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4. A ÁGUA E SUA QUALIDADE

4.2. Parâmetros e fatores de influência da qualidade da água

Segundo Tundisi (1986), considera-se a qualidade da água como uma integral espacial e temporal que depende das propriedades físicas, químicas e biológicas de um corpo hídrico. A interação dos diversos processos no espaço e no tempo deve ser, portanto, um somatório cujo resultado principal é a qualidade da água.

De forma semelhante, Mazzini (2003) conceitua a qualidade da água como “termo utilizado para designar as características químicas, físicas e biológicas da água, que deve ter uma qualidade compatível com o uso específico a que se destina”.

A Tabela 4.1, apresentada a seguir, enumera algumas das principais características da água.

Tabela 4.1 - Principais características das águas

Características

da água Exemplos Físicas

Estado (líquido, sólido, gasoso), cor, sabor, odor, turbidez, e comportamento desses em função da temperatura, pressão, presença de sais, entre outros

Químicas

Líquido solvente, dureza, acidez e alcalinidade (medidos pelo pH), radioatividade, presença de oxigênio e dióxido de carbono, entre outros sais como cálcio, magnésio, sódio, potássio.

Biológicas

Presença de organismos produtores, consumidores e decompositores que, dependendo do grupo a que pertencem (vírus, bactérias, algas, peixes, moluscos, entre outros), podem ser benéficos ou maléficos à saúde humana e animal.

Fonte: adaptado de Reis et al (2005)

As características acima descritas, por sua vez, podem ser representadas através de parâmetros de qualidade da água, que também são classificados em físicos, químicos e biológicos. Os parâmetros biológicos, por sua vez, são usualmente subdivididos em bacteriológicos (associados ao saneamento ambiental, como os coliformes fecais e totais) e hidrobiológicos (microorganismos animais ou vegetais, como fitoplâncton e zooplâncton).

Para Marques (1993), os dados referentes aos parâmetros físicos podem ter valores bastante amplos dentro de uma faixa considerada de normalidade. Entretanto, quando se alcança uma zona de poluição, os mesmos podem ter variações tão relevantes que poucas determinações podem definir a região afetada pelos poluentes. Já os parâmetros químicos constituem os índices mais importantes na caracterização da qualidade da água. Estes permitem classificá-la do ponto de vista de sua mineralização, da necessidade de nutrientes para preservação de vida aquática, caracterização e rastreamento de poluentes, etc. Por fim, a análise bacteriológica é o parâmetro mais importante para se definir a qualidade sanitária de qualquer água.

Segundo von Sperling (1996), os parâmetros de qualidade da água podem ser utilizados para caracterizações diversas, como:

• caracterização de águas superficiais e subterrâneas para abastecimento; • caracterização de água residuárias brutas e tratadas; e

Segundo este autor, os principais parâmetros a serem investigados numa avaliação das águas de rios e lagos – caso do presente trabalho – são: cor, turbidez, temperatura da água, pH, nitrogênio, fósforo, oxigênio dissolvido, matéria orgânica, organismos indicadores e algas. Também devem ser analisados micropoluentes orgânicos e inorgânicos caso haja indícios para tal, devido ao uso e ocupação do solo na bacia hidrográfica.

Esta última diretriz se justifica pois, segundo este mesmo autor, “a qualidade de uma determinada água é função do uso e ocupação do solo na bacia hidrográfica”. Assim sendo, a qualidade das águas pode ser indiretamente determinada tanto por condições naturais quanto pelas ações do homem.

A bacia hidrográfica, mesmo quando preservada em suas condições naturais, influencia na qualidade das águas de seus corpos hídricos através do carreamento de partículas, substâncias e impurezas dos solos decorrente da precipitação atmosférica. Neste caso, a cobertura e composição do solo da bacia hidrográfica em questão terão grande influência na definição da qualidade de suas águas. Pode-se observar, também, que as condições sazonais do clima influenciam indiretamente na qualidade das águas.

