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2 OBJETIVOS

2.3 O PARTO DOMICILIAR PLANEJADO NO

O retorno do parto para o ambiente da casa também faz parte dessa iniciativa denominada Movimento pela Humanização do Parto e Nascimento, que tem sido fomentado por mulheres e profissionais que acreditam na possibilidade de tornar o parto mais participativo e fortalecedor para a mulher (FEYER, 2012). De acordo com Souza (2005) e Collaço (2017), não é apenas uma mudança de endereço

(hospital – casa), e sim, uma mudança que envolve uma série de novos comportamentos, valores e sentimentos relacionados à maneira de dar à luz e nascer.

O PDP é descrito como o parto que acontece em casa, sistematizado e organizado, recomendado para gestantes de risco habitual (entre 37 e 42 semanas gestacionais, sem patologias prévias ou decorrentes da gestação), diferentemente daquele parto que ocorre acidentalmente (KOETTKER, 2010; FEYER, 2013). As consultas e exames de pré-natal são acompanhados por profissionais especializados e assistência no parto, com profissionais de saúde qualificados, sendo a enfermeira obstétrica uma dessas profissionais (FEYER, 2013).

No Brasil, atualmente, é possível recorrer a profissionais especializados, além das parteiras tradicionais, que atendem partos domiciliares, em pequenos e grandes centros urbanos. De acordo com Souza (2006, p.1), “dar à luz em casa, sob assistência profissional, nas grandes cidades brasileiras, vem se tornando uma opção para várias famílias de camadas médias, adeptas de sistemas terapêuticos ditos alternativos”.

Medeiros, Santos e Silva (2008) revelam que a opção pelo parto domiciliar em grandes centros urbanos, na atualidade, é uma decisão que depende quase exclusivamente do desejo das próprias mulheres, e que a oferta assistencial profissional está crescendo. Essa propensão está relacionada à busca permanente as informações atualizadas que as mulheres fazem sobre a gestação e o parto, seu direito e autonomia de escolha do local de parto, assim como sobre sua possibilidade de receber assistência profissional durante o parto. Nesta busca, elas também se dão conta que podem conquistar um parto mais respeitoso e que devem ser ativistas em prol de maior protagonismo no nascimento do filho (MEDEIROS; SANTOS; SILVA, 2008).

No âmbito nacional, a maioria dos estudos publicados sobre PDP tem sido através de estudos qualitativos ou relatos de experiências produzidas muitas vezes por enfermeiras e que revelam vivências positivas das mulheres, dos acompanhantes e dos profissionais envolvidos (DAVIM; MENEZES, 2001; LESSA, 2003; KRUNO; BONILHA, 2004; CECAGNO; ALMEIDA, 2004; MEDEIROS; SANTOS; SILVA, 2008; NASCIMENTO et al., 2009; CALVETTE, 2011; FRANK, 2011; FRANK; PELLOSO, 2013; COLLAÇO, 2013; 2017; MELO, 2015).

O estudo de Frank (2011), como exemplo, apontou que as mulheres ficaram mais satisfeitas com a experiência do PDP, pois

possibilitou serem protagonistas e contarem com a presença da sua família; facilitou a sua autonomia, contribuindo para a evolução fisiológica do parto, menor percepção dolorosa, ausência de intervenções, respeito ao contato e vínculo mãe e filho, melhor recuperação no pós-parto e adaptação à maternidade; além de ressaltarem a importância da possibilidade da participação ativa dos parceiros e familiares em todas fases do processo, colaborando com a evolução do parto ao oferecerem também o apoio físico e emocional (FRANK, 2011).

Melo (2015) destaca que a maioria dos acompanhantes relata ser esta experiência a de maior importância na vida deles, um momento transformador na vida da família. Eles sentem que compartilhar todas as etapas do processo parturitivo com a mulher, desde a contagem das primeiras contrações para o reconhecimento do início do trabalho de parto; aplicação de métodos não farmacológicos para alívio da dor; organização do ambiente; cuidado integral à mulher, sendo que o momento mais exaltado por eles foi a vivência em serem os primeiros a segurar o próprio filho. “Acolher primeiramente o recém-nascido recompensa todas as turbulências que sentem como o cansaço, sono e preocupações como a necessidade de encaminhamento para o hospital durante o atendimento domiciliar” (MELO, 2015, p.102).

Por outro lado, alguns estudos revelam dificuldades deste serviço, tendo como exemplo, o estudo realizado por Burigo (2013) que revelam o significado para as mulheres que precisaram ser transferidas do domicílio para o hospital e Koettker (2016), que aponta as fragilidades relatadas pelos profissionais de saúde na transferência materno e neonatal do parto domiciliar planejado.

Há apenas cinco estudos quantitativos publicados em artigos (COLACIOPPO et al., 2010; KOETTKER; BRUGGEMANN; DUFLOTH, 2013; KOETTKER et al., 2012; KOETTKER et al., 2015) com pequenas amostras que descrevem os resultados da assistência ao parto domiciliar planejado. Sendo assim, inexistem indicadores sobre a assistência ao parto no domicílio realizado de forma planejada no Brasil. A maior amostra foi apresentada na tese de doutoramento, com 667 mulheres, que conclui que as mulheres que buscam por este atendimento têm uma elevada escolaridade e grande número de consultas de pré-natal; que estão recebendo uma assistência congruente com as evidências científicas e com os principais achados dos estudos publicados internacionalmente de base populacional. Os resultaram provaram que elas vivenciaram altas taxas de parto normal, liberdade de

escolha de posição de parto, muitas pariram na água, e poucas intervenções durante o trabalho de parto e parto; houve um elevado número de mulheres com cesárea prévia que tiveram parto normal e baixa taxa de transferência antes e após o parto (KOETTKER, 2016).

Porém o tamanho da amostra impossibilitou gerar indicadores de saúde maternos e neonatais e discorrer sobre a segurança desse local de parto; possui potencial viés de coleta de dados e de seleção de mulheres. Contudo, até o momento, é o maior estudo descritivo prospectivo realizado sobre PDP no Brasil (KOETTKER, 2016).

Koettker (2016, p.28) ressalta em seu trabalho que é “imprescindível a descrição das práticas obstétricas dos partos assistidos no domicílio de forma planejada e com profissional qualificado nas diferentes regiões do país. Para tanto, é necessário que se obtenha uma amostra maior desse tipo de atendimento que possibilite descrever as práticas realizadas”.

Assim como, inexiste um guia ou protocolo nacional que norteie esta prática. As equipes que atendem PDP buscam referências internacionais para guiarem a suas práticas (KOETTKER, 2010; FRANK, 2011; FEYER, 2013).