• Nenhum resultado encontrado

III. Apresentação e Discussão de Resultados

1. Ovinos

1.2. Pastagens e Solos

Na exploração de ovinos da ESACB, o rebanho ovino é desparasitado uma vez por ano, entre setembro e outubro, e é feita rotação das pastagens. A Tabela 8 mostra o número de oocistos, ovos e larvas presentes nas amostras de pastagens colhidas nos diferentes locais de pastoreio. De acordo com a classificação de nível de risco de contaminação, os resultados obtidos revelaram níveis de risco baixo ou médio (Tabela 9). Nos locais L87 e L91 foram observados um número de ovos que, segundo a classificação referida, permite considerar que se está na presença de níveis de risco médio, tendo ainda sido detetada a presença de estrongiloides.

Tabela 8 - Valores totais de o.p.g., O.p.g. e L3.p.g. nas pastagens de locais de pastoreio

29% 25% 22% 17% 4% 4% Cooperia Moniezia Ostertagia Trichostrongylus Chabertia Haemonchus

Local o.p.g. O.p.g. L3.p.g. Observações

L87 0 500 0 Presença de ovos Estrongiloide

L72 0 200 250 Presença de ovos Estrongiloide e larvas Cooperia

L91 0 700 0 Presença de ovos Estrongiloide

Tabela 9 – Níveis de risco de contaminação das pastagens de locais de pastoreio*

Pastagem Local Oocistos Ovos Larvas L87 Baixo Médio Baixo

L72 Baixo Baixo Baixo

L91 Baixo Médio Baixo

L108 Baixo Baixo Baixo

*Nível de risco baixo (0 a 10 ovos, oocistos ou larvas); Nível de risco médio (10 a 20 ovos, oocistos ou larvas); Nível de risco elevado (mais de 20 ovos, oocistos ou larvas)

De acordo com Sotomaior (2009), os ovos mantêm a sua capacidade infetante com valores de humidade relativa superiores a 70%, valores encontrados nos meses em que foram recolhidas as amostras estudadas, embora só atinjam o desenvolvimento ótimo com valores de humidade relativa superiores a 96% (Guerreiro 2009). De facto, apesar de as colheitas nos locais L87 e L91 terem ocorrido em meses diferentes, abril e maio, respetivamente e em que os valores de temperatura e precipitação registados foram diferentes (Tabela 3), observou-se para ambos os meses, valores médios para a humidade relativa do ar idênticos, respetivamente de 89,5% e 88,4%, o que poderá explicar o nível de risco médio para a presença de ovos nas pastagens.

Quanto à temperatura ótima de desenvolvimento larvar, como referido anteriormente, alguns autores indicam o intervalo de 18-26°C, enquanto outros referem um intervalo entre 22°C e 32°C. Nos meses em que decorreu o presente trabalho, foram registados valores de temperatura que variaram entre 18,2°C e 22,7°C, ou seja valores favoráveis ao desenvolvimento larvar.

A amostragem no local L108 foi efetuada no mês de junho, tendo-se observado um aumento da temperatura média do ar e uma diminuição significativa da precipitação, condições que no seu conjunto são desfavoráveis ao desenvolvimento de formas parasitárias, podendo assim explicar os resultados obtidos e demonstrados nas Tabelas 8 e 9. De facto, segundo Urquhart et al. (1996), em condições de temperaturas elevadas, as larvas desenvolvem-se rapidamente e tornam-se mais ativas, esgotando as suas reservas lipídicas e acabando por não sobreviver.

O sistema de rotação de pastoreio e a sua duração, em cada local da exploração, está sobretudo relacionado com a disponibilidade de alimento, embora essa rotação possa também contribuir para diminuir o risco de contaminação já que os animais vão para pastagens livres de ovos e larvas (L3). De acordo com Colvin (2008), períodos curtos de pastoreio e longos de repouso das pastagens, seriam importantes para auxiliar o controlo de parasitas gastrointestinais nas explorações pecuárias. Este autor procurou avaliar parasitoses gastrointestinais em clima frio e temperado, durante 2 anos, tendo utilizado 3 lotes de ovinos em estados produtivos diferentes e sob três sistemas de maneio diferentes. O referido autor concluiu que para um melhor controlo destas parasitoses, as pastagens deveriam estar cerca de oito semanas em repouso, afirmando que só assim se conseguia reduzir a carga parasitária, embora tenha reconhecido que ao nível de uma exploração é muitas vezes difícil respeitar esse intervalo, pois poderá ocorrer subutilização da pastagem. A sobrevivência do parasita está relacionada com a temperatura atmosférica, sendo preferenciais as

temperaturas baixas, desta forma, a estação do ano que determina o período de repouso determina também o desenvolvimento parasitário (Lagares,2008).

No local de pastagem identificado como L108 foram observadas larvas (nível de risco baixo), tendo sido detetada a presença dos géneros Cooperia e Trichostrongylus, enquanto no local L72 foram observados não só larvas, mas também ovos, embora num número que permite classificar o nível de risco como baixo, tendo ainda sido detetados no último local a presença de ovos de Estrongiloide e larvas do género Cooperia.

A colheita de amostras do local L72 também ocorreu em maio, ou seja, nas mesmas condições climáticas da colheita do local L91, mas com resultados diferentes. A diferença nos resultados pode ser explicada pelo facto de no local L91, para além de ser um local de pastoreio, ter sido também aplicado chorume no ano 2017.

Os resultados das amostras de solo indicam que em todos os locais que se procedeu à colheita de amostras apresentaram níveis de risco que se podem classificar como baixos (Tabelas 10 e 11). Nas amostras de solos foram observadas larvas dos géneros Chabertia,

Cooperia, Ostertagia e Trichostrongylus.

Tabela 10 - Valores totais de o.p.g., O.p.g. e L3.p.g. nos solos de locais de pastoreio

Tabela 11 - Níveis de risco de contaminação dos solos de locais de pastoreio

Solo Local Oocistos Ovos Larvas L87 Baixo Baixo Baixo

L72 Baixo Baixo Baixo

L91 Baixo Baixo Baixo

L108 Baixo Baixo Baixo

Comparando os resultados obtidos nas amostras de pastagem com os obtidos nas amostras de solo, pode-se concluir que nas pastagens se observou com frequência a presença de ovos enquanto nos solos foi mais frequente a presença de larvas, apesar de se tratar de um nível de risco de contaminação baixo, para ambos os casos.

As diferenças no número de ovos e larvas entre as duas matrizes poderão estar relacionadas com a temperatura e humidade do solo, registados na altura de colheita das amostras. Apesar de não existirem registos oficiais da humidade do solo durante o período de estudo, sabe-se que a percentagem de humidade do solo aumenta após a elevada precipitação o que ocorreu no mês de março. Foi também a partir desse mês que as temperaturas começaram a aumentar.

Solo Local o.p.g. O.p.g. L3.p.g. Observações

L87 50 0 0 -

L72 0 0 400 Presença de larvas Chabertia, Cooperia e Ostertagia

L91 0 0 50 Presença de larvas Trichostrongylus

Os géneros de parasitas encontrados quer ao nível das pastagens quer nos solos coincidiram com os encontrados nas fezes dos ovinos da exploração em estudo, pelo que se pode concluir que os animais poderão ser responsáveis pela contaminação dos locais de pastoreio, evidenciando a importância da prática cultural de rotação de pastagens, de forma a contribuir para a diminuição da carga parasitária nas mesmas.

Pode considerar-se preocupante a presença de Ostertagia spp. pela sua presença nas fezes e pela sua elevada patogenicidade e prolificidade (Urquhart et al., 1996).

Documentos relacionados