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CAPÍTULO 4 O AMBIENTE EM DESTAQUE: VIVÊNCIAS E INFORMAÇÕES

2. O Parque dos Falcões

O Instituto de Desenvolvimento Socioeconômico, Científico, Ambiental e Tecnológico, conhecido como Parque dos Falcões (Figura 54), é uma propriedade privada para conservação e recuperação de aves de rapina, cadastrada e regulamentada desde 2 de abril de 2004, sob CNPJ 06.180.843/0001-01. É uma das poucas instituições brasileiras que

possui certificado de Autorização de Empreendimentos Utilizadores de Fauna Silvestre, gerado pelo IBAMA para criação e recuperação de aves de rapina como: corujas, carcarás, gaviões e falcões, classificando o Instituto, a partir do Artigo 3º da Instrução Normativa nº 7, de 30 de abril de 2015 como:

II - centro de reabilitação da fauna silvestre nativa: empreendimento de pessoa jurídica de direito público ou privado, com finalidade de receber, identificar, marcar, triar, avaliar, recuperar, reabilitar e destinar espécimes da fauna silvestre nativa para fins de reintrodução no ambiente natural, sendo vedada a comercialização.

Figura 54. Entrada do Parque dos Falcões. Foto: Phellipe Cunha da Silva, em 22 de dezembro de 2018.

Localizada no povoado Gandu II, município de Itabaiana, aos pés da Serra de Itabaiana e a cerca de 45km de Aracaju, o parque foi constituído a partir do trabalho desenvolvido por José Percílio e Alexandre Correia, segundo consta no site do Parque dos Falcões:

Alexandre tornou-se "cúmplice" de Percílio no ano de 1999, mas a história do Instituto começou ainda na infância do fundador. Aos 7 anos, Percílio

ganhou um ovo de Carcará (Caracara plancus) e depois de 28 dias sendo chocado por uma galinha, nasceu Tito, seu primeiro grande amigo. Hoje, Tito tem 27 anos e o Instituto cuida de mais de 300 aves, entre gaviões, falcões, corujas, socós-boi, pombos, etc (PARQUE DOS FALCÕES, 2019, s/p).

Diferentemente da prática da falcoaria22, o Parque dos Falcões treina suas aves a partir de vocalizações guturais23, podendo ser possível haver um “diálogo” entre o homem e ave com o objetivo de:

Ensinar a população a ver as aves de rapina sem preconceito - menos como ‘assassinas sanguinárias’ e mais como predadoras com papel fundamental na cadeia alimentar - e utilizar as habilidades específicas de cada espécie para serviços práticos, como manter livres as proximidades de pistas de pouso para evitar acidentes com aviões e controlar o ataque de aves granívoras a lavouras (PARQUE DOS FALCÕES, 2019, s/p).

O trabalho desenvolvido no Parque possui reconhecimento de diversas áreas, inclusive pelo IBAMA, o qual possui parceria com o Parque dos Falcões em que “[...] técnicos do órgão enviam aves apreendidas e machucadas para o centro conservacionista, que se responsabiliza pelo processo de reabilitação” (PARQUE DOS FALCÕES, 2019, s/p).

Algumas aves do Parque são treinadas com a finalidade de controle de pragas com o objetivo de “[...] criar bruscas modificações na localidade habitada pelos animais, de modo que a torne menos agradável e mais insegura, eliminando aos poucos os indivíduos que constituem o problema, restabelecendo assim a interação entre o homem e o meio ambiente” (PARQUE DOS FALCÕES, 2019, s/p).

Além disso, há um trabalho ligado ao ecoturismo e educação ambiental a partir da abertura do parque para visitação de pessoas, em que há explanações presenciais e audiovisuais e, posteriormente, um passeio pelos viveiros de aves que, devido a deficiências física ou psicológicas ocasionados, principalmente pelo processo de contrabando que sofreram, não possuem mais condições de retornar à natureza e são mantidas no parque com a

22 Arte praticada, principalmente na Europa, para treinar falcões para a caça.

23 Técnica vocal que utiliza a garganta para produzir som rouco, grave ou profundo, com o uso de técnica de

finalidade de poder ser desenvolvida práticas ligadas à educação ambiental para conservação/preservação dessas espécies, conforme ilustram as Figuras 55 e 56.

