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Paradigma de Gestão de Pessoal em meio empresarial

II – CONTRIBUTOS PARA UM MODELO DE GESTÃO DOS MILITARES NA “RESERVA”

II.3. Paradigma de Gestão de Pessoal em meio empresarial

A inconstância do mercado global impôs um novo modelo conceptual de sucesso empresarial76. Hoje a empresa de sucesso é aquela que consegue implementar de forma imediata e eficiente uma resposta às alterações impostas pelo meio empresarial global sem que esta venha a impelir a empresa ao fracasso no médio e longo prazo. Desta forma à flexibilidade externa da empresa é fundamental associar: a flexibilidade interna organizacional, alicerçada na transferência do poder de decisão para a base da estrutura organizacional (eliminação de patamares de decisão) e a mobilidade dos seus Recursos Humanos traduzida na capacidade de adaptação a novos contextos de trabalho, a novas responsabilidades, a novas funções 77.

As empresas passaram a incluir nos seus objectivos de negócio a satisfação de dois tipos de clientes. O cliente externo, para o qual a empresa procura constantemente compreender e antecipar as necessidades, proporcionando atempadamente produtos e/ou serviços com qualidade e a custos competitivos e o cliente interno, constituído pelo universo dos seus empregados (colaboradores), definindo-lhes percursos com funções atractivas e de potencial desenvolvimento orientados por objectivos individuais, de grupo e de negócio, com autonomia de decisão e alicerçado num sistema de reconhecimento e de recompensas.

Consequentemente as relações de trabalho a promover entre a entidade empregadora e o empregado passaram a ser diferentes. O empregador proporciona ao empregado uma remuneração correspondente ao valor das competências que possui e que são fundamentais para a empresa assim como a sua actualização profissional enquanto durar a relação laboral. Por seu lado, enquanto perdurar a ligação laboral, o empregador espera do empregado um valor acrescentado do seu trabalho e a manutenção dos compromissos com a empresa, com os valores e com os objectivos de negócio. Este contexto assenta no primado da formação contínua de responsabilidade individual uma vez que as empresas contratarão aqueles que, tanto do ponto de vista técnico quer comportamental, melhor se enquadrem no projecto de negócio. Para além desta, a formação inicial é igualmente encarada como uma responsabilidade individual numa óptica de reestruturação da carreira, atendendo a um referencial de competências desejado. Este contexto, exigirá que cada profissional olhe o mundo do trabalho como um mercado, compreenda as oportunidades de mercado, defina e aperfeiçoe o produto ou serviço que tem para “vender” e que faça a

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gestão da sua carreira profissional alicerçado no primado da micro-empresa – “Você & Co”78.

As pessoas, nesta nova concepção de gestão deixam de ser simples recursos humanos da organização para serem abordadas como elementos dotados de inteligência, personalidade, conhecimentos, habilidades, destrezas aspirações e percepções singulares. São elevadas a novos parceiros da organização que tomam decisões a respeito das suas actividades, cumprem metas e alcançam resultados anteriormente negociados.

II.4. Síntese conclusiva

Como identificámos anteriormente, as orientações supranacionais relativas às Políticas de Emprego e Segurança Social relevam a importância do “envelhecimento activo” recomendando, aos Estados-membros, a aplicação de medidas que nos parecem relevantes para o desenvolvimento do presente trabalho e que salientamos: o incremento da informação sobre o mercado de trabalho com vista a sustentar bons níveis de

“empregabilidade” durante vidas profissionais longas; o fomento da “ALV”; e a

implementação de medidas que apoiem os trabalhadores mais velhos na procura de novos empregos;

É nosso entendimento que a aplicação das medidas de incentivo para a manutenção dos cidadãos na vida activa ou de restrição à transição para a situação de reforma, estendem subsequentemente no tempo, as oportunidades para iniciar e/ou concluir formações em novas áreas de actividade, afastando a ideia do “…já é tarde…”.

A concretizarem-se as projecções relevadas anteriormente no que concerne à “dependência de idosos”, à “dependência económica” e à evolução da despesa pública com a atribuição das pensões de reforma, os Estados vêm-se na contingência de impor aos cidadãos participação na vida activa até mais tarde, como único garante de uma reforma segura e condigna.

No âmbito da educação e da formação, parece-nos particularmente relevante, a interacção revelada entre as linhas estratégicas definidas na Lei de Bases da Educação e na Lei da Formação Profissional privilegiando os princípios da “empregabilidade”, da “mobilidade do emprego” e da valorização da “ALV”. Esta interacção é assegurada pela implementação de um sistema de flexibilização das carreiras profissionais alicerçada num sistema de perfis de competências reconhecível e creditado para o mercado de trabalho

77 Adaptado da obra “Humanator”; Colecção Gestão e Inovação, Dom Quixote; 5ª Edição; 2003; pág 46. 78 Idem (pág 116).

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nacional e europeu que valoriza, “de per si”, a formação formal e a informal, a formação inicial e a contínua.

Resultante da implementação e operacionalização destas políticas, o cidadão vê assim reduzido, em tempo, os ciclos de formação formal (decorrente da valorização da “ALV”) e incrementado o mercado de trabalho ao espaço europeu (decorrente do reconhecimento normalizado do perfil de competências).

Hoje em dia, a Gestão de Recursos Humanos revela-nos uma evolução dos conceitos de administração, custos, formação e negociação colectiva no sentido de gestão, investimento, desenvolvimento, negociação individual e trabalho de equipa.79. Neste

contexto de transformação há que relevar as alterações dos conceitos de gestão dos recursos humanos e das relações de trabalho entre a entidade empregadora e o empregado, ocupando este, lugar de destaque no desenvolvimento estratégico do negócio.

“Cada vez mais o novo paradigma, sobretudo para os quadros, passou a ser continuarei a trabalhar aqui, enquanto tiver trabalho estimulante, oportunidades de desenvolvimento pessoal e uma trajectória de carreira que corresponda às minhas aspirações, ou seja, enquanto houver convergência de interesses e timings entre o trabalhador e a Empresa. Se essas condições não se verificarem, ou não acontecerem no prazo que o colaborador acha razoável, prossegue a carreira noutra organização”80

79 CAETANO, António ; VALA, Jorge, org. (2002) – Gestão de Recursos Humanos : Contextos, processos e

técnicas. 2.ª ed. Lisboa : RH, 2002. 463 p. ISBN 972-96897-8-4.; pág 11.

80 CAMARA, Pedro ; GUERRA, Paulo ; RODRIGUES, Joaquim (2003) – Humanator : Recursos humanos e

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