• Nenhum resultado encontrado

Parâmetros hematológicos na gestação: relação com índice de massa corporal e idade gestacional.

REVISÃO DE LITERATURA

Artigo 3: Parâmetros hematológicos na gestação: relação com índice de massa corporal e idade gestacional.

5. RESULTADOS

Para realização das análises estatísticas descritivas e inferenciais dos níveis hematológicos e de reservas de ferro, avaliou-se a homogeneidade dos grupos de 185 e 146 gestantes em relação às características sociodemográficas, econômicas, obstétricas e antropométricas.

Teste da homogeneidade dos grupos de gestantes em estudo

Nos dados das Tabelas 1 e 2, as variáveis quantitativas relacionadas às características sociodemográficas, econômicas e obstétricas dos grupos de 185 e 146 gestantes foram observadas.

Tabela 1. Análise descritiva das variáveis quantitativas das 185 gestantes estudadas.

Variáveis n Média DP Mínimo Mediana Máximo

Idade 185 25,98 5,10 19,00 25,00 44,00

Renda per capita 185 1,67 0,99 1,00 1,00 6,00

Nº de gestações 185 2,34 1,24 1,00 2,00 6,00

Nº de abortos 185 0,45 0,68 0,00 0,00 3,00

Nº de partos 185 0,91 0,99 0,00 1,00 5,00

Nº de consultas realizadas 185 2,10 1,38 0,00 2,00 6,00

Semana de início do pré-natal 185 13,18 5,58 1,00 12,00 27,00

Estatura 185 1,59 0,08 1,30 1,59 1,82 Peso atual 185 65,37 13,86 35,00 63,80 117,50 Peso pré-gestacional 185 59,81 13,44 31,00 57,00 114,00 Idade gestacional 185 21,11 3,79 14,00 21,00 28,00 Ganho de peso 185 5,56 4,84 -6,00 5,00 23,70 IMC- pré-gestacional 185 23,74 5,04 15,06 22,72 42,60 IMC gestacional 185 25,95 5,23 15,81 25,03 43,16

Tabela 2. Análise descritiva das variáveis quantitativas das 146 gestantes estudadas

Variáveis n Média DP Mínimo Mediana Máximo

Idade 146 26,05 4,94 19,00 25,00 41,00

Renda per capita 146 1,66 1,01 1,00 1,00 6,00

Nº de gestações 146 2,34 1,23 1,00 2,00 6,00 Nº de abortos 146 0,44 0,64 0,00 0,00 3,00 Nº de partos 146 0,92 1,01 0,00 1,00 5,00 Nº de consultas realizadas 146 2,16 1,45 0,00 2,00 6,00 Início do pré-natal 146 12,66 5,51 1,00 12,00 27,00 Estatura 146 1,59 0,07 1,30 1,59 1,78 Peso atual 146 65,92 13,86 35,00 63,95 117,50 Peso pré-gestacional 146 60,15 13,60 31,00 57,00 114,00 Idade gestacional 146 21,05 3,65 14,00 21,00 28,00 Ganho de peso 146 5,78 4,82 -6,00 5,05 23,70 IMC pré-gestacional 146 23,88 5,06 16,23 22,89 42,60 IMC gestacional 146 26,18 5,17 18,03 25,04 43,16

Para verificar se os grupos eram homogêneos, foram construídos intervalos de confiança (IC) 95% de Bonferroni, para o desvio padrão (DP) e o teste estatístico de Levene para qualquer distribuição contínua (L), utilizado para a verificação de igualdade de variâncias (Tabela 3).

Tabela 3. Intervalos de 95% de confiança de Bonferroni para o desvio-padrão para os

dados das variáveis quantitativas dos dois grupos de gestantes.

