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Participantes do almoço da Fundição Tupy, durante a visita de Geisel, 1975

Fonte: Correio da Tupy, nº 116, maio de 1975

11 Estiveram presente: Hanz Dieter Schmit (presidente da Fundição Tupy S.A.), Alberto dos Santos Abade

(BNDE), Erik de Carvalho (VARIG), Marcos Vinícius Pratini de Moraes (Ministro da Indústria e Comércio do governo Médici), Jorge Gerdau Johannpeter (Grupo Gerdau), Alfredo Rizakllab (Bolsa de Valores de São Paulo), Horst Deter Emil Scholz (Volkswagen), Werner F. Jessen (Mercedes Benz).

Foto 2. Participantes do almoço da Fundição Tupy, durante a visita de Geisel, 1975

Fonte: Correio da Tupy, n. 116, maio de 1975

Foto 3. Participantes do almoço da Fundição Tupy, durante a visita de Geisel, 1975

Fonte: Correio da Tupy, n. 116, maio de 1975

Foto 4. Participantes do almoço da Fundição Tupy, durante a visita de Geisel, 1975

Foto 5. Participantes do almoço da Fundição Tupy, durante a visita de Geisel, 1975

Fonte: Correio da Tupy, n. 116, maio de 1975

Tal crescimento ocorreu com a transferência de recursos estatais para as empresas do setor metal-mecânico de Joinville e com o incremento das formas de exploração da força de trabalho, entre as quais a pacificação de trabalhadores residentes e migrantes. Todavia, todo processo histórico engendra contradições.

De acordo com Souza (2009), na década de 1980, houve um surto migratório oriundo, principalmente, do interior paranaense para a cidade de Joinville, formando o bairro Espinheiros12, nas proximidades da Fundição Tupy. A partir de então a configuração da cidade muda, com o agravamento de problemas sociais, como desemprego e falta de moradias. A perspectiva de aumento populacional e de agravamento das questões sociais levaria os meios de comunicação a polemizar com a política da empresa. Em 1987, o jornal “A Notícia” noticiou:

Não existe oferta de moradias, especialmente para as classes mais populares [de migrantes], que possa suprir a demanda local. A Associação de Moradores do Mangue do Boa Vista está apreensiva com a possibilidade de chegarem na cidade cerca de 600 famílias estimuladas pelo convite distribuído em dezembro pela Fundição Tupy aos seus funcionários que saíram em férias. (A NOTÍCIA, 1987, p.5).

Entre as estratégias criadas pela Tupy para atrair mais trabalhadores, uma se destaca especialmente pelo seu caráter inusitado. No período que antecedia as férias de seus empregados, a empresa lhes enviava convites com o seguinte teor: “Boas férias, descanse bastante. Na volta traga um amigo para trabalhar com a gente. É bom trabalhar entre amigos.” Segundo Freire (2015, p.59) “A Tupy possuía uma filosofia de trabalho marcada pela rigidez da ordem e da disciplina interna. O ‘aculturamento na Tupy’ por parte do ‘colaborador’ levava em conta sua “introdução espartana” aos valores da empresa.”. Qual seria a intenção da empresa?

Segundo nossa hipótese, tratou-se de uma estratégia de formação de um exército industrial de reserva já que a oferta da força de trabalho excedente era limitada. Todavia, além de atrair mais trabalhadores, seria necessário disciplinar a força de trabalho.

Este tipo de estratégia utilizada pela Fundição Tupy em Joinville é típica do capital e foi tema de estudo de outros pesquisadores brasileiros. Em análise sobre a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Graciolli (2009) identificou o “disciplinamento da força de trabalho”, ocorrido em parte da história da usina, que tinha como objetivo formar um trabalhar obediente, subordinado e treinado. O caso da CSN é bastante diferente do caso de Joinville e da Fundição Tupy, mas os elementos expostos por Graciolli ajudam a entender o processo de criação de uma moral burguesa do trabalho que vigorou nas duas cidades.

O disciplinamento da força de trabalho exposto por Graciolli (2009) ocorrido na CSN cerceava o trabalhador, também, para além da fábrica, na esfera da vida privada.

Anúncios “em busca do melhor funcionário” e a formação de “famílias inteiras compostas por trabalhadores Tupy” eram comuns na década de 1980, em Joinville. No ano de 1981, o jornal Correio da Tupy editou um número especial chamado Edição Fábrica e convidou seus funcionários a frequentarem a Fundição como forma de entretenimento, aos finais de semana. Tal ação representa um cerceamento da esfera da vida privada do trabalho, em moldes distintos do caso das moradias operárias da CSN. As imagens a seguir ilustram o convite:

Figura 1. Convite para os funcionários visitarem a fábrica

Fonte: Correio da Tupy, Edição Fábrica, n. 52. jun. 1981.

Figura 2. Convite para os funcionários visitarem a fábrica

Fonte: Correio da Tupy, Edição Fábrica, n. 52. jun. 1981.

A justificativa era o fortalecimento de laços de amizade entre os funcionários da chamada “Família Tupy” (CORREIO DA TUPY, 1981, s/p). Mas a intenção era a pacificação

do trabalhador, coerente com a imagem de cidade do trabalho, do progresso e da ordem construída historicamente, como mostra Souza (2008).

