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1.2 Reprodu¸c˜ ao em bovinos e insemina¸c˜ ao artificial

1.2.5 Parˆ ametros de interesse

Para al´em do comportamento animal, as varia¸c˜oes hormonais nos tecidos envolventes do aparelho reprodutor produzidas ao longo do ciclo ´estrico tˆem consequˆencias dire- tas em alguns parˆametros desses tecidos. Alguns desses parˆametros podem ser men- sur´aveis por dispositivos aut´onomos e implant´aveis para prever a ovula¸c˜ao. Esses parˆametros s˜ao a temperatura [10] e a condutividade el´etrica [17].

A tecnologia de hoje permite a constru¸c˜ao e implanta¸c˜ao de um dispositivo eletr´onico capaz de monitorizar essas grandezas de forma n˜ao evasiva e exteriorizar os dados de interesse. A tecnologia eletr´onica potencia essa aplica¸c˜ao a longo termo devido `

1.2. REPRODUC¸ ˜AO EM BOVINOS E INSEMINAC¸ ˜AO ARTIFICIAL 11

Temperatura corporal

A temperatura corporal ´e um parˆametro que em mam´ıferos ´e estudado desde h´a muito tempo para diferentes objetivos. A temperatura depende de diferentes fatores, alguns dos quais s˜ao fatores externos e outros s˜ao fatores internos. Alguns desses fatores originam varia¸c˜oes c´ıclicas com per´ıodos bem definidos, nomeadamente o ciclo di´ario e o ciclo ´estrico.

Na fase do estro, ou seja, nas 12 horas que antecedem a ovula¸c˜ao, a temperatura do aparelho reprodutor aumenta de 37.94± 0.33◦C para 39.00± 0.64◦C, quando comparada com o per´ıodo de pr´e-ovula¸c˜ao [19]. Foi tamb´em j´a mencionado que a predi¸c˜ao de ovula¸c˜ao com base na temperatura pode ser robusta se observada a uma frequˆencia adequada. Durante pelo menos trˆes horas na fase de ovula¸c˜ao a temperatura aumenta no m´ınimo 0.4◦C por hora [20]. O pico de temperatura ´e observado no dia da ovula¸c˜ao.

Contudo, o momento da ocorrˆencia da ovula¸c˜ao ´e tarde para realizar a IA. ´E necess´ario detetar a ovula¸c˜ao atempadamente, no in´ıcio do estro. Para al´em disso, as varia¸c˜oes di´arias de temperatura podem dificultar a identifica¸c˜ao do estro com base na temperatura. H´a por isso, quem considere que a informa¸c˜ao da temperatura ´e insuficiente para a identifica¸c˜ao do estro. Ainda assim, considera-se poss´ıvel detetar a ovula¸c˜ao atempadamente, de acordo com o seguinte m´etodo:

1. ´E necess´ario realizar a m´edia de temperatura dos ´ultimos 5 dias. A m´edia permite minimizar a dependˆencia de temperatura devido ao ciclo di´ario;

2. Se a temperatura ao amanhecer, altura do dia em que a temperatura ´e m´ınima devido ao ciclo di´ario, for superior em 3 d´ecimas, do que a m´edia dos ´ultimos 5 dias, a ovula¸c˜ao ir´a ocorrer no dia seguinte.

Este procedimento apresenta uma taxa de dete¸c˜ao de ovula¸c˜ao de 78 % e uma taxa de falsos positivos de 12 %. A altera¸c˜ao deste procedimento com o intuito de reduzir a taxa de falsos positivos diminui a taxa de dete¸c˜ao. Do mesmo modo, as altera¸c˜oes com o objetivo de aumentar a taxa de dete¸c˜ao aumenta tamb´em a taxa de falsos positivos [21].

12 CAP´ITULO 1. INTRODUC¸ ˜AO

Condutividade el´etrica

Um dos efeitos fisiol´ogicos vis´ıveis do estro nas vacas ´e o aumento de volume da vulva. Esse aumento de volume ´e resultado de um singular aumento de hidrata¸c˜ao dos tecidos com consequentes altera¸c˜oes de condutividade el´etrica nos tecidos e nas secre¸c˜oes reprodutivas.

