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CAPÍTULO IV: PARTICIPAÇÃO POPULAR NA REABILITAÇÃO DE ÁREA

3 PARTICIPAÇÃO DOS AGRICULTORES NA REABILITAÇÃO DE ÁREA

DESERTIFICADA (AD) COM O PLANTIO DA FAVELEIRA

O trabalho de pesquisa foi desenvolvido sem o concurso de cifras orçamentárias contando, portanto, com a participação direta dos sujeitos locais, no preparo das mudas, tratos culturais, escavação das covas e transplanto em campo. A produção das mudas de faveleira, via sementeira, objetivou atender uma inquietação dos agricultores, por ocasião do início dos trabalhos de preparo de mudas, com o semeio em embalagens plásticas, sobre o pretexto de que encher os recipientes, assim como o transporte até o campo, em geral em locais sem a presença de estradas carroçáveis, seria dispendioso, diante do tempo e das condições técnicas disponíveis na propriedade, se comparado com o plantio em sementeiras, tendo o solo como assoalho, cujo trabalho se resume a espalhar o substrato, realizar o semeio e fazer a cobertura.

Além de dispensar a aquisição das embalagens, o conteúdo transportável para campo é reduzido. Concluído o plantio no campo de pesquisa, as previsões foram confirmadas. O agricultor J. M. A. (49 anos), estimou uma redução da ordem de 80%, do tempo gasto no preparo das mudas diretamente no solo, através de sementeira. Trabalho de reflorestamento com a faveleira com a participação dos agricultores que labutam na área também foi desenvolvido por Medeiros (2012); (2013); Medeiros e Aloufa (2015).

Outra vantagem auferida na análise do mesmo, refere-se à rega das plantas, haja vista que na sementeira a irrigação por inundação, com a água canalizada diretamente do reservatório, demandou um gasto ínfimo de tempo, se comparado ao realizado nas embalagens plásticas, com a irrigação manual, com auxílio de um regador. O transporte das mudas, até o local de plantio, em função da diminuição no volume transportável, o tempo dispendido teve a redução estimada em 70%. Isto porque as mudas da sementeira, foram transportadas para o local, a 3 Km, em uma caixa plástica, por um agricultor, de uma só vez, enquanto a mesma quantidade de mudas, nas embalagens plásticas, foram necessários três deslocamentos (figura 3).

Figura 3: Agricultores retirando favelas da sementeira para plantio (A); diferença em matéria de volume e peso/Kg, entre as mudas produzidas nas embalagens plásticas, cerca de 20 mudas (B) e na sementeira, 60

unidades (C).

Fonte: Arquivos dos autores, março de 2015.

Com uso de balança marca Toledo, com capacidade para pesar mercadoria com até 15 kg, uma planta com 56 cm de altura, na embalagem, pesou 952 g. Com a retirada das folhas e da embalagem com o substrato, foi reduzido para 118 g, um decréscimo de aproximadamente 88%, no peso transportável a campo. Com relação ao tempo gasto na escavação, plantio e deposição da cobertura de pedras no entorno de uma cova, realizado por trabalhador com habilidade nessas tarefas, foi estimado entre dois e três minutos.

Essas informações empíricas, confirmando a percepção dos agricultores, abriu alas para a replicação da pesquisa, com produção de mudas via sementeira, por outros camponeses, objeto de análise doravante. Outra variável constatada, com uso dessa técnica, se refere ao maior crescimento em altura, verificado em observações de campo, em dezembro de 2015. Um total de 48 sementes, postas a germinar, metade em oito embalagens plásticas e a outra metade em sementeira, com substrato comum, expostas ao sol e sendo irrigada a cada 48 horas, 50 dias após a semeadura, a altura média verificada, foi de 7 cm e 19 cm, respectivamente.

