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3. FUNDAMENTOS DA METODOLOGIA MCDA

3.1 FUNDAMENTOS BÁSICOS

3.1.5 Paradigma orientador

Conforme já evidenciado, a metodologia MCDA fundamenta-se no paradigma construtivista. Para um melhor entendimento desse aspecto, abordar-se-á, inicialmente, as três visões epistemológicas do filósofo suíço Jean Piaget acerca

do sujeito e do objeto na atividade do conhecimento, as visões objetivista, subjetivista e construtivista, respectivamente.

Esse filósofo suíço estudou o processo de aprendizagem da mente humana e concluiu que o conhecimento provém, em parte, do próprio sujeito – foco na corrente de pensamento apriorista, segundo a qual existe no conhecimento das pessoas elementos que independem da experiência, são de natureza “a priori” – ; assim como também em parte provém de observações dos objetos, como advoga a corrente empirista, que se fundamenta na teoria de que a obtenção do conhecimento ocorre através da experiência – todos os conceitos, inclusive os mais abstratos e universais, são oriundos de fatos concretos (Piaget, 1991).

Tais conclusões são basilares da teoria denominada Epistemologia Genética (Rodrigues, 2014), que fundamenta a base teórica da metodologia MCDA, em termos epistemológicos.

Apresentar-se-á, a seguir, uma síntese das visões objetivista, subjetivista e construtivista de Piaget, como forma de caracterização do paradigma construtivista, o qual orienta as metodologias MCDA:

a) Visão objetivista (Landry, 1995) – o conhecimento é originado principalmente no objeto e a realidade é conhecida pela experiência independente do sujeito de conhecimento. O papel do sujeito reduz-se a registrar as experiências. Os problemas são tratados como se fossem parte de uma realidade externa – física, social ou ideal. Esses problemas têm existência autônoma. Intervir num problema é intervir na realidade.

Na ótica objetivista, a origem do problema se dá quando o sujeito percebe, na realidade, elementos que apresentam irregularidades ou inconsistências segundo determinados padrões. A partir de então, delimitam-se as fronteiras do problema de forma empírica. Ou seja, a formulação do problema implica em refletir a realidade insatisfatória e descobrir sua estrutura chegando ao ponto onde uma intervenção é considerada possível.

A resolução do problema, sob essa perspectiva, procura os meios apropriados para passar de uma realidade insatisfatória a uma realidade desejada. Os fatos são o que importa. O consultor é um perito equipado com as ferramentas necessárias para descobrir os reais fatos do problema. Os problemas individuais não são diferentes de problemas coletivos; os diferentes atores representam um papel mínimo.

b) Visão Subjetivista (Landry, 1995) – o conhecimento é originado, principalmente, no sujeito. A importância do objeto é minimizada, prevalecendo o papel dominante do sujeito. O problema não tem existência própria, é uma entidade abstrata. O centro do problema é a mente do sujeito-dependente. O problema resulta de uma tentativa do sujeito estruturar percepções novas previamente acumuladas com valores pessoais, morais, racionais e estéticos.

A origem do problema surge quando o sujeito experimenta um estado mental incômodo que deve ser aliviado. A formulação do problema implica traduzir articuladamente um estado incômodo, experimentado pela mente para explicar a origem do problema e alcançar o estado mais desejável da mente.

A resolução do problema é um processo de investigar e selecionar os meios mais convenientes para transformar o estado incômodo da mente em outro mais conveniente em relação aos valores estéticos, morais, racionais ou pessoais do sujeito.

c) Visão construtivista (Landry, 1995) – o conhecimento é o resultado da interação entre o sujeito e o objeto. O problema está mais orientado para ação e mudança; não tem existência própria; mas, sim, está fundamentado em alguma realidade objetiva.

A origem do problema aparece quando o sujeito não está satisfeito com o desempenho de um evento e se interessa em investigar as razões dessa insatisfação, tentando mudar a situação.

A resolução do problema, na visão construtivista, por sua vez, tem como pressuposto básico o fato de reconhecer a importância da subjetividade dos

decisores. Nesse caso, busca-se construir, por meio de hipóteses de trabalho, um modelo de avaliação que reflita essa subjetividade.

No construtivismo, enquanto paradigma orientador da metodologia MCDA, o processo decisório se dá a partir da interação entre os diversos atores envolvidos, num construto de aprendizagem, considerando-se os aspectos subjetivos desses atores: valores, objetivos, critérios, aspirações, cultura, intuição, preferências deles (Gomes, 2007).

No processo decisório apoiado pela metodologia multicritério, os atores participam tanto da definição do problema a ser resolvido, quanto da construção do modelo de avaliação das alternativas de solução, num processo interativo de aprendizagem e evolução, que devem ser apoiados por procedimentos formais (Bana Costa, 1992; Ensslin et al., 2001; Roy, 1996; Xavier, 2010).

Xavier (2010) evidencia que, no paradigma construtivista, se reconhece que os aspectos subjetivos influenciam a percepção das informações disponíveis por parte dos decisores advindas do contexto decisório.

Esta percepção, entendida como uma noção oriunda da psicologia cognitiva, conforme Davidoff (1983), é definida como o processo de organizar e interpretar dados sensoriais recebidos para desenvolver a consciência do ambiente que cerca o indivíduo. Em síntese, esse paradigma parte do pressuposto de que o comportamento das pessoas é baseado na interpretação que se faz da realidade, e não da realidade em si.

Em última análise, ressalta-se que, segundo Checkland (1985), a Pesquisa Operacional tradicional baseava-se no paradigma racionalista, a partir de formas de pensar e de resolver problemas voltados para a busca de soluções ótimas para a resolução de problemas complexos em um único critério, sem valorizar as percepções dos atores envolvidos no processo de tomada de decisão.

Por outro lado, a metodologia MCDA, com fundamento no paradigma construtivista, adotou uma postura em que os problemas são construídos – e

entendidos – antes de se tentar resolvê-los; os problemas são tratados de forma abrangente e com foco na busca não da melhor alternativa, mas da que melhor satisfaça os decisores (Roy, 1993; Reichert, 2012).