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PARTE II – ESTUDO EMPÍRICO

5. Apresentação e discussão dos resultados

5.5. Participação da aluna nas atividades da turma e da escola

No que se refere à participação da aluna nas atividades da turma e da escola, importa referir que, de acordo com as duas entrevistadas, esta nunca fica de fora nas atividades da turma nem da escola. Contudo, segundo a professora de educação especial, a aluna, dentro da turma, colabora mais facilmente, porque se sente mais à vontade e as atividades são mais rotineiras. Revela um grande apreço pelos computadores, bem como por atividades de ouvir histórias ou ver vídeos. Quando são atividades em grande grupo, a aluna não adere tão bem, o que tem sido trabalhado pelas professoras. Contudo, o trabalho de pares manifesta-se uma mais-valia para a participação da aula em sala de aula e que lhes permite mais aprendizagens. Neste âmbito, a professora de educação especial referiu:

Agora ela já vai às festas e assiste, no início fugia e era muito difícil, mas está muito melhor. Já não se recusa a assistir e isso já é uma vitória. No fim relata tudo o que aconteceu com alegria. Mas, na turma, faz muitos trabalhinhos com os colegas e depois gosta muito de os ver nas paredes e de mostrar à mãe [PEE].

Do mesmo modo, a professora titular de turma mencionou:

mas o meu trabalho dentro da sala é sempre com recurso aos colegas, as tutorias, e vou variando o aluno, para todos puderem participar. Eles gostam muito e eu sinto que a L. entende melhor assim [PTT]

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A professora titular de turma mencionou ainda que a aluna participa em tudo, embora nem sempre revele muita vontade. Assim, a fim de que ela participe, tem que ser motivada e preparada antecipadamente para determinadas atividades, revelando uma tendência para o isolamento quando são atividades fora da rotina diária. Segundo a mesma entrevistada, a aluna não gosta muito de educação física, contudo, procuram sempre contrariá-la. Reiterou a ajuda que a aluna tem na sala de aulas, mas necessita de muita orientação. Faz desenhos, com ajuda, que depois são expostos, também participa em atividades práticas de grupo, mais no estudo do meio. Na escola participa, mas quando são atividades de teatro, músicas, tem que ser muito ensaiada e ela não pode ir sozinha porque se sente perdida:

(…) Tentamos que a L. participe em tudo adaptando as atividades ao seu perfil de funcionalidade e incentivando-a a participar. Porque ela nem sempre quer, mas depois gosta. Ela vai sempre nas visitas de estudo e está sempre a perguntar o que vai acontecer a seguir. Quando volta, vem o caminho todo a contar tudo o que viu e vem feliz. Os colegas estão sempre de olho nela, eu faço assim para ela não sentir que está sempre dependente de alguém, ela tem que ser autónoma.

Segundo os registos efetuados, através da adaptação da Ficha de Observação da Criança: Oportunidades Educativas verificou-se que, em contexto de sala de aula, na temática de Estudo do Meio, as interações da criança em estudo com os adultos foram de 27%, a interação com os colegas correspondeu a 73% das interações totais da aluna, não tendo sido registado nenhum comportamento solitário. A dinâmica de trabalho predominante com a aluna em estudo, no âmbito das aulas observadas de Estudo do Meio, foi o trabalho em pequeno grupo e a pares. No âmbito das aulas de Língua Portuguesa, 39% das interações da criança em estudo ocorreram com a professora, 52% com os colegas da turma e 9% corresponderam ao comportamento solitário da criança. A dinâmica predominante foi a de trabalho de pares. Ao nível da Matemática, a aluna apresentou 36% de interações com adultos, 56% com os colegas e 8% comportamento solitário. As dinâmicas predominantes nesta área do saber foram a individual e pares. Em contexto de intervalo e de almoço, as interações com adultos resultaram em 37%, com crianças 52% e 11% corresponderam ao comportamento solitário da criança em estudo. A dinâmica predominante durante os intervalos e o horário de almoço foi a de pequeno grupo.

De acordo com os resultados obtidos, pode dizer-se que se está perante um caso de inclusão, uma vez que a inserção desta aluna com NEE tem sido feita em termos físicos, sociais e académicos, ultrapassando em muito o conceito de integração, uma vez que, como preconiza Correia (2013, p. 20), não pretende posicionar a aluna numa “curva normal”, mas sim assumir que a heterogeneidade que existe entre alunos é um fator muito positivo, permitindo o desenvolvimento de uma comunidade escolar mais rica e mais profícua. O processo de inclusão de alunos com NEE, ainda na perspetiva do

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mesmo autor, procura levá-los às escolas regulares e, sempre que possível, às classes regulares, onde, por direito, devem receber todos os serviços adequados às suas características e necessidades. Por outro lado, verifica-se que a aluna em estudo de caso tem-se juntado aos seus colegas sem NEE, o que lhe permite uma inclusão plena, quer em termos académicos, quer em termos sociais.

Assim sendo, os professores devem assumir um papel de mediadores, informando os alunos sem NEE sobre as características do seu colega com NEE, demonstrando-lhes a importância de o ajudarem nas atividades propostas e de serem solidários com ele. É que, na opinião de Pereira (2008), a socialização ocorre por duas vias: a das vivências e a da modelização. Na via das vivências a criança observa o meio envolvente e age em conformidade com o que observa e com as experiências de “comportamento” que vai fazendo. Já na via da modelização, a criança adota outro indivíduo como modelo, tentando imitá-lo. Normalmente, o modelo tende a ser mais velho ou a figura mais respeitada em determinado contexto, por isso, na escola, o professor pode muitas vezes desempenhar esse papel. É também nesta fase de socialização, quando a criança se começa a “libertar” das relações familiares para estabelecer novas relações, que se inicia a organização em grupos. As crianças tendem a agrupar- se de forma mais ou menos constante com colegas com quem partilham algo, seja interesses comuns, necessidades semelhantes, entre outras (Pereira, 2008).