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Paradigma(s) da Intervenção/Investigação

CAPÍTULO III – ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO 1 Definição da Hipótese e dos Objectivos

2. Paradigma(s) da Intervenção/Investigação

Uma vez definidos os objectivos gerais e específicos, pensamos que tanto o Paradigma

Metodológico Qualitativo, como o Quantitativo foram essenciais para o cumprimento dos

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Após algumas leituras efectuadas no âmbito da investigação qualitativa, apercebemo-nos que a concepção tradicional da ciência é, maioritariamente, quantitativa quer quanto aos conteúdos, nomeadamente nas ciências físicas, quer quanto aos métodos. Todavia, nas ciências sociais e humanas, o tratamento estatístico substitui-se, muitas vezes, pela compreensão profunda dos fenómenos impedindo a aplicação dos métodos quantitativos, ou pelo menos o uso exclusivo dos mesmos, senão, caso contrário, poderá obter-se resultados banais. Assim sendo, e à luz de Bogdan & Biklen (1994), entendemos que a investigação qualitativa e os seus métodos são uma resposta às limitações reveladas pelos métodos quantitativos.

A investigação qualitativa, segundo os mesmos autores, centra-se, essencialmente, na compreensão profunda dos problemas, ou seja, investiga o que está ‘por trás’ de certos comportamentos, atitudes ou convicções. Esta actua no seio de fenómenos sociais inerente à acção humana visando compreender os factos tendo em conta o contexto em que se inserem, ou seja, o contexto sócio-cultural, os hábitos, costumes, valores e tradições. Para tal, fundamenta-se nos pressupostos teóricos/epistemológicos e metodológicos da Sociologia, ciência que estuda os factos sociais, e da Antropologia, campo científico que estuda a actividade humana nas suas múltiplas dimensões, entre outras ciências sociais. A pesquisa qualitativa baseia-se na descrição e interpretação dos dados e caracteriza-se por assumir um carácter subjectivo quer na recolha, quer no tratamento e análise dos mesmos, uma vez que o investigador é o principal ‘instrumento’ de pesquisa.

Bogdan & Biklen (1994: 47-50) apresentam-nos um conjunto de características que definem a investigação qualitativa, a saber:

“Na investigação qualitativa a fonte directa de dados é o ambiente natural, constituindo o investigador o instrumento principal”; “A investigação qualitativa é descritiva”; “Os investigadores qualitativos interessam-se mais pelo processo do que simplesmente pelos resultados ou produtos”; “Os investigadores qualitativos tendem a analisar os seus dados de forma indutiva”; e, “O significado é de importância vital na abordagem qualitativa”.

Tendo em conta estas características, podemos afirmar que este tipo de intervenção/investigação (qualitativa) foi desenvolvida para levar a cabo os objectivos a que nos propusemos dado que, neste tipo de intervenção/investigação, é permitido ao investigador assumir um papel activo na mesma, envolvendo-se com os dados da pesquisa, com os intervenientes e com os contextos inerentes. Contudo, os mesmos autores (referenciados anteriormente) defendem que nem todos os estudos qualitativos apresentam todas as suas características, sem que isso lhes retire a sua índole qualitativa.

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O interesse deste paradigma na nossa intervenção/investigação prendeu-se com o facto de podermos intervir, ou seja, de podermos penetrar na ‘realidade’ que desejávamos conhecer, ainda que de um modo subtil, e a oportunidade de aferirmos pontos de vista distintos e normalmente desconhecidos. Contudo, estivemos conscientes dos obstáculos que poderiam advir no decorrer da intervenção/investigação e que nos pudessem impossibilitar de cumprir com todos os requisitos presentes na dimensão qualitativa.

Neste seguimento, Bogdan & Biklen (1994) alertam para a cautela que o investigador terá que possuir devido ao facto de este tipo de investigação permitir uma relação muito próxima do investigador com o campo em estudo e com todos os intervenientes envolvidos, de forma a contornar os problemas que podem advir como, por exemplo, a falta de objectividade que pode resultar da pouca experiência em pesquisa, da falta de conhecimentos ou da falta de sensibilidade e entrega ao assunto em estudo. O forte envolvimento que se poderá estabelecer entre o investigador e os sujeitos inerentes à investigação também se pode revelar um obstáculo, na medida em que pode contribuir para o enviesamento dos resultados.

