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38 Participante: E aí vocês chamam a escola? Quem da escola?

No documento Impressos / Caderno temático (páginas 39-41)

Participante: Aí a gente fala com a coor-

denadora da criança e a gente tenta fazer essa conversa. Com o coordenador da escola. Mas eu achei interessante o que a Carmem trouxe porque é isso: hoje, eu acho que o nosso papel nessa de- volutiva, seria muito mais interessante a gente es- tar mais na escola do que absorver essas crianças e falar, “não, ela tem um problema de saúde, então vamos colocar no grupo aqui, uma vez por semana no Caps ou na UBS para que a atenção dela fique melhor com um remédio e depois, ela vai melhorar na escola”. Nem sempre é isso. A gente vê que es- sas crianças, elas têm uma singularidade, elas têm uma história de vida, elas têm um contexto fami- liar, um contexto social que talvez exija mudanças no processo de aprendizagem.

Participante: Como você devolve para o co-

ordenador? Por escrito?

Participante: Não. Às vezes a gente marca

uma reunião, não mandamos nada por escrito, porque às vezes faltam pernas para gente ((risos)) conseguir atender toda a demanda.

Participante: Por exemplo: uma criança é

encaminhada e tem déficit de atenção. Você vai lá e fala que não. Qual é a reação desse professor coordenador?

Participante: Muitas vezes é negativa, por-

que a gente encontra professores muito adoeci- dos, em sofrimento por não conseguir lidar com essas demandas específicas dessa criança e não conseguir oferecer o manejo que é adequado por conta do tamanho das salas, do número de alu- nos por sala. E eles continuam achando que, na verdade, precisa de um remédio, que vai existir um remédio que vai fazer com que essa criança co- mece a aprender. E quando a gente diz que não, então, eles perguntam “e você, Caps? O que que você pode fazer por essa criança?” E a gente tem um grupo de estimulação, mas nem sempre esses grupos vão suprir toda a necessidade da criança.

Participante: Que tipo de psicólogo deve es-

tar na escola?

Participante: Porque hoje nós temos um co-

ordenador que ele é um gestor muito importante. Ele é o cara que deveria dar condições pedagó- gicas para o professor desenvolver o trabalho e essa condição deveria já trazer o repertório, de buscas, de opções para que vários alunos apren-

dessem. E a gente percebe que o coordenador na escola está abrindo o portão, está servindo lanche. Fazendo outra coisa. Aí o que eu penso é que: o psicólogo dentro da escola, ele vai ter uma química, uma fila imensa -, é assim que eu vejo psicólogo -, uma fila imensa depois de um mês, e “o psicólogo não faz nada, por quê que ele está aqui na escola?”. A criança continua bagunçando. Porque a raiz do problema está no professor, está na sala de aula.

Participante: Eu concordo com você.

Participante: Não adianta tirar aluno, não

adianta. Eu pergunto, o professor fala “eu faço formação direto e eu estou na educação especial” e a gente está batendo de frente. E eles falam as- sim para mim “40 alunos na sala não tem condi- ção”. Eu digo, “mas se eu deixar só 10, você vai conseguir dar uma boa aula? Eles vão aprender? Só com 10”, só se ele escolher os 10, né? Só se eu der ainda a opção de ele escolher os 10.

Participante: Agora, este psicólogo que a

Carmem apresentou aqui, este psicólogo, como você imagina ele na escola? Este que dialoga como equipe multidisciplinar, que vai para as questões coletivas. Tudo que ela relatou. O que você pensa desse psicólogo?

Participante: Posso só uma coisa? isso que

vocês acabaram de falar é o que a Márcia acabou de dizer. Esse personagem que você descreveu é o que está na nossa legislação, que é o professor coordenador.

Participante: Porque quando o coordenador

falhou, porque foi o coordenador que falhou, o co- ordenador é que não deu conta. Não é o sistema

que não deu conta, não é o gestor que não deu conta, não é o grupo, a escola que deveria cada um fazer sua parte. O coordenador falhou porque hoje o coordenador, ele não presta e veio a ma- ravilha que é a figura do mediador. Mediador veio como solução.

Participante: O próximo, até acredito que vai

ser ou psicólogo ou psicopedagogo.

Participante: Ou psicopedagogo ou psi-

cólogo, um dos dois vai “pintar”. Porque a gente sempre vai culpabilizar os atores da escola pela falha da própria escola. Ou seja, a criança, ela vai continuar sendo vítima e o corpo que vitimiza, ele vai aumentando e ninguém busca, de fato, a solução, que é olhar cada um para o seu papel e fazer o seu papel.

