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3. O EDIFÍCIO

3.2. O PROJETO

3.2.3. O PARTIDO ARQUITETÔNICO

“Eu desconfiava que os engenheiros alemães não consideravam tarefa arquitetônica a concepção de uma estação subterrânea. Imaginava que trouxessem da Alemanha a idéia de que o arquiteto só deveria se envolver no tratamento arquitetônico interno de projetos feitos por engenheiros.

Tive minhas suspeitas confirmadas numa conversa com Wenzel. Eu ouvira - ou lera -, que a Hochtief e a Deconsult acabavam de ganhar, associadas a uma construtora carioca, a concorrência para o Projeto Preliminar do Metrô do Rio, tendo como arquiteto Oscar Niemeyer. (...) Wenzel disse não saber de nada, mas duvidou que Oscar fizesse parte do consórcio, pois o metrô do Rio seria todo subterrâneo.

Quando perguntei por que Niemeyer não poderia participar, ele tentou ser mais claro, disse que seria todo subterrâneo, e, portanto, não teria arquitetura! Perguntei, rindo: não teria arquitetura por que não teria fachadas? Ele, constrangido, concordou. Então, pacientemente, ouviu-me falar da criação do espaço interno, da disposição dos elementos, da organização dos fluxos de passageiros e do caráter subterrâneo.”

(Fragelli, Marcelo. Marcelo Fragelli: quarenta anos de prancheta)

E essa foi a situação que Marcelo Fragelli, arquiteto de várias estações de São Paulo, passou ao lidar com Wenzel, engenheiro responsável pelas obras das futuras estações da capital.

A opinião de Wenzel com certeza é a mesma de muitas pessoas e de muitos engenheiros acerca dos espaços subterrâneos. Muitos pensam que por estar “enterrado” e por não ter fachadas, e por não se poder ver de fora, ser só um espaço interno, essas construções não podem ser apreciadas e por isso não devem ser arquitetura.

Lembremos do que Bruno Zevi fala em seu livro “Saber Ver Arquitetura” sobre o espaço:

“Concluindo: se podemos encontrar na arquitetura as contribuições das outras artes, é o espaço interior, o espaço que nos rodeia e nos inclui, que dá o lá no julgamento sobre um edifício, que constitui o 'sim' ou o 'não' de todas as sentenças estéticas sobre arquitetura. Todo o resto é importante, ou melhor, pode sê-lo, mas é função da concepção espacial. Todas as vezes que, na história e na crítica, se perde de vista essa hierarquia de valores, gera-se a confusão e se acentua a atual desorientação em matéria de arquitetura.

Se pensarmos um pouco a respeito, fato de o espaço, o vazio, ser o protagonista da arquitetura é, no fundo, natural, porque a arquitetura não é apenas arte nem só imagem de vida histórica ou de vida vivida por nós e pelos outros; é também, e sobretudo, o ambiente, a cena onde vivemos a nossa vida.”

É esse o mote para o partido arquitetônico de qualquer estação subterrânea de metrô: espaço protagonista. Se o espaço é o protagonista da arquitetura, as construções subterrâneas, que são essencialmente espaço, são pura arquitetura!

Construções de uso público, sobretudo subterrâneas, são obras complicadíssimas. O METROFOR, por exemplo, atrasou décadas para só atualmente conseguir emplacar suas obras e acabar a Linha Leste até 2014, e tudo isso devido a dificuldades orçamentárias e de captação de recursos. Fora as dificuldades burocráticas, o processo construtivo de estações de metrô se utiliza de tecnologias sofisticadas, amparada por mão-de-obra especializada e por aparato mecânico bastante oneroso, contribuindo para o aumento do custo da construção.

Então, como tornar esse espaço subterrâneo num espaço arquitetônico? Como diversificar uma construção no ponto de vista estético, sem que isso afete de maneira exacerbada no custo?

