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4.2. Ressonância Funcional

4.2.1. Paradigma Cognitivo

O paradigma cognitivo foi desenvolvido para demonstrar efeitos tanto de memorização como de reconhecimento no LTM e em outras regiões cerebrais.

4.2.1.1. Estímulos

Foram estudados três modalidades de estímulos nessa pesquisa: padrões, cenas e palavras (figura M1). Essas modalidades possuem graus de ―verbalizidade‖ distintos, sendo as palavras os estímulos mais verbalizáveis; e padrões, os menos verbalizáveis (Golby, Poldrack et al. 2001). Além disso, cada uma das modalidades podia ser subdividida em dois tipos, conforme figura M1.

Padrões foram obtidos de locais diversos na Internet; cenas foram obtidas de bancos de dados Corel (Corel Corp., Ottawa, ON, Canadá); e palavras foram extraídas do Toronto Word Pool (Friendly, Franklin et al. 1982).

Figura M1. Modalidades de estímulos. As palavras utilizadas foram em inglês em vista da população estudada.

4.2.1.2. Memorização

Foram realizadas nos controles três tarefas de memorização, cada uma utilizando uma modalidade de estímulos específica, e cada uma sendo executada dentro de uma única

seqüência de RMF. Em cada tarefa, 88 estímulos foram apresentados utilizando o MRER (método relacionado a eventos rápidos ou, do inglês, event-related), dos quais 44 foram apresentados somente uma vez (condição ―novos‖) e 2 foram apresentados 22 vezes cada um (condição ―repetidos‖). Os estímulos do tipo ―novos‖, conforme resultado da tarefa de reconhecimento, puderam ser subclassificados em ―novos lembrados‖ e ―novos esquecidos‖. As ativações observadas durante a memorização foram estudas pelos contrastes ―novos > repetidos‖ e ―lembrados > repetidos‖.

Os estímulos foram apresentados através de óculos de vídeo compatíveis com aparelhos de RM (Resonance Technology, Los Angeles, CA, EUA,

http://www.mrivideo.com, figura M2). Esse tipo de dispositivo possui a vantagem de envolver todo o campo visual na apresentação do estímulo, evitando distratores externos. Ele também ajuda a diminuir a ansiedade que ocorre em muitas pessoas ao entrar no aparelho de RM, pois torna-se mais difícil perceber a restrição de espaço no núcleo do magneto. Durante a aquisição de imagens estruturais do cérebro, os óculos foram utilizados para entretenimento dos

sujeitos, com apresentação de documentários sobre a vida marinha.

Figura M2. Óculos de vídeo utilizados para apresentação de estímulos.

Cada estímulo foi apresentado por 2000 ms, e o intervalo entre estímulos (IEE) variou aleatoriamente entre 1000 e 1500 ms. O uso de IEEs irregulares é uma exigência do MRER e tem por objetivo causar uma dessincronização dos picos de resposta hemodinâmica (RHD) que, caso contrário, se sobreporiam, impedindo a análise estatística do sinal. A ordem de apresentação dos 88 estímulos de cada tarefa foi randomizada, assim como foi a ordem de execução das tarefas.

―repetidos‖, podiam ser também de dois subtipos: padrões podiam ser irregulares ou regulares; cenas, externas ou internas; e palavras, concretas ou abstratas. Dos 44 itens ―novos‖, 22 pertenciam a uma dessas categorias e 22 à outra. Idem para os 44 itens

―repetidos‖. Os sujeitos deveriam indicar através de um aperto de botão, a qual categoria cada estímulo pertencia. Na tela (figura M3), abaixo de cada estímulo, uma linha indicava qual botão deveria ser utilizado para indicar cada categoria (o botão da direita ou o da esquerda). Além de conduzir a resposta comportamental (aperto de botão) de cada estímulo, a caixa de botões (Current Designs Inc., Philadelphia, PA, EUA, http://www.curdes.com, figura M4) também informava ao computador de registro sobre cada pulso de radiofreqüência (RF) emitido pelo aparelho de RM.

Figura M3. Apresentação de estímulo com instruções (tela típica deste estudo). O sujeito deveria apertar o botão esquerdo se a cena fosse interna (indoor), ou o direito se fosse externa (outdoor).

Figura M4. Caixa de botões. Apenas botões esquerdo (verde) e direito (azul) foram utilizados.

A apresentação dos estímulos foi inteiramente controlada por um programa, chamado ―pyMem‖, desenvolvido no próprio laboratório (pelo próprio aluno). Esse programa foi baseado na biblioteca de programação ―pyEPL‖ (Python Experiment Programming Library) do Laboratório de Memória Computacional da Universidade da Pennsylvania (Philadelphia, PA, EUA) e roda em plataforma Linux; nesta pesquisa, em um computador portátil Dell (Round Rock, TX, EUA). Além de planejar (randomizar) e executar a apresentação dos estímulos, esse programa registra também o momento, com resolução de milissegundos, em que cada aperto de botão e cada pulso de radiofreqüência (RF) foi recebido pelo computador. Esse registro foi posteriormente utilizado para a geração de vetores contendo os marcadores de tempo (timestamps) de cada estímulo, necessários para processamento do sinal de RMF pelo MRER.

A tarefa de reconhecimento foi realizada em controles de forma muito semelhante à de memorização, embora ela tenha sido realizada algumas vezes fora do aparelho de RM, por questões de tempo. Em pacientes, ela não foi realizada devido à longa extensão dos

protocolos de memorização e reconhecimento combinados. Quando realizada fora do aparelho, a tarefa de reconhecimento serviu basicamente para subclassificar os estímulos ―novos‖ da tarefa de memorização em ―novos lembrados‖ e ―novos esquecidos‖.

Assim como na memorização, no reconhecimento também foram apresentados 88 estímulos em cada tarefa. Para cada uma das cinco modalidades de estímulos, foi realizada uma tarefa de reconhecimento. Dos 88 estímulos, 44 eram exatamente os mesmos 44 estímulos ―novos‖ da respectiva tarefa de memorização (que no reconhecimento foram chamados de ―antigos‖), e 44 eram estímulos que não haviam sido apresentados durante a memorização (chamados de ―distratores‖). O sujeito deveria indicar através da caixa de botões se o estímulo sendo apresentado era antigo ou se era um distrator. Conforme as respostas, os estímulos das tarefas de reconhecimento puderam ser subclassificados em ―antigos corretos‖ (corretamente identificados como antigos), ―antigos incorretos‖ (antigos identificados como distratores), ―distratores corretos‖ (corretamente identificados como distratores), e ―distratores incorretos‖ (distratores identificados como antigos). Essas 4

condições permitem o cálculo de diversos tipos de contrastes. Nesta pesquisa, utilizamos para as tarefas de reconhecimento, os contrastes ―estímulos corretamente lembrados > linha de base‖ e ―todos estímulos previamente apresentados > linha de base‖ (contrastes com melhor consistência na produção de mapas de ativação).