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1. INTRODUÇÃO

3.6.7 Cardiomiócito Isolado

3.6.7.2 Contratilidade Cardíaca

3.6.7.2.1 Parâmetros funcionais

As propriedades contráteis dos cardiomiócitos foram avaliadas utilizando sistema de aquisição (SarcLen, IonOptix, Milton, MA). As alterações no comprimento dos sarcômeros (CS) foram registradas e, posteriormente, analisadas utilizando software específico (Ion Wizard, IonOptix, Milton, MA, EUA) (Figura 10). Foram avaliados o comprimento dos sarcômeros e os seguintes parâmetros contráteis: percentual de encurtamento (PE), velocidades máximas de encurtamento (VME) e relaxamento (VMR), tempos até 50% do pico de encurtamento (t encurt50%) e de relaxamento (t relax50%) (Figura 11).

Figura 10. Representação de um registro da contratilidade na frequência de 1Hz de um animal do grupo controle.

Figura 11. Representação esquemática do encurtamento de um cardiomiócito isolado e dos respectivos parâmetros da contração celular. CS: comprimento do sarcômero.

3.7 - Insuficiência Cardíaca

Os critérios utilizados para diagnóstico de insuficiência cardíaca (IC) estão descritos abaixo. Os animais deveriam se enquadrar em pelo menos três critérios para serem considerados com IC:

I. Congestão pulmonar: foi avaliada a partir dos seguintes parâmetros: a. Percentual de umidade acima de 80% (TUCCI, 2011);

b. Razão peso do pulmão direito (mg)/peso corporal (g) acima de 5 mg/g (TUCCI, 2011);

c. Razão peso do pulmão/peso corporal aproximadamente o dobro dessa mesma razão em relação ao grupo controle (FRANCIS et al., 2001; JASMIN et al., 2003; PEREIRA et al., 2005).

II. Hipertrofia do ventrículo direito (VD): caracterizada pela relação do peso do ventrículo direito ajustado pelo peso corpóreo acima de 0,8 mg/g (POLEGATO et al., 2005).

III. Aumento da pressão diastólica do ventrículo esquerdo (PDfVE): >15 mmHg (PEREIRA et al., 2005).

IV. Disfunção sistólica: valor positivo máximo da primeira derivada temporal da pressão sistólica do ventrículo esquerdo < 7000 mmHg (TUCCI et al., 2011);

3.8 - Análise Estatística

Para as análises estatísticas, o programa estatístico utilizado foi o SigmaStat versão 3.5. Os dados foram expressos por meio de média ± erro padrão da média (EPM) e submetidos ao teste de Kolmogorov-Smirnov para averiguar a aderência à normalidade.

As características gerais, as comorbidades, as análises macro, microscópicas e funcionais cardíacas dos grupos experimentais foram submetidas à análise de variância (ANOVA) uma via (fator dieta) e complementada com o teste de comparações múltiplas de Tukey. A evolução do peso corporal e o teste de tolerância à glicose foram submetidos à ANOVA duas vias (fatores dieta e tempo) para o modelo de medidas repetidas e complementada com o teste de comparações múltiplas de Tukey. O nível de significância considerado para todas as variáveis foi de 5%.

4 - RESULTADOS

O protocolo experimental, inicialmente, era composto por 60 animais, distribuídos de forma randomizada em 4 grupos (C, n=15; HG, n=15; HL, n=15; HLA, n=15), entretanto, oito (8) animais morreram por causas desconhecidas e/ou após realização de algumas técnicas in vivo. Desta forma, permaneceram no estudo doze animais no grupo controle (C, n=12); quatorze animais no grupo hiperglicídico (HG, n=14); treze animais no grupo hiperlipídico (HL, n=13) e treze animais no grupo hiperlipídico com açúcar (HLA, n=13).

4.1 - Evolução do Peso Corporal

A Figura 12 ilustra a evolução do peso corporal dos animais durante as 20 semanas do protocolo experimental. O peso corporal do HL foi maior estatisticamente que o grupo C a partir da sétima semana de tratamento, permanecendo até o final do protocolo experimental. O grupo HLA apresentou diferença estatística no peso corporal em relação ao C apenas nas últimas quatro semanas de tratamento (17ª a 20ª semana; HLA > C). Na quarta semana, o HL apresentou maior peso corporal que o HG; essa diferença permaneceu até o fim do protocolo experimental. O HG também apresentou menor peso corporal que o HLA a partir da sexta semana (6ª a 20ª semana; p<0,05), com exceção da 14ª semana, onde os pesos corporais desses grupos foram similares. Não houve diferença entre o peso corporal dos grupos C e HG durante o todo o protocolo experimental. O mesmo comportamento foi observado entre o HL e HLA (Figura 12).

