• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 3 – Metodologia

Através da revisão teórica procuramos enquadrar a problemática da qualidade de sono em crianças dos 3 aos 6 anos, valorizando contextos e determinantes. Neste capítulo, pretendemos descrever a metodologia, isto é os meios utilizados ao longo da investigação. Assim iremos abordar os métodos utilizados, os participantes em estudo, os instrumentos de recolha de dados que nos permitiram obter a informação, terminando por referenciar os procedimentos éticos e estatísticos utilizados.

3.1 – Métodos

Os problemas de sono na infância resultam de uma interação complexa entre fatores fisiológicos da criança e o seu relacionamento com os pais e com o meio ambiente, sendo mesmo uma das alterações comportamentais mais frequentes nas populações pediátricas (Fernandes, 2004).

As perturbações do sono não são habitualmente abordadas como principal temática nas consultas de saúde infantil, contudo, sabe-se que estas podem causar morbilidade substancial na criança, nomeadamente a nível do comportamento, da aprendizagem e mesmo perturbações desenvolvimento, como hiperatividade, défice de atenção, défice cognitivo e depressão (Fernandes, 2004).

A este nível, existe uma cota de responsabilidade dos profissionais de saúde nomeadamente médicos e enfermeiros, pois são os que mais diretamente contactam os os utentes que ocorrem às Unidades de Saúde. Nos Estados Unidos realizaram-se alguns estudos sobre Distúrbios do Sono, os quais detetaram que os problemas do sono são muito pouco diagnosticados nas consultas médicas, o que seria justificado pela falta de formação nas escolas médicas a este nível (Madeira & Aquino, 2003).

Contudo, no que diz respeito à etiologia, subjacentes aos problemas de sono encontram-se fatores psicossociais que influenciam determinantemente o sono das crianças.

Esses problemas resultam das interações dinâmicas e das influências bidirecionais entre a criança e o seu ambiente social. Nesse sentido, a vulnerabilidade cultural nas

práticas de sono da criança (práticas parentais inadequadas na hora de dormir), a dinâmica familiar (problemas conjugais ou problemas laborais) e o stresse psicossocial (baixo suporte social e eventos de vida traumáticos como o divórcio e a doença de um dos familiares) assumem um papel central na emergência de problemas do sono na infância (Morrell & Steele, 2003; Sadeh, Anders, 1993). Além disso, a psicopatologia materna, como a depressão, ansiedade e distorções cognitivas, está intimamente associada com o padrão disfuncional do sono (Morrell & Steele, 2003).

Para além dos determinantes familiares, é sabido que a escola constitui também um local privilegiado de partilha de conhecimentos e aprendizagens. Assim é necessário que as crianças as frequentem com as melhores condições físicas e psíquicas, para que possam desenvolver competências de aprendizagem, de tomada de decisões e de relacionamento saudável com os seus pares (Coelho & Anastácio, 2013).

A privação do sono compromete a aprendizagem, o raciocínio lógico e matemático, prejudicando deste modo a atenção /concentração e a memória (Boscolo, et. al. 2007). A quantidade de horas dormidas por noite e a qualidade desse sono é determinante tanto para o bem estar diurno como para otimizar o desempenho escolar de cada criança (Paiva, 2008).

O défice de sono contribui para o aumento da irritabilidade (Paiva, 2008), ansiedade, declínio de capacidades intelectuais das capacidades cognitivas, atenção, depressão, entre outros. Acima de tudo, os transtornos do sono provocam diminuição da qualidade de vida do individuo, bem como do desempenho profissional ou social, podendo por a sua segurança e a dos outros em causa (Coelho & Anastácio, 2013).

Tendo em conta os aspetos atrás abordados e subjacente a esta problemática interrogamo-nos sobre os fatores que estão associados à boa ou má qualidade de sono das crianças em idade pré-escolar.