Variável Grupo n DP IC 95% e DP L p

Idade 1 185 5,0985 [4,5637 ; 5,7691] 0,01 0,942

2 146 4,9387 [4,3627 ; 5,6822]

Renda per capita 1 185 0,9869 [0,8834 ; 1,1168] 0,00 0,947 2 146 1,0064 [0,8891 ; 1,1580] Número de gestações 1 185 1,2370 [1,1072 ; 1,3997] 0,00 0,984 2 146 1,2333 [1,0895 ; 1,4190] Número de abortos 1 185 0,6747 [0,6039 ; 0,7635] 0,02 0,888 2 146 0,6430 [0,5680 ; 0,7398] Número de partos 1 185 0,9875 [0,8839 ; 1,1174] 0,02 0,894 2 146 1,0069 [0,8895 ; 1,1585] Número de consultas 1 185 1,3813 [1,2364 ; 1,5629] 0,22 0,636 2 146 1,4481 [1,2792 ; 1,6661] Semana de início do pré-natal 1 185 5,5751 [4,9903 ; 6,3085] 0,14 0,704 2 146 5,5092 [4,8666 ; 6,3385] Estatura 1 185 0,0747 [0,0669 ; 0,0846] 0,00 0,963 2 146 0,0744 [0,0657 ; 0,0856] Peso atual 1 185 13,8627 [12,4085 ; 15,6861] 0,01 0,918 2 146 13,8562 [12,2400 ; 15,9421] Peso pré- gestacional 1 185 13,4423 [12,0322 ; 15,2104] 0,00 0,960 2 146 13,6007 [12,0143 ; 15,6481] Idade gestacional 1 185 3,7877 [3,3904 ; 4,2860] 0,38 0,541 2 146 3,6471 [3,2217 ; 4,1961] Ganho de peso 1 185 4,8388 [4,3313 ; 5,4753] 0,03 0,867 2 146 4,8207 [4,2584 ; 5,5463] Índice de massa corporal pré- gestacional 1 185 5,0401 [4,5114 ; 5,7030] 0,00 0,972 2 146 5,0601 [4,4699 ; 5,8218] Índice de massa corporal gestacional 1 185 5,2277 [4,6793 ; 5,9153] 0,01 0,923 2 146 5,1727 [4,5693 ; 5,9514]

Pelos dados da Tabela 3, pode-se concluir que as variâncias foram iguais, conforme verificadas pelos intervalos de confiança de Bonferroni. Isto é, não existe

diferença estatisticamente significante entre o grupo de 185 e 146 gestantes, ou seja, a perda de 39 gestantes não interferiu nas análises estatísticas.

Após esta análise, os resultados deste estudo foram apresentados sob a forma de manuscritos para serem submetidos à publicação.

5.1 ARTIGO 1

Fatores associados à deficiência de ferro em gestantes atendidas em serviço público de pré-natal.

Factors associated with iron deficiency in pregnant women assisted in a public prenatal care service.

Rosângela Maria Souza de CAMARGO1, Rosângela Alves PEREIRA2, Edna Massae YOKOO3, Anita SACHS4, Janine SCHIRMER5

(1) Doutoranda do Programa de pós-graduação em Enfermagem da Escola Paulista de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo/UNIFESP, Faculdade de Nutrição, Universidade Federal de Mato Grosso/UFMT.

(2) Doutora em Saúde Pública, Professora Adjunta Instituto de Nutrição Josué de Castro, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro/UFRJ.

(3) Doutora em Saúde Coletiva, Professora Adjunta Instituto de Saúde da Comunidade, Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro/UFF.

(4) Doutora em Ciências no Curso de Reabilitação, Professora Adjunta do Departamento de Medicina Preventiva, Universidade Federal de São Paulo/UNIFESP. (5) Doutora em Enfermagem Materno e Infantil, Professora Titular da Escola Paulista de Enfermagem, Universidade Federal de São Paulo/UNIFESP.