O m´etodo da dete¸c˜ao da ovula¸c˜ao por interm´edio da condutividade el´etrica foi ini- cialmente explorado e publicado por Aizinbudas e Dovilitis em 1962. Diversos es- tudos nos anos 70 referem que os fluidos reprodutivos tˆem uma resistˆencia el´etrica elevada durante a fase luteral, e que essa resistˆencia diminui durante a fase folicu- lar, sendo m´ınima durante o estro [22–24]. Apesar das descri¸c˜oes qualitativas sobre a resistˆencia el´etrica como fun¸c˜ao do ciclo ´estrico, as causas fisiol´ogicas precisas desta dependˆencia foram apresentadas em detalhe apenas em 1990 [17]. A equipa de Ezov descreveu as altera¸c˜oes de densidade celular, volume de fluido e conte´udo de eletr´olitos dos tecidos vulvares dos bovinos durante as fases do estro e diestro. O efeito dessas altera¸c˜oes traduzem-se num aumento de peso do tecido mesenchy- mal vulvar de 74 % na fase estral, relativamente `a fase diestrual. Neste estudo, a equipa sugere que o aumento do volume equivalente de tecido resulta num aumento de condutividade el´etrica, analogamente `a de um condutor cuja ´area de condu¸c˜ao aumenta.

O reconhecimento das varia¸c˜oes de condutividade el´etrica nos tecidos e secre¸c˜oes do trato reprodutivo motivou o aparecimento do m´etodo de dete¸c˜ao do estro e previs˜ao de ovula¸c˜ao com base nessas altera¸c˜oes, por inser¸c˜ao de provas de medida no l´umen. Contudo, a impedˆancia medida depende de animal para animal limitando assim a efic´acia deste m´etodo. Para al´em disso, a inser¸c˜ao do dispositivo de medida pode originar les˜oes, infe¸c˜oes ou transmitir doen¸cas. Devido `as limita¸c˜oes do m´etodo, a equipa de Feldmann [25] propˆos a monitoriza¸c˜ao cont´ınua da impedˆancia vulvar atrav´es de el´etrodos implant´aveis ligados eletricamente a um dispositivo de trans- miss˜ao de dados. A an´alise de dados, correspondentes a intervalos de tempo entre 20 e 38 dias, comprovou o aumento de condutividades el´etrica durante a fase do estro.

1.2. REPRODUC¸ ˜AO EM BOVINOS E INSEMINAC¸ ˜AO ARTIFICIAL 13

Posteriormente foi investigada a rela¸c˜ao entre resistˆencia el´etrica vulvar com as hormonas estrog´enio e progesterona [26, 27]. Neste estudo foram aplicados el´etrodos implantados no tecido vulvar, ligados a um transmissor de dados. Conforme ´e apresentado na figura 1.1, foi observada uma forte rela¸c˜ao entre a resistˆencia el´etrica vulvar e as concentra¸c˜oes hormonais nos ov´arios. Ficou tamb´em verificado que a resistˆencia el´etrica vulvar ´e m´ınima no per´ıodo do estro.

6 8 10 −6 −10 −8 −4 −2 0 2 4 0 2 4 5 1 150 160 165 155 170 6 3 E st ro g´e n io [g /l · 10 − 9] P ro ge st er on a [g /l · 10 − 9] Dia do ciclo R es is tˆe n cia [Ω ]

Figura 1.1 – Evolu¸c˜ao da resistˆencia el´etrica vulvar e concentra¸c˜ao das hormonas estrog´enio e progesterona ao longo do ciclo ´estrico. O valor m´ınimo de resistˆencia el´etrica ´e observado no centro da fase estral.

Fica por testar a efic´acia de um sensor de condutividade el´etrica e temperatura im- plantado definitivamente no m´usculo vulvar. Neste caso as varia¸c˜oes de impedˆancia devem-se exclusivamente `a fase do ciclo estral. A correla¸c˜ao de dados de impedˆancia com os dados de temperatura pode constituir um m´etodo de previs˜ao de ovula¸c˜ao muito robusto. Esta solu¸c˜ao possui as caracter´ısticas do m´etodo ideal. A medi¸c˜ao destes parˆametros fisiol´ogicos para dete¸c˜ao do momento ´otimo de proceder `a IA j´a foi proposto [28, 29]. Contudo ainda n˜ao foram apresentados dispositivos que permitissem testar o m´etodo.

14 CAP´ITULO 1. INTRODUC¸ ˜AO

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