• Nenhum resultado encontrado

Parto na Água em Portugal

4.1. História do Parto na Água em Portugal

O primeiro parto na água em Portugal, documentado, remonta a Julho de 2008, num hospital privado, contudo já se realizavam partos na água em contexto domiciliar (dados desconhecidos). (Mães D’Água, s.d.)

O primeiro, e único até à data, hospital público que abraçou esta experiência do parto aquático foi o Hospital de São Bernardo, em Setúbal, com o primeiro parto documentado em Novembro de 2008, tornando-se nessa altura a única instituição pública da Península Ibérica a facultar esta experiência às parturientes. (Mães D’Água, s.d.) Uma notícia publicada no Diário de Notícias, a 10 de Fevereiro de 2014, relata um total de 135 imersões em água, e 72 partos na água (uma média de dois a três por mês), com um crescente número de grávidas a procurar esse serviço, segundo os responsáveis pela instituição. (Diário de Notícias, 2014)

Após um pedido de opinião sobre o parto na água de um médico obstetra da

instituição, a Ordem dos Médicos emite um parecer em Maio de 2014 no qual “não se

recomenda o trabalho de parto e/ou nascimento em meio subaquático”. (Revista da Ordem dos Médicos nº150, 2014, ano 30, p. 26-27) Neste parecer, o Colégio da Especialidade de Ginecologia/Obstetrícia acrescenta que “o trabalho de parto e/ou nascimento subaquático devem ser considerados procedimentos experimentais, que não devem ser realizados, excepto dentro do contexto de ensaios clínicos, adequadamente concebidos e após o consentimento informado das parturientes.” (Revista da Ordem dos Médicos nº150, 2014, ano 30, p. 26-27)

Em Junho de 2014, em resposta ao pedido de proibição do parto na água e à posição emitida pela Ordem dos Médicos, a Mesa do Colégio da Especialidade de Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica emite um parecer sobre o parto na água em que “recomenda a imersão e o parto na água como uma metodologia a utilizar durante o trabalho de parto e parto normal, como uma das possíveis escolhas/opção por parte da mulher grávida, após informação e consentimento livre e esclarecido.” (MCEESMO, 2014) A Ordem dos Enfermeiros reforça ainda os benefícios do parto na água para a mãe e o recém- nascido e realça que, tratando-se de um parto fisiológico, “esta prática insere-se nas

atividades autónomas do EESMO, pelo que a atividade médica é supérflua.” (MCEESMO, 2014)

Com opiniões divergentes da Ordem dos Médicos e da Ordem dos Enfermeiros, e por falta de consenso por parte da equipa multidisciplinar do bloco de partos, o Conselho de Administração do Centro Hospitalar de Setúbal solicita orientações à Direção-Geral da Saúde (DGS). (Mães D’Água, s.d.) A DGS ressalva a importância de uma intervenção multidisciplinar com o único objetivo da segurança da mãe e do recém-nascido. (Mães D’Água, s.d.) Contudo deposita a responsabilidade de autorizar ou não a prática do parto na água no Diretor de serviço, que assim deve reportar a sua decisão ao Diretor clínico do Centro Hospitalar. (Mães D’Água, s.d.) Não sendo clara esta recomendação para a equipa de EESMO, é decidida a suspensão da imersão e parto na água na instituição. (Mães D’Água, s.d.)

4.2. Projeto Pioneiro de Imersão e Parto na Água no SNS Português

O Centro Hospitalar de Setúbal, enquanto pioneiro na promoção do parto natural desenvolveu um estudo (Rodrigues, Santos e Varela, 2014) com o objetivo de avaliar qual a influência da experiência do nascimento na água em 3 variáveis: saúde materna e neonatal, satisfação da mãe/casal e satisfação das parteiras.

Assim, e partindo de uma amostra de 140 mulheres (70 mulheres no grupo experimental e 70 no grupo de controlo) foi possível concluir, relativamente à saúde do bebé avaliada através do índice de apgar, que não existem diferenças significativas, dado os resultados terem sido muito semelhantes entre o grupo experimental (M=9,31) e o grupo de controlo (M=9,21). Já quanto aos dados relativos ao parto, os resultados evidenciam uma diferença expressiva no que se refere à atividade uterina antes e após a imersão na água: as mães que apresentavam uma atividade uterina regular mantiveram o mesmo padrão após a imersão, já as mães que antes de entrarem na água apresentavam uma atividade uterina irregular mudaram o seu padrão, passando a ter contrações regulares. Ainda sobre o trabalho de parto, o estudo permitiu comparar a duração do mesmo, e constatar que o grupo experimental teve um trabalho de parto mais curto (M= 121,61 minutos) quando comparado com o grupo de controlo (M=188,73 minutos). A estes resultados, aliou-se o elevado grau de satisfação que as mães e parteiras referiram da experiência pessoal e profissional do parto na água.

Em Junho de 2014 surge um movimento cívico movido pela paixão pelo parto na água, conhecido como Mães D’Água. (Mães D’Água, s.d.) As Mães D’Água surgiram com um grupo de mães que tinha tido os seus partos na água no Hospital de São Bernardo, e que após o término dessa prática se juntou e reuniu mais de 4.900 assinaturas pela manutenção dos partos na água no Hospital de São Bernardo e pela sua extensão a outros hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Essa causa foi posteriormente debatida em plenário e apresentada à Comissão de Saúde, acabando por ser arquivada. (Mães D’Água, s.d.) Este grupo de mulheres lutam diariamente com os objetivos de: inspirar e empoderar a mulher; promover o parto natural/na água; e criar mudança no SNS português trazendo de volta o parto na água nos hospitais públicos e tornando-o uma realidade acessível a todas as grávidas/casais que escolham esta forma de nascer. (Mães D’Água, s.d.)

O parto na água continua a acontecer em Portugal em contexto privado (hospitais privados, clínicas e partos domiciliares). (Mães D’Água, s.d.) “O parto na água existe em Portugal, em clínicas privadas e em partos domiciliares, mas desde o início que lutamos para que também possa ser possível nos hospitais públicos, porque sendo uma opção exclusiva do privado é muito cara e não está disponível para toda a gente.” (Mariana Simões, s.d.; citado por Diário de Notícias, 2016)

Documentos relacionados