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DESENHO 3 – O PARQUINHO

FONTE – Motoqueiro Fantasma (2009)

Ambos afirmaram também que, nos finais de semana, gostavam de brincar no parquinho, perto de suas casas, o que revelou que a preferência pelo parque permanecia, mesmo fora do CMEI.

O Motoqueiro Fantasma se referiu novamente ao parque, no mês seguinte:

“Gosto mais do parque. Bem legal o parque. [...] Porque tem de escalar igual o homem aranha. Aquele lá que vai subindo.” (MOTOQUEIRO FANTASMA, ENTREVISTA, 29/09/2009). A Juliana também fala do parque em outros momentos da pesquisa como “o lugar mais legal”. (JULIANA, DESENHO COMENTADO, 30/10/2008 e VISITA MONITORADA, 20/11/2008), “É o lugar mais legal. [...] Dá pra correr, brincar de pega-pega.” (JULIANA, ENTREVISTA, 29/09/2009). Para o Motoqueiro Fantasma e para Juliana o parque representava a possibilidade de movimento com maior liberdade, onde podiam brincar livremente, com os colegas.

O espaço do parque como um espaço de liberdade e de brincadeiras é reiterado por Dragon Ball Z:

Dragon Ball Z – no parque dá pra pular, da pra fazer um dança, da pra fazer uma apresentação, da também pra fazer uma apresentação.

Pesquisadora – e nos dias que não tem apresentação o que vocês fazem lá?

Dragon Ball Z – Brinca. A gente vai tá de folga. (ENTREVISTA, 13/11/2008).

Dentre as possibilidades indicadas por Dragon Ball Z para serem desenvolvidas no espaço do parque, está a apresentação que as crianças fizeram 90

para as mães, ao lado do parque. Para ele no parquinho as crianças brincam e ficam de folga.

O parque como espaço de brincadeira também é indicado por Vanessa:

Vanessa – Vanessa – aquela é a outra creche42, dos pequenos. Aqui é o quero-quero que fica e lá, no parquinho, é todos que brincam.

Motoqueiro Fantasma – olha. Uma bola!

Vanessa – é ali que nós fica brincando um pouquinho, depois nós vai pra sala. Nós fica no parquinho um pouco e aí nós também vai pra sala.

(VISITA MONITORADA, 15/09/2009).

Para Vanessa o parque é o espaço em que todas as crianças da turma podem brincar. O Dagon Ball Z também fala do Parque, ao contar sobre o que ele pretende mostrar durante a visita Monitorada:

Pesquisadora – que lugares você quer me mostrar no CMEI?

Dagon Ball Z – ta. Eu vou querer te mostrar o parque.

Pesquisadora – o parque?

Dagon Ball Z – o parque é um lugar bem legal, tem escorregador. É muito legal aquele escorregador. Tem o azul e o verde é assim ó. Aquele verde é legal. Tem também umas cordas e tem o chão de madeira, entendeu?

Mas é lá na grama isso. Foram os moços que construíram, entendeu?

Pesquisadora – que construíram o que?

Dagon Ball Z – a ponte, o escorregador azul, o escorregador verde e também aquele negócio com cordinhas assim, parece teia de aranha. E também construíram aquele telhado assim e também aquela ponte.

Pesquisadora – foram os monstros que construíram?

Dagon Ball Z – não, os moços.

Pesquisadora – e você viu os moços construindo?

Dagon Ball Z – aham. Eu falei assim: oi bicho! (VISITA MONITORADA, 18/09/2009).

Dragon Ball Z destaca os brinquedos do parque e também revela que acompanhou a sua construção e inclusive cumprimentou os moços que o construíram. Em conversa com a educadora da turma ela revelou que, após a inauguração do CMEI, o parque demorou alguns meses para ser montado e esta demora gerou muita expectativa nas crianças. Ainda, segundo a educadora, as crianças acompanharam a montagem do parque e após a sua instalação queriam permanecer lá durante todo o dia, o que levou o CMEI a organizar um rodízio entre as turmas, para possibilitar a todos a sua utilização.