É difícil ampararmos qualquer interferência estética nesse tipo de construção puramente por motivo arquitetônico, principalmente no Brasil. Qualquer adorno, qualquer material mais sofisticado, qualquer “graça” que se queira dar ao espaço é considerado um aplique fútil e caro. É compreensível que seja assim por parte de quem constrói e lida com os custos de uma construção de uso e recurso público, porque, por trás de tudo, está um governo burocrático que não investe na qualidade dos espaços públicos do país.

3.2.3.1 A ESTAÇÃO

Os espaços subterrâneos são de difícil orientação por parte dos usuários que precisam de placas sinalizadoras para se locomoverem sem perigo de passarem da parada certa ou de pegarem o trem errado. Na Estação Sé a arquitetura seria concebida para ser a própria sinalização, ela por si só seria a referência do passageiro para sua orientação. Para que essa solução seja viável, é preciso que essa arquitetura se diferencie das demais estações subterrâneas das outras linhas do METROFOR com uma alteração sutil na forma da estrutura que as compõem. Esse novo padrão estrutural seria seguido por todas as estações da Linha Leste caracterizando a linha especificamente, distinguindo-a das demais.

Dessa forma, a concepção arquitetônica da Estação Sé se desenvolve da seguinte maneira:

O sistema estrutural utilizado é o “cover and cut” que se utiliza de paredes pré-moldadas de concreto para sustentar os esforços horizontais do terreno e verticais da laje de cobertura. Numa das faces dessas paredes seriam moldadas com fôrmas semelhantes às da laje nervurada, porém retangulares (formando uma “colméia”) sem interferir na rigidez da estrutura. Esse mesmo sistema construtivo se repetiria para as demais estações da Linha Leste, distinguindo-a das demais. Essa colméia serviria de apoio para a fixação de painéis de PVC (dispensando o uso de montantes) de diversos tons, com iluminação embutida, de modo a identificar cada estação: a da Sé teria tons de azul, a do Colégio Militar, verde, e assim sucessivamente.

Pensando nesse sistema para todas as estações da Linha Leste, estaríamos nos aproximando de um processo industrial que reduziria o custo das construções, além de, ao longo da construção das primeiras estações, qualificar a mão-de-obra para a construção das demais, contribuindo para a rapidez das obras.

As “colméias” poderiam sustentar além dos painéis de PVC, placas de publicidades e painéis informativos.

É desse modo que se alcança o objetivo de fazer da arquitetura a própria comunicação visual da linha. Fica fácil para o passageiro, ao entrar numa estação da Linha Leste, identificá-la pela marcação das “colméias” e mais fácil ainda de identificar em qual estação está pela visualização das cores dos painéis de PVC, únicas para cada estação.

A Linha Leste tem início na Estação Xico da Silva e vem subterrânea sob a caixa da Rua Castro e Silva, fazendo uma curva logo à frente da Catedral até chegar à Santos Dumont, por onde segue até a próxima estação. A melhor situação para a estação é ao longo dessa curva entre a Av. Alberto Nepomuceno e o Riacho Pajeú.

A boca da estação situa-se no ponto de maior visibilidade e com maior fluxo de pedestres do parque. Sua melhor locação é exatamente no cruzamento do eixo dos túneis com o eixo entre duas paradas de ônibus, uma a leste e outra a oeste do parque, próxima ao Paço Municipal. A figura 25 mostra o fluxograma para a Estação Sé.

CASA DO CIDADÃO HALL DE ACESSO MEZANINO SERVIÇO PLATAFORMA PARQUE CA TRACAS LOJAS SENTIDO DO FLUXO SANITÁRIOS 3.2.3.2 A COBERTA

As primeiras estações de metrôs possuíam acessos de superfície bastante discretos, nada mais além do que uma escadaria situada num trecho da calçada agraciada por uma coberta de proteção que, ao mesmo tempo, protegia a entrada das intempéries e servia para avisar ao transeunte que ali existia um acesso ao metrô.