Endereços:

(1) Avenida Fernando Correa da Costa, s/n, Bairro Coxipó, Campus Universitário – Departamento de Alimentos e Nutrição. Fone: (65)3615-8811 – email:

rosanms@terra.com.br

(2) Avenida Carlos Chagas, 373 – Ed. do Centro de Ciências da Saúde, Bloco J, 2º andar, Cidade Universitária, Ilha do Fundão, Rio de Janeiro, CEP: 21941-590 - email:

roapereira@ufrj.br

(3) Avenida Marquês de Paraná, 303 – 3º andar, Centro. Niterói-RJ. Departamento de Epidemiologia e Bioestatística. Universidade Federal Fluminense. CEP:24030-210 - email: eyokoo@terra.com.br

(4) Rua Borges Lagoa, 1341, Vila Clementino – Universidade Federal de São Paulo, CEP 04938-034, São Paulo – SP Fone: (11) 5571-5000 – email: asachs@unifesp.br

(5) Rua Napoleão de Barros, 754, Vila Clementino, Universidade Federal de São Paulo, CEP 04024-002, São Paulo –SP. Fone (11) 5594 4305 - Fax (11) 5594 4305 email:

RESUMO

Objetivo: Verificar a prevalência de deficiência de ferro sérico e sua associação com

fatores socioeconômicos, obstétricos e nutricionais em gestantes atendidas em serviço de pré-natal da rede pública de Cuiabá, MT.

Método: Estudo transversal em ambulatório de pré-natal da rede pública de Cuiabá-

MT, desenvolvido entre maio de 2008 a maio de 2009. Dados sobre as características socioeconômicas, nutricionais e obstétricas foram coletados e relacionados aos indicadores de reservas de ferro. Resultados: No período do estudo, 146 gestantes no segundo trimestre de gestação atenderam aos critérios de inclusão na pesquisa. A prevalência de anemia variou de 3,4% a 4,8%, considerando-se os valores para hemoglobina, hematócrito e volume corpuscular médio. Entretanto, as prevalências das alterações nos indicadores de reservas de ferro variaram de 11,0% para transferrina a 39,0% para ferritina. Quanto ao estado nutricional pré-gestacional, 21% das gestantes apresentavam baixo peso e 29% sobrepeso/obesidade; no período gestacional, a prevalência de sobrepeso/obesidade aumentou. Não se observou associação entre o consumo de grupos de alimentos e a presença de alterações nos indicadores de reservas de ferro. Entre as gestantes com sobrepeso/obesidade pré-gestacional, observou-se prevalência de alteração em dois ou mais indicadores de reservas de ferro. Quanto ao uso de sulfato ferroso, verificou-se que a média do índice de saturação da transferrina foi maior entre as gestantes que faziam uso de sulfato ferroso. Conclusão: O indicador que identificou a mais elevada prevalência de deficiência de reservas de ferro foi a ferritina sérica. As gestantes com sobrepeso/obesidade no período pré-gestacional apresentaram prevalências mais elevadas de alterações nos indicadores de reservas de ferro.

Palavras-chave: Gravidez. Deficiência de Ferro. Anemia. Ferritina. Estado

ABSTRACT

Objective: To investigate the prevalence of serum iron deficiency and its association

with socioeconomic, obstetric and nutritional factors among pregnant women assisted in a public prenatal care service in Cuiabá city, Mato Grosso state, Brazil.

Method: Cross-sectional study in a public prenatal care service in Cuiabá city, from

May 2008 to May 2009. Data on socioeconomic, nutrition and obstetric characteristics were collected and related to iron stores. Results: During the study period, 146 pregnant women in the second trimester of pregnancy met the research’s inclusion criteria. The prevalence of anemia ranged from 3.4% to 4.8%, considering the values for hemoglobin, hematocrit and mean corpuscular volume. However, the prevalence of changes in iron stores indices ranged from 11.0% for transferrin to 39.0% for ferritin. Regarding nutritional status before pregnancy, 21% of the women had underweight and 29% overweight / obesity; during pregnancy, the prevalence of overweight/obesity increased. There was no association between consumption of food groups and the presence of changes in iron stores indices. Among pregnant women with pre- gestational overweight / obesity, there was higher prevalence of iron deficiency characterized by the presence of two or more biochemical iron stores indices. Regarding the use of ferrous sulfate, it was found that the average percentage of transferrin saturation was higher among women who used iron sulfate. Conclusion: The index that identified the higher prevalence of iron stores deficiency was serum ferritin. Pregnant women with pre-gestational overweight or obesity showed higher prevalence of alterations in iron stores indices.

