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Para que o brincar das crianças seja realmente valorizado como parte integrante do

No documento Patrícia Dias dos Santos Léda (páginas 66-71)

processo de desenvolvimento dos seus alunos, torna-se necessário que os professores envolvidos tenham a clareza de que alguns aspectos necessitam de atenção especial.

Segundo Moyles (2002), os adultos precisam saber mediar, observar, monitorar e registrar as atividades e os progressos ocorridos. Complementando esta opinião, Cunha (2006) revela que o professor tem um papel importantíssimo como animador do processo de

conscientização de seus alunos. Principalmente visto que no brincar ele leva os alunos a perceber

detalhes que não haviam visto, além de ajudá-los a estabelecer relações de causa e feito.

Em Jaeger (2003), a concepção de Platão quanto ao lugar do educador nos remete ao mesmo tempo à dimensão histórica e atual de reflexões e ensinamentos:

“O educador deve evitar com o maior cuidado criar na criança o que hoje denominaríamos um complexo de inferioridade, resultado a que facilmente conduz um a educação opressiva. O objetivo deve ser educar a criança na alegria, pois é logo desde muito cedo que as bases da harmonia e do pleno equilíbrio do caráter devem ser lançadas na alma do Homem. Consegue-se este justo meio termo, com a preocupação de não oferecer à criança só prazer, assim como de não afastar dela o prazer, por sistema” (p.. 1351).

Um aspecto importante, para Moyles (2006), seria os educadores da primeira infância, se fazerem duas perguntas regularmente: Qual é a qualidade do brincar que estou proporcionando? E como posso melhorar esta atividade?

Froebel (1826; 1913) também ressaltou a importância do professor na educação infantil:

“Por inconsciente que seja este pressentimento, ao maestro dependerá toda a eficácia de sua obra educadora. Essa fé infantil no ambiente vivificador da escola: graças aquelas pedras que o maestro dá as crianças que se convertem em seu entendimento e seu coração. Este pressentimento e esperança, permitem que o pequeno, pense no todo, sinta um verdadeiro amor a sua escola” (p. 144).

Winnicott (1975), preocupado com relação às pessoas que acompanham as crianças no seu momento mágico do brincar, comenta:

“Os responsáveis devem estar disponíveis quando crianças brincam, mas isso não significa que precisem ingressar no brincar das crianças. Quando o organizador tem de se envolver, numa posição de administrador, ocorre então a implicação de que a criança ou crianças são incapazes de brincar no sentido criativo que pretendo expressar nessa comunicação” (p. 74).

Os professores poderiam ser pessoas que estivessem realmente colaborando para o futuro das crianças, dando ênfase ao brincar dos pequeninos, pois o brincar é também algo prático. Para Moyles (2002) quando crescerem, as crianças provavelmente terão problemas diários, que hoje não possuem, afinal seus pais pensam por elas. Mas quando brinca, a criança se vê na obrigação de encontrar soluções para os problemas que se apresentam na ação lúdica. Portanto, esta atividade poderá contribuir para o desenvolvimento de conceitos que futuramente serão de grande utilidade para as crianças. E no brincar, os alunos trabalham sem perceber:

“As crianças que relutam em envolver-se no „trabalho” escolar quase inevitavelmente vão brincar na escola, e os professores precisam dirigir esse brinca, a fim de que ambas as situações produzam o mesmo produto final de aprendizagem” (p. 144).

Por sua vez, o professor também pode brincar enquanto leciona. Segundo Freire (2008), o educador que ri e brinca na construção de sua aula desmistifica o modelo teórico, favorecendo sua relação com a turma, humanizando-se, percebendo seus erros e rindo deles. Nesta perspectiva, Lajonquiére (1992), lembra que:

“Na medida em que o sujeito (re) constrói o conhecimento no campo do Outro, as ações são, efetivamente, engendradas desde “fora” ou, em outras palavras, as aprendizagens resultam possíveis graças à “presença” de um outro” (pg. 183).

A atenção do professor precisa ser redobrada quando trabalha com o brincar da criança, pois muitas vezes elas podem levar o profissional a se perder nos planos de aula, conforme Freud (1920; 2006) nos descreve:

“A novidade é sempre a condição do deleite, mas as crianças nunca se cansam de pedir a um adulto que repita um jogo que lhes ensinou ou que com elas jogou, até ele ficar exausto demais para prosseguir (p. 46).

Moyles (2006), como educadora, preocupa-se com os professores e suas posições perante o brincar:

“Qualquer pessoa que tenha observado o brincar durante algum tempo reconhece que, para as crianças pequenas, o brincar é um instrumento de aprendizagem. Os profissionais que reconhecem e apreciam isso podem - por meio de provisão, interação e intervenção no brincar infantil – garantir a progressão, diferenciação e relevância do currículo” (p. 15).

