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Paradigma interpretativo e Abordagem qualitativa

4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.1 Paradigma interpretativo e Abordagem qualitativa

Os estudos dentro do paradigma interpretativo tendem a compreender a realidade por meio dos olhos dos outros. Guba e Lincoln (1994) indicam que este paradigma é estabelecido por um conjunto de crenças de natureza ontológica, epistemológica e metodológica que favorece a visão do mundo. Estas dimensões se referem à forma, à natureza e àquilo que se pode saber sobre a realidade (ontologia), à relação entre o conhecedor e o que se pode conhecer, premissa ligada à primeira, pois considera a percepção que se tem de realidade (epistemologia) e, por fim, à maneira de proceder do investigador para conhecer essa realidade (metodologia). Estas três dimensões provocam questionamentos ao pesquisador no momento de fazer a pesquisa.

Segundo Bogdan e Biklen (1994) esta visão de mundo é fruto da interação entre o pesquisador e o fenômeno estudado. Em termos epistemológicos, assume que o conhecimento

é resultado de um processo de aproximações sucessivas e de negociação de significados, que, em termos metodológicos, necessitam da presença e interação do investigador com os envolvidos para compreender o sentido que dão às coisas. Os autores enfatizam que no paradigma interpretativo os dados são “qualitativos, o que significa ricos em pormenores descritivos relativamente a pessoas, locais e conversas”. Por outro lado, “privilegiam, essencialmente, a compreensão dos comportamentos a partir da perspectiva dos sujeitos da investigação” (Idem, p. 16).

Para Alves-Mazzotti (1996), o paradigma interpretativo possui natureza interpretativa que decorre do caráter das questões e dos resultados que se espera obter. Essa pesquisa pretende estudar um fenômeno atual, de maneira aprofundada, que envolve uma variedade de dimensões e aspectos. Assim sendo, este estudo adota uma postura mais interpretativa, não apenas após os processos de compreensão de pesquisa, mas inclusive nos diferentes contextos da investigação.

Guba e Lincoln (1994), Bogdan e Biklen (1994) e Alves-Mazzotti (1996), concordam que a interação entre pesquisado e pesquisador é importante para compreender situações humanas e sociais por meio dos sentidos que essas dão às suas experiências. De tal modo, o foco desta pesquisa qualitativa interpretativa está situado na experiência que afeta e molda o significado que as pessoas dão a elas próprias e aos seus projetos de vida. Com base nos apontamentos detalhados dessa experiência, é possível descobrir situações determinantes que levam a condição em que a pessoa nunca mais volte a ser a mesma. Procura-se observar como a experiência está articulada, como o sujeito a interpreta e qual significado atribui a ela.

Dessa forma, esse estudo está diretamente relacionado ao paradigma interpretativo, pois assume que “os significados manipulam-se e modificam-se mediante um processo interpretativo promovido pela pessoa ao confrontar-se com as coisas” (BLUMER, 1998, p. 2), ao invés de uma concepção do conhecimento objetivo e puro referente a uma realidade única e monolítica, cujo sentido é exterior ao homem, em que o trabalho do investigador passa pela manipulação de variáveis e o estabelecimento de relações causais. Assim, entende-se que esse paradigma centra-se no estudo dos significados das ações humanas que, no caso deste estudo, levou em consideração as interpretações e construções estabelecidas pela pesquisadora e sujeito investigado, convivendo no contexto que está sendo explorado.

Conforme Castro-Filho (1999, p. 82), dentre as razões para a utilização desse paradigma está a importância de dar “voz” à investigada. Dessa forma, esta razão também foi abordada nessa pesquisa, bem como o conhecimento sobre o assunto desenvolvido durante a realização de práticas colaborativas com apoio de tecnologias móveis em diferentes contextos de aprendizagem. A expectativa é de que a participante compreenda a realidade da escola e dos alunos, como também questione a inserção dos dispositivos móveis no cotidiano escolar e na sua ação docente, portanto, foi importante também entender a natureza exploratória do uso dessas tecnologias a partir de práticas colaborativas em experiências educativas que vão além da sala de aula.

Neste estudo, o paradigma interpretativo estabelece uma abordagem qualitativa que pode auxiliar a elucidar e compreender fenômenos sociais, pois

[...] a contribuição da abordagem qualitativa para a compreensão do social pode ser colocada como teoria e método. Enquanto teoria, ela permite desvelar processos sociais ainda pouco conhecidos, grupos particulares e expectativas sociais em alto grau de complexidade [...] Enquanto método caracterizado pela empírea e pela sistematização, a abordagem qualitativa propicia a construção de instrumentos fundamentados na percepção dos atores sociais (MINAYO, 1994, p. 30-31).

Na abordagem qualitativa, o pesquisador procura se aprofundar na compreensão dos fenômenos que observa (ações sociais dos indivíduos), interpretando-os conforme o ponto de vista dos partícipes in loco. Deste modo, a interpretação e a necessidade do pesquisador de estar em contato direto com o campo, para recolher os significados dos comportamentos observados, evidenciam-se como características da pesquisa qualitativa (BOGDAN; BIKLEN, 1994).

Essa abordagem é também denominada naturalista porque ressalta os elementos subjetivos do comportamento humano, o mundo do sujeito, seus experimentos diários, suas interações sociais e os significados que surgem dessas experiências. Além disso, assume que a experiência humana é mediada pela interpretação que se dá por intermédio da interação do indivíduo com outro. Assim, é com base nas interações sociais que vão sendo estabelecidas as interpretações, os significados, a visão de realidade do sujeito.

Segundo Dias (2009, p. 74) é necessário incorporar à prática pedagógica princípios que se articulam com a realidade, com a visão que se tem de mundo, isso constitui “a fundamentação dos objetivos estratégicos de todo e qualquer trabalho educativo, em toda e qualquer área do conhecimento”. A autora reforça ainda que “uma epistemologia da

aprendizagem deve procurar elaborar uma teoria do conhecimento humano a partir de nossas práticas investigativas e educacionais” (Idem, 2009).

Essa pesquisa não teve a intenção de impor à investigada, em seu trabalho docente, uma estrutura padrão e/ou material completo, pelo contrário todo o processo foi construído conforme suas expectativas, interesses, com base nos resultados gerados, progressivamente, compreendendo as ações da participante envolvida na investigação, fazendo referências às suas origens e vivências e a partir daí desenvolver o trabalho colaborativo. Pensando nisso, foi selecionado o método de pesquisa-ação que estimula o docente a questionar suas próprias ideias, teorias, práticas e seus contextos como elementos de análise.