Figura 12. Evolução semanal do peso corporal dos grupos experimentais. Controle (C, n=12), Hiperglicídico (HG, n=14), Hiperlipídico (HL, n=13) e Hiperlipídico com açúcar (HLA, n=13). Dados expressos em média  EPM. ANOVA para o modelo de medidas repetidas em grupos independentes e complementada com o teste post-hoc de Tukey. p<0,05, *C vs. HL; α C vs. HLA; # HL vs. HG; & HLA vs. HG.

4.2 - Características Gerais

Após uma semana de aclimatação, os grupos experimentais não apresentaram diferença estatística no peso corporal inicial (PCI) (Tabela 1). Ao final do protocolo experimental (20ª semana), os animais HL obtiveram um incremento de 22% no PCF e 26% no ganho de peso corporal quando comparados ao C, respectivamente. A Figura 13 representa o incremento do depósito de gordura retroperitoneal em animal do grupo HL. Embora não houve diferença estatística (p=0,06), o PCF e ganho de peso corporal do HLA foram 15% e 18% maiores que o C, respectivamente. Além disso, o HL apresentou maiores valores de PCF e ganho de peso corporal quando comparado ao HG (20% e 25%, respectivamente). Não houve diferença entre C e HG para os parâmetros PCF e ganho de peso corporal. O mesmo comportamento foi observado entre HL e HLA.

Os depósitos de gordura visceral e retroperitoneal foram maiores no HL e HLA em relação ao C e HG, respectivamente. Percentualmente, o HL apresentou acréscimo de 62% de gordura visceral e 84% de gordura retroperitoneal, quando comparado ao C (Figura 15); em

relação ao grupo HG, houve elevação de 74% e 85% (HL > HG), respectivamente. Semelhantemente, o incremento desses depósitos foi em torno de 39% (gordura visceral) e 57% (gordura retroperitoneal) no HLA quando comparado ao C. Em relação ao HG, o HLA apresentou um aumento de 50% e 58% nesses depósitos, respectivamente. Corroborando com esses achados, os resultados demonstram que a gordura total (somatório dos depósitos de gordura) foi 61% maior no HL e 43% maior no HLA em relação ao C. Além disso, houve aumento de 67% no HL e 48% no HLA, respectivamente, quando comparado ao HG. Essa elevação de gordura corporal nos grupos HL e HLA refletiu diretamente em maior índice de quando comparados ao C e HG. Os animais HL e HLA apresentaram maior comprimento nasoanal do que o C (Tabela 1). Não houve diferença no comprimento nasoanal entre os grupos C e HG (p>0,05). O HG não diferiu do C em nenhuma das variáveis analisadas (p>0,05); o mesmo comportamento foi observado entre HL e HLA (Tabela 1).

Tabela 1. Características gerais dos grupos experimentais Variáveis

Grupos

C HG HL HLA

PCI (g) 107 ± 3 110 ± 3 111 ± 3 110 ± 4 PCF (g) 533 ± 17 538 ± 13# 649 ± 34* 616 ± 22 Ganho de Peso Corporal(g) 426 ± 17 428 ± 12# 538 ± 32* 506 ± 20

Gordura Epididimal (g) 11,2 ± 0,6 10,5 ± 0,7 13,1 ± 0,9 13,5 ± 1,0 Gordura Visceral (g) 11,4 ± 0,6 10,6 ± 0,6#& 18,5 ± 1,4* 15,9 ± 1,4* Gordura Retroperitoneal (g) 21,9 ± 1,0 21,8 ± 2,0#& 40,4 ± 4,5* 34,4 ± 2,2* Gordura Total (g) 44,5 ± 1,6 42,9 ± 0,6#& 72,0 ± 6,3* 63,8 ± 4,3* Índice de Adiposidade (%) 8,3 ± 0,2 7,9 ± 0,3#& 10,9 ± 0,5* 10,2 ± 0,3* Comprimento nasoanal (cm) 27,1 ± 0,6 27,6 ± 0,7 28,0 ± 0,1* 28,0 ± 0,3* Valores expressos em média ± EPM. C: Controle (n=12); HG: hiperglicídico (n=14); HL: hiperlipídico (n=13); HLA: Hiperlipídico com açúcar (n=13). PCI: Peso corporal inicial; PCF: Peso corporal final. ANOVA uma via para amostras independentes, complementada com o teste post-hoc de Tukey. p<0,05; * vs. C; # HG vs. HL; & HG