Esse fato vem mudando com o passar dos anos. O transporte público de metrô movimenta milhares de pessoas por dia e em algumas cidades chegam a ser o principal meio de locomoção dos habitantes. Nesse contexto, as entradas dos metrôs passaram a ter maior expressividade na paisagem urbana, não só para expressar a importância dessa modalidade de transporte, mas também para ajudar a divulgar a localização das paradas subterrâneas de metrô, ao longo da superfície da cidade.

A Estação Sé se localiza num novo parque urbano da cidade que proporcionará uma imensa área verde. Diante de um locus urbano de grandes dimensões e de tanta importância para a cidade, a melhor solução para o abrigo da entrada da estação seria uma coberta de caráter monumental que pudesse contribuir e dialogar com a paisagem do parque, como também sinalizar um acesso à Linha Leste.

As imagens figura 26 são algumas idéias para tal coberta. Todas elas buscam nas formas puras e simples um caráter monumental de fácil apreensão, que busca dialogar de forma discreta com o parque sem entrar em contraste com as demais formas arquitetônicas do entorno. A forma escolhida foi a assinalada ao lado, uma estrutura proveniente do arco catenário capaz de vencer grandes vãos sem o auxílio de pilares centrais. A face voltada para a avenida chama atenção de quem chega por meio dela ao parque, a face voltada para o rio interage com o meio urbano se conformando como uma arquibancada frente à Praça Verde de Eventos.

Figura 26 - Estudos de cobertas para a Estação Sé

3.2.3.3 A CASA DO CIDADÃO

A Casa do Cidadão deve ter relação direta com a estação. O fluxo de pessoas que acessam o metrô deve contribuir para a visibilidade do equipamento público e para a facilidade de seu acesso. No entanto, o metrô é um equipamento de passagem, ou seja, não é bom para seu funcionamento que nele, ou diretamente ligado a ele, aconteça aglomeração e permanência de grande quantidade de pessoas, fato que a Casa do Cidadão certamente ocasiona.

Para tanto, a Casa do Cidadão foi concebida como um edifício independente da estação, porém ligado a ela. O volume retangular se localiza perpendicularmente ao eixo longitudinal da estação, semi-enterrado numa cota inferior à entrada da mesma. O programa é dividido ao meio, interrompido por um grande hall aberto que abriga um dos acessos à Estação Sé, de modo que sua conformação não permite (a não ser pelo elevador, de menor demanda de uso que as escadas) o cruzamento de fluxos entre passageiros do metrô e usuários do edifício.

O volume foi semi-enterrado para que não se conformasse como um novo objeto construído no parque que poderia se chocar com a arquitetura da coberta da entrada do metrô e da Catedral. A Casa do Cidadão é notada exteriormente através de uma fachada composta pelas mesmas estruturas pré-moldadas da Estação Sé, que, nesse caso, servem como brise e proteção à cortina de vidro que separa o exterior do interior. Desse modo, nota-se de maneira mais eficiente que, além de se tratar de um equipamento de serviços públicos, ali acontece também um acesso à Linha Leste.

Internamente, o atendimento ao público se desenvolve no centro dos salões, onde também se concentram as instalações elétricas necessárias para alimentar os computadores e o mobiliário de apoio aos funcionários. Essa conformação facilita a flexibilidade do layout além de liberar totalmente as extremidades ao fluxo livre de usuários.

Por se tratar de um edifício semi-enterrado, a iluminação se dá por meio da fachada principal, filtrada pelas estruturas em “colméias”, pelo pergolado na face oposta e pelos lanternins de PVC do teto, que servem também como shafts de ventilação dos banheiros.

O forro é do tipo aberto que auxilia na acústica do ambiente, se ajusta perfeitamente às aberturas dos lanternins, mascara as instalações do teto e permite a fixação de placas informativas e de luminárias.

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