CAPÍTULO 5: O USO DE APLICATIVOS COMO TÉCNICA INTERPRETATIVA PARA
5.2 Parque Nacional de Garajonay – Espanha
O Parque Nacional de Garajonay foi criado pelo governo espanhol em 1981 e
declarado como Patrimônio Mundial pela UNESCO – Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura desde 1986. O parque está localizado na porção central da
Ilha de La Gomera, no arquipélago das Canárias e protege a Floresta Laurissilva (Laurel
Forest) e seus sistemas associados, vegetação semelhante ao do Período Terciário, que
cobre aproximadamente 70% de toda a superfície da Unidade de Conservação (UNESCO,
2017).
No iTunes o aplicativo oficial é intitulado apenas por “Garajonay”, disponível nos
idiomas alemão, espanhol e inglês, mas não foi possível encontrar a opção de tradução para
alemão ou inglês no momento do download ou no decorrer do uso. Está hospedado na
categoria “Viagens” e ocupa 53,8 MB de espaço para ser baixado. O app foi lançado em 21
de maio de 2013 (versão1.0) e até o momento não recebeu nenhuma atualização. Sua
classificação de uso é livre (+4), portanto, sem recomendação de restrição por faixa etária.
16 Tradução direta do autor. Refere-se ao original em inglês: “Imagine living in near-boiling temperatures, in hydrothermal features with the alkalinity of baking soda, or in water so acidic that it can burn holes in clothing. Microorganisms in Yellowstone need these extremes to survive”.
17 Termófilos são microorganismos que possuem membranas celulares ricas em lipídios saturados e enzimas que lhes permitem trabalhar em condições extremas de temperatura (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012).
Ao executar o aplicativo uma imagem do Parque é exibida com o logotipo do mesmo
e logo em seguida o padrão de navegação é carregado. Após a inicialização, se verifica que
o app possui como característica o modelo de imersão (GINSBURG, 2011), pois nenhuma
informação do aparelho se torna visível (como horário ou nível da bateria) nas extremidades
da tela. Quanto à navegação, possui como design primário o padrão de Springboard e
secundário, com o padrão Lista expandida (Figura 17). Ambos os padrões estão divididos em
duas seções.
Ginsburg (2011) orienta que os aplicativos de imersão são melhores usados para
jogos, interação com mídias (filmes, livros e jornais) e para executar tarefas especializadas.
Este tipo de app necessita que o usuário se concentre no conteúdo e que tenha possibilidade
de ter uma experiência personalizada, devendo assim, assumir toda a tela do dispositivo.
Diante da funcionalidade do aplicativo, que deve potencializar a experiência dos visitantes, ao
tornar-se um complemento ao Parque e não se sobrepondo a este, verifica-se que o mesmo
pode adequar-se ao modelo de produtividade em uma próxima atualização.
A primeira seção traz o nome do Parque e um botão com pictograma e legenda “Mapa”.
Ao clicar neste botão, é carregado um mapa a partir do Google Maps onde vários marcadores
com pontos de interesse ao longo dos limites territoriais da UC estão presentes. Neste
momento, a conexão com a internet se faz necessária para exibição, ou o mesmo não é
carregado. Uma vez aberto com a comunicação ativada, o usuário pode escolher entre as
opções “off-line” que mantém o mapa aberto mesmo que o aparelho seja desconectado;
“Mapa” que é o padrão quando inicializado e; “Satélite” que torna os elementos geofísicos
ilustrados. Nas três opções os marcadores ficam visíveis.
Nos testes de usabilidade, o aplicativo não recomendou o download de mapas quando
executado em nenhuma das vezes, sequer alertou da necessidade de internet para que a
totalidade das suas funções pudessem ser efetivadas.
Na segunda seção, existem atalhos para as categorias disponíveis, em nove ícones
com pictogramas e legenda. Estes atalhos se referem a “Aseos”, “Bares y Restaurantes”,
“Centros de Visitantes”, “Gasolineras”, “Puntos de Información”, “Miradores”,
“Aparcamientos”, “Picnic” e “Senderos”. Estes ícones estão organizados no layout de grade
de 3x3 (NEIL, 2012).