Figura 13. Representação dos depósitos de gordura de um animal do grupo controle (A1 e A2) e do grupo hiperlipídico (B1 e B2). As Figuras A1 e B1 evidenciam os animais anestesiados no momento que antecede a eutanásia. As Figuras A2 e B2 apresentam e destacam o depósito de gordura retroperitoneal, dos animais do grupo C e HL, respectivamente.

Em relação às características de consumo alimentar, o consumo em gramas (g) do grupo C foi maior que os demais grupos (↑37% vs. HG; ↑18% vs. HL e; ↑29% vs. HLA, p < 0,05). Além disso, o HL obteve maiores valores de consumo alimentar do que o HG (HG: 16,2 ± 0,4 vs. HL: 18,9 ± 0,7, p< 0,05). Não houve diferença no consumo alimentar entre os grupos HL e HLA e HG e HLA (Tabela 2).

O consumo calórico foi maior no HG em relação aos grupos C e HLA (p<0,05). É importante ressaltar que o consumo calórico total do grupo HG foi calculado a partir da soma do consumo calórico proveniente da ração (59,2 ± 1,7 kcal) e a média do consumo (kcal) proveniente da água com açúcar (32,8 ± 1,3 kcal) (dados não mostrados). Além disso, o HL apresentou um acréscimo de 12% no consumo calórico do que o HLA (p<0,05). Não houve diferença no consumo calórico do C em relação ao HL e HLA (p>0,05).

Os grupos HL e HLA apresentaram aumento na eficiência alimentar em relação ao C, representando uma elevação percentual de 14% e 20%, respectivamente (p<0,05). Em relação ao HG, os grupos HL e HLA obtiveram um incremento de 32% e 39% na eficiência alimentar (p<0,05). O grupo HG apresentou eficiência alimentar similar ao C; o mesmo resultado foi observado entre HL e HLA (Tabela 2).

Tabela 2. Características alimentares dos grupos experimentais Variáveis

Grupos

C HG HL HLA

Consumo Alimentar (g/dia) 22,3 ± 0,7 16,2 ± 0,4*# 18,9 ± 0,7* 17,2 ± 0,4* Consumo Calórico (kcal/dia) 79,2 ± 2,6 92,0 ± 2,0*& 86,9 ± 3,5 77,3 ± 1,7α

Eficiência Alimentar (%) 3,84 ± 0,08 3,32 ± 0,05*#& 4,39 ± 0,09* 4,64 ± 0,08* Valores expressos em média ± EPM. C: Controle (n=12); HG: hiperglicídico (n=14); HL: hiperlipídico (n=13); HLA: hiperlipídico com açúcar (n=13). ANOVA uma via para amostras independentes, complementada com o teste post-hoc de Tukey. p<0,05; * vs. C; # HG vs. HL; & HG vs. HLA, α HL vs.HLA.

4.3 - Comorbidades

Os resultados do teste de tolerância à glicose mostraram que os níveis glicêmicos basais não diferiam entre os grupos, entretanto, 30 e 60 minutos após a administração de glicose, a glicemia do HL e HLA estava significantemente mais elevada do que o C (p<0,05). O HL também obteve maiores valores glicêmicos nesses mesmos momentos quando comparado ao HG (Figura 14). No entanto, após 90 e 120 minutos, os níveis glicêmicos dos grupos HL e HLA apresentaram valores similares ao C e HG. Os grupos C e HG obtiveram resultados similares em todos os momentos avaliados. Esse resultado foi o mesmo entre HL e HLA.

A ASC (mg.dL/min) dos grupos HL e HLA foi maior que a do grupo C (C = 1234 ± 57 versus HL = 1567 ± 70 e HLA = 1477 ± 41, p< 0,05), representando um acréscimo de 26% e 19%, respectivamente. Além disso, o HL apresentou valores maiores de ASC em relação ao HG (HL = 1340 ± 29 vs. HL = 1567 ± 70; p< 0,05). A ASC apresentou valores similares no HLA em relação ao HG e HL (p>0,05). Os grupos C e HG não diferiram entre si para essa variável (Figura 15).

