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Pedimos ao Procurador da Republica José Adonis Callou de Araújo Sá que formulasse parecer jurídico a fim de definir o direito de uso das águas das fontes do Cariri que assim se posicionou.

A Partilha das Águas instituída pela Câmara de Vereadores de Crato através da Lei n0 645 de 17 de janeiro de 1854 possuía amparo legal, pois conforme Antunes (1993) a Lei de 1º de outubro de 1828 atribuiu às Câmaras de Vereadores a competência legislativa sobre águas.

A legislação hoje em vigor no país reconhece a água como um bem de domínio exclusivamente público, limitado, escasso e de valor econômico, repartido entre a União e Estados membros, não mais existindo portanto o domínio de águas pelo município.

O inciso XIII do art. 206 da Lei Orgânica vigente do Município de Crato define o tombamento e a desapropriação como instrumentos na gestão das águas das fontes existentes no município.

Esta desapropriação é inaplicável, tendo em vista pertencerem aquelas águas ao domínio do Estado. Legalmente os Municípios não podem desapropriar bens do Estado e este não pode desapropriar bens da União

Considerando a natureza do tombamento, que unicamente impõe restrição ao exercício normal dos poderes inerentes à propriedade, a utilização deste não seria o caminho mais adequado para garantir a proteção e preservação das nascentes

A outorga e a cobrança pelo uso de recursos hídricos são instrumentos de gerenciamento consolidados pela Política Nacional de Recursos Hídricos Lei n0 9433/97. Contudo define o art. 18 da Lei n0 9.433/97, que a outorga não implica em alienação parcial das águas que são inalienáveis, mas o simples direito de seu uso.

Tomando como base o direito intertemporal, inicialmente observa-se que a segurança jurídica está na relativa certeza de que as relações jurídicas constituídas sob a regência de uma lei devem perdurar, mesmo quando essa lei venha a ser substituída.

O art. 5º, inciso XXXVI, da Constituição Federal de 1988 define: A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.

Porém, na análise jurídica que discute o direito e posse das águas das fontes do Cariri realizada por SÁ e CAMPOS (2000) “o mais importante a considerar é a

A norma constitucional originária, ou seja, decorrente do poder constituinte originário, não se vincula a nenhum preceito jurídico-positivo anterior.

Poder constituinte originário, é o que produz normas constitucionais originárias, que compõem uma Constituição, quer seja a primeira que constitui o Estado, quer seja a que sucede outra existente e a substitui.

Assim, o poder que faz a Constituição é juridicamente ilimitado e incondicionado. Não fica sujeito a nenhuma regra jurídica do ordenamento anteriormente existente, vez que há verdadeiro rompimento com o sistema substituído.

Afirma SÁ e CAMPOS (2000) “não há dúvida, dessarte, que as águas das

fontes do Cariri integram o domínio do Estado do Ceará, de modo que a sua utilização há de submeter-se aos princípios, objetivos, diretrizes e instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos, fixada na Lei n0 9.433, de janeiro de 1997, e seu regulamento”

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8 - CONCLUSÃO

Para as fontes principais do Cariri existe uma legislação do século passado que determina a divisão legal de suas águas. Porém, passados quase um século e meio, a alocação legal, muitas vezes, não corresponde mais a realidade.

A nova legislação fixada nos documentos jurídicos atuais baseados na Lei 9.433/97, entra em conflito com a legislação herdada.

O estabelecimento de uma nova ordem deve-se basear, em primeiro lugar, em um levantamento cuidadoso dos recursos disponíveis.

Para a fonte Camelo, documentalmente apenas 13 m3/h são registrados para os diversos usos da água. Furos e desperdícios no trajeto da fonte ao consumidor, não justificam os 107 m3/h não alocados, que corresponde a quase 90% da vazão nominal atribuída pelo DNPM.

