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3.1 Metodologia

A metodologia utilizada neste estudo é a Metodologia Q introduzida por William Stephenson, físico e psicólogo inglês, na década de 30 do século XX. Esta metodologia implica alguma habilidade e rigor por parte do investigador no estudo dos conceitos subjetivos como crenças, comportamentos, atitudes e opiniões. Trata-se de uma metodologia que incorpora simultaneamente métodos quantitativos e qualitativos numa relação de complementaridade e enriquecimento propondo-se a identificar padrões comuns de atitudes e opiniões de indivíduos face a um tema, neste caso, a sexualidade nas Pessoas com Deficiência Mental. Segundo Stephenson (1953), esta metodologia é particularmente apropriada à tradução empírica da diversidade de ideias, perspetivas, crenças e fenómenos de natureza subjetiva que caracterizam o estudo dos estados mentais e das manifestações comportamentais dos sujeitos humanos. Curiosamente, Stephenson (1935) refere-se à Metodologia Q como uma alternativa à análise fatorial convencional uma vez que se correlaciona perfis pessoais com pontos de vista semelhantes em vez de testes. Um dos pressupostos fundamentais desta metodologia é a de que a subjetividade é comunicável (Stephenson, 1953, cit. in Watts & Stenner, 2005 a; Stephenson, 1963) podendo ser analisada de forma sistemática. Desta forma, a Metodologia Q não requer um grande número de sujeitos, pois ao contrário de uma análise fatorial convencional onde se passa um número reduzido de testes a um grande número de pessoas, nesta metodologia utiliza-se um número elevado de itens a um número reduzido de participantes. Com efeito, crê-se que a partir de um determinado número de afirmações (34 no presente estudo) as perspetivas pessoais repetem-se não surgindo novas ideias daí a legitimidade de uma amostra pequena, já que é possível identificar padrões partilhados por várias pessoas sem recorrer a amostras numerosas. Assim, acreditamos que esta metodologia, isto é, a realização de Q-Sorts, contrariamente à tradicional escala tipo Likert permite levar os sujeitos a refletir de uma forma mais ponderada e aberta sobre as suas crenças aproximando-se de um estilo socrático.

3.2 Participantes

Este estudo envolveu a participação de um total de 24 pessoas das quais 17 são do sexo feminino e 7 do sexo masculino. As idades dos participantes variam entre os 21 anos e os 67 anos, sendo que a média da mesma é de 43 anos (ver anexo A). Uma vez que se pretende comparar os níveis de preconceito entre duas populações, metade dos participantes eram profissionais (professores, terapeutas, etc.) que trabalhavam com Pessoas com Deficiência Mental e a outra metade eram familiares (pais, irmãos, etc.) de Pessoas com Deficiência Mental (ver anexo B).

3.3 Procedimentos da Metodologia Q

A realização de um estudo Q rege-se fundamentalmente por 5 passos: 1- Definição do concourse (curso da comunicação) 2- Desenvolvimento da amostra (Q sample)

3- Seleção do P set (ver anexo C)

4- Q-Sorting

5- Análise e interpretação

Definição do concourse (curso da comunicação)

O curso da comunicação neste estudo diz respeito à identificação das opiniões a respeito da temática da Sexualidade nas Pessoas com Deficiência Mental tentando abranger a maior diversidade de ideias possíveis. Nesta fase inicial do estudo foram feitas duas entrevistas exploratórias a duas psicólogas e coordenadoras dos Centros de Dia da APPACDM1 com o intuito de tentar perceber a realidade inerente à vivência da sexualidade nestas pessoas. Optámos por entrevistar estes profissionais por serem as pessoas que contactam quer com os técnicos, quer com os familiares, possuindo por isso uma visão mais abrangente das respetivas atitudes. Neste contexto, foi possível compreender que, embora

considerada importante, a Educação Sexual nesta instituição ainda não constitui uma real preocupação, isto é, ao longo dos últimos anos foram realizadas algumas ações e formações nesta área a prestadores de cuidados e auxiliares mas sempre no âmbito das Doenças Sexualmente Transmissíveis e não propriamente em formas de lidar com a sexualidade nestas pessoas. Mais ainda, estas ações nunca visaram como público-alvo os familiares dos portadores de Deficiência Mental, deixando já antever alguma precariedade no que se refere à formação nesta área.