Figura 14. Teste de tolerância à glicose. C: Controle (n=10); HG: hiperglicídico (n=14); HL: Hiperlipídico (n=11); HLA: Hiperlipídico com açúcar (n=13). Valores expressos em média ± EPM. ANOVA duas vias para amostras independentes, complementada com o teste post-hoc de Tukey. p<0,05; *HL vs.C; # HL vs.HG, α HLA vs.C.

Figura 15. Área sob a curva (ASC) glicêmica. C: Controle (n=10); HG: Hiperglicídico (n=14); HL: Hiperlipídico (n=11); HLA: Hiperlipídico com açúcar (n=13). Valores expressos em média ± EPM. ANOVA uma via para amostras independentes, complementada com o teste post-hoc de Tukey. p<0,05; * vs. C; # HL vs. HG.

A medida indireta de pressão arterial (PA) demonstrou que os grupos HG, HL e HLA apresentaram maiores valores de PAS (mmHg) em relação ao C (C= 145 ± 2 versus HG= 172 ± 3, HL= 164 ± 2 e HLA= 171 ± 2, p<0,001). O incremento da PAS foi de 17% (HG), 13% (HL) e 17% (HLA) em relação ao C, respectivamente. Os grupos HG, HL e HLA não diferiram entre si. Não houve diferença estatística entre os grupos para a frequência cardíaca (p>0,05) (Figura 16).

Figura 16. A) PAS: Pressão arterial sistólica. B) FC: Frequência cardíaca. C: Controle (n=11); HG: Hiperglicídico (n= 13); HL: Hiperlipídico (n= 12); HLA: Hiperlipídico com açúcar (n=13). Valores expressos em média ± EPM. ANOVA uma via para amostras independentes, complementada com o teste post-hoc de Tukey. p<0,05; * vs. C.

A análise direta dos parâmetros hemodinâmicos mostrou que não houve diferença estatística entre os grupos experimentais para as variáveis PAS, PAD, FC, PSVE, PDFVE, FC do VE, derivadas máximas positiva (+dP/dtmáx) e negativa da pressão do VE (-dP/dtmáx) e Tau (Tabela 3).

Tabela 3. Parâmetros hemodinâmicos arteriais e ventriculares. Variáveis Grupos C HG HL HLA PAS (mmHg) 97,8 ± 3,5 98,9 ± 4,5 92,7 ± 3,8 98,8 ± 3,5 PAD (mmHg) 58,5 ± 4,5 61,1 ± 5,2 56,5 ± 2,7 59,6 ± 5,1 FC (bpm) 289 ± 11 313 ± 16 313 ± 11 318 ± 15 PSVE (mmHg) 99,5 ± 2,9 95,8 ± 4,5 93,4 ± 3,9 100 ± 3 PDFVE (mmHg) 4,02 ± 1,6 2,17 ± 0,81 2,19 ± 0,85 2,8 ± 0,79 +dP/dtmáx (mmHg/s) 6568 ± 471 7301 ± 1045 6157 ± 720 8022 ± 652 -dP/dtmáx (mmHg/s) -6769 ± 389 -6485 ± 725 -6375 ± 661 -7749 ± 416 FC (VE) (bpm) 288 ± 10 314 ± 17 321 ± 11 328 ± 14 TAU (s) 0,014 ± 0,003 0,011 ± 0,001 0,010 ± 0,002 0,011 ± 0,001 Valores expressos em média ± EPM. C: Controle (n=6); HG: Hiperglicídico (n=6); HL: Hiperlipídico (n=6); HLA: Hiperlipídico com açúcar (n=6). PAS: Pressão arterial sistólica; PAD: pressão arterial diastólica; FC: frequência cardíaca; VE: ventrículo esquerdo; PSVE: pressão sistólica do VE; PDFVE: pressão diastólica final do VE; +dP/dtmáx: derivada máxima positiva de pressão do VE; -dP/dtmáx: derivada negativa de pressão do VE; FC (VE): frequência cardíaca no ventrículo esquerdo; TAU: constante de tempo do relaxamento do ventrículo esquerdo. ANOVA uma via para amostras independentes, complementada com o teste post-hoc de Tukey.