O trabalho de pesquisa, cujo cerne é a melhoria dos bens ambientais básicos, tendo entre outros propósitos, a reprodução da existência dos sujeitos locais, com a participação desses agentes, com seus conhecimentos e atitudes, encontra escudo em Tricat (1977); Freire (1996); Agenda 21 (1996); Morin (2000); Maturana (2001); Santos (2007); Costa (2011). Aliado a isso, Sen (2000) ressaltou a valia das liberdades econômicas, sociais e políticas, enquanto enriquecedoras da vida dos atores sociais. Esses aportes teóricos, também tem validado a necessidade de uma consistência entre esses conhecimentos, ditos tradicionais e o conhecimento cientificamente produzido, de sorte que a atividade científica tenha compromisso intrínseco com a justiça social e com o bem-estar humano, promovendo a junção das diversas matizes de conhecimento e de saberes.

Numa perspectiva aproximada, Etges (2001); Bezerra (2011) ressaltaram a necessidade de entender que, entre os agricultores, existe um conjunto de conhecimentos que, embora não sendo de natureza cientifica é tão importante quanto os saberes cientificamente produzidos. Diegues (2000, p. 176) relatou ser “Impossível proteger a diversidade biológica sem proteger, concomitantemente, a sociodiversidade que a produz e conserva.” Essas matizes teóricas, apresentam como ponto de confluência principal, para amparar o trabalho em tela, o fato de pensar uma Ciência, com capacidade de promover mutações no real, através da melhoria nas condições de vida das pessoas e no estabelecimento de um canal dialógico, com o saber construído, nas tentativas de erro e acerto, que o homem constrói, se relacionando com o meio, transmitidos inter e intra-gerações. Para o Semiárido brasileiro (SAB), na atividade rural, esse componente é potencializado em função das dificuldades impostas à produção de alimentos, para uso humano e animal, em regime de sequeiro, implicando na busca constante de espécies florísticas, com capacidade de convivência com essas vicissitudes.

Importante sublinhar também que, a não ocorrência do isolamento da área da presença do rebanho bovino, relegando a construção de cerca, associado à dispensa de tratos culturais e adubação do solo, foram variáveis imprescindíveis na viabilização da pesquisa, por não necessitar de suporte orçamentário para aquisição de material e, principalmente, sem prejuízos à pecuária praticada na área (Figura 4).

Figura 4: Área desertificada, reflorestada com a faveleira (A) com a presença de bovinos usando a pastagem nativa na alimentação (B).

Fonte: Arquivos dos autores, março/2016.

Esses condicionantes, fruto do diálogo estabelecido com o saber local, abriram alas para viabilizar a replicabilidade do plantio da faveleira, para áreas muito maiores, partindo do raciocínio de que com as mudas preparadas em sementeiras, o trabalho manual dos agricultores é o suficiente para reflorestar as áreas abertas e clareiras das áreas de pastoreio, sobretudo aproveitando-se o período

após a ocorrência de enxurradas, quando o solo se encontra úmido. São imperativos que ajustaram à pesquisa as condições socioeconômicas e técnicas dos agricultores.

Essas assertivas são apoiadas por Balieiro e Tavares (2008, p.195), ao ressaltarem que, na reabilitação de áreas degradadas, a metodologia principal é aquela em que as espécies utilizadas, se encontram em conformidade com o ambiente e que a prática de manejo aplicado observe “[...] a matéria orgânica do solo e a manutenção da água no ecossistema, o que facilita e resulta em baixos valores de entropia no sistema”, enquanto Pereira (2011) diverge em alguns pontos, ao ressaltar que a operação de reabilitação de áreas degradadas, começa pelo seu isolamento das perturbações, que provocaram a sua degradação. No seu trabalho, a área do experimento, foi protegida por uma cerca de tela de arame, para evitar a entrada de pequenos ruminantes e realizado o coroamento das plantas. Esse autor, assim como Aragão (2009) ressaltaram nos seus estudos, a realização de adubação e tratos culturais, contrariando o percurso dessa pesquisa.