Key words: Pregnancy. Iron Deficiency. Anemia. Ferritin. Nutritional Status. Food

Introdução

Anemia em gestantes é definida pela concentração de hemoglobina inferior a 11g/dl1.

A prevalência de gestantes anêmicas em países desenvolvidos é, em média, de 18%, bem menor que a média de 56% para os países em desenvolvimento1,2 e, entre estes países, a Índia apresenta a maior prevalência de anemia, chegando a 75%3.

No Brasil, a anemia por deficiência de ferro ou anemia ferropriva é o problema nutricional de maior magnitude, sobretudo em crianças menores de 2 anos e gestantes, com prevalências de 50% e 35% desses grupos, respectivamente1,2. A deficiência de ferro resulta em aumento nas taxas de mortalidade e morbidade, diminui a produtividade no trabalho e prejudica o desenvolvimento mental, reduzindo a capacidade da pessoa para viver saudável e produtivamente4,5.

Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher indica que 30% das mulheres em idade reprodutiva são anêmicas. Em relação às gestantes, não existem estudos nacionais com dados consistentes e tem sido sugerido que a dimensão do problema gire em torno de 30 a 40%6. Em revisão, Cortês et al. (2009) destacam que no Brasil a prevalência de anemia ferropriva no segundo trimestre de gestação varia entre 9 e 44%7.

Em países em desenvolvimento, a etiologia da anemia na gravidez é multifatorial e sua prevalência varia entre as regiões6. A causa primária da anemia é a deficiência de ferro que é secundária à ingestão dietética inadequada, à maior demanda do feto e à expansão do volume sanguíneo na gestação8.

Embora a absorção do ferro esteja elevada durante a gestação, a quantidade de ferro disponibilizada pela dieta, associada à mobilização do ferro estocado seriam insuficientes para suprir a demanda imposta pelo processo gravídico9.

Entre as principais causas da anemia ferropriva, destacam-se baixo nível socioeconômico, maior número de partos, baixo nível educacional e dietas deficientes em quantidade e qualidade de ferro, entre outras10.

A anemia está associada a maior risco de morbidade e mortalidade materno- fetal e entre as complicações mais frequentes são observadas trabalho de parto prematuro, baixo peso ao nascer, pré-eclâmpsia e aumento no risco de aborto espontâneo11,12.

O Programa Nacional de Suplementação de Ferro para gestantes recomenda a suplementação deste mineral, a partir da 20ª semana de gestação, com a dosagem de 60mg de ferro elementar e 5 mg de ácido fólico, devendo-se manter essa suplementação até o 3º mês pós-parto para prevenir a anemia por deficiência de ferro13.

O estudo teve por objetivo verificar a prevalência de deficiência de ferro e sua associação com fatores socioeconômicos, obstétricos e nutricionais em gestantes.

Método

Estudo transversal, parte de um projeto mais amplo sobre a prevalência de deficiência de ferro e sua associação com fatores socioeconômicos, obstétricos e nutricionais de gestantes realizado no ambulatório de pré-natal do Hospital Universitário Júlio Müller (HUJM) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), na cidade de Cuiabá, Mato Grosso. O HUJM é hospital de referência para gestação de alto e baixo risco.

Desenho e população de estudo

A população de estudo constituiu-se das gestantes assistidas no ambulatório de pré-natal do HUJM. Foram elegíveis todas as gestantes atendidas entre maio de 2008 e maio de 2009, com idade entre 19 e 49 anos, com gestação única, que se encontravam no 2º trimestre gestacional. A idade gestacional foi obtida com base nos exames de ultrassonografia, de acordo com anotações médicas do prontuário. Considerou-se no 2º trimestre as gestantes que se encontravam entre a 14ª e 28ª semanas de gestação14.