Em relação aos parâmetros bioquímicos, os níveis de triglicerídeos (mg/dL) do grupo HL apresentaram valores mais elevados do que os demais grupos (HL = 50,1 ± 6,2 versus C = 35,1 ± 6,8; HG = 29,1 ± 4,5; HLA: 35,6 ± 6,5), entretanto, essa diferença não foi significativa entre os grupos (p=0,08). Os níveis de glicose, colesterol total e HDL não diferiam entre os grupos (Tabela 4).

Quanto aos níveis de leptina (ng/mL), o grupo HL apresentou valores elevados em relação ao C (C = 12,1 ± 2,9 vs. HL = 25,0 ± 2,7, p ≤ 0,05), representando aumento de 106%. Os níveis de leptina nos grupos HG e HLA foram similares ao C; o mesmo comportamento foi observado entre HL e HLA.

Tabela 4. Características bioquímicas dos grupos experimentais Variáveis Grupos C HG HL HLA Valor de p Glicose (mg/dL) 107 ± 1,8 112 ± 2,9 115 ± 3,6 115 ± 2,8 1,00 Triglicerídeos (mg/dL) 35,1 ± 6,8 29,1 ± 4,5 50,1 ± 6,2 35,6 ± 6,5 0,08 Colesterol Total (mg/dL) 83,4 ± 3,5 72,5 ± 3,4 81,4 ±5,1 73,4 ± 2,6 0,13 HDL (mg/dL) 27,1 ± 1,2 23,8 ± 0,7 28,6 ± 2,5 24,9 ± 1,2 0,12 Leptina¹ (ng/mL) 12,1 ± 2,9 12,7 ± 4,0 25,0 ± 2,7* 17,5 ± 3,9 0,03 Valores expressos em média ± EPM. C: Controle (n=10); HG: Hiperglicídico (n=14); HL: Hiperlipídico (n=12); HLA: Hiperlipídico com açúcar (n=11). Leptina¹: C (n=6); HG (n=5); HL (n=6); HLA (n=5). ANOVA uma via para amostras independentes, complementada com o teste post-hoc de Tukey. p<0,05; * vs C.

4.4 - Características Morfológicas e Funcionais Cardíacas

A Tabela 5 ilustra as características morfológicas cardíacas dos grupos experimentais. Não houve diferença nas variáveis analisadas dos grupos HG, HL e HLA quando comparados ao C. No entanto, entre HL e HG, o HL apresentou maiores valores de coração total (HL= 1,46 ± 0,13 vs. HG= 1,11 ± 0,04, p < 0,05), VE (HL= 1,07 ± 0,09 vs. HG= 0,82 ± 0,03, p<0,05) e AT (HL= 0,13 ± 0,01 vs. HG= 0,09 ± 0,005, p<0,05), representando aumento de 31%, 30% e 44%, respectivamente. Quando normalizados pela tíbia, além desses parâmetros, o VD do HL foi maior que o HG (HL= 0,06 ± 0,006 vs. HG= 0,04 ± 0,002, p<0,05). Não houve diferença do HLA com os grupos HG e HL nos parâmetros morfológicos analisados.

Os comprimentos das tíbias (cm) dos grupos HL e HLA foram maiores que a do grupo C (C= 4,24 ± 0,04 versus HL= 4,40 ± 0,05, HLA= 4,41 ± 0,03, p<0,05). A tíbia dos animais do grupo HG foi similar ao grupo C; o mesmo resultado foi observado entre o HLA com HG e HL, respectivamente.

