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CAPÍTULO I – MULTICULTURALISMO NA SOCIEDADE ACTUAL

3. A complexidade de atender à diversidade cultural

3.2. Participação da família na escola multicultural

No domínio da educação tem-se vindo a notar uma grande mudança em Portugal. Apesar disso, e relativamente a outros países europeus, podemos dizer que esta mudança se tem vindo a fazer de uma forma muito lenta e um pouco desfasada da nossa realidade.

O sistema educativo não pode ser entendido como um sistema fechado, impermeável ao meio, dado que ele é o reflexo da sociedade, das suas tradições, dos seus hábitos, dos seus conflitos. E, o processo de globalização obriga a constantes mudanças a nível do sistema educativo, sendo a vivência de um clima democrático e participativo na escola, um dos aspectos mais salientes dessa mudança.

No paradigma actual de consciencialização “europeia, a Escola assume uma importância essencial sempre devidamente enquadrada pela Família e pela respectiva Comunidade Local” (Gonzaga, 2002, p. 231).

A escolaridade básica de 12 anos é a meta que vai exigir a mobilização de todos os recursos e a actuação de todos os mecanismos necessários e, simultaneamente, provocar uma interacção do corpo docente e dos agentes sócio-económicos com a família e a comunidade.

Um dos grandes princípios que a Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE) consagrou foi a participação de todos os interessados na administração da educação escolar: professores, pais, alunos, pessoal não docente, autarquias, representantes dos sistemas sociais, económicos, culturais e científicos entre a escola e a comunidade local (artigos 43º, nº 2 e 45º, nº 1), utilizando expressões como interligação e integração.

A instituição escola vê-se permanentemente pressionada para “dar conteúdo à palavra comunidade o que obriga alunos e professores a abandonar o microcosmos em que se inserem criando a necessidade de

universalismo e de compreensão da globalização” (Martins, 1992, cit. por Gonzaga, 2002, p. 231).

Nesta perspectiva, Alves-Pinto (1995, p. 9) afirma que, a igualdade de oportunidades não pode, de forma alguma, limitar-se à igualdade de acesso, uma vez que se deve considerar também a igualdade de sucesso. Nada disto é possível sem a colaboração de todos os intervenientes no processo educativo.

A massificação da escola e o insucesso escolar também massivo, têm obrigado a reflectir sobre alguns aspectos da instituição escolar, nomeadamente no entendimento do que seja a democratização do ensino e no relacionamento da escola com o meio social, cultural e económico de que a própria escola faz parte. “O processo de socialização teima em continuar a considerar a criança como agido de uma intervenção dos adultos” (Gonzaga, 2002, p. 232).

Não poderemos esquecer que professor e aluno interagem e que desta interacção poderá resultar ou uma hostilidade ou uma admiração, tendo em conta a forma de ser e estar de ambos. Tudo isto deriva do facto do acto de ensinar ser aleatório e cheio de tensões e de este ser como que uma tentativa de modificar os alunos, pondo-os em confronto com novas ideias.

A melhoria do ensino passa pelo reforço da capacidade de inovar. Claro que não se poderá pensar numa reforma organizacional sem se pensar numa reforma educativa. E, para Ribeiro (1992, p. 20), uma reforma é sempre um movimento mais acentuado, vivido de uma forma mais intensa e mais esforçada dentro do movimento contínuo que a Educação pressupõe.

Dever-se-á, também, propiciar ao aluno a capacidade de criar em si novos estímulos e incentivos conducentes a uma permanente adaptação às cada vez mais rápidas transformações da tecnologia circundante. Estas aptidões, tão necessárias à formação geral do cidadão, permitir-lhe-ão uma qualificação sempre actual para uma possível mudança da sua actividade profissional.

E, como afirma Ribeiro (Idem, p. 31):

O processo de ensino-aprendizagem deve, ainda, privilegiar a formação e treino de operações mentais ou métodos de pensar e agir em vez da aquisição e transmissão de conteúdos sobre que aqueles se exercem nas várias áreas do conhecimento e da cultura; ser capaz, por exemplo, de lidar com informações (recolhê-las, organizá-las, criticá-las) afigura-se aprendizagem

mais duradoura do que transmitir esta ou aquela informação concreta.

A mudança não poderá nem deverá ser apenas feita por decreto. Ela deve, antes e acima de tudo, ter em conta os diversos intervenientes no processo educativo.

Na perspectiva de Carrilho (1992, p. 61), a reforma educativa tem de ser construída a partir da base e não comandada de cima, assente em modelos normativos rígidos, únicos e, por isso, sem eficácia e sem que traga benefício para ninguém.

Será a partir da criação da autonomia da escola e da sua implementação que algo de válido se poderá esperar na sociedade portuguesa. Mas para que isto se verifique é importante pensarmos na formação adequada de todos os agentes educativos e também da comunidade em geral, quer através da troca de experiências e vivências, como pela divulgação das mesmas. Estes factores conjugados seriam um manancial rico de aprendizagens e ensinamentos. Tal não poderia deixar de “contribuir para o fortalecimento do sentido da escola como “comunidade escolar” e “aberta à comunidade local” (Idem, p. 66).

Formosinho (1986, p. 2), acredita que a existência do “centralismo concentrado” em nada vem favorecer a Gestão Democrática, uma vez que o poder central tem guardado para si os poderes de planeamento, decisão e supervisão. À escola apenas permite as tarefas de execução.

O professor jamais poderá esquecer que a família é o primeiro elo de ligação do aluno ao mundo que o rodeia e ainda o verdadeiro modus vivendi em que este se insere. A família e a sua realidade natural influenciam as crianças, são o seu apoio, a sua base e o seu estímulo, todos eles indispensáveis ao seu desenvolvimento. Proporcionam-lhe um clima afectivo próprio e necessário ao seu processo de desenvolvimento, que se deseja pleno, embora, nem sempre seja conseguido. É no seio da família que se dá a primeira socialização das crianças, através da aquisição de atitudes, valores e normas de comportamento, que serão indispensáveis à sua vida social futura.

A escola vai permitir à criança o alargamento gradual dos seus conhecimentos: retira-a da “comunidade familiar” e transforma-a em “cidadão do mundo” (restrito, no início, mas que se vai alargando à medida do seu crescimento). A acção da família e da escola, longe de se sobreporem,

completam-se. Os pais estão espalhados pelos mais diversos sectores de actividade, em diferentes níveis sócioculturais e económicos e trazem consigo perspectivas de diferentes grupos sociais, que enriquecem e completam as dos professores e educadores. Além disso, os pais têm uma natural sensibilidade para conhecerem os problemas dos seus filhos.

Será pela criação de um sentimento de responsabilidade vivida e partilhada que se poderá contribuir para uma aproximação cada vez maior e mais desejada entre pais e professores, pois só assim se poderá trabalhar em prol dos nossos educandos. Mas tudo isto requer aprendizagem entre ambas as partes envolvidas no processo educativo e não se pode pensar que a mudança de mentalidades se pode fazer de um dia para o outro. Pensamos que há que dar tempo ao tempo, para que este se não perca no meio de tanto tempo já perdido.