C a d e r n o s T e m áT iC o s C r P s P Psicologia em emerg ências e desastres C a d e r n o s T e m áT iC o s C r P s P Psicologia em emerg ências e desastres C A D E R N O S T E M ÁT iC O S C R P S P

Psicologia, demandas escolares e int

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orialidade: os caminhos do diagnóstico de crianças e adolescent

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Participante: O meu papel é esse, o meu pa-

pel de professor é ensinar. Eu também sou profes- sora, eu estou na sala de aula. Então me sinto à vontade para falar isso. Na sala de aula enfrento problemas, falei hoje para as meninas, essa sema- na vim desesperada da sala de aula, e refiz, pus minha cabeça para funcionar, “a coisa tem que dar certo”. Hoje eu vim maravilhada com os mesmos alunos, porque eu é que tenho que mudar, os meus alunos continuam sendo os mesmos. Eles são jo- vens, eu dou aula para ensino médio. Adoro, adoro os pequenos também, mas o professor precisa se olhar. Então, a minha busca, a minha palavra, a mi- nha fala não é uma fala simpática nas escolas, por- que eu venho para bater no professor e fazer ele se olhar, e para você se olhar, até para mim, para eu me olhar eu já mudei bastante, mas tem muita coisa para melhorar, e vou morrer com desafios.

Participante: E só para falar para linkar. Como

eu concordo plenamente com a Márcia porque eu estou dentro desse sistema, e concordo plena- mente que a gente pode criar vários outros atores e sempre vai ser uma fala e vai criando outras, é que isso que eu achei quando eu propus, a beleza desse repositório de materiais. Como eu pedi ajuda de vocês, é aí que o psicólogo está falando o que nós estamos falando. O que nós estamos falando é essa inflexão, a Márcia trouxe a inflexão do pro- fissional que está na sala de aula para ele se olhar, ninguém avalia o outro se não se avaliar primeiro a si. Então, o professor, ele não consegue se en- xergar dentro do processo, ele culpabiliza sempre. Aqui nessa sala nós pegamos 71 gestores. E nós fizemos uma coisa que é fora da realidade atual e falar qual é a origem do problema. Para vocês te- rem ideia: de 71 diretores, quando nós fomos para o problema na educação, sabe qual o problema da educação? A família. Então, isso significa o quão longe nós estamos. Se você colocar mais um, não adianta porque vai ser o professor coordenador, depois o mediador, depois é a família porque, na verdade, nós não olhamos para nós mesmos, para a educação. A gente sempre vai criando outros pro- blemas para tentar solucionar. Eu concordo plena- mente com a Márcia, não é questão do psicólogo, é a questão de que nós que estamos vendo isso, é ajudar o professor a fazer o que a Márcia faz so- zinha. E aí eu achei a beleza de quando eu propus a parceria, por que o que eu estou vendo? Não é o professor falando, não é o educador falando para outro educador. São aqueles que, por enquanto, não estão na escola, mas o dia que vocês estive- rem, vocês serão culpabilizados também.

Carmem: Vou te contar por que que a gente

saiu. A gente já esteve.

Participante: Então só uma coisa: porque

eles esperam ainda o psicólogo, e não é o educa- dor falando. Seria esse profissional que ainda eles têm uma esperança que vai ajuda-los, falando não de que vai ter que padronizar, mas falando para ele, “professor, você está doente”, “você precisa ver in- clusive a sua limitação, inclusive que você não está bem”. Mas não falar que ele está louco. Não é isso.

Carmem: Agora, mais do que o CRP, os

psicólogos da região, dentro da sua plataforma não cabe?

Participante: Não, porque eu não abri para

ninguém, vocês estão sendo os primeiros, eu não tinha pensado.

Brisa: Estou pensando junto aqui. Será que

não é possível? Por exemplo, ela como profissional da área que recebe as crianças dessa região, des- se território, poder ter acesso à essa plataforma, de repente, ela pode ter alguma palavra, né, algu- ma dúvida, ela pode responder.

Participante: Brisa, eu acho lindo. O que eu

achei legal é que alguém, não sei quem, não era para fazer consulta, mas era aquele professor que está naquela função encontrar um texto tal- vez se ele tiver paciência de ler, que vai refletir so- bre. Eu fico pensando que essa roda que a gente está tendo aqui, poderia acontecer dentro de um fórum, por exemplo. E não é uma consulta, eu não posso trazer os professores aqui, mas eu posso “garantir” – entre aspas -, que alguns professores entrem. Então, esse professor que entrar, quem que vai ser o interlocutor? Nós inclusive, de novo, porque nós não podemos chama-lo, mas a gente vai poder discutir isso com ele.

Participante: Eu fiquei pensando a importân-

cia de ter os profissionais da área da saúde para fazer essa discussão.

Carmem: Uma coisa que a gente está aqui

conversando, acho que tem essa proposta até mais coerente de todos os profissionais do territó- rio, mas, mais do que tudo, a gente também pensar que o profissional da saúde, ele recebe da escola estadual e ele recebe da municipal, ele recebe de todo o entorno que não necessariamente é só a escola estadual.

Participante: E acho que aí pensar a pró-

pria Ana Paula, eu fiquei curiosa para saber, você contou um pouquinho, e como que uma criança, o

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descobrimento sobre ela, até para triar os testes.

No documento Impressos / Caderno temático (páginas 39-41)