Dentre algumas das ações antropogênicas que podem afetar, direta ou indiretamente, a qualidade das águas, von Sperling (1996) e Reis et al (2005), citam, por exemplo:

O carreamento de defensivos agrícolas e fertilizantes utilizados em atividades agropecuárias, pelas ações das chuvas, pode contaminar o lençol freático e a água dos córregos e rios, tornando-a imprópria para consumo humano e animal e para a proliferação de espécies aquáticas;

O desmatamento e a alteração da cobertura vegetal diminuem o processo de evapotranspiração, o que influencia no ciclo hidrológico. O solo torna-se mais úmido e tem sua capacidade de infiltração alterada, resultando na ocorrência de alagamentos e cheias. Também influenciam o meio aquático devido à alteração na composição do sedimento e ao aumento dos materiais em suspensão. Com a implantação de uma agricultura sem controle de erosão, ocorre um aumento do fluxo superficial de águas, carreando solos que promovem o assoreamento de rios, lagos e reservatórios;

A impermeabilização advinda da urbanização diminui a capacidade de infiltração das águas pluviais no solo e aumenta a velocidade de escoamento superficial, o que propicia a ocorrência de enchentes nos períodos chuvosos. Ao se reduzir a infiltração, ocorre uma

alteração no lençol freático, pois este deixa de ser alimentado pelas águas pluviais. Conseqüentemente, ocorre uma menor alimentação das águas superficiais pelas subterrâneas nos períodos secos;

A mineração, cuja prática é extensiva no Brasil, provoca a contaminação dos mananciais devido à exploração de minérios, como a bauxita e o ouro. Os metais chumbo, cádmio, cromo, mercúrio, arsênico, entre outros, devido à toxicidade, podem provocar doenças cancerígenas. A exploração de ouro, na região norte do Brasil e no pantanal mato- grossense, tem poluído as águas com mercúrio;

O lançamento de efluentes domésticos e industriais, muitos desses sem nenhum tratamento prévio, nos lençóis freáticos, rios, lagos e mares, pode causar poluição por matéria orgânica, contaminação por microorganismos patogênicos e elementos tóxicos, afetando principalmente a biota aquática;

A presença de reservatórios artificiais, construídos para diversos fins (controle de cheias, abastecimento de água, irrigações, piscicultura, recreação e lazer, navegação e geração de energia elétrica), altera o fluxo natural das águas. Os reservatórios alteram o ecossistema aquático, contribuem para o aumento do efeito estufa devido à emissão de gás metano produzido na decomposição da biomassa submersa, causam alterações nos lençóis freáticos, surgimento de lagos e secagem de outros e assoreamento das margens. O acúmulo de nutrientes, que aparecem seja pela erosão do solo, irrigação ou decomposição da matéria orgânica submersa, aumenta os riscos da eutrofização. A eutrofização é um processo indesejado, que consiste no “crescimento excessivo das plantas aquáticas, tanto planctônicas quanto aderidas, a níveis tais que sejam considerados como causadores de interferências com os usos desejáveis do corpo d’água” (Thomann e Mueller, 1987, apud von Sperling, 1996);

Alterações climáticas causadas pelo efeito estufa. A elevação na quantidade de gases

causadores do efeito estufa na atmosfera é decorrente da queima de combustíveis fósseis, mudança no uso da terra e atividades agrícolas. Tais alterações são caracterizadas pelo aumento da temperatura do planeta, o que ocasiona inúmeros problemas, como o derretimento das geleiras, resultando na alteração da quantidade e qualidade das águas nas regiões litorâneas.

No caso específico de reservatórios, a qualidade das águas também depende de inúmeros outros fatores, relacionados com as características morfométricas do sistema, os mecanismos

da zona eufótica com a profundidade máxima e a profundidade da zona afótica, e as inter- relações do sedimento/água, também reguladas pelo grau de oxigênio na coluna d’água e potencial de óxido-redução do sedimento (Tundisi, 1986). Com exceção das inter-relações do sedimento/água, os demais itens serão avaliados no presente trabalho.

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