Contudo esta questão tão abrangente levou-nos a refletir sobre um conjunto de variáveis que podem influenciar a qualidade do sono, pelo que sentimos a necessidade de equacionar questões complementares mas também elas importantes: (i) Como se caracteriza a qualidade do sono da criança em idade pré-escolar (ii) Qual a influência das variáveis sociodemográficas, de contexto familiar, de contexto clinico e estilos de vida na qualidade do sono da criança em idade pré-escolar?

Para dar resposta a estas questões definimos três objetivos gerais, dos quais dois se afiguram como descritivos:

 Identificar os fatores associados à qualidade de sono das crianças em idade pré-escolar

 Caracterizar a qualidade do sono da criança, e um como inferencial:

 Determinar o modo como as variáveis sociodemográficas, de contexto familiar, de contexto clinico e estilos de vida se repercutem na qualidade do sono.

Equacionamos para o efeito um estudo com abordagem quantitativa, não experimental, transversal, descritivo correlacional e explicativo, com o qual procuramos estudar o modo como as variáveis de contexto sociodemográfico, estilos de vida, de contexto familiar e de contexto clínico afetam a qualidade de sono nas crianças em idade pré-escolar.

Efetivamente, o estudo, segue métodos de análise quantitativa dado que pretendemos usar a quantificação, utilizando para o efeito técnicas estatísticas, objetivando- se os seus resultados de forma a evitar possíveis distorções de análise e interpretação e consequentemente proporcionar uma maior margem de segurança;

 é um estudo não experimental porque as variáveis de interesse do estudo são observadas ou mensuradas como ocorrem naturalmente, isto é, não são manipuladas embora seja nossa intenção obter evidências para explicar porque ocorre um determinado fenómeno;

 é transversal, porque os dados são recolhidos num só momento no tempo, numa amostra, não existindo um período de seguimento dos indivíduos para descrever ou detetar possíveis relações entre traços/variáveis (Coutinho, 2011);

 possui as características de um estudo descritivo e correlacional, pois se por um lado recolhe informação de maneira independente ou conjunta sobre conceitos ou variáveis que se analisem especificando as suas propriedades e características oferecendo ainda a possibilidade de fazer predições, por outro, tem como propósito avaliar a relação que existe entre dois ou mais conceitos categorias ou variáveis (Fortin, 2009);

 é um estudo explicativo, pois o seu propósito é o de responder às causas dos eventos, sucessos e fenómenos físicos e sociais, ou seja, o seu interesse centra-se em explicar porque ocorre uma boa ou má qualidade de sono e como esta é influenciada pelas variáveis de contexto familiar, clinico, estilos de vida e sociodemográficos;

 é um estudo com características epidemiológicas, uma vez que adota como unidade de estudo o conjunto de indivíduos e procura analisar como os fenómenos que são motivos da sua preocupação se distribuem nesse conjunto.

Face ao exposto elaborámos o esquema conceptual do estudo (Figura 1) que nos permite representar as interrelações entre as variáveis independentes (sociodemográficas, estilos de vida, de contexto familiar e de contexto clínico) com a variável dependente (qualidade de sono).

Figura 1 – Esquema conceptual de base da relação prevista entre as variáveis

estudada Variáveis Sociodemográficas: Criança:  Sexo  Idade  Posição na fratria  Cuidador habitual Pais:  Idade  Habilitações literárias  (Pai/mãe)  Situação conjugal  Situação profissional  Local de residência Estilos de vida:

 Hora de deitar durante a semana;  Hora de deitar ao fim de semana;  Tempo total de sono diário  Horas que a corda durante a semana,  Horas que acorda ao fim de semana,  Tempo de écran;

 Ingestão de doces,

 Ingestão de bebidas estimulantes,  Prática de exercício,

 Atividades extra curriculares,  Hábito dormir

 Transição para o quarto

Variáveis de contexto familiar:

Funcionalidade família:  Tipo familiar;  Coesão familiar;  Coabitação; número filhos  Coabitação

 Número de filhos na família  Índice de aglomeração  Rendimento familiar mensal

Variáveis de contexto clínico:

 Uso de medicação  Problemas de saúde;  IMC

Documentos relacionados