Tabela 5. Características morfológicas cardíacas dos grupos experimentais Variáveis Grupos C HG HL HLA Coração Total (g) 1,16 ± 0,04 1,11 ± 0,04 1,46 ± 0,13# 1,29 ± 0,05 VE (g) 0,84 ± 0,02 0,83 ± 0,03 1,07 ± 0,09# 0,97 ± 0,04 VD (g) 0,21 ± 0,01 0,19 ± 0,01 0,26 ± 0,02 0,23 ± 0,01 AT (g) 0,11 ± 0,01 0,09 ± 0,005 0,13 ± 0,01# 0,09 ± 0,009 Coração Total/Tíbia (g/cm) 0,27 ± 0,009 0,25 ± 0,01 0,33 ± 0,02# 0,29 ± 0,01 VE/Tíbia (g/cm) 0,2 ± 0,005 0,19 ± 0,009 0,24 ± 0,01# 0,22 ± 0,009 VD/Tíbia (g/cm) 0,04 ± 0,001 0,04 ± 0,002 0,06 ± 0,006# 0,05 ± 0,003 Átrio/Tíbia (g/cm) 0,02 ± 0,003 0,02 ± 0,001 0,03 ± 0,002# 0,02 ± 0,002 Tíbia (cm) 4,24 ± 0,04 4,30 ± 0,01 4,40 ± 0,05* 4,41 ± 0,03* Valores expressos em média ± EPM. C: Controle (n=5); HG: Hiperglicídico (n=8); HL: Hiperlipídico (n=5); HLA: Hiperlipídico com açúcar (n=6). VE: ventrículo esquerdo; VD: ventrículo direito; AT: átrio total. ANOVA uma via para amostras independentes, complementada com o teste post-hoc de Tukey. p<0,05; * vs. C; # HG vs. HL.

A análise do peso in natura (g) dos tecidos pulmonar e pancreático demonstrou que não houve diferença entre os grupos, entretanto, o fígado do HL foi maior que C e HG (C= 14,1 ± 0,94 e HG= 14,2 ± 0,52 versus HL= 17,6 ± 1,12, p < 0,05), representando um acréscimo de 24%. Não houve diferença no peso do fígado do HLA em relação ao C, HG e HL, respectivamente (Tabela 6).

Tabela 6. Peso in natura dos tecidos pulmonar, hepático e pancreático Variáveis Grupos C HG HL HLA Pulmão (g) 1,85 ± 0,10 1,78 ± 0,05 1,94 ± 0,05 1,86 ± 0,04 Fígado (g) 14,1 ± 0,94 14,2 ± 0,52# 17,6 ± 1,12* 16,9 ± 0,79 Pâncreas (g) 0,94 ± 0,05 1,14 ± 0,05 0,99 ± 0,07 1,08 ± 0,04 Valores expressos em média ± EPM; C: Controle (n=12); HG: Hiperglicídico (n=14); HL: Hiperlipídico (n=13); HLA: Hiperlipídico com açúcar (n=13). ANOVA uma via para amostras independentes, complementada com o teste post-hoc de Tukey. p<0,05; * vs C; # HG vs HL.

Apesar da diferença no peso in natura do fígado do HL em relação aos grupos C e HG, quando analisados os percentuais de umidade, o HL apresentou valores similares aos demais grupos. O percentual de umidade do fígado do HLA foi menor que do grupo C (C= 68,7% ± 0,2 vs. HLA= 66,5 ± 0,6, p < 0,05). Não houve diferença entre o HLA, HG e HL em relação ao percentual de umidade do fígado. O percentual de umidade do VE, VD e AT foi similar entre os grupos (p>0,05) (Tabela 7).

Tabela 7. Teor de água nos tecidos cardíaco e hepático

Variáveis Grupos C HG HL HLA VE¹ (%) 71,6 ± 1,8 74,1 ± 0,3 75,2 ± 0,1 74,2 ± 0,2 VD¹ (%) 74,1 ± 0,6 74,1 ± 0,4 74,6 ± 0,7 74,1 ± 0,4 AT¹ (%) 76,6 ± 1,7 75,3 ± 1,1 74,8 ± 0,7 74,6 ± 0,9 Fígado² (%) 68,7 ± 0,2 66,8 ± 0,7 66,7 ± 0,4 66,5 ± 0,6* Valores expressos em média ± EPM. ¹: C: Controle (n=5); HG: Hiperglicídico (n=8); HL: Hiperlipídico (n=5); HLA: Hiperlipídico com açúcar (n=6). VE: ventrículo esquerdo; VD: ventrículo direito; AT: átrio. ²: C (n=12); HG (n=14); HL (n=13); HLA (n=13). ANOVA uma via para amostras independentes, complementada com o teste post-hoc de Tukey. p<0,05; * vs. C.