A preferência das crianças pelo espaço externo se mantém, mesmo fora do parquinho, como relataram Julia (DESENHO COMENTADO, 05/11/2008), Motoqueiro Fantasma (DESENHO COMENTADO, 05/11/2008) e Juliana

42 O CMEI Luz do Amanhecer fica ao lado de outro CMEI que atende à crianças até 03 anos de idade. Por esta razão as crianças dizem que se trata da creche dos pequenos.

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(DESENHO COMENTADO, 30/10/2008). Durante seus desenhos comentados elas falam que gostam de brincar com brinquedos lá fora.

A maior parte do espaço externo é visto pelas crianças como espaço de brincadeiras, como a caixa de areia, citada na visita monitorada: “ali é a areia pra nós brincar. Areia pra nós brincar com potinho, pra pegar a colherzinha e pegar lá areia.” (VANESSA, VISITA MONITORADA, 15/09/2009). “Pode fazer bolo também.” (MOTOQUEIRO FANTASMA, VISITA MONITORADA, 15/09/2009).

“bolinho de mentirinha, de areia.” (VANESSA, VISITA MONITORADA, 15/09/2009).

Porém esta preferência das crianças pelo espaço externo tem algumas exceções, como o pátio externo (a calçada). Para Juliana não basta que o espaço seja externo, amplo e possibilite o movimento. Ela demonstra valorizar também a segurança dos espaços:

Pesquisadora – Tem algum lugar mais chato no CMEI?

Juliana – a calçada.

Pesquisadora – qual calçada.

Juliana – essa dali (pátio externo).

Pesquisadora – e você acha o mais chato de todos, de dentro e de fora?

Juliana – uhum.

Pesquisadora – por que a calçada é mais chata?

Juliana – por que sim.

Pesquisadora – por que sim não é resposta (risos). O que você acha que não é legal ali?

Juliana – ali machuca a gente, sai sangue do joelho.

Pesquisadora – você já se machucou ali na calçada, alguma vez?

Juliana – não.

Pesquisadora – você já viu algum amigo seu se machucar?

Juliana – já.

Juliana – a gente brinca de correr em volta da grama, ali.

Pesquisadora – de correr em volta da grama? E você acha que tinha uma coisa mais legal que dava pra fazer ali?

Juliana – não.

Pesquisadora – não tem nada legal que dava pra fazer ali?

Juliana – não. É tudo chato. (RELATO DA VISITA MONITORADA, 18/09/2009).

Para Juliana, embora o espaço do pátio possibilitasse o movimento, este necessariamente não vinha acompanhado de propostas de brincadeiras. As observações mostraram que as propostas eram raras neste espaço e, quando aconteciam, eram dirigidas.

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A educadora propôs uma atividade dirigida, com uma bola. Nesta atividade as crianças eram organizadas em duas filas e a primeira criança de cada fila passava uma bola para o colega de traz por baixo das pernas, este repetia o movimento, até que o último da fila recebia a bola e corria para o início da fila. Esta atividade durou apenas 07 minutos e a educadora chamou as crianças a voltarem para sala, devido ao aparente desinteresse delas. (DIÁRIO DE BORDO, 31/10/2008).

Durante o período da pesquisa, foram observados três momentos em que as crianças foram para o pátio externo: em 31/10/2008, 05/11/2008 e 20/09/2009. Nas duas últimas datas as crianças foram levadas ao pátio e lá autorizadas a correr de um lado a outro na calçada, o que lembrava uma brincadeira de pega-pega, enquanto eram observadas pela educadora e pela professora. Quando o seu aparente interesse diminuía, elas eram chamadas a voltar para a sala. Nestes momentos, Juliana também corria e participava das atividades com os demais, mas, sua fala (JULIANA, RELATO DA VISITA MONITORADA, 18/09/2009) revelou a preocupação com a possibilidade de se machucar ou de ver os amigos se machucarem.

As observações mostraram que o trajeto das crianças até o parque e até o pátio externo também tinha encaminhamentos diferentes. Enquanto para o parque as crianças iam caminhando livremente junto com a professora e a educadora, para o pátio (mais próximo da sala) as crianças seguiam em fila. É como se, dependendo do espaço para onde se dirigiam, elas tivessem mais ou menos liberdade de movimentos desde a saída da sala.

Ao falar do pátio externo, Juliana fez um desenho:

DESENHO 4 – O PÁTIO EXTERNO