Na Figura 20 são destacadas as três seções de navegação primária a partir da
inicialização do aplicativo (à esquerda) e após a seleção do mapa (à direita), quando o
aplicativo adquire uma terceira seção. As cores das linhas demonstram as informações
contidas em cada seção, a primeira delas em vermelho, a segunda, em amarelo e em verde,
a terceira. O processo de interação homem-computador (CARROLL, 2013; SHNEIDERMAN;
PLAISANT, 2010) se manifestou interativo, com opções interpretativas que facilitam o auto
aprendizado.
Figura 20 – Navegação primária do app Garajonay
Fonte: Acervo particular (2017). Baseado em Ginsburg (2011).
As categorias apresentadas pelo aplicativo Garajonay são consideravelmente
heterogêneas se comparadas ao NPS Yellowstone National Park. Enquanto o segundo dirige-
se ao potencial recreativo da UC, o primeiro destaca como primeira opção a localização de
banheiros (Aseos) do Parque. De igual modo, a preocupação em indicar postos de
combustíveis (Gasolineras) e os estacionamentos (Aparcamientos) são priorizados,
ocupando, os três ícones, 33% dos elementos da tela inicial.
Quando selecionada a opção inicial do botão “Mapa”, a iconografia se sobrepõe uma
a outra, exigindo que seja feito o movimento de ‘pinça’ com os dedos para ampliar a imagem
e então possibilitar a seleção daquilo que se deseja. Os dois botões de atalho nesta tela
(Figura 20, à direita), cumprem a mesma função, voltando para a tela inicial.
Em relação à navegação secundária, os desenvolvedores optaram pelo padrão de lista
expandida (Figura 21, à esquerda) com a primeira seção fixa no topo da página acrescida dos
botões “Volver” e “Inicio”. Uma terceira seção fixa também é inserida no inferior da tela com
botão composto por pictograma e legenda, que estimulam o usuário a visualizar a opção
escolhida no aplicativo, em posição no mapa. Uma vez a opção seja selecionada, amplia-se
as informações em uma página terciária com texto e ao final da página, imagens, que não
podem ser salvas no smartphone.
Figura 21 – Navegação secundária do app Garajonay
Fonte: Acervo particular (2017). Baseado em Ginsburg (2011).
Algumas inconsistências são observadas no design e informações da navegação
secundária do aplicativo. Tomando por base as trilhas (senderos) são elencadas dezoito
opções disponíveis no Parque Nacional de Garajonay (Figura 21, à esquerda), tendo seu
ordenamento listado de maneira errada. A trilha “1. El Bailadero” é procedida da décima
“Cañada de Jorge”, avançando em ordem crescente até a 18ª para então seguir da segunda
até a nona opção. Ainda que a sequência não interfira na experiência qualitativa que o
visitante irá obter durante seu passeio, a desordem gera a impressão de descaso com a
ferramenta, prejudicando sua imagem. Nesta mesma tela, os botões da primeira seção
cumprem a mesma função de retorno à navegação principal, tornando um deles, redundante.
Na imagem à direita (Figura 21), os botões da primeira seção passam a desempenhar
funções análogas e complementares, justificando sua inserção. No entanto, a escolha pela
descrição textual da trilha, reservando as fotos para o final da leitura, pode desestimular a
usabilidade do aplicativo. Outra observação se refere as informações gerais da trilha no topo
da página, que indicam o início e o fim no mesmo lugar, contudo, não explica como o visitante
chegará até o mirante del Bailadero para realizar o percurso.
Sobre a análise dos antipadrões de navegação, o aplicativo oferece situações que
demonstram a importância de se pautar em designs que favoreçam a usabilidade e a
cognição. O antipadrão ideia inovadora é afastado pelo app seguir com os padrões
springboard (navegação primária) e lista expandida (navegação secundária). É observado o
antipadrão discrepância de metáforas, pois o aplicativo utiliza ícones tradicionais com função
exógena à cognição individual. Ao comparar o pictograma escolhido para o botão “Mapa” e
“Localizar” (Figura 20), o mesmo usualmente está vinculado à função “salvar” ou à escolha de
itens que mais interessam, como um objeto preferencial em uma lista genérica. Além da
discrepância, o mesmo símbolo é incorporado em botões com legendas diferentes, causando
estranheza e confusão na usabilidade, sendo que ao selecioná-lo (Figura 20, à direita),
nenhuma função é executada.