As Figuras 17 A-C mostram os resultados dos parâmetros morfológicos histológicos dos grupos experimentais. Não houve diferença na área seccional transversa (AST) dos grupos (C: 427 ± 41 µm2, HG: 346 ± 16, HL: 472 ± 45, HLA: 390 ± 37; p=0,07). A fração de colágeno

(%) dos grupos também não diferiu (C: 4,69 ± 0,60, HG: 5,74 ± 0,77, HL: 5,07 ± 0,96, HLA: 6,53 ± 0,97; p=0,49). Quanto ao comprimento do sarcômero (µm), o grupo HLA apresentou valores maiores que os demais grupos (C: 1,81 ± 0,009, HG: 1,80 ± 0,007 e HL: 1,82 ± 0,006 versus HLA: 1,85 ± 0,008; p<0,001). Não houve diferença no comprimento do sarcômero entre os demais grupos experimentais.

Figura 17. A) Área seccional transversa (AST). Gráficos e painéis representativos da Área de Secção Transversa de fragmentos subendocárdicos do ventrículo esquerdo (VE). Hematoxilina-eosina (40x). B) Fração de Colágeno. Gráficos e painéis representativos do Colágeno subendocárdico do ventrículo esquerdo (VE). Coloração Picrosirius Red (40x). C: Controle (n=5); HG: Hiperglicídico (n=8); HL: Hiperlipídico (n=5); HLA: Hiperlipídico com açúcar (n=6). C) Comprimento do sarcômero (CS). C: Controle (n=5, células= 71); HG: Hiperglicídico (n=6, células= 115); HL: Hiperlipídico (n=6, células= 106); HLA: Hiperlipídico com açúcar (n=5, células= 81). Valores expressos em média ± EPM. ANOVA uma via para amostras independentes, complementada com o teste post-hoc de Tukey. p<0,05; * vs. C; & HG vs. HLA; α HLA vs.HL.

As Figuras 18 A-D ilustram os resultados referentes aos parâmetros para diagnóstico de insuficiência cardíaca (IC). Não houve diferença estatística entre os grupos experimentais para as razões pulmão/PCF, pulmão direito/PCF e VD/PCF, bem como para o percentual de umidade do pulmão.

Figura 18. A) Razão peso do pulmão pelo peso corporal final (PCF). B) Razão peso do pulmão direito pelo peso corporal final (PCF). C) Percentual de umidade do pulmão. C: Controle (n=12); HG: Hiperglicídico (n=14); HL: Hiperlipídico (n=13); HLA: Hiperlipídico com açúcar (n=13). D) Razão ventrículo direito (VD) pelo peso corporal final (PCF). C: Controle (n=5); HG: Hiperglicídico (n=8); HL: Hiperlipídico (n=5); HLA: Hiperlipídico com açúcar (n=6). Valores expressos em média ± EPM. ANOVA uma via para amostras independentes, complementada com o teste post-hoc de Tukey.

As Figuras 19 A-E mostram os resultados das variáveis contráteis analisadas em cardiomiócitos isolados após estimulação elétrica de 1Hz. O PE (%) do grupo HG foi menor em relação aos grupos C e HLA (HG: 6,91 ± 0,28 versus C: 8,34 ± 0,32 e HLA: 7,97 ± 0,26, p< 0,05), representando um decréscimo de 20% e 15%, respectivamente. Não houve diferença no PE entre HLA e C. Além disso, o PE do HL não diferiu em relação aos demais grupos (Figura 19A).

Quanto à velocidade máxima de encurtamento (µm/s), o grupo HG apresentou menores valores que o C e HLA (HG: -2,21 ± 0,08 versus C: -2,58 ± 0,10; HLA: -2,73 ± 0,09; p< 0,05) (Figura 19B). Não houve diferença na VME entre HLA e C. Além disso, a VME do HL não diferiu em relação aos demais grupos. Apesar de todos os grupos apresentarem menor tempo

até 50% do pico de encurtamento (ms) em relação ao grupo C, houve diferença estatística apenas entre os grupos C e HL (C= 160 ± 4 vs. HL= 134 ± 2, p< 0,05) (Figura 19D). O t encurt50% foi similar entre os grupos HG, HL e HLA.

