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Leishmania, conforme anteriormente referido, sobrevive no hospedeiro devido aos factores de virulência intrínsecos como o LPG e o GP63, e por conseguirem resistir ao ambiente hostil recriado pelos macrófagos para destruir células fagocitadas.

Os mecanismos que o macrófago utiliza na destruição de células fagocitadas são a respiração oxidativa, acidificação e digestão. A respiração oxidativa “oxidative burst” parece ser o principal mecanismo leishmanicida, a fagocitose de um corpo estranho activa uma oxidase (NADPH), que promove a formação de compostos intermediários de oxigénio (compostos oxidativos) como o peróxido de hidrogénio, o ião superóxido e a síntese do óxido nítrico (NO). Estes compostos reagem com a membrana fosfolipídica do parasita e com as suas macromoléculas (Correia & Alexandra-Pires, 2008).

O tipo de resposta imunitária, própria de cada animal, mostra-se determinante na forma como a doença evolui, sendo os macrófagos e as células dendríticas de grande importância na modulação e regulação da resposta imunitária específica anti-Leishmania (Soong, 2008). Em animais resistentes, os parasitas não apresentam capacidade de disseminação para além do linfonodo eferente. No entanto, a falha no desenvolvimento de uma resposta imunitária protectora permite a multiplicação e disseminação do local da infecção (pele) através dos

22 macrófagos para zonas como a medula, baço, fígado, articulações, sistema respiratório, sistema cárdio-respiratório e órgãos sexuais (Miró et al., 2008).

Em animais resistentes, as células dendríticas, após transportarem formas de Leishmania da pele para o linfonodo eferente, têm a capacidade de estimular células T protectoras de memória, através do seu complexo de proteínas de classe II do complexo maior de histocompatibilidade (MHCII) (Correia & Alexandra-Pires, 2008). Na verdade, existe resposta celular predominante, que se inicia com o desempenho das células apresentadoras de antigénio (APC), que são normalmente macrófagos que fagocitaram de forma inespecífica o parasita e apresentam antigénios parasitários associados a moléculas do Complexo Maior de Histocompatibilidade classe II (MHC-II) na sua membrana externa. O complexo MHC-antigénio é reconhecido pelos receptores das células CD4+ que providenciam uma determinada resposta em função da sub-população de linfócitos que resulte maioritariamente activada. (Alexandre- Pires et al., 2010)

A resistência ou susceptibilidade à infecção por L. infantum depende da capacidade dos linfócitos T proliferarem especificamente, e está dependente da predominância das subpopulações de linfócitos CD4+ T-helper (h1) ou Th2, respectivamente (Ferrer, 2002; Santos- Gomes et al., 2003).

Os linfócitos Th 1 desempenham funções importantes na interacção com os macrófagos, ao promover a produção de citoquinas como o Interferão gamma (IFN-γ), factor de necrose tumoral (FNT) e interleucinas IL-12 e IL-2 (Gollob & Dutra 2005; Corrales & Moreno, 2006). Em culturas de células mononucleares de sangue periférico (PBMC) de canídeos assintomáticos ou de cães vacinados com protecção eficaz, verificava-se um padrão de linfócitos Th1 com produção de altos níveis de FNT-α, IL-2 e INF-γ (Martin & Diaz, 2004). Aquelas citoquinas, principalmente IFN-γ induzem a activação dos macrófagos infectados, visando a destruição intracelular do parasita. O óxido nítrico, sintetizado a partir da L-arginina, é a principal molécula envolvida na actividade anti-Leishmania do macrófago, induzindo a apoptose dos amastigotas intracelulares (Fig. 13) (Campillo et al., 1999; Baneth et al., 2008; Ochoa et al., 2009).

23 Outros estudos em murganhos demonstraram que a cura da infecção por Leishmania major ocorre quando a resposta imunitária é mediada por células T helper do tipo 1, caracterizada pela produção de IFN-g, FNT-α, interleucinas (IL-2,IL-3 IL-12) e IgG2, opondo-se às situações de doença crónica ou fatal quando é mediada por células Th2, acompanhada pela produção de IL-3, IL-4, IL-5, IL-6, IL-9, IL-10 e IgG1. Similarmente, esta resposta de carácter bivalente parece estar presente no cão infectado com Leishmania infantum (Branchelente & Welle, 2005). No entanto, esta dicotomia não é absoluta, sendo o equilíbrio entre estas duas respostas imunológicas que possivelmente determina o resultado da infecção em canídeos (Doctoral & Simó, 2009).

A maior parte dos canídeos parece desenvolver uma resposta celular nas fases iniciais da infecção, mas à medida que esta se desenvolve parece ocorrer imunossupresão e consequente perda de resposta mediada por células T (Rodriguez et al., 2007).

Estudos recentes sugerem que a resposta imunológica perante a infecção por Leishmania infantum em canídeos pode ser compartimental e variar em função do órgão. Por exemplo, a produção de IL-10 (citoquina imunossupressora) e FGT-β, encontradas em canídeos e humanos, sintomáticos ou assintomáticos, parecem estar associadas à persistência do parasita no baço (Doctoral & Simó, 2009).

Sabe-se também que certas interleucinas, como a IL-4, reflectem a activação da resposta tipo Th2 com proliferação de linfócitos B e produção das imunoglobulinas IgE e IgG1 (James & Bryson, 2005). Às quais estão associados quadros clínicos graves, com elevadas cargas parasitárias na medula óssea e lesões de pele (Branchelente & Welle, 2005).

A avaliação do estado parasitário, imunológico e clínico após a inoculação de Leishmania em cães sub-clinicamente infectados demonstrou que a memória imunológica do hospedeiro, criada durante o primeiro contacto com o parasita determinou resistência à infecção por

Fig. 13: Representação esquemática da interacção entre a proliferação de linfócitos

24 Leishmania infantum no segundo contacto. Verificou-se, ainda, uