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3.3 PROPOSTA DE REPRESENTAÇÃO SINTÁTICA PARA OS VERBOS PARAR E

3.3.1 Parar e deixar com complementos de natureza verbal

3.3.1.1 Parar e deixar com InfP

Os verbos parar e deixar inacusativos funcionais subcategorizam um InfP na posição de seu complemento, como podemos observar nas sentenças abaixo, retiradas das análises realizadas no capítulo anterior.

(63) a. Pedro parou/deixou de ser inseguro. b. Pedro parou/ deixou de ler o livro. c. Pedro parou/deixou de pintar a casa. d. Joana *parou/deixou de quebrar o copo. e. João parou/deixou de tossir.

De acordo com as análises, os verbos interruptivos parar e deixar, formam sequência com predicados que apresentam o traço [+processo]. Quando as características de processo não estão presentes, a sentença torna-se agramatical, como em (63d) com o verbo parar.

O verbo deixar com predicados de accomplishments torna-se ambíguo, podendo acionar uma leitura de interrupção de uma série de eventos, ou uma leitura de não realização do evento,

como em (63c). Quando deixar figura com alguns achievements, aciona somente a leitura de não-realização do evento, como em (63d). Uma possível explicação seria que o verbo deixar, nesse caso, funcionaria como um operador de negação. Nessas sentenças a leitura acionada seria Joana não quebrou o copo, podendo, talvez estar na posição de NegP, a mesma posição ocupada pelo operador de negação não.

Pollock (1989), Laka (1990), Zanuttini (1995) e Polleto (2009) argumentam a favor da categoria NegP, mas discordam em relação à posição dessa categoria na estrutura arbórea. Zanuttini (1995), Mioto, Silva e Lopes (2004), entre outros, propõem que o operador de negação

não encabeçaria o sintagma responsável pela negação da sentença. Segundo os autores, o NegP

deve estar entre AgrP e TP, sendo inserido como complemento de Agr. Outros casos são: Joana

deixou de comparecer à reunião/ Joana não foi à reunião, Joana deixou de enviar o e-mail/ Joana não enviou o e-mail6.

Quando os verbos parar e deixar figuram com complementos infinitivos, carregam propriedades de predicados funcionais, não selecionando argumentos, e não atribuem papel temático. Como uma proposta de representação sintática para esses casos, nos amparamos nos estudos de Raposo (1989), que analisou sentenças com complementos infinitivos preposicionados no português europeu, que, à semelhança do português brasileiro, também são selecionados por verbos classificados como inacusativos. Observamos a representação sintática proposta por Raposo (1989, p. 296) para sentenças com complementos InfP:

(64) a. Os meninos estão a fumar. b. IP 3 NP I' ! 3 ec I VP 3 V PP ! 3 estão NPi PP 6 3 os meninos P clause ! 6 a eci fumar

6 Como não encontramos estudos referentes ao uso do verbo deixar como operador de negação e os estudos sobre operadores de negação não apontam uma única direção, foge do alcance do nosso trabalho tentar propor uma representação sintática para esses casos, sendo esse um bom e importante tema para pesquisas futuras, que deve ser amplamente analisado no PB.

Conforme Raposo (1989), em sentenças como em (64), ocorrem dois alçamentos do sujeito da construção infinitiva. O primeiro alçamento é denominado small raising. Nessas sentenças, o sujeito da small clause é alçado para a posição de sujeito da CIP. Já o segundo alçamento ocorre desta posição para Spec/IP, assim, o DP é marcado pela flexão do verbo aspectual com Caso nominativo. Para Rochette (1999, p. 161-162), o aspectual não seleciona nenhum argumento, uma vez que não dispõe de papéis temáticos para atribuir. A atribuição de papéis temáticos é feita pelo predicado infinitivo implícito na estrutura, por isso a representação sintática de uma sentença com verbo aspectual deve projetar a posição do predicado infinitivo, mesmo quando este estiver implícito.

Para Rochette (1999, p. 148), as propriedades sintáticas e semânticas das construções em que o verbo aspectual seleciona complemento no infinitivo indicam que o predicado principal é o verbo encaixado e é este o responsável pela seleção de argumentos e pela atribuição de papéis temáticos. Assim, a autora afirma que os verbos aspectuais apresentam características de verbos de alçamento, comportando-se como predicados funcionais, que não impõem restrições ao seu complemento e, consequentemente, nem ao sujeito da sentença. Este constitui argumento do predicado encaixado que se move para a posição do sujeito da sentença, conforme ocorre nas sentenças em (63), onde Pedro e Joana figuram como sujeitos das sentenças, mas são argumentos dos verbos infinitivos e não dos verbos parar ou deixar.

Assim, seguindo a proposta de Raposo (1989), a representação sintática que pode ser associada ao verbos parar e deixar com infinitivos preposicionados seria:

(65) a. Joana parou de fumar. b. IP 3 NP I' ! 3 ec I VP -ou 3 V PP ! 3 Par- NPi PP 6 3 Joana P Inf ! 6 de eci fumar

O verbo deixar com complemento PIfnP, seria, de acordo com a proposta de Raposo (1989), representado da merma forma que o verbo parar com complemento PInf, como

podemos observamos em (66):

(66) a. Pedro deixou de correr. b. IP 3 NP I' ! 3 ec I VP -ou 3 V PP ! 3 Deix- NPi PP 6 3 Pedro P Inf ! 6 de eci correr

Nas sentenças que parar e deixar figuram com complementos infinitivos preposicionados, há uma problemática em relação a sua representação, pois a preposição de que antecede os verbos infinitivos parece não se comportar como preposição nesses casos, já que as características de preposição imporiam restrições ao alçamento do argumento do verbo encaixado para a posição de sujeito da sentença. Essa restrição, em relação ao alçamento, é justificada pela preposição poder atribuir caso ao seu complemento, sendo assim, não teria necessidade do alçamento, pois o argumento do verbo encaixado alça para a posição de sujeito justamente para receber caso. Dessa forma, como explicar o alçamento se não for para receber caso? Como ainda não há estudos suficientes referentes a esse fenômeno, não podemos afirmar se a preposição de seria de fato uma preposição ou uma partícula que pertenceria ao verbo aspectual7. Assim, necessita-se de mais estudos para ser possível propor uma representação sintática que abarque essa posição na representação árborea de forma satisfatória e que justifique a sua posição e função na sentença, principalmente se ele for considerado uma partícula requerida pelo verbo aspectual.

7 Essa problemática e a sugestão de que o de que precede verbos infinitivos que são complementos de verbos aspectuais seria uma partícula do verbo aspectual e não uma preposição foi apontada pelo professor e pesquisador Carlos Mioto durante a realização do exame de qualificação deste trabalho.

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