Do que foi possível aferir junto desta instituição, no cômputo geral e na perspetiva de técnicos e auxiliares, é mais fácil lidar e trabalhar a sexualidade nos homens dos que nas mulheres, isto é, se nos homens a masturbação é aceite, nas mulheres é mais difícil de digerir por parte de quem priva com estas pessoas. Paradoxalmente, no que se refere ao namoro, este é visto de forma mais positiva no caso mulheres. Contudo, nos homens há o perigo de engravidar uma mulher o que constitui uma real preocupação, pelo que o processo de laqueação das trompas é muito habitual nestas mulheres, quer por decisão dos familiares, quer por decisão de profissionais de saúde (médicos e psicólogos) (ver anexo D).

O concourse foi realizado através das entrevistas exploratórias e da revisão da literatura vigente. O material recolhido representa os pareceres e opiniões de profissionais, de investigadores ou de outros atores credíveis sobre o tema em apreço e constitui a matéria- prima para a metodologia Q (Pirtle & Brown, 1978).

Desenvolvimento da amostra (Q sample)

A partir do concourse foram recolhidas as opiniões mais representativas originando um conjunto de 34 afirmações (ver anexo E) que foram apresentadas aos participantes sobre a temática em estudo – a amostra Q. As afirmações selecionadas foram escritas em cartões aos quais é atribuído um número aleatório para posteriormente serem ordenadas de acordo com Q-Sort.

Seleção do P set

O P set constitui o conjunto de pessoas que procederam à ordenação das afirmações de acordo com as suas opiniões (Q-Sort). Como já foi anteriormente referido, esta metodologia não exige um número elevado de participantes, apenas o suficiente para estabelecer a existência de um fator que permita a comparação entre sujeitos. Os

participantes foram selecionados de forma a serem representativos da população tendo em conta a questão em estudo. Neste caso, familiares e profissionais que privam com Pessoas com Deficiência Mental e que pudessem fornecer a sua opinião sobre várias afirmações acerca da sexualidade nestas pessoas. Desta forma, o P set não é aleatório, mas antes uma amostra estruturada de participantes teoricamente relevantes para a discussão do tema em questão com opiniões claras e distintas (Brown, 1978).

Q-Sorting

Neste passo o procedimento geral a ser adotado centrou-se na a ordenação de cada cartão que contém a afirmação sobre a temática de acordo com um continuum cujos os extremos são as afirmações “Concordo Totalmente (+4)” e “Discordo Totalmente(-4)” e no centro “Nem concordo nem Discordo (0)”. Aos participantes foi lida uma folha de indicações para aplicação do Q-Sort (ver anexo F).

Imagem 1 e 2 – Realização do Q-Sort por um dos participantes.

Análise e interpretação

A análise estatística teve por objeto os diferentes Q-Sorts. Inicialmente foi calculada a matriz de correlação de todos os Q-Sorts com o objetivo de identificar as correlações entre as ordenações obtidas de todos os participantes. De seguida, procedeu-se à análise fatorial para encontrar os fatores que representavam um grupo de pontos de vista individuais com elevada correlação entre si e não correlacionados com os outros – um tipo de análise fatorial que agrupa respondentes (pelos Sorts que efetuaram) em vez de variáveis, como na análise

fatorial comum. Tal como na ACP comum, depois de selecionado o número de fatores a reter, estes são rodados para maior clareza dos resultados. Para esta análise foi utilizado o programa PQMethod 2.35 (Schmolck, 2015).

3.4 - Hipóteses de Estudo

O presente estudo comparativo pretende avaliar o preconceito (variável dependente) face à sexualidade na Pessoa com Deficiência Mental, à luz de profissionais e familiares (variável independente). As hipóteses específicas prendem-se com o género (masculino/feminino) da pessoa com deficiência, o olhar da sexualidade como exacerbada ou inexistente segundo a visão de familiares e profissionais e a possibilidade da sexualidade destas pessoas ser concebida em toda a sua plenitude (namoro, casamento e filhos). Assim, à luz da revisão teórica espera-se confirmar os seguintes enunciados:

H1 - Os familiares da Pessoa com Deficiência Mental tendem a apresentar atitudes mais negativas face à sexualidade nestas pessoas, por comparação aos profissionais.

H2 - Os familiares julgam as Pessoas com Deficiência Mental como assexuadas.

H3 - Os profissionais (técnicos e profissionais de saúde) julgam as Pessoas com Deficiência Mental como hipersexuadas ou como incapazes de controlar os seus impulsos sexuais.

H4 - Tanto os profissionais como familiares tendem a apresentar maior preconceito no que se refere à sexualidade para com a mulher portadora de Deficiência Mental do que para com o homem nas mesmas condições.

H5 - Tanto os profissionais como familiares não reconhecem o namoro, a reprodução sexual e o casamento como formas da Pessoa com Deficiência Mental vivenciar a sua sexualidade.

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