Em relação aos parâmetros de relaxamento, os grupos HG, HL e HLA apresentaram valores similares na velocidade máxima de relaxamento (µm/s), quando comparados ao C. No entanto, o grupo HG apresentou menor VMR em relação aos grupos HL e HLA, respectivamente (HG: 2,09 ± 0,10 versus HL: 2,49 ± 0,11 e HLA: 2,68 ± 0,11, p< 0,05) (Figura 19C). Os grupos HL e HLA reduziram o tempo até 50% do relaxamento (ms) quando comparados aos grupos C e HG, respectivamente (C: 160 ± 4 e HG: 148 ± 3 versus HL: 134 ± 3 e HLA: 133 ± 3, p< 0,05). Não houve diferença entre o C e HG para o t relax50% (p=0,11). Não houve diferença entre as VMR e os t relax50% dos grupos HL e HLA (Figura 19E).

Figura 19. A) Percentual de encurtamento (PE). B) Velocidade máxima de encurtamento (VME). C) Velocidade máxima de relaxamento (VMR). D) Tempo até 50% do pico de encurtamento (t encurt50%). E) Tempo até 50% do relaxamento (t relax50%). C: Controle (n=5, células= 71); HG: Hiperglicídico (n=6, células= 115); HL: Hiperlipídico (n=6, células= 106); HLA: Hiperlipídico com açúcar (n=5, células= 81). Valores expressos em média ± EPM. ANOVA uma via para amostras independentes, complementada com o teste post-hoc de Tukey. p<0,05; *vs. C; # HG vs. HL; & HG vs. HLA.

5 - DISCUSSÃO

O presente estudo teve como objetivo o desenvolvimento e caracterização de um modelo experimental de obesidade a partir de dietas hipercalóricas que acarretassem distúrbios metabólicos e prejuízos cardiovasculares e, consequentemente, insuficiência cardíaca. Inicialmente três modelos experimentais foram delineados com quantidades elevadas de açúcar e/ou gordura saturada. Os principais achados do estudo foram que os modelos experimentais a partir de gordura e/ou gordura associada ao açúcar acarretaram obesidade e comorbidades, tais como hipertensão, intolerância à glicose e hiperleptinemia. O modelo experimental a partir de uma dieta rica em açúcar acarretou disfunção contrátil de forma pontual visualizada por menor percentual e velocidade máxima de encurtamento. Contudo não foram observadas alterações morfológicas nos três modelos experimentais de obesidade que evidenciem o processo de remodelação cardíaca com predisposição à insuficiência cardíaca.

5.1 - Modelo Experimental de Obesidade

Modelos experimentais que mimetizam os hábitos alimentares da população têm sido amplamente utilizados para elucidar os mecanismos oriundos da obesidade e comorbidades (ANGELOVA e BOYADJIEV, 2013). Os primeiros relatos do uso de intervenções nutricionais no desenvolvimento de modelos experimentais de obesidade datam de 1940 (BUETTNER et al., 2007). No entanto, na década de 1950, BARBORIAK (1955), MASEK (1959) e MICKELSEN (1958) descreveram o uso de dietas ricas em gordura, carboidrato ou proteína para explanar a relação entre a proporção desses nutrientes e o desenvolvimento de obesidade. Os autores demonstraram que animais alimentados a partir de dietas ricas em gordura e carboidrato apresentaram maior ganho de peso corporal e gordura na carcaça quando comparados àqueles que receberam dietas hiperproteicas após 44 semanas (MASEK 1959). Dentro desse contexto, estudos foram conduzidos por curtos períodos (12 a 16 semanas) com dietas hiperlipídicas, sendo observados aumento de peso corporal caracterizado por elevação acentuada de adiposidade, intolerância à glicose e resistência à insulina, indicando que essas dietas eram eficazes na elaboração de modelos válidos de obesidade e síndrome metabólica (HARROLD et al., 2000; FAROOQI et al., 2001).

Nesse sentido diversos estudos utilizam dietas com adição de alimentos e/ou ingredientes hipercalóricos, no entanto, nem sempre é visualizado equilíbrio entre os componentes nutricionais, sugerindo um possível viés metodológico, uma vez que os achados e

conclusões podem ser decorrentes do aumento de um componente específico (gordura ou carboidrato) em detrimento dos demais (CAMPOS, 2014). Em revisão sobre o tema, Buettner et al. (2007) e Fernandes et al. (2016) concluíram que não há consenso sobre a concentração de macronutrientes utilizados por diversos autores em intervenções hipercalóricas. Os autores destacaram que os estudos apresentam variação no percentual de gordura entre 20% e 60%, bem como na fonte de gordura utilizada, a qual poderia ser de origem animal (banha de porco e

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