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As práticas profissionais realizadas pelos aprendizes nas empresas foram coordenadas por um funcionário (monitor) responsável por organizar metodicamente os exercícios práticos, bem como por acompanhar o desenvolvimento dessas atividades pelo aprendiz, conforme disciplina o Manual da Aprendizagem (Brasil, 2014). Ao longo das entrevistas constata-se que os jovens participantes desta investigação, ao se referir sobre o monitor indicado pela empresa, chamam-no de padrinho:

Quando a gente chega lá, eles falam que tem um padrinho, né? Um responsável que você vai auxiliar ele. Só que no começo eu tive um padrinho só. (Jovem Aprendiz M.8)

Ao iniciarem suas práticas na empresa, o desconhecimento da área na qual atuariam configurou-se em uma dificuldade a ser superada pelos jovens, principalmente porque, tanto a formação teórica quanto a prática profissional, iniciaram-se ao mesmo tempo.

Então, quando a gente chega lá, a gente chega muito cru. A gente chega lá praticamente não sabendo de nada. (Jovem Aprendiz M.5)

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Eu olhei assim: “nossa, eu não sei de nada. Vou ter que aprender tudo de novo”. E, realmente, eu tive que aprender bastante coisa, porque eu sabia a maioria das coisas na teoria. (Jovem Aprendiz M.7)

Eu comecei já na empresa e ao mesmo tempo no curso. Então, eu chegava lá e ficava um pouco perdido. Porque eu falei: “será que eu vou dar conta? ”, porque não tive nenhuma base. (Jovem Aprendiz M.8)

Para outros, o início das atividades na empresa foi a oportunidade que tiveram de romper com um dos estereótipos em relação aos profissionais que atuam na área da mecânica:

Quando falaram: “mecânico de autos”, que vou trabalhar na empresa, eu pensei que eu ia ver homens sujos, como normalmente vê na mecânica. Certamente estavam sujos, mas não tão sujos como a gente pensa que são. (Jovem Aprendiz F.2) Quanto à recepção dos aprendizes pelas empresas, os jovens sugeriram, a partir de suas experiências nesses estabelecimentos, os seguintes procedimentos:

Então, caberia mais a empresa instruir, fazer a reciclagem com o corpo produtivo. Porque um gerente sabe, só que ele não está no campo de produção; um gerente está na sala dele, gerindo outras coisas, visando outro tipo de resultados. Agora técnicos, chefes de oficina, eles não sabem o que é ser um aprendiz, então eles vão te cobrar igualmente um funcionário. (Jovem Aprendiz M. 2)

O pessoal do RH veio aqui e a gente já conversou sobre isso, que tem que orientar o pessoal, que não é assim, que tem que mudar a cabeça do pessoal em relação ao jovem aprendiz, em relação a estagiário, que às vezes é muito menosprezado. (Jovem Aprendiz M.5)

Em relação à rotina na empresa, os jovens destacaram os seguintes aspectos positivos:

Positivo era tudo, né? Porque a oportunidade de “tá” ali trabalhando naquela área. Era muito bom lá na empresa. (Jovem Aprendiz M.1)

Outro ponto positivo, no caso, eu sempre gostei de lidar com pessoas, então ficava muito aberto “pra” gente, em relação ao atendimento, a ter contato humano. (Jovem Aprendiz M.2)

Lá todo mundo é bem unido, tanto as pessoas do pós-venda quanto as pessoas de vendas. Então, acho que foi um ponto muito positivo para mim a questão de você estar em um ambiente agradável de trabalho. (Jovem Aprendiz M.3)

Então, a cada dia você vai aprendendo mais a lidar com as pessoas, a falar melhor, a saber lidar em determinadas situações. Então, é isso. (Jovem Aprendiz M.5)

As pessoas de lá são super estudiosas. Os mecânicos em si. Vários com cursos de tecnólogos na área e outros fazendo nível superior nessa mesma área e ensinando o máximo possível para os jovens aprendizes. (Jovem Aprendiz F.2)

64 A partir das falas, constata-se uma ênfase em aspectos relacionados com a oportunidade de estar trabalhando na empresa, de poderem se relacionar com pessoas, a união dos funcionários dentro da empresa. Destaca-se ainda o ambiente agradável de trabalho e o preparo dos funcionários na área, bem como as instruções repassadas pelos mesmos aos aprendizes.

Um aspecto ruim que eu queria levantar também era a necessidade que eles teriam de cobrar o serviço da gente sendo que a gente não saberia ainda. (Jovem

Aprendiz M.3)

Só era inconveniente o horário de entrada, que eu entrava 11h30. Eu entrava.... Não tinha lógica, né? Esse horário de onze meia, entrar onze e meio no serviço. (Jovem Aprendiz M.1)

Negativo seria o ambiente, que acaba sendo muito estressante por ter muita correria, por você sempre estar tendo que mexer no veículo, sempre tem que estar tendo que atender o cliente, atender o telefone, fazer verificações e, às vezes, você esquece alguma coisa, dá um problema no carro do cliente na rua. (Jovem Aprendiz M.7) Na verdade, eu aprendi mais no IFB do que na empresa, porque na empresa eu não aprendi basicamente nada. Eu fiquei numa área fora da área convencional, que era para eu ter ficado. Eu fiquei na revisão de novos. Então, eu não vi nada de novo lá. (Jovem Aprendiz M.6)

E um aspecto bom, é o seguinte: a gente ficou excelente em uma função que eles queriam, que era uma função de fazer revisão de veículos. Só que também gera um aspecto ruim, porque dentro da concessionária, a problemática que mais surgia para a gente trabalhar era só essa, então restringia um pouco também a gente de aprender mais lá dentro da empresa. (Jovem Aprendiz M.2)

E pontos negativos, eu acho que é aquela questão que eu te falei, que a gente chega lá e os técnicos acham que a gente deve saber de tudo. (Jovem aprendiz M.5) Agora um ponto negativo para mim que eu acho, não só porque era uma atividade insalubre, a gente trabalha com atividade insalubre, corremos riscos o tempo todo, nos machucamos, nos queimamos, às vezes entramos embaixo do carro com medo do elevador falhar e o carro cair em cima da gente. (Jovem Aprendiz M.3)

No que diz respeito aos aspectos negativos, os relatos dos jovens entrevistados demonstram a necessidade de readequação da cobrança do trabalho a ser feito pelos aprendizes, em seu ambiente profissional, à aprendizagem proporcionada aos mesmos, seja pela entidade formadora (escola) seja pelo estabelecimento contratante (empresa). Outro aspecto que merece bastante atenção por parte dos empregadores e entidades formadoras refere-se à falta de rotatividade de tarefas desempenhadas pelos jovens dentro das empresas. Quanto a isso, embora o programa de aprendizagem proposto seja destinado à formação profissional de aprendizes em única ocupação, há previsão de uma gama de atividades a serem exploradas pelos jovens durante sua formação técnico-profissional metódica.

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5.3.2 – Participação dos jovens nas atividades de aprendizagem profissional