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Parâmetros e atributos possíveis a partir do novo PDE de São Paulo

137 A cidade de São Paulo, assim como grande parte das cidades de países em desenvolvimento,

está disfuncional, uma vez que vive um metabolismo urbano do século 21 operando em um modelo urbano do século 20.

A complexidade do dinamismo da vida urbana contemporânea, aliada à escala inimaginável alcançada – tamanho territorial e populacional –, há já algumas décadas, transformaram as grandes cidades brasileiras em sinônimo de caos e ausência de qualidade de vida. Essa desfuncionalidade, marcada pelo total desequilíbrio entre as funções diárias básicas (morar e trabalhar) e a mobilidade, na maior cidade do Brasil, é facilmente reconhecida nos dramáticos movimentos pendulares e contribui de forma efetiva para o maior sintoma – apontado frequentemente como campeão dos problemas urbanos por parte da população em todas as pesquisas – a enorme deiciência de mobilidade urbana. (LEITE et. al., 2015, p.3)

A cidade de São Paulo, com aproximadamente 72,47 hab/ha, possui um baixo adensamento quando comparada a outras megacidades como Tóquio, Nova York e Bombaim. Um dos aspectos que tornam a baixa densidade problemática pode ser percebido quando essa se sobrepõe aos investimentos em infraestruturas urbanas na cidade. A maior concentração de equipamentos, serviços, comércio e sistemas de transporte público se concentra na área central da cidade, enquanto grande parte da população vive na área periférica.

Observa-se então que a cidade está desconectada, as atividades de morar e trabalhar estão segregadas, o que acaba por gerar grandes deslocamentos diários por pessoas que saem da área periférica em busca de oportunidades na área central da cidade. Essa grande quantidade de pessoas se deslocando diariamente e a deiciência no sistema de transporte público levam a uma enorme ineiciência da mobilidade na cidade. (LEITE et al., 2015)

São Paulo é extremamente desigual. Os investimentos, as oportunidades de emprego e a oferta de bens e serviços urbanos são concentrados em uma pequena parcela central do território, enquanto a vulnerabilidade predomina nas áreas periféricas. (PDE-SP, 2014, p.7)

Como forma de tentar vencer esses desaios, o Novo Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo (PDE-SP)1 deine instrumentos inovadores que visam reorganizar e equilibrar

os espaços da cidade nos próximos dezesseis anos. A elaboração do plano contou com ampla participação social. Durante o período de um ano, ocorreram 114 encontros, que obtiveram a participação de 25.000 pessoas. (PDE-SP, 2014).

Pela primeira vez, São Paulo possui um Plano Diretor que apresenta com clareza a cidade que se quer no futuro, uma cidade funcional, sustentável, moderna e humana, que ofereça urbanidade. Segundo Nabil Bonduki2, relator do projeto de lei do Plano Diretor na Câmara

Municipal: “esse plano avança e avança muito em benefícios para a cidade, porque é o resultado de um trabalho coletivo, da construção de consensos e principalmente de um pacto da sociedade em benefício do futuro da cidade”. (2014 apud SÃO PAULO, 2014). Segundo Nabil Bonduki3, o Plano atual é um desdobramento do Plano Diretor de 2002.

Em 2002, foram estabelecidas diretrizes que agora foram aprofundadas e regulamentadas. “Infelizmente aquilo que foi proposto no plano diretor passado não foi implementado e esse plano então colocou praticamente em vigor algumas determinações importantes que já vinham como proposta do plano anterior”. Segundo POLICE (2014)4, o Plano Diretor de

2002 não possui objetivos e diretrizes bem deinidas e se destacava mais como “uma carta de princípios”. Já o plano atual aproxima objetivos com a forma de alcançá-los. Esse é um grande avanço.

O PDE-SP (2014) pretende, entre os seus principais objetivos: reorganizar e equilibrar o território, aproximando moradia e emprego e diminuindo a necessidade de grandes deslocamentos diários; promover um maior adensamento com capacidade de suporte, compactando investimentos em infraestrutura urbana; priorizar deslocamentos a pé, por bicicleta e por transporte público e incentivar a qualiicação dos espaços urbanos, buscando resgatar a dimensão humana, oferecendo maior urbanidade.

O novo PDE tem como seu principal objetivo garantir a melhoria da qualidade de vida em todos os bairros. Nas áreas consolidadas, ele diminui o potencial construtivo e impõe um gabarito máximo, garantindo um limite para a produção imobiliária e a preservação da qualidade de vida, ao mesmo tempo em que estabelece um aumento do potencial construtivo junto aos corredores de transporte público coletivo que chegam agora às periferias tendo grande estímulo ao uso misto e à geração de empregos, além de garantias de socialização do espaço público. É um plano para reequilibrar e humanizar São Paulo. (PDE-SP, 2014, p.5)

Nesse sentido, Franco (2015)5 comenta que “o que se pretende é o equilíbrio das graves

disfunções que moldam a existência urbana em São Paulo”. Busca-se “reverter o paradigma insustentável do modelo urbano rodoviarista. Reestabelecer o modelo de cidade compacta e mista preexistente no passado. Reconquistar o domínio público sobre o espaço livre da cidade”. (FRANCO, 2015).

2 Nabil Bonduki Secretário Municipal de Cultura de

São Paulo. Foi o relator do Plano Diretor Estratégico na Câmara Municipal.

3 Entrevista de Nabil Bonduki concedida ao Canal

DoisP – Candeia, publicada no YouTube em 13 de outubro de 2014. Disponível em: <https://www.youtu- be.com/watch?v=AplyWakbzDg>. Acesso em: 27 out. 2015.

4 José Police Neto, vereador em terceiro mandato

pela cidade de São Paulo pelo partido PSD.

5 Fernando de Mello Franco atual Secretário de De-

139 Neste capítulo, será abordado o Novo Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo.

Ele será analisado sobre a ótica dos Parâmetros da Dinâmica Urbana e dos Atributos Físicos, instrumentos analisados nos capítulos 2 e 3. Não se busca, portanto, analisar a espacialização do plano no território da cidade de São Paulo, e sim seus instrumentos norteadores que se aproximam dos conceitos até então analisados. Trata-se dos conceitos de cidades densas, compactas, multifuncionais, que priorizam o sistema de transporte público e que buscam a qualiicação dos espaços urbanos, favorecendo as atividades de caminhada, permanência e encontros na cidade, contribuindo assim para a construção de uma cidade mais humana que ofereça urbanidade.

Dentre as diretrizes deinidas no PDE-SP (2014), será dada uma maior ênfase àquelas que estão relacionadas a esses conceitos, que são qualiicar a vida urbana nos bairros, orientar o crescimento da cidade nas proximidades do transporte público em massa, melhorar a mobilidade urbana, promover o crescimento econômico e reorganizar as dinâmicas metropolitanas.