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Um paralelo entre o Português Brasileiro e o Inglês Americano Geral com respeito às

4 PROCESSOS FONOLÓGICOS

4.2 Um paralelo entre o Português Brasileiro e o Inglês Americano Geral com respeito às

Os exemplos em (29), retirados de situações corriqueiras de sala de aula, mostram casos de interferência, em que as restrições fonotáticasda língua materna prevalecem:

(29) Inglês Falante com interferência do Português a- [‘kæb] cab (taxi) [‘kæbi]

b- [‘"I#k] think (pensar) [’tI#ki] c- [‘"I#k] think (pensar) [’sI#ki] d- [’pI#k] pink (rosa) [’pI#ki] e- [mæn] man (homem) [men] f- [men] men (homens) [men]

Os exemplos (a), (b), (c) e (d) mostram que o falante insere uma vogal /i/ ao pronunciar palavras que terminam com oclusivas obstruintes (no caso [b] e [k]), pois, no PB, as obstruintes não são licenciadas para fechar sílabas, a epêntese se dá como uma estratégia utilizada para reparar uma estrutura silábica considerada mal formada no PB. O aprendiz de Inglês ao inserir uma vogal no final da palavra aproxima a sílaba do Inglês a uma sílaba considerada bem formada em PB, feito isso há uma alteração na estrutura silábica da palavra, o que, neste caso aumenta o número de sílabas dessa palavra.

É importante lembrar que a epêntese se dá também no PB em palavras como “pacto” e “opção”, pois, o falante procura sempre obter uma sílaba bem formada. A epêntese pode ocorrer, segundo Collischonn (2007), entre seqüências de oclusiva, nasal bilabial ou fricativa surda e outra consoante, como nas palavras impacto, amnésia e afta, situações nas quais o falante dirá impac[i]to, am[i]nésia e af[i]ta. A epêntese está presente também em combinações de /#/ + consoante, como ocorre em Schneider que se realiza como /#i/neider.

Os exemplos (b) e (c) mostram ainda que o segmento ["], por não existir em PB, não é produzido por muitos aprendizes e é transformado em [t] ou [s] devido à proximidade fonético-articulatória desses dois segmentos com o ["], assim sendo, muitos falantes de PB como língua nativa não conseguem realizar o fonema ["] com todas as suas características e o realizarão com as características dos fonemas mais próximos dele no PB.

Muitos falantes de PB também não conseguem perceber a diferença entre as duas palavras dos exemplos (e) man (homem) e (f) men (homens), pois, para esses falantes, trata-se

de um segmento só, visto que não reconhecem /æ/ como fonema do PB já que o inventário do PB consiste de apenas sete vogais em posição tônica. Como a vogal /æ/ não faz parte do repertório de vogais de seu idioma, os falantes brasileiros tenderão a pronunciar esta vogal como sendo /e/, pois, para eles este é o som que mais se aproxima do novo fonema.

A confusão pode atingir todos os fonemas, mas, de uma maneira geral, a literatura, como já discorrido no Capítulo 3 sobre as vogais do Inglês, mostra-nos que as vogais são os mais difíceis de serem reconhecidos, diferenciados e produzidos.

Azevedo (1981) faz um paralelo entre as consoantes do PB e do Inglês e fornece um quadro com as diferenças entre essas duas línguas. As consoantes comuns entre as duas são: /p/, /b/, /t/, /d/, /k/, /g/, /s/, /z/, /m/, /n/, /l/. Todos esses sons são considerados fonemas tanto no PB quanto no Inglês. Há, porém, sons que são considerados fonemas em Português que não o são em Inglês ou vice-versa. O fonema /$/ somente aparece no inventário do PB e não há palavras como “folha” e “palha” em Inglês. Entretanto, no PB, sons como /t#/, /d /, não são considerados fonemas, são apenas variações de pronúncia dos sons /t/ e /d/, ou seja, são apenas variações alofônicas dos fonemas citados, já no Inglês, estes quatro sons (/t/, /d/, /t#/, /d /) são fonemas, portanto, palavras como tip (gorjeta) e chip (pedaço, lasca), assim como dely (delicatessen) e jelly (gelatina) possuem significados completamente diferentes em Inglês.

Os sons /"/, /ð/ e /#/ não aparecem no inventário de fonemas do PB, nem mesmo como variação alofônica de outros sons, desse modo, quando um aluno tenta pronunciar o verbo pensar em Inglês to think (pensar), muitas vezes pronuncia */f/ink ou */t/ink ou até mesmo */s/ink, pois não consegue achar um som equivalente a /"/ em Português. Os exemplos tirados das observações em sala de aula e da própria coleta de dados dão-nos suporte para afirmar a existência desta interferência.

Os dados coletados e analisados mostram que a interferência que acontece quando um indivíduo tenta aprender um novo idioma pode ser considerada natural, uma vez que o aprendiz transfere o inventário de fonemas de sua língua para aprender uma outra, até mesmo alunos em nível avançado de Inglês.

As vogais já apresentadas neste trabalho são outro exemplo de interferência, pois, em Inglês a tensão e, em alguns casos, a duração, são responsáveis pela distinção entre os fonemas /i:/ e /I/, o que não acontecerá no PB. O aprendiz, mais uma vez, relaciona o som que acaba de aprender com um de sua língua materna, quando esta correspondência não é perfeita, ou seja, quando o fonema que aprendeu em Inglês não é fonema também no PB, o aprendiz

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vai pronunciá-lo como o fonema mais próximo ao do PB que ele conhece. Neste caso, o aprendiz brasileiro provavelmente pronunciará as duas palavras da mesma maneira, utilizando somente o fonema presente em sua língua. As palavras beat (bater, ganhar) b/i:/t e bit (pouco) b/I/t serão pronunciadas como b/i/t indistintamente. Esta afirmação pode ser feita a partir da observação dos resultados do teste de leitura de uma lista de palavras na coleta de dados, pois, ao serem expostos ao par mínimo beat (bater, ganhar) X bit (pouco) a maioria dos alunos produzem as duas palavras como sendo uma só e com um único fonema, o /i/ do PB.

Outro exemplo de fonemas diferenciados é o par mínimo /e/ e /æ/, pois para o PB, o segundo fonema não existe, portanto, quando um aprendiz, falante de PB vai aprender o Inglês, ele poderá produzir os dois fonemas como /e/ já que o outro (æ) não está presente no repertório de fonemas de sua língua materna, assim sendo, o aprendiz pode pronunciar o singular e o plural das palavras “homem” (man) e “homens” (men) em Inglês como uma única palavra – m/e/n e m/e/n.

Um último exemplo de diferentes fonemas dessas duas línguas é o conjunto de nasais que cada uma delas apresenta. Em ambas as línguas as nasais /m/ e /n/ são consideradas fonemas, porém, há uma terceira nasal no Inglês que não aparece no PB que é /#/ como na palavra song (canção). Um aprendiz comumente produz esta palavra com o /n/ e acrescenta um /g/ no final por não conhecer o fonema /#/. Uma outra pronúncia muito comum desta palavra é com o fonema /g/ e depois uma epêntese, ou seja, a produção da palavra passaria de /so#/ para /songi/.

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