Definiu-se também por desenvolver o estudo no 2º trimestre de gestação considerando que no 1º trimestre é frequente as gestantes alterarem os hábitos alimentares pelo aparecimento de sintomas gastrointestinais como náuseas, vômitos, dispepsia, pirose15,16 e também porque, com muita frequência, as gestantes procuram a assistência pré-natal a partir desse período7. Aquelas com enfermidades prévias à gestação foram excluídas do estudo.

No período, aceitaram participar do estudo 221 gestantes, destas 36 (16%) não compareceram à entrevista marcada, restando 185, das quais 39 (21%) não realizaram

os exames bioquímicos. Desta forma, a população constituiu-se de 146 gestantes, ou seja, 66% da composição inicial.

Coleta de dados

Os dados foram obtidos por meio de entrevistas com a aplicação de questionário que incluía questões sobre as condições socioeconômicas, história reprodutiva das gestantes, coleta das medidas de peso e estatura, aplicação de questionário de frequência de consumo alimentar (QFCA). As entrevistas foram realizadas por nutricionistas treinadas.

No período foi coletado sangue em jejum para realizar exames bioquímicos para avaliar os indicadores hematológicos e os das reservas de ferro.

Os exames bioquímicos foram realizados no laboratório de análises clínicas do Hospital Universitário Júlio Müller (HUJM) e a coleta de sangue foi feita após jejum de 8 horas, conforme padronização do laboratório. Os métodos e equipamentos utilizados nas análises, os limites que definem as alterações e a classificação dos indicadores hematológicos estão descritos no Quadro 1.

Quadro 1: Valores de referência e classificação dos índices hematológicos.

Índices

hematológicos Método de análise

Limites para diagnóstico de alteração Classificação da condição nutricional Hemoglobina (Hb)

Espectrofotometria com equipamento Pentra 80 Marca ABX, (Paris França)

Abaixo de

11g/dl1 Anemia

Hematócrito (Hct)

Método de integração numérica do volume corpuscular médio (VCM)

Abaixo de

33%1 Anemia

Volume Corpuscular Médio (VCM)

Calculado diretamente a partir do histograma de RBC (Red Blood Cell) -

Contagem de células vermelhas

Abaixo de

80fl17 Anemia

Ferro sérico (Fe)

Método colorimétrico automatizado (BT 3000, WIENER, (Biotécnica

Instrumental, Roma, Itália)

Abaixo de

67g/dl17 Deficiência de ferro

Ferritina sérica (FS)

Quimioluminescência (Modular E170 - ROCHE, Alemanha, Frankfurt)

Abaixo de 22

g/dl17 Deficiência de ferro

Transferrina (Transf.)

Método de nefelometria (processo de medida da concentração de uma emulsão por comparação de sua transparência com a de uma preparação

padrão) (BT 3000, WIENER, (Biotécnica Instrumental, Roma ,tália)

Acima de 400g/dl17 Deficiência de ferro Capacidade Total de Ligação do Ferro (CTFL)

Método colorimétrico automatizado (BT 3000 Marca WIENER, (Biotécnica

Instrumental, Roma, Itália)

Acima de 300g/dl15 Deficiência de ferro Índice de Saturação da Transferrina (IST)

Calculado com a fórmula: IST (%) = Ferro Sérico / CTFL X 100

Abaixo de

16%17,18 Deficiência de ferro

As variáveis dependentes do estudo foram: do nível hematológico de hemoglobina (Hb), hematócrito (Hct) e volume corpuscular médio (VCM) e dos indicadores das reservas de ferro: ferro sérico (Fe), ferritina sérica (FS), transferrina sérica (Transf.), capacidade total de ligação do ferro (CTFL) e índice de saturação da transferrina (IST). Para a caracterização das reservas de ferro, as gestantes foram categorizadas, conforme as alterações nos indicadores: aquelas que apresentavam um indicador alterado e as com pelo menos dois ou mais indicadores alterados foram consideradas deficientes de ferro19,20. As variáveis independentes do estudo foram: idade, escolaridade, condição marital, renda familiar per capita, idade gestacional, início do pré-natal, número de consultas, paridade, aborto, uso de sulfato ferroso, estado nutricional antropométrico e consumo alimentar.