Assim como em Joinville, em Volta Redonda também era utilizada a expressão “família”, no caso “família siderúrgica”, para controlar os movimentos de trabalhadores e disciplinar os espaços da fábrica, das famílias e da cidade (GRACIOLLI, 2009).

Segundo Freire, a existência de uma “filosofia de trabalho marcada pela rigidez da ordem e da disciplina” remete à ideologia de harmonia entre classes, ao fim da luta de classes e à cooperação entre trabalhadores e burgueses na relação capital-trabalho. Em Joinville esta ideologia foi forjada durante a República Velha e a Era Vargas. Souza (2008, p.36) afirma que durante o Estado Novo houve um verdadeiro “adestramento” da classe trabalhadora joinvilense. O Estado, a burguesia e a imprensa, articulados, buscavam controlar a classe trabalhadora e difundir valores burgueses.

Na ditadura, a necessidade de controle ideológico operário se intensifica e com ele a propaganda anticomunista. Na ocasião da visita de Castello Branco à Fundição Tupy, em novembro de 1966, a publicidade é bastante ilustrativa. Além de noticiar o evento, o Jornal Correio da Tupy aproveitava para combater o comunismo e difundir valores e comportamentos que se esperava da classe trabalhadora, como veremos abaixo.

A matéria “Qual seria o empregado ideal?”, aborda o perfil dos trabalhadores mais úteis, produtivos e ágeis no trabalho, destacando ainda “Os 10 mandamentos do líder”, fornecendo dicas de comunicação e gestão.

QUAL SERIA O EMPREGADO IDEAL?

Uma pergunta difícil de responder, mas leia a descrição abaixo e verifique se Você pode considerar-se um empregado ideal.

O empregado ideal deve ser:

o Um homem que trabalhe bastante e eficientemente, que saiba encontrar o que fazer sem a ajuda do gerente e de três assistentes. o Um homem que entre no serviço na hora certa, de manhã, e não

ponha em risco a vida dos companheiros, à tarde querendo ser o primeiro a deixar a fábrica.

o Um homem que saiba ouvir com atenção e só faça as perguntas necessárias para executar perfeitamente sua tarefa.

o Um homem que se movimente rapidamente com o menor ruído possível.

o Um homem que sempre encare firmemente o interlocutor e diga sempre a verdade.

o Um homem que não se lamente por ter que trabalhar. o Um homem que se preocupe um pouco com a sua aparência.

o Um homem que, numa emergência não se queixe por ter que trabalhar uma hora a mais.

Êste homem é procurado em qualquer parte. Idade ou falta de experiência não tem importância. Não já limite, excetuando-se sua própria ambição, para o número e quantidade de tarefas que êle pode executar. Êle é desejado em qualquer ramo de trabalho, para uma emprêsa grande ou pequena. (CORREIO DA TUPY, 1966, p.8).

Periodicamente era escolhido o “metalúrgico exemplo”, um funcionário que representava o ideal de produtividade e comportamento, segundo os interesses da Fundição. Este funcionário era homenageado com o título de “Operário Padrão”, título recebido com honra e noticiado no Jornal Correio da Tupy. Segundo Freire, o funcionário da Tupy era visto como integro, honrado, “homem de família” e “[...] provavelmente daí resultasse a fama do operário-tupy. A conduta ‘exemplar’ do operário da Tupy abria-lhe portas de emprego.” (FREIRE, 2015, p.92).

O periódico também noticiou acontecimentos como a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade” em 1964, e incontáveis notas anticomunistas, como a seguinte:

Anote: ÊLES SÃO ASSIM!

OS COMUNISTAS adaptam-se ao meio, criam conflitos, ou agravam situações já existentes, buscando partidários e “simpatizantes” (êstes mais numerosos, mais influentes e mais ouvidos do que os comunistas declarados).

OS COMUNISTAS fazem uso de várias estratégias e ardis, recorrem a processos legais e ilegais, calam e ocultam a verdade, agem a sós ou junto com qualquer aliado que possa ajudá-los a alcançar sua meta. Seu objetivo final é dominar o mundo!

A MAIOR MISTIFICAÇÃO dos comunistas reside na maneira em disfarçam seus verdadeiros objetivos.

O TRIUNFO dos comunistas é fatal à independência nacional. (CORREIO DA TUPY, 1964, p.7).

O discurso adotado nos periódicos publicados pela empresa nos anos 1960 era de apoio à ditadura, proferindo ódio ao comunismo e ode ao nacionalismo. A rigor, o apoio da empresa Tupy à ditadura civil-militar manifestar-se-ia de forma ainda mais contundente. Segundo relatório da Comissão Nacional da Verdade, de 2014, a Fundição Tupy teria mantido, durante vinte anos, uma sala para uso exclusivo do Exército brasileiro,

No estado catarinense ocorreu um caso extraordinário de intervenção direta do Exército no interior da empresa, quando esse acampou em uma sala especial dentro da Fundição Tupy, em Joinville, mediante acordo com a empresa, e ficou usando suas instalações por 20 anos. Segundo depoimentos de presos políticos de Joinville, a direção da empresa possuía uma clara postura de apoio à repressão política na região. Quem era demitido por participação política ou reivindicação salarial tinha a carteira de trabalho

assinada com caneta vermelha e nunca mais conseguia emprego na cidade, pois esse era o código utilizado entre as empresas. (BRASIL, 2014, p.74).

Abaixo o registro da visita realizada por uma comitiva da Escola Superior de Guerra, em junho de 1964.