• Nenhum resultado encontrado

4. ÁREA DE ESTUDO

4.3. PARQUE ESTADUAL MARINHO DA LAJE DE SANTOS

O Parque Estadual Marinho da Laje de Santos foi criado pelo Decreto nº 37.537, de 27 de setembro de 1993, com área definida de 5000 ha, sendo definida no formato geométrico de um retângulo, de aproximadamente 5 km por 10 km.

O PEMLS situa-se a aproximadamente 25 milhas náuticas da costa (45 km) de Santos entre as coordenadas geográficas: 24°15’48”S, 46 12’ 00”W; 24 15’48”S, 46 09’00”W; 24 21’12”S, 46 09’00”W; 24 21’12”S, 46 12’00”W, demarcada na Carta Náutica 1711 (SÃO PAULO, 2009).

A área protegida abrange porções emersas (Laje de Santos em si e Calhaus) e imersas (parceis, fundo arenoso, e coluna d’água). As formações rochosas provavelmente são graníticas. Sua porção emersa com formato que lembra uma baleia tem 550m de comprimento, 33m de altitude, 185m de largura e a profundidade em torno da laje atinge 30m. Nos calhaus, com altitude de 14m, observa-se maior força hidrodinâmica, de modo que as correntes são mais intensas e a direção mais variável, chegando a 42m de profundidade. (IF, 2009).

52

Figura 8 Carta náutica 1711, com ênfase para a área do Parque Estadual Marinho da Laje de Santos.

Fonte: São Paulo, 2013.

Sua criação ocorreu devido a sua extraordinária diversidade e abundância de vida marinha, seu valor científico de pesquisas e descobertas, por apresentar locais de pouso, alimentação e reprodução de aves marinhas, presença de mamíferos marinhos, pela importância ecológica da área transcender suas imediações geográficas, pela beleza cênica das paisagens submarinas da área, presença de atrativos turísticos e por posicionar-se como tradicional ponto de mergulho do litoral brasileiro, comparável aos melhores do mundo. (São Paulo, 1993).

Em Agosto de 1993 o IF pediu ao Secretário de Estado de Meio Ambiente e Turismo do Maranhão cópia do decreto de criação do Parque Estadual Parcel do Manoel Luiz, considerando o seu pioneirismo (criado em 1991).

Na minuta do decreto de criação do PEMLS, o IF (da Coordenadoria de Informações Técnicas e Pesquisa Ambiental - CINP- da SMA de SP), seria responsável pela implantação e administração da nova unidade.

53 Em agosto de 1993 o MP do Estado de SP enviou à SMA ofício de apoio à criação do parque. Em 10 de setembro de 1993 o diretor do CINP envia carta ao Departamento de Reservas e Parques Estaduais, DRPE e finalmente o Secretário Edis Milaré submete a minuta do decreto à aprovação em 15 de setembro de 1993, sendo publicado em 27 do mesmo mês.

Assim como o MPF, o IBAMA apoiou a criação do parque com a publicação da Portaria 2-N de 24 de maio de 1994, impedindo a pesca e outras providências na área coincidente à do PEMLS. Outro apoio fundamental foi do 3º GBS, Grupo de Busca e Salvamento do Corpo de Bombeiros do Guarujá, que realizou várias viagens ao PEMLS com a embarcação Governador Fleury, prestando socorro aos mergulhadores na Laje.

Um dos maiores conflitos que o Parque sofreu foi quanto à posse da área. A Laje de Santos é jurisdicionada à Marinha conforme termo de entrega lavrado em 17/02/1978 na SPU, delegacia de SP, por lá haver um farol de sinalização náutica, conforme processo 0880- 5504/74 do Ministério da Fazenda.

Em Dezembro de 1994, a Divisão de Reservas e Parques Estaduais do IF enviou documento por meio do Ofício DRPE 126/94 à Delegacia de do Patrimônio da União de SP, SPU solicitando cessão ao Estado da área do PEMLS.

Em maio de 1995, o Ministério da Marinha, através da Capitania dos Portos do Estado de SP se manifestou alegando que os artigos 22 e 24 da CF de 1988 fixam os casos de competência para legislar sobre se determinadas matérias são privativas à União ou são concorrentes com os Estados e o Distrito Federal. Assim, o PEMLS deveria ter se manifestado por ato legislativo e não por decreto, portanto sua criação era inconstitucional. Segundo o Ministério da Marinha, caso o PEMLS viesse a ser objeto de lei, deveria ser observado o direito de propriedade da União sobre a Laje onde se encontra o farol em atividade da Marinha, de modo que a autorização de desembarque fosse de competência apenas da mesma, e não da administração do Parque, como sugeria o decreto.

Em resposta, a CINP-SMA alegou que os decretos são atos administrativos de competência exclusiva dos chefes do Executivo destinados a prover situações gerais ou individuais de modo expresso, explicito ou implícito, e, portanto, um decreto tem fundamento em uma ou várias leis, nesse caso como a CF, PNGC, PNMA, etc. Assim, o decreto de criação do PEMLS não teria ferido a CF e não se oporia às atividades específicas do Ministério da Marinha.