Análise dos dados

O IMC pré-gestacional foi estimado pelas medidas de peso e estatura, esta última elevada ao quadrado, com base na estatura atual (em metros) e no peso pré- gestacional informado (em quilogramas) pela gestante, sendo utilizados como referências os limites propostos pelo Institute of Medicine dos Estados Unidos da América (IOM, 1990)21.

O IMC gestacional foi obtido com base nas informações da idade gestacional contida no prontuário e das medidas antropométricas de peso e estatura coletadas no momento da entrevista. Para a classificação do estado nutricional gestacional, utilizou- se a recomendação do Ministério da Saúde13, que classifica a gestante em baixo peso, peso normal, sobrepeso e obesidade, considerando-se o IMC e a idade gestacional por semana22.

As frequências de consumo alimentar relatadas foram transformadas em frequência diária e analisadas como variáveis contínuas. Para tanto, atribuiu-se o valor 1 quando o alimento era consumido uma vez ao dia, 2 quando duas ou mais vezes por dia. As demais opções foram proporcionalmente transformadas como descrito: 5 a 6 vezes por semana [(5+6)/2]/7 = 0,79 vezes por dia; 2 a 4 vezes por semana [(2+4)/2]/7 =0,43 vezes por dia; 1 vez por semana (1/7 = 0,14 vezes por dia); 1 a 3 vezes por mês [(1+3)/2]/30 = 0,07 vezes por dia; raramente ou nunca = 0.

Para análise, os alimentos foram categorizados em 20 grupos que incluíram alimentos fontes de ferro, os que favorecem a absorção e os que inibem a absorção do mineral, como descrito no Quadro 2.

Quadro 2 – Grupos de alimentos considerados na análise

Grupos de alimentos Alimentos

Leite e derivados Integral, semidesnatado ou desnatado, iogurte, queijo branco/mussarela, requeijão.

Carnes e ovos Ovo frito/cozido, carne de boi, de porco, frango, peixe/enlatado, embutidos e carne de sol.

Óleos e gorduras Óleo para cocção, bacon, manteiga, margarina, maionese, banha de porco.

Petiscos e enlatados cachorro quente, salgados (frito, salgados assados); enlatados (milho, ervilha, palmito e azeitona).

Cereais Pão, biscoito salgado/doce e bolos.

Arroz, macarrão Arroz e macarrão Leguminosas Feijão.

Hortaliças Alface, tomate e maxixe

Legumes cozidos Abóbora, cenoura, chuchu, quiabo e vagem. Tubérculos e raízes Mandioca e batata cozida

Frutas Mamão, banana, manga, goiaba e abacaxi.

Sobremesas e doces Sorvetes, tortas, geléia, doces/balas e chocolates.

Suco natural Suco natural

Suco artificial Suco artificial

Chá e café Chá, café (café com e sem açúcar). Refrigerantes Refrigerantes

Vísceras e miúdos Fígado de boi, moela e coração de galinha Fontes de ferro Vísceras e miúdos, carnes de boi e carne de sol. Favorecem a absorção

de ferro

Frutas ricas em vitamina C (laranja, limão, acerola e caju).

Inibem a absorção de ferro

Leite e derivados, chás, café e refrigerantes.

Análise Estatística

Os dados foram compilados no programa computadorizado SPSS versão 15.0 e foram utilizadas estatísticas descritivas, apresentando-se medidas de posição e variação. A normalidade da distribuição foi avaliada com Kolmogorov-Smirnov. Quando a distribuição era aproximada da normal, utilizou-se o Teste-t para comparação de duas médias independentes, quando não, foi utilizado o Teste de Mann- Whitney.

