Consagrados e Emergentes” (anexo 1), de homenagem e comemoração do centenário da morte do pintor Amadeo, que decorreu de final de outubro a meados de dezembro de 2018.

Relativamente à exposição sobre Amadeo, acompanhei as lógicas de planeamento e organização do evento, incluindo as reuniões da equipa (NT13 e 15). Essa foi uma exposição de grande dimensão, englobando “85 obras de diversos artistas emergentes e consagrados, bem como uma obra original de Amadeo” (NT13). Colaborei igualmente na montagem da exposição e na receção de obras (NT10, 12 e 14). A inauguração decorreu no dia 25 de outubro, tendo-me sido “atribuída a função de gerir a venda dos catálogos ao público, bem como assegurar a entrega dos catálogos aos artistas que tinham as suas obras expostas na exposição” (NT16).

“O ambiente presente era bastante cerimonioso e, de certa forma, intimidante. Quem nunca tivesse ido ou não costumasse frequentar eventos artísticos semelhantes, poder-se-ia sentir um pouco excluído e à parte. Era evidente que estava perante uma elite do meio artístico, um público “entendido” e habituado a frequentar esse tipo de eventos. A grande maioria das pessoas presentes eram os próprios artistas, as suas famílias e amigos, e elementos da CME.” (NT16, de 25/10/2018)

A participação no dia da inauguração suscitou alguns questionamentos relativamente ao que observei. Apesar de não ter sido possível discutir estas questões com a equipa do MME/FACE, parece-me pertinente partilhá-las aqui a título de reflexão: O público que esteve na inauguração achou esse momento marcante ou significativo? E ao nível educativo? De que forma poderiam ser pensadas e implementadas medidas que tornassem uma inauguração, não só uma ação cultural e artística, como também educativa? Seria possível alargar o(s) tipo(s) de público que vão assistir a inaugurações? Não seria positivo pensar em estratégias de recolha de informações e opiniões do(s) público(s) que visitam o MME/FACE, incluindo nos dias de inaugurações?

Estas questões associam-se a algumas problemáticas que já foram identificadas anteriormente e a outras que ainda serão discutidas, fruto do meu papel enquanto observadora participante.

46 Considerando a dimensão desta exposição, com inúmeras obras de elevado valor, foi necessária uma política de segurança mais “apertada”. Por esse motivo, “acedi em fazer 4 sábados” (NT13, de 15/10/2018), nos quais estive a trabalhar na receção, no atendimento ao público. Isso permitiu-me ter um contacto direto com o público, tendo falado com diferentes pessoas e percebido melhor de onde eram, de que forma souberam e os motivos pelos quais tinham decidido ir visitar a exposição e o MME/FACE.

“A maioria dos visitantes de hoje foram famílias e pessoas de mais idade. (…) Muitas pessoas disseram-me que tinham sabido desta exposição pela comunicação social (…). A maioria dos visitantes era de Espinho e arredores (zona metropolitana do Porto), apesar de alguns virem de outras zonas do país. Uma boa parte nunca tinha visitado o museu ou apenas tinha lá ido uma vez, incluindo espinhenses. Isto veio confirmar o que eu já me tinha apercebido, que um dos grandes problemas do MME é não conhecer os seus públicos, não apostando no desenvolvimento de estratégias nem para conhecer, nem para alargar e adequar a oferta aos diversos tipos de público. Além disso, existe ainda uma enorme dificuldade ao nível da comunicação acerca dos projetos e atividades do MME – uma grande parte das pessoas não têm conhecimento sobre o que é/será feito no MME/FACE - , o que associado ao ponto anterior demonstra o longo caminho que ainda é necessário percorrer.” (NT17, de 27/10/2018)

Uma outra experiência muito relevante para mim, associada a esta exposição, foi ter podido participar na desmontagem e devolução/entrega das obras de arte. Para isso foi necessário ir a várias cidades, em diferentes pontos do país, bem como lidar com alguns imprevistos. Apesar de não ter sido uma ação no âmbito do SE, nem com uma componente educativa, permitiu-me adquirir uma boa noção da logística e organização necessárias neste tipo de funções, não deixando de ser uma importante aprendizagem para quem intervém na área da cultura.

“Fiquei a compreender melhor os procedimentos envoltos no retorno/devolução das obras, a importância de existir uma boa organização prévia, nomeadamente ao nível das informações das obras, de onde é necessário deixá-las e quem deverá recebê-las, bem como os cuidados de segurança necessários para o transporte das obras. Embora não seja um trabalho visível para o público do MME, é de extrema importância e responsabilidade pois, se acontecer algum problema, pode pôr em causa toda a exposição.” (NT25, de 21/12/2018)

47 Contudo, o SE também prestou apoio ao nível da montagem e da inauguração desta exposição dedicada a Amadeo de Souza-Cardoso. Em seguida, continuou a desenvolver as suas sessões, em especial visitas guiadas à exposição, nas quais também participei (NT23 e 24). A pedido da instituição, elaborei ainda um pequeno roteiro para ser implementado numa visita guiada à exposição (apêndice 1), porém não chegou a ser realizado da maneira que tinha sido pensado, acabando por não ter expressão do ponto de vista do processo global de estágio e da reflexão que aqui apresento.

Posteriormente, em novembro, o SE foi dar apoio à equipa da Promoção Cultural da CME e à Cooperativa Nascente, no “Festival Cinanima – Festival Internacional de Cinema de Animação de Espinho”. Eu também dei alguns contributos, nomeadamente na montagem e desmontagem de uma exposição integrada no festival, bem como na banca de vendas da Cooperativa (NT9, 19, 20, 21 e 22).

A inauguração da exposição “Amadeo”, os “sábados” e as sessões do SE foram ocasiões significativas ao nível do contacto e relacionamento com os públicos e a comunidade. Escutar os seus interesses e sugestões, perceber as suas necessidades e formas de comunicação, para poder adequar e melhorar a oferta, é essencial num trabalho de mediação cultural num museu. Todos estes fatores têm, precisamente por isso, uma dimensão educativa.

Nesta fase do estágio a minha intervenção acabou por ter, por vezes, um cariz mais instrumental e mecanizado. Este ponto, associado ao acompanhamento das práticas profissionais, é o principal motivo que distingue esta fase do estágio da segunda, sendo que essa se carateriza por uma intervenção e papel mais ativos da minha parte.

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