Por fim, o Ministério da Marinha solicitou que o artigo 4º do decreto de PEMLS fosse alterado, por entender que cabia à Marinha e não à SMA autorizar a entrada ou desembarque

54 na ilha, conforme processo SMA nº 244/1996. Em resposta, a então diretora do PEMLS, Tatiana Neves, sugeriu um termo de cooperação onde o IF pudesse colaborar com a manutenção do farol quando necessário, e, por outro lado, teria autorização permanente para desembarcar técnicos e pesquisadores. Assim, a diretora concordou com a inclusão do parágrafo proposto pela Marinha, pedindo não exclusão do parágrafo 5º. A cooperação com a Marinha passa a acontecer também no fornecimento de dados das embarcações infratoras.

Em seguida, é enviado o Ofício PEMLS 004/1997 solicitando autorização da Marinha para colocar placa sinalizadora da unidade na Laje de Santos.

Aproveitando da situação conflituosa do PEMLS, a Revista Aruanã publicou, em Dezembro de 1994, uma matéria intitulada “Especial: A Laje de Santos”, no qual falava que a área não era domínio da SMA e por isso a pesca não poderia ser proibida, da mesma forma, a matéria fornecia dicas a quem quisesse praticar a atividade na área, fazendo apologia da infração. Como reação, a diretoria do PEMLS enviou Ofício para a Curadoria de Meio Ambiente de Santos da Promotoria de Justiça solicitando direito de resposta na própria revista. Qualquer modalidade de pesca, caça submarina, captura ou coleta de animais marinhos e terrestres é proibida na UC, a não ser que para fins de pesquisa, devidamente autorizados pelo órgão gestor (SÃO PAULO, 2009).

Por estar situado dentro dos limites do mar territorial, foram necessárias gestões junto à Marinha do Brasil para que o Parque fosse devidamente demarcado em carta náutica. Em 2002, através da Promotoria do Meio Ambiente do Ministério Público, foram reunidos representantes da Marinha, Procuradoria Geral da República, IBAMA, entre outros, sendo então estabelecido que a Marinha providenciasse o reconhecimento do Parque na Carta Náutica 1711, com o devido aviso sobre a proibição de pesca e de desembarque no local.

O PEMLS praticamente não possui vegetação e abriga uma grande quantidade de aves marinhas residentes, que utilizam o local como área de reprodução e descanso; exemplos destas aves são: atobá marrom, trinta-réis e o gaivotão. Várias espécies que ocorrem no PEMLS encontram-se na listagem de fauna brasileira ameaçada de extinção. O Parque faz parte da rota de várias espécies migratórias como baleias, golfinhos e aves marinhas. É uma importante área de alimentação de várias espécies, muitas das quais protegidas por convenções internacionais, como as baleias-de-Bryde, as raias-manta, tartarugas marinhas e outras.

A riqueza biológica da Laje de Santos e dos Calhaus é resultante da ausência de outras formações rochosas em áreas próximas (SÃO PAULO, 2009). Sendo o PEMLS um dos

55 principais pontos de mergulho e fotografia submarina do País, a principal atividade regulamentada existente dentro da área do Parque é a prática de mergulho livre e autônomo, portanto, o atual modo de gestão de uso público é voltado para navegação de embarcações turísticas e de operadoras credenciadas de mergulho.

Na época da criação, a Prefeitura Municipal de Santos participava das discussões para elaboração da minuta no que tratava da regulamentação do mergulho e proibição de pesca e caça subaquática. No entanto elaborou um folder sobre o “Parque Marinho da Laje” sem consultar o IF e sem enviar cópia do material, conforme o solicitado pela administração do parque pelo Ofício 013/1995.

Em maio de 1996 o PEMLS enviou oficio à prefeitura na tentativa de firmar acordo com a prefeitura e IBAMA, conforme haviam conversado em reunião realizada em abril anterior. O objetivo era também proteger a região estuarina e o continuum ecológico até a Laje de Santos, com atenção especial à APA Municipal Santos-Continente que era planejada pela prefeitura.

Com o convênio firmado, seriam atribuições da prefeitura: alocar equipamentos, materiais, recursos necessários para a promoção de ações integradas de implantação e administração das áreas protegidas, alocar recursos humanos para administrar, fiscalizar e controlar o uso público; capacitar os funcionários e alocar recursos necessários para os programas de uso público, educação ambiental e divulgação; articular o contato junto à Capitania dos Portos.

As atribuições da SMA seriam alocar recursos, treinar guardas ambientais para fiscalização e atividades do meio marinho, apoiar o desenvolvimento e monitoramento de pesquisas, alocar recursos orçamentários dos adiantamentos previstos para atender as necessidades dos programas, alocar recursos humanos e assessoria jurídica. Assim, além dessas, as atribuições do IBAMA seriam de criar mecanismos jurídicos que fortalecessem o status de área de preservação permanente de manguezais, áreas úmidas e restingas da região estuarina. No entanto, a minuta do convênio ficou parada na administração municipal até a posse do novo prefeito, quando, em 20 de fevereiro de 1997, o PEMLS reenviou a proposta. No entanto, até hoje não há convenio firmado e inexistem outros documentos sobre o que ocorreu após essa tentativa.

Atualmente, a gestão é responsabilidade de uma organização com foco em conservação e produção florestais, sendo o ambiente marinho negligenciado na missão da instituição.

56

Documentos relacionados