Na comparação de proporções foi usado o teste Qui-Quadrado ou Exato de Fisher, quando necessário. Para estes testes, foi considerado nível de significância de 5%. Foram estimadas as médias e os respectivos intervalos de confiança de 95% para as variáveis contínuas.

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Processo nº1468/CEP/Unifesp/2007) e pelo Comitê de Ética em pesquisa do Hospital Universitário Júlio Müller (Processo nº384/CEP/HUJM/2007). As gestantes que concordaram em participar do estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Resultados

As médias dos índices hematimétricos e dos marcadores séricos do estado nutricional de ferro encontravam-se dentro dos limites da normalidade. A prevalência de anemia variou de 3,4% a 4,8%, considerando-se os valores para Hb, Hct e VCM. Entretanto, os indicadores das reservas de ferro foram mais elevados, variando de 11,0% para transferrina a 39,0% para ferritina (Tabela 1).

Os dados da Tabela 2 mostram que 47% das gestantes tinham menos de 25 anos, 36% não completaram o Ensino Fundamental, 60% tinham renda familiar menor que um salário mínimo per capita, 19% viviam sem o companheiro, 41% eram primíparas, 37% sofreram aborto, 43% encontravam-se com mais de 20 semanas de gestação, 42% relataram ter iniciado o pré-natal com mais de 12 semanas e 42% estavam realizando a primeira consulta de pré-natal. Quanto ao estado nutricional pré- gestacional, 21% das gestantes tinham baixo peso e 29% sobrepeso/obesidade e no período gestacional a prevalência de baixo peso manteve-se, mas o sobrepeso/obesidade aumentou para 40%.

As gestantes que relataram histórico de aborto apresentaram maior prevalência de deficiência de ferro sérico e de IST. A idade gestacional maior que 20 semanas foi associada à maior prevalência de deficiência de ferritina e transferrina. A presença de sobrepeso/obesidade no período pré-gestacional associou-se a maior deficiência de ferro (Tabela 2).

Não se observou associação entre consumo de grupos de alimentos e presença de alterações nos indicadores de reservas de ferro (Tabela 3).

Ao se analisar a associação entre o consumo de cada grupo de alimentos com cada um dos indicadores de reservas de ferro (ferritina, ferro, transferrina, capacidade total de ligação do ferro e índice de saturação da transferrina), observou-se que a freqüência do consumo de arroz e macarrão era mais elevada entre as gestantes que

apresentavam níveis de ferro sérico normal do que entre aquelas com ferro sérico abaixo do normal, 2,1 vs. 1,8 vezes por dia (Teste de Mann-Whitney, p < 0,01).

Entre as gestantes com sobrepeso/obesidade no período pré-gestacional observou-se maior prevalência de deficiência de ferro, caracterizada pela presença de alteração em dois ou mais indicadores de reservas de ferro (p < 0,04), porém, nesta análise não se notou associação desses indicadores com o estado nutricional gestacional (Tabela 4).

Quanto ao uso de sulfato ferroso, 32% das gestantes relataram que não faziam uso e as gestantes que referiram o uso de sulfato ferroso tiveram a média do índice de saturação de transferrina maior do que daquelas que não faziam uso, não sendo observadas diferenças para os demais indicadores de reservas de ferro em estudo.

Discussão

Apesar das frequências relativamente baixas de anemia observadas entre gestantes no 2º trimestre de gestação, exames mais específicos revelaram reservas inadequadas de ferro. A ferritina foi o marcador bioquímico que mais identificou a deficiência de ferro, sugerindo que possa ser um indicador de maior sensibilidade para detectar o estado nutricional de ferro, como mencionado em outros estudos23,24, provavelmente por apresentar forte correlação com o ferro em depósito nos tecidos e,