Os antipadrões caixas idiotas e lixo gráfico não são encontrados no aplicativo, pois as
caixas de buscas (botões “Filtrar” e “Senderos”) oferecem uma lista de opções, bastando um
clique para ativá-lo, sem exigir confirmação da ação e não existem informações no formato
de gráficos ou tabelas no app. Contudo, o antipadrão oceano de botões é evidente quando o
usuário tenta acessar o mapa (Figura 20, à direita), onde, no esforço de alimentá-lo com todas
as ferramentas disponíveis no aplicativo, gerou poluição visual e inibiu seu uso. Os demais
botões na estrutura do aplicativo são compatíveis, exceção ao “Localizar”, por encontrar-se
sem função.
A despeito da Educação e Interpretação Ambiental, as categorias “Centros de
Visitantes” e “Miradores” não trazem nenhuma mensagem ou informação desta natureza. As
frases que compõem os textos limitam-se a indicar sua posição geográfica na UC e a exaltar,
atribuído de juízo de valor o seu potencial, como no Mirador de Alojera, que traz em seu texto
a expressão “(...) muestra una panorámica de Alojera con su impresionante red de canales
(...)”. Outro, dos diversos exemplos desta linguagem promocional, pode ser visto na Figura 21
(à direita), onde o limite da captura da tela destaca que o local oferece “unas magníficas vistas
de Los Roques (...)”.
Mesmo com o romantismo representado pelo juízo de valor, a categoria “Senderos” é
a qual mais se aproxima dos conceitos de Educação e Interpretação Ambiental. Nas dezoito
opções de trilhas existem informações educativas para o usuário conhecer melhor sobre o
local, algumas vezes destacando elementos da flora, outros da fauna, dos elementos
geomorfológicos e em um caso da geodiversidade em Agando, quando se descreve os “(...)
domos volcánicos que la erosión ha dejado al descubierto”. Contudo, todas as imagens
associadas às trilhas são genéricas, privilegiando a paisagem em detrimento da
particularidade local.
Pode-se concluir a partir desta análise que o aplicativo do Parque Nacional de
Garajonay está aquém das necessidade e expectativas para os visitantes enquanto meio
interpretativo não personalizado. Sua disponibilidade possui méritos, contudo seus elementos
de design e usabilidade passam a intuição que foram desenvolvidos por uma equipe
habituada ao desktop e não a dispositivos móveis.
Com intuito de facilitar a comparação entre os dois aplicativos apresentados, o Quadro
8 resume as características analisadas a partir do estado da arte:
Quadro 8 – Comparativo entre aplicativos NPS Yellowstone National Park e Garajonay
Características
Yellowstone App
Garajonay App
Estilo do aplicativo
Aplicativo de produtividade
Aplicativo de imersão
Navegação primária
Padrão metáfora
Springboard em grade de 3x3
Navegação secundária
Padrão lista expandida
Padrão lista expandida
Páginas secundárias
Uma
Uma
Antipadrões
de
navegação
Não encontrados
Discrepância de metáforas e
Oceanos de botões
Elementos de EA e IA
Acessíveis pela navegação
primária
e
secundária;
revelam informações a partir
da interpretação intercaladas
com imagens
Acessíveis pela navegação
primária
e
secundária;
revelam informações sem
técnicas interpretativas, com
imagens ao final do texto
Fonte: Organizado pelo autor (2017).
A partir dos resultados disponíveis no Quadro 8 notam-se características que diferem
a elaboração dos mesmos e que afetam a qualidade na experiência do uso. Evidencia-se,
assim, a necessidade de planejar e documentar a proposta antes de sua programação, de
acordo com as orientações encontradas na literatura vigente.
No documento
TECNOLOGIA MÓVEL ENQUANTO TÉCNICA INTERPRETATIVA EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: RELAÇÃO COM A EXPERIÊNCIA DO VISITANTE
(páginas 142-147)