Vejamos alguns casos: Se, por exemplo, os sujeitos se aperceberem qual o tipo de respostas/dados que o investigador espera obter, eles podem sentir-se influenciados ao ponto de fornecerem as informações que o investigador gostaria de recolher e não as que verdadeiramente correspondem à realidade do objecto em estudo. Outra dificuldade relaciona-se com o tempo que normalmente é requerido pela investigação qualitativa, ou seja, devido ao carácter exaustivo e pormenorizado subjacente a este tipo de investigação, a ponto de se revelar o mais fidedigna e completa possível, esta requer uma dedicação por parte do(s) investigador(es) que nem sempre é exequível em termos práticos ou financeiros. Entendemos, assim, que para que todos estes inconvenientes não se concretizem, ou para que pelo menos possam ser minimizados, será necessário utilizar os métodos/técnicas adequados aos diversos tipos de investigações que se pretendem efectuar.

Ainda que a nossa inclinação estivesse mais virada para uma intervenção/investigação de índole qualitativo, não conseguimos descurar a vertente quantitativa devido a questões, por exemplo, de limitação de tempo, o que nos levou a recorrer ao inquérito por questionário, técnica de recolha de dados usual no âmbito da metodologia quantitativa, por se revelar uma técnica que permite reunir um número mais alargado de dados e uma maior facilidade de tratamento (estatístico) dos mesmos.

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Ao contrário da investigação qualitativa que se baseia na interpretação subjectiva dos dados, o principal objectivo da investigação quantitativa foca-se na interpretação objectiva da realidade que não se deixa influenciar pelos juízos de valor e crenças/convicções dos intervenientes implicados na investigação. Os intervenientes são aqui consideramos meras fontes de informação da realidade tal como ela se apresenta e não como os sujeitos gostariam que fosse e/ou lhes conviesse evitando-se, assim, enviesamento da realidade provocados pelos agentes.

Para o efeito, este modelo de investigação utiliza como instrumentos de recolha de dados o inquérito por questionário, constituído por perguntas fechadas; entrevistas estruturadas, que seguem um fio condutor de perguntas elaboradas a priori impedindo que os sujeitos/entrevistados se desviem do objectivo traçado pelo investigador/entrevistador; entre outros. No tratamento dos dados, uma das técnicas mais praticadas é a análise estatística e, por conseguinte, a apresentação dos resultados finais é feita através de um relatório também ele do tipo estatístico (Bogdan & Biklen, 1994).

Neste trabalho, como nos socorremos dos dois paradigmas de investigação, pensamos que o termo mais adequado para atribuir à nossa intervenção/investigação seria a investigação mista, justamente pela ‘mistura’ do qualitativo com o quantitativo. Pois, o nosso grande objectivo, desde o inicio, era obter informações o mais próximo possível da ‘realidade’ e, com o contributo de cada um dos paradigmas, pesamos que tal aconteceu.

Neste sentido, a vertente quantitativa esteve presente no inquérito por questionário administrado aos adultos que tinham sido certificados a nível escolar através do processo de RVCC, há pelo menos seis meses, com a finalidade de verificar se o certificado obtido se revelou indutor de mudanças/efeitos percebidos nos vários domínios da sua vida. Porém, importa referir que o inquérito, embora tenha sido constituído por perguntas fechadas (característica da metodologia quantitativa), também nele foram introduzidas perguntas abertas para que não nos afastássemos do que pretendíamos para a nossa intervenção/investigação.

A vertente qualitativa, para além de ter estado, em parte, presente no inquérito, teve uma incidência mais significativa quer nas entrevistas semi-estruturadas realizadas às entidades/organizações empregadoras, com o intuito de averiguar o reconhecimento, por parte das mesmas, quanto à certificação dos seus colaboradores/funcionários por via de processos de RVCC, quer nas conversas informais que se estabeleceram entre os vários actores sociais implicados na pesquisa e também no decorrer do estágio. Quanto às técnicas de análise de

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dados que utilizamos, a análise de conteúdo e a análise estatística, podemos dizer que elas suportam ambas as componentes de investigação.