Figura 55. Alexandre Correia (de camisa branca) apresentando as aves nos viveiros do Parque dos Falcões. Foto: Phellipe Cunha da Silva, em 22 de dezembro de 2018.

Figura 56. José Percílio (de camisa amarela) orientando os visitantes no Parque dos Falcões. Foto: Phellipe Cunha da Silva, em 22 de dezembro de 2018.

Apesar dos esforços dos sócios José Percílio e Alexandre Correia, no que se refere a proteção e reabilitação das aves de rapina que chegam ao parque e de todo o reconhecimento da sociedade sergipana, de órgãos da esfera municipal, estadual e federal, no ano de 2017 o local foi alvo de assaltantes, conforme ilustra a matéria divulgada no site G1 Sergipe (Figura 57).

Figura 57. Grupo armado invade Parque dos Falcões. Foto: Denise Gomes/G1

Fonte: disponível em <https://g1.globo.com/se/sergipe/noticia/grupo-fortemente-armado-invade-parque-dos- falcoes-espanca-funcionarios-e-mata-uma-ave.ghtml>, acesso em 05 de janeiro de 2019.

Segundo informações do site G1 Sergipe, na ocasião do ocorrido, funcionários foram feitos reféns, além de serem espancados, ameaçados de morte e ainda houve uma tentativa de estupro de uma mulher que estava no local. Os assaltantes levaram o dinheiro arrecadado pelas entradas pagas pelos visitantes ao visitar o parque, mataram um filhote de gavião e levaram 5 (cinco) outras aves (G1 SERGIPE, 2017, s/p).

O fato ocorrido demonstra a fragilidade que espaços como o Parque dos Falcões encontra-se frente a violência crescente inclusive nesses locais mais isolados do ambiente urbano. Um monumento em homenagem ao urubu branco que foi furtado e morto pelos

assaltantes foi erguido nas proximidades da entrada do Parque dos Falcões, conforme ilustra a Figura 58.

Figura 58. Monumento em homenagem ao urubu branco. Foto: Phellipe Cunha da Silva, em 22 de dezembro.

Santos Junior (2014) entende a violência como:

Sendo uma forma de ação ou omissão que podem ser advindas do indivíduo ou grupo social, ou até mesmo de uma estrutura deficiente que não atende a função intrinsecamente imposta a ela, ou ainda quando essa estrutura, embora aparentemente atenda as funções necessárias ao seu funcionamento, não corresponde à relevência socioambiental prejudicando a coletividade, a economia, a política desenvolvimentista, e seus aspectos sociais, econômicos, políticos e culturais (SANTOS JUNIOR, 2014, p. 43).

Essa violência sofrida pelos funcionários do Parque dos Falcões é fruto desse descaso frente as demandas mais urgentes da sociedade, é reflexo de anos de desatenção do poder público para com a população. Na ocasião da visita de campo, ocorrida em dezembro

do ano de 2018, notou-se a presença da Polícia Militar nas dependências do Parque, fazendo trajeto ostensivo de segurança ao local, conforme pode-se observar na Figura 59.

Figura 59. Visita ostensiva da polícia militar nas dependências do Parque dos Falcões. Foto: Phellipe Cunha da Silva, em 22 de dezembro de 2018.

A presença da Polícia Militar visa coibir a aproximação de meliantes, visto que já ocorreu situação que pôs em risco a vida dos funcionários do parque. As atividades desenvolvidas no Parque dos Falcões visam, além de proteger as aves de rapina, fomentar a educação ambiental. A população da cidade de Itabaiana-SE por si só já vive num contexto de envolvimento direto e indireto com as questões relacionadas à natureza em virtude da proximidade com a Serra de Itabaiana que é considerada o cartão postal da cidade e motivo de orgulho para os itabaianenses.

Contudo, o trabalho executado pelo Parque dos Falcões é de grande valia para promover esta interação entre seres humanos e natureza, no sentido de sensibilizar não só a população do entorno do parque como também os diversos turistas que chegam de diversos

estados do país como também visitantes de outros países, tendo assim um papel fundamental em contribuir com a mitigação dos impactos socioambientais ocasionados pelos seres humanos.

3. Ações e reações: a expansão urbana e o meio ambiente em foco na cidade de