PARTE I: PROBLEMÁTICA, OBJETIVOS E METODOLOGIA
3.2 PASSOS METODOLOGICOS
Em termos operacionais, estabelecemos a seguinte trajetória de pesquisa, reforçando que as etapas não são lineares e rígidas, antes complexas e flexíveis, dotando o pesquisador de liberdade de ação suficiente para suas análises.
3.2.1 Diagnóstico do Território e seleção dos projetos
Uma vez definido o objeto de pesquisa, procedeu-se a caracterização da política pública do PDSTR, do seu contexto no MDA e da criação do Território das Águas Emendadas mediante um estudo bibliográfico e um rápido diagnóstico do funcionamento do Colegiado. Depois passamos à escolha dos projetos a serem investigados, a partir de informações obtidas na SDT, na SEE-DF, na EMATER–DF e na Caixa Econômica Federal.
35 O critério de escolha dos projetos foi intencional considerando seu grau de execução, os montantes envolvidos, os interesses e outros aspectos que favoreceram a priorização da escolha. Ressalta-se que inicialmente escolheram-se quatro projetos e após análises de suas execuções, dois foram eliminados pelos atrasos em relação aos cronogramas de estudo exigidos pela pesquisa.
Depois de selecionados os dois projetos designados para os estudos de caso, procedeu-se um levantamento detalhado de suas trajetórias procurando recuperar todas as etapas desde sua definição, montagem, discussão, aprovação e implementação. Neste sentido, as informações dos atores envolvidos ao longo da trajetória do projeto (obtidos através de entrevistas e documentos técnicos oficiais), foram juntamente com as informações financeiras obtidas junto a Caixa Econômica Federal (CEF) e MDA, responsáveis pelo resgate da historia e gênese dos projetos.
A partir da escolha do projeto, o esforço se concentrou em obter toda a documentação e história referente ao mesmo. Importava resgatar desde esboços de regulamentos, atas de reuniões, plantas e projetos civis, fotografias, até planos de trabalho, programação de atividades, relatórios físico-financeiros, prestações de contas, regulamentos e estatutos aprovados. Além disso, o caminho percorrido pelo projeto para alcançar o território bem como os atores responsáveis pela definição destes é fundamental para compreender os estágios sequentes da trajetória dos projetos.
3.2.2 A caracterização da configuração social do TAE
A etapa anterior permitiu que fosse estabelecida a dinâmica geral da configuração social em torno do colegiado e das suas diversas categorias de atores. A metodologia associou a observação participante nas reuniões do colegiado e dos grupos técnicos e as entrevistas dos atores sociais envolvidos. Realizamos assim uma tipologia e análise estratégica dos principais atores envolvidos no TAE, a nível institucional e individual.
3.2.3 Caracterização da configuração social dos projetos
A configuração dos atores sociais em torno de cada projeto foi analisada ao longo do tempo. Permitiu identificar os diversos atores, sua posição, os recursos mobilizados, os interesses, os contra interesses, o nível de participação dos diversos indivíduos e grupos, suas relações mútuas, seu envolvimento com o território e as estratégias mobilizadas. Nesta etapa foi utilizado, o cruzamento dos dados e a interpretação contextual das informações obtidas.
Buscou-se identificar e compreender as particularidades das configurações estabelecidas ao longo das trajetórias dos projetos, de maneira a compreender as regras do jogo que não estavam escritas em documentos e atas. Procurou-se identificar os atores- chave, os atores ―transversais‖ ou mediadores, os recursos mobilizados, o grau de abertura da configuração para novos postulantes, as especificidades técnicas funcionando como barreiras a novos entrantes, os atores centrais e aqueles periféricos.
3.2.4 O fechamento da configuração social
Por fim, buscou-se investigar o modo de articulação entre os atores. O objetivo era identificar as particularidades de cada configuração de atores: alianças ou coalizões, interconhecimento e relações interpessoais, efeitos de rede, cooperação e conflitos.
Especificamente buscou-se identificar zonas de cooperação e conflito na trajetória dos projetos, lugares formais e informais de articulação, zonas de conflito onde não ocorriam articulações e relações ou entrecruzamentos entre diferentes níveis de ação e o TAE. Esta compreensão deriva de uma sistematização apurada da trajetória dos projetos, do cruzamento destas informações com observações e testes cruzados de veracidade dos fatos.
O Quadro 1, a seguir, sintetiza as etapas metodológicas e apresenta detalhamento de fontes e técnicas de pesquisa utilizadas.
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Etapa Objetivo geral Fonte Técnicas Detalhamento
Caracterização do TAE, identificação e escolha dos projetos
Escolher os projetos a serem investigados no horizonte temporal da pesquisa
Compreender aspectos diversos relacionados a cada um dos projetos
Compreender todas as etapas envolvidas na consecução dos projetos (desde o edital até execução) Base de Dados – SDT/MDA CIAT, EMATER, ARCO, OPORT, Prefeituras, CEF, MDA, etc...
Critério não aleatório Escolha intencional dirigida Entrevistas e triangulação (Aspectos a observar:) Eleição de prioridades Articulações Escolhas – motivos Arranjos estabelecidos Conflitos e cooperação
Montagem técnica do projeto (responsável, discussão prévia, interesses), perfil do responsável técnico (in/out) Aspectos financeiros (amplitude, valores, escolha de gestores, oportunidade ou demanda?).
Reconstrução da configuração social Compreender a dinâmica estabelecida pela PP de desenvolvimento territorial na prática Atores individuais e institucionais
Gestores dos projetos CIAT
Observação Entrevistas
Cruzamento de dados
Motivador
Recursos que possui
O que busca? Por quê? Quem determina? Como age
Quem representa Nível de atuação
Relação com outros atores (do TAE, fora do TAE, do colegiado)
Recursos humanos, materiais, patrimoniais e específicos (conhecimento, acesso privilegiado)
Participação em outras organizações Identificação das
particularidades da configuração
Compreender a regra do jogo CIAT
Gestores dos projetos
Observação e entrevistas
Grau de abertura a novos entrantes
Especificidades técnicas como barreiras à entrada Atores e recursos mais importantes
Atores centrais e passarelas Recursos sociais mais relevantes Compreensão dos modos de articulação entre atores Identificar especificidades da configuração Reuniões e encontros técnicos Observação Cruzamento de dados
Identificar zonas de cooperação e conflito
Identificar lugares formais e informais de articulação Identificar zonas de conflito onde não ocorre articulação Identificar relações ou entrecruzamentos entre diferentes níveis de ação e o TAE
Quadro 1 - Etapas Metodológicas Fonte: Elaborado pelo autor, (2009)