• Nenhum resultado encontrado

É imprescindível discorrer aqui sobre a participação feminina na imprensa esportiva brasileira, tendo em vista um dos objetos de análise deste trabalho ser feito por mulheres que

querem provar que também entendem de futebol. Essa é uma relação que está sempre em cheque, tendo em vista ao imaginário popular associar a prática e a falação sobre futebol aos homens. José Hamilton Ribeiro fala que em meados da década de 1930, no Brasil:

As empresas jornalísticas eram pensadas e construídas como ambiente de sauna brega: só para homem. Nem havia banheiro feminino. No Estadão, à noite, quando fervia o trabalho jornalístico, as mulheres não eram aceitas nem na mesa telefônica.

Havia mulheres como telefonistas, mas só durante o dia. À noite, um homem é que operava. Mulher podia ser telefonista, faxineira ou servia para fazer o café: circulava na área de serviço (RIBEIRO 1998: 31).

Para se entender a presença da mulher no jornalismo esportivo, é necessário compreender o contexto histórico das lutas feministas e da participação delas na imprensa brasileira. Estas, de acordo com Casadei (2011), cresceram proporcionalmente à modernização das cidades e ao aumento dos centros urbanos. As mulheres começaram a se inserir na imprensa ainda no século XIX e se fizeram presentes de forma massiva em todas as regiões do país.

Os produtos produzidos por elas enquadravam-se em duas vertentes. Um era marcado pelas lutas feministas, em que se buscavam direitos iguais e incentivavam a participação das mulheres na sociedade e nas lutas sociais. A outra faz referência à valorização da mulher como mãe e esposa (BUITONI, 1981).

O primeiro periódico produzido, editado e chefiado por mulheres foi o Jornal das Mulheres, lançado em 1855, no Rio de Janeiro. O jornal foi criado por Joana Paulo Manso de Noronha, uma argentina que vivia na então capital brasileira. O primeiro editorial, publicado em 1º de janeiro de 1855, dizia que:

Redigir um jornal é para muitos literatos o apogeu da suprema felicidade, já sou Redator, esta frasezinha dita com seus botões faz crescer dois palmos a qualquer indivíduo.

No círculo ilustrado o Redator é sempre recebido com certo prestígio do homem que em letra de imprensa pode dizer muita coisa, propícia ou fatal a alguém.

Ora pois, uma Senhora à testa da redação de um jornal! que bicho de sete cabeças mundo inteiro marcha ao progresso e tende ao aperfeiçoamento moral e material da Sociedade? (MUZART, 2003, s/p).

O jornal teve como objetivo romper com os tradicionais veículos, que destinaram as mulheres conteúdos de moda, decoração ou cosméticos. O periódico foi utilizado como meio de atingir a grande parcela da população com ideias para que a luta feminista pudesse ser propagada. Então, o início da produção feminina na imprensa brasileira foi através da defesa dos interesses em prol de um maior reconhecimento dentro da sociedade (MUZART, 2003).

Com as transformações sociais, as mulheres adentraram por definitivo nas redações jornalísticas e, em 1970, receberam os primeiros cargos de chefia (RAMOS, 2010). Eliza Casadei (2011) mostra os números da participação feminina no jornalismo:

A situação mudou de forma lenta. Em 1986, as mulheres já ocupavam 36% dos quadros profissionais do país e, dez anos mais tarde, esse número chegava a pouco mais de 40% (ROCHA, 2005). Em 2006, segundo dados do Ministério do Trabalho, 52% das vagas de jornalista eram ocupadas por mulheres (contabilizando 6.131 funções jornalísticas ante as 5.640 ocupadas por homens), mostrando uma tendência de uma maioria feminina no mercado de trabalho jornalístico (CASADEI, 2011, p.02).

É nesta mesma época, de 1970, que elas iniciavam no mundo do jornalismo esportivo e onde permanecem até hoje em um número cada vez mais crescente. Segundo Coelho (2003), era muito difícil encontrar mulheres na editoria de esporte antes dos anos de 1970 e essa situação começou a ser alterada com a televisão, tendo sido hoje o paradigma praticamente rompido e as mulheres estarem presentes na editoria esportiva nas diversas mídias da imprensa.

2.7 Considerações do capítulo

O futebol como prática chegou ao país por Charles Miller e começou a se popularizar nas primeiras décadas dos anos 1900. Com os clubes, torneios e as Copas do Mundo, o esporte passou a ser uma representatividade da sociedade brasileira. O futebol foi uma forma de o Brasil mostrar ao mundo sua potência e suas qualidades como um povo alegre e malandro que soube imprimir ao jogo uma forma particular, o futebol-arte.

Paralelamente à solidificação da prática esportiva, construía-se uma imprensa que se dedicava a retratar os fenômenos do futebol e contribuía para a popularização do esporte.

Com a cobertura dos jogos e as transmissões ao vivo das partidas, os meios de comunicação levavam o futebol para todo o país.

Os títulos mundiais ajudaram a tornar o futebol uma paixão nacional. Em 1962 é quando se considerou o Brasil como país do futebol. Com as conquistas, veio à valorização do

atleta e o jogador de futebol começou a ser visto como herói. A imprensa, então, passou a acompanhar a vida desses jogadores tal qual segue as celebridades.

Atualmente, veem-se grandes retratos desses jogadores nas páginas de notícias da internet. Pelo maior espaço de expressão que a rede permite, é cada vez mais comum o enquadramento do futebol no campo do entretenimento das matérias que vão além aos fatos dos jogos e treinos. O capítulo seguinte analisará essa forma de abordagem do futebol na rede.

Para efeito do estudo, será analisado a página de futebol e Boleirama do Globo Esporte.com e o blog Donas do Campinho.

3 METODOLOGIA, CORPUS EMPÍRICO E ANÁLISE

Ao longo deste trabalho, foram discorridos sobre três temas centrais, o webjornalismo, o infotenimento e o futebol. Os conceitos e ideias apresentados e debatidos até aqui têm por finalidade a compreensão de como o infotenimento é enquadrado no webjornalismo de futebol do Globo Esporte.com. Busca-se entender onde as matérias que pretendem informar e entreter aparecem, em qual temática elas são mais recorrentes e como elas se configuram.

O Globo Esporte.com foi escolhido para análise por ser o portal esportivo líder em aparecem rotativas na parte principal de cada página.

Foram analisadas as publicações em destaques durante 15 dias do mês de dezembro de 2012. O tempo escolhido levou em consideração o volume de postagens nas páginas que este estudo avalia. A seção que se segue traz a metodologia da análise de conteúdo que será usada para uma melhor compreensão de como este material será tratado. Neste capítulo, há ainda a apresentação do corpus empírico, a forma como o método foi apropriado e a análise dos conteúdos identificados como infotenimento.

Documentos relacionados