Nos córregos das Fontes Bom Jesus, João Coelho e Farias observa-se vários usos das águas como recreação, abastecimento, irrigação, sendo marcante a presença de desvios clandestinos e da ação danosa e inconsciente do homem, que polui e degrada o meio ambiente. Verifica-se o assoreamento através da retirada de pedras em larga escala existentes ao logo do córrego Bom Jesus no período climatológico crítico (agosto- novembro) para suprir às necessidades das empresas de Construção Civil.

A discussão em torno da privatização do Balneário do Caldas não deve estar concentrada na personalidade jurídica, pública ou privada, e sim nas noções e técnicas de gerenciamento e economia de recursos naturais.

Há sazonalidade da ordem de  5 meses nas fontes do Cariri. Esta defasagem confirma os resultados de STUDART (1991). Além desta periodicidade da vazão das fontes verifica-se tendência plurianual de decréscimo da vazão das fontes da Chapada do Araripe conforme exposto na figura 4.2 e nos dados de KEMPER (1995), onde, extrapolando a tendência, a fonte Batateira chegaria a secar em  2.025. É claro que isto é um cenário extremo; porém, merece consideração em termos qualitativos.

Não podem ser outorgados volumes fixos a longo prazo, pois as mudanças na vazão são desconsideradas.

A outorga das águas da fonte do Farias, beneficiando a empresa A.C Lazer Hotelaria e Turismo Ltda. é um bom exemplo para o fato que direitos implicam em deveres também para o Estado.

A outorga n0 002/98 de 27 de janeiro de 1998, apresentada no anexo 4, foi baseada em uma vazão muito provavelmente superestimada pelo DNPM (1997).

O direito do Estado de fornecer a outorga carrega dentro de si a obrigação de monitorar os recurso hídricos. Um sem o outro não é possível.

É

preciso ficar claro que as águas das fontes do Cariri, como afirma SÁ e CAMPOS 2000, estão sob o domínio do Estado do Ceará, de modo que a sua utilização há de submeter-se aos princípios, objetivos, diretrizes e instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos sendo urgente a interferência de órgãos estaduais competentes e a implantação definitiva do instrumento de outorga, a fim de iniciar um processo onde o Governo e proprietários sejam parceiros no gerenciamento destes mananciais.

9 - RECOMENDAÇÕES

Observando os enfoques desta dissertação percebe-se que muitas das ações em Barbalha são contraditórias, conflitantes e/ou mesmo inconsistentes. Neste sentido, faz- se necessário encontrar um modelo de gestão das Fontes onde Governo e Cidadões e órgãos responsáveis pela distribuição e conservação de nossos mananciais possam ser parceiros em um amplo projeto de mudança do uso, aproveitamento e conservação da água subterrânea.

Propõe-se como primeiro passo formar Comitês de Gestão para os principais córregos do município de Barbalha onde escoam as águas das cinco maiores fontes (ver tabela 8.1). Estes Comitês seriam formados por representantes da Prefeitura, Câmara Municipal, CAGECE, URCA, IBAMA, EMATERCE, Empresários e Representantes das Comunidades. Nos Comitês seriam decididas participativamente as ações visando a melhor gestão e conservação dos recursos hídricos.

O destino prioritário da água no que concerne aos múltiplos usos deve ser o abastecimento; por isso é preciso conhecer quantas ligações existem em cada comunidade, qual a projeção para o futuro e qual a necessidade real para fins de abastecimento, para então decidir sobre a atribuição do restante para irrigação e lazer.

Visto que o presente trabalho detectou o mal uso das águas nos principais córregos de Barbalha, contaminadas através de produtos químicos conhecendo a necessidade da água ser utilizada pela comunidade ribeirinha para lavagem de roupa

sugere-se a construção de um conjunto de tanques para esta finalidade, fora das margens dos córregos e, com canalização de suas águas.

Os impactos antrôpicos como erosão, degradação na vegetação marginal e depósito de lixo nos córregos devem ser minimizados através da implantação de um amplo processo de educação ambiental contando com participação da Universidade, Professores e Alunos das Comunidades Rurais.

Adotar sanções punitivas a quem degradar, poluir ou desequilibrar o meio ambiente para coibir ações danosas às condições naturais das águas nos córregos.

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REFERÊNCIAS

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