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8. APRESENTAÇÃO E REFLEXÕES SOBRE AS CATEGORIAS

8.3. Participação Formação – Ação

Em nossa introdução teórica, a questão da capacitação para atuar nos conselhos se apresentou como uma necessidade, por vezes apontando este como um dos fatores mais importantes para que este formato efetivasse seus objetivos. Sem dúvida, a ampliação da democracia passa pela apropriação pelos atores, tanto da Sociedade Civil quanto da Sociedade Política, do funcionamento das instituições e das possibilidades de criação e incidência. Porém, cabe

ressaltar que formação não se reduz a informação e em última instancia a efetivação da democracia participativa não é determinada por questões superestruturais, exclusivamente.

Observamos que existe uma compreensão da necessidade de conhecimento por parte dos conselheiros, de acordo com o que foi sinalizado em nossa descrição sobre a experiência acompanhada. Este aspecto se apresenta também em referências apresentadas, em capítulo anterior sobre os conselhos de políticas públicas, no qual autores como Pontual e Ciconello, entre outros, sugerem sobre a necessidade de formação de conselheiros. Estes conhecimentos vão desde a compreensão das funções do próprio conselho, a formação técnica e política, atribuições do conselheiro, legislações específicas relacionadas com as políticas públicas em que o conselho atua.

a) Os conselheiros e a apropriação sobre os processos de trabalho no conselho – Uma questão recorrente nesta experiência participativa tratava-se da importância dos conselheiros serem preparados para executar sua função no conselho. Neste conselho, esta questão surge da própria experiência cotidiana, na qual um conselheiro não consegue se posicionar em relação a uma temática ou mesmo não entende os processos que envolvem as políticas públicas e nem procedimentos, a serem cumpridos, exigidos na atividade. Observamos que há uma compreensão dos conselheiros de que existe necessidade de formação para participação neste espaço, algo que é provocado e explícito por eles na própria atividade participativa.

b) A falta de conhecimentos e iniciativa dos conselheiros no envolvimento com as discussões e atividades do conselho – Em

algumas circunstâncias, a compreensão da necessidade de formação surge alinhada com a dificuldade de oferecer opiniões sobre certos assuntos por falta de propriedade suficiente para contribuir no processo deliberativo. Isto também se torna visível na medida em que a maioria dos conselheiros não se coloca, também por falta de conhecimentos, sendo as iniciativas, de discutir e oferecer propostas de encaminhamento para as questões, uma expressão de poucos.

c) Necessidade de formação para dar conta de procedimentos - Neste conselho, a noção de formação está relacionada com a preparação execução de procedimentos. Refere-se há um saber-fazer, executar tarefas ou realizar encaminhamentos institucionais para as questões, no dia-a-dia do conselho. A formação se coloca numa perspectiva tecnicista, desconsidera a necessidade também de formação crítica para participação nos processos deliberativos.

d) Circulação de informações sobre a cidade e políticas públicas – No entanto, o conselho também é um espaço no qual circula informações sobre o funcionamento das políticas públicas e os problemas da cidade, embora na maioria das vezes, estas sejam provocadas por pessoas que não estão vinculadas diretamente com o conselho, tratando-se de participantes externos. Os conselheiros assimilam e entendem que estas informações oferecem conhecimentos importantes para o processo deliberativo dentro do conselho. Neste sentido, os conselheiros reconhecem o espaço como lugar de aprendizado sobre a cidade e as políticas públicas.

No conselho acompanhado, a compreensão de formação verificada refere-se a apropriação procedimentos na execução das tarefas administrativas que compõe “competências do conselho”. Os conselheiros expressam a necessidade de capacitação para conduzir melhor os procedimentos e para tomarem as decisões em relação a estes, portanto trata-se de conhecimento técnico propriamente dito.

Porém, ao mesmo tempo, observamos que o cotidiano da participação no conselho contribui com o acesso e ampliação para os conselheiros (e não somente da sociedade civil) a uma série de conhecimentos sobre a gestão das diversas políticas públicas.

A categoria participação formação-ação refere-se à participação no conselho enquanto processo de apropriação do funcionamento da gestão das políticas públicas. Ou seja, a participação no conselho e sua relação com a própria qualificação da participação social nas políticas públicas. A experiência conselhista, em nossa observação, se apresenta como uma experiência de ampliação de conhecimento sobre as políticas públicas. Portanto é formação- ação, remetendo-se ao processo de apropriação de conhecimentos adquiridos na interação que proporciona a atividade.

O conselho é composto por um grupo híbrido, com a presença de pessoas que, em sua maioria, são trabalhadores que atuam em diversas políticas públicas, serviços, projetos sociais. Além da pauta institucional, o espaço proporciona circulação de informações sobre o cotidiano profissional destas pessoas. Conforme citado anteriormente, principalmente, participantes não conselheiros apresentam demandas para o CMDCA sobre esse cotidiano, que promove possibilidades de encontro no qual as proposições circulam. Em outras

palavras, o espaço proporciona a socialização e a construção de novas referências individuais.

Esta categoria expressa contradições como a experiência participativa que amplia acesso a procedimentos burocráticos e aproxima consequentemente membros da Sociedade Civil e da Sociedade Política (conselheiros e não - conselheiros) de informações e discussões sobre as políticas públicas. Ao mesmo tempo, a concepção que orienta a expectativa de formação dos conselheiros é tecnicista, distante do debate político.

Esta participação se configura como a capacidade de compor o espaço livremente e ter propriedade sobre as tarefas que competem aos conselheiros para exercer sua função de relevância pública. Trata-se de apropriar-se de conhecimentos necessários para realização dos processos da atividade de conselheiro, como por exemplo, a condição para contribuir com a análise de projetos enviados para acessar o fundo. Esta é praticamente uma necessidade formativa para profissionais das organizações sociais que enviam projetos ao conselho, lembrando que entre estes profissionais estão a maioria dos conselheiros.

A concepção que orienta a expectativa de formação dos conselheiros é tecnicista, distante do debate sobre as relações de poder na área das políticas que lhe competem.

A apropriação pelos conselheiros de conhecimentos técnicos, mesmo que trâmites burocráticos, certamente tem sua importância, trata-se inclusive de um instrumento político, afinal, como discutir orçamento público, que é uma função importante de um conselho, sem apropriação dos trâmites envolvidos? A questão é destacar que esta percepção sobre a importância da formação de

conselheiros se alinha com uma perspectiva gerencial da participação, reduz sua possibilidade a formação para ação neste aspecto.

Por outro lado, quando se refere aos processos formativos proporcionados pela própria experiência participativa, são compreendidas como uma aprendizagem para desenvolvimento do profissional individualmente, com relação ao seu trabalho. A referência coletiva quando se da participação não se apresenta muito significativa no conselho acompanhado. No fim das contas, o envolvimento nos processos deliberativos são parciais, limitados e reduzidos aos procedimentos.

Os conselheiros, nos poucos momentos de discussão sobre as políticas públicas não costumam fazer muitas proposições e a compreensão sobre estes espaços se articulam mais com a prática profissional que é, considerando que são todos trabalhadores do governo ou das instituições, do que com os traços dos movimentos sociais e seus militantes que participaram do processo de lutas e reivindicações pelos conselhos participativos.

9. A DIMENSÃO SUBJETIVA DA PARTICIPAÇÃO EM CONSELHOS DE