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POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS PARA A EDUCAÇÃO DO CAMPO

O PAPEL DA IDEOLOGIA NO PROCESSO DE EXPANSÃO DA IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS

Jackson Batista Oliveira1

José Rubens Mascarenhas de Almeida2

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objetivo apresentar as principais características do processo de expansão da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) situando sua gênese e expansão na sociedade brasileira do último quartel do século XX e inicio do século XXI. Para tal, destacamos o papel do discurso ideológico da Teologia da Prosperidade neste processo.

A Igreja Universal foi fundada na cidade do Rio de Janeiro pelo então funcionário da Loteria do Rio de Janeiro, Edir Macedo Bezerra, em parceira com seu cunhado Romildo Ribeiro Soares (que rompeu com a Universal em 1980) no ano de 1977. Em 1989, com apenas 12 anos de existência, a IURD já possuía 571 templos espalhados pelo Brasil e no exterior (MARIANO, 2005, p. 65). Além disso, no mesmo ano, seu líder adquiriu a TV Record pelo valor de 45 milhões de dólares. Ao longo dos quase 40 anos de existência da IURD, Edir Macedo, graças a sua igreja, construiu um verdadeiro império e tornou- se o pastor mais rico do Brasil com uma fortuna estimada em 950 milhões de dólares (ANTUNES, 2013).

Atualmente, a Universal possui em torno de 10 mil pastores, mais de 5 mil templos espalhados pelo Brasil, 1,8 milhões de fieis em solo brasileiro e o ocupa o lugar de 4ª maior igreja protestante do país (IBGE, 2010). A IURD também é proprietária de diversas 1 Licenciado em História pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), mestrando no Programa de pós-graduação em Memória: Linguagem e Sociedade, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), componente do Grupo de Estudos de Ideologia e Luta de Classes (GEILC). E-mail: jb_oliveira@ hotmail.com.

2 Orientador. Pós-doutor pela Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM); doutor em Ciências Sociais pela PUCSP; docente do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em Memória: Linguagem e Sociedade, ambos da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, campus de Vitória da Conquista (PPGMLS/UESB); coordenador do GEILC/CNPQ e pesquisador do NEILS (Núcleo de Estudos de Ideologia e Lutas Sociais). E-mail: joserubensmascarenhas@yahoo.com.br

emissoras de rádio, editoras, gravadoras, jornais e revistas.

A rápida expansão da Universal deu-se, em grande parte, devido ao financiamento obtido pelas constantes doações em dinheiro, ofertadas por sua base de fiéis. Contudo, esta base é formada majoritariamente por pessoas oriundas dos estratos mais baixos do proletariado brasileiro (MARIANO, 2005, p. 59). Diante disso, este trabalho tem por justificativa aprofundar os estudos sobre a seguinte questão: de que maneira pessoas tão pobres foram capazes de financiar, através de doações monetárias, este processo de expansão?

METODOLOGIA

Em nosso breve estudo sobre as principais características do processo de expansão da Igreja Universal do Reino de Deus, analisamos a estrutura material da Igreja e as interações dos seus adeptos entre si e com o restante da sociedade. Para isso, utilizamos o Materialismo Histórico-Dialético como método de análise.

Ao abordarmos o fenômeno religioso na expansão da Igreja Universal, temos que ter em mente que este ocorre dentro da sociedade capitalista. Nela o trabalho perde o caráter de atividade pela qual “o homem se cria a si mesmo” (KONDER, 1998, p. 29), “se faz diferente da natureza, se faz um autêntico ser social, com leis de desenvolvimento histórico completamente distintas das leis que regem os processos naturais” (LESSA e TONET, 2011, p. 17-18), transformando-se em trabalho alienado. A alienação impõe aos trabalhadores condições de trabalho que não são assumidas livremente por eles.

Dentro deste quadro, a ideologia cumpre um papel fundamental. Esta, de acordo com a ótica marxista, trata-se de um “ocultamento da realidade social”, um meio pelo qual as classes dominantes “legitimam as condições sociais de exploração e dominação, fazendo com que pareçam verdadeiras e justas” (CHAUÍ, 2006, p. 25-26). De acordo com Marx e Engels, o fenômeno ideológico inverte a percepção que temos da realidade fazendo com que as ideias apareçam como coisas autônomas e criadoras das relações sociais de produção. Porém os autores afirmam que a produção de ideias de uma determinada sociedade está intimamente ligada a sua produção material, pois

[...] mesmo as fantasmagorias existentes no cérebro humano são sublimações resultantes necessariamente do processo de sua vida material [...]. Assim, a moral, a religião, a metafísica e todo o restante da

ideologia, bem como as formas de consciência a elas correspondentes, perdem logo toda a aparência de autonomia (MARX e ENGELS, 2002, p. 19)3.

A religião, na sociedade capitalista, pode ter um papel tanto legitimador, divinizando as relações de exploração, quanto alentador àqueles que estão sendo explorados, tranquilizando-os com promessas de punição para os injustos e glória para os oprimidos no pós vida. Portanto, a alienação religiosa é um sintoma da alienação que se dá na esfera do trabalho, fruto de uma sociedade dividida em classes sociais onde uma classe subjuga e explora às demais.

Na Igreja Universal a realidade social é ocultada e as mazelas do capitalismo são justificadas sob o seguinte discurso ideológico: Todos os males da humanidade não são causados por fatores naturais, sociais, políticos, econômicos, etc., mas sim devido à ação de demônios que transcendem o além-mundo e interferem diretamente no mundo terreno. O único meio de o fiel iurdiano ver-se livre destes tormentos é através da realização de “sacrifícios” que nada mais são do que constantes doações financeiras para a Igreja (SILVA, 2000, p. 89). Para legitimar tal prática, Edir Macedo afirma que “quando alguém faz um sacrifício financeiro, Deus fica sem opção. Ele tem a obrigação de responder, porque é sua promessa” (apud LEMOS E TAVOLARO, 2007, p. 172).

Para realizar a nossa pesquisa, fizemos uma revisão bibliográfica das obras de Freston (1995), Mariano (2005) e Silva (2000) para apropriarmo-nos nas principais características do nosso objeto de estudo. Situamos a gênese e expansão da IURD dentro do contexto socioeconômico da sociedade brasileira do final do século XX e início do XXI. Identificamos os métodos de arregimentação de novos fiéis e captação de recursos financeiros. Por fim, verificamos de que forma a Teologia da Prosperidade4 legitima

ideologicamente todo o processo de expansão.

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