Existe para Freire (2008) uma espécie de combinado entre os educadores e seus educandos, onde todo este processo de crescimento exige compromisso de ambos:

“O que parece ser necessário é uma oportunidade para os professores desenvolverem um sólido conceito do brincar, com um rigor acadêmico aceitável para todos aqueles envolvidos, como uma justificativa para sua existência prática nas escolas de ensino fundamental. Ele deve satisfazer os pais e as outras pessoas, que podem achar que as crianças já brincariam o suficiente em outros contextos externos à escola, por exemplo, em casa ou no parque” (p. 18 e 19).

O professor tem o papel de garantir que o desenvolvimento aconteça e que fatores emocionais, sociais, éticos e morais estejam envolvidos na aprendizagem. Cada um desses fatores é interdependente e inter-relacionado com o intuito de produzir uma pessoa com capacidade de questionar e resolver desafios, como também está inter-relacionada a relação entre o professor e sue aluno.

Conforme Freire (2008) elucida, o educando imita o seu educador. E este por sua vez, atende às expectativas de modelo para seu educando, pois, se identifica com este educando que já foi um dia, com as hipóteses que este formula:

“É neste sentido que o sujeito (criança, adolescente ou adulto) faz o percurso do expectador (reproduz), o ator (reapresenta) e só depois do autor “(p. 75).

O desafio de ensinar para Freire (2008) é o de provocar o desequilíbrio entre os saberes do grupo, colaborando para que necessidades, vontades e interesses sejam apontados, para que ocorra a alimentação teórica da aprendizagem e, conseqüentemente, as mudanças.

Para que todas essas idéias aconteçam no brincar, torna-se necessário, segundo Maluf (2007), que o professor proponha atividades que utilizem imaginação, criatividade, equilíbrio, agilidade de movimentos e raciocínio. O professor, para Moyles (2006), não teria um papel nem passivo nem ativo no brincar e sim, proativo.

Também Kupfer (2001) clareia que o professor quando entra em contato com a psicanálise ouve falar no sujeito e aprende a levá-lo em conta. O pensamento de que o brincar seria algo pouco sério e que não pode ser misturado às questões mais sérias traz à tona alguns velhos conceitos por parte de várias pessoas, inclusive dos professores.

Moyles (2002) ressalta que alguns professores ainda pensam que seus alunos só aprendem quando eles estão ensinando, apesar das experiências de observação e de envolvimento com o brincar infantil, muitos professores ainda pensam desta forma. Em concordância com esta afirmação, Freire (2007) salienta:

“Vale a pena abrir um parênteses aqui para falar da importância das descobertas das crianças. É fundamental que as crianças tomem consciência de que elas estão fazendo, conquistando, estão se apoderando do seu processo de conhecimento. E o professor, igualmente, com elas, os dois são sujeitos desse processo na busca do conhecimento” (p.45).

O docente tem uma função de extrema relevância para a criança que está aprendendo a viver neste mundo adulto e se desenvolve a cada nova experiência. Esta pessoa que é o agente promotor deste aprendizado, precisa sempre tomar o cuidado de não bloquear o desenvolvimento da criança.

Moyles (2002) sustenta que a auto-estima de uma criança constitui algo em desenvolvimento. E é papel dos professores evitarem ressaltar os fracassos de seus alunos. Tanto o brincar livre quanto o dirigido são aspectos fundamentais na relação professor e criança, porque

no brincar livre o professor permite o desenvolvimento e no brincar dirigido faz a mediação da aprendizagem. O professor neste momento faz o papel de mediador:

“Daí a importância de salientar este papel do professor como organizador. Organizador no sentido, porém, de quem observa, colhe os dados, trabalha em cima deles, com total respeito aos educandos que não podem ser puros objetos da ação do professor” (p. 21)

Quanto à questão no contexto educacional, Moyles (2006) alerta que o brincar pode ser algo problemático para alguns professores. Devido a muitas das características que estão diretamente ligadas ao brincar, tais como liberdade, espontaneidade, exuberância, criatividade, posse e divertimento, talvez não se adéqüem ao formato esperado e planejado pelas escolas.

4.1 - A Criatividade Inerente ao Brincar

Como seres humanos, nos diferenciamos dos animais por nossa capacidade e aprender, mudar, transformar, criar, fazer história, na qual o pensar alicerça esse processo de mutação (Freire, 2008, p. 48).

No documento Patrícia Dias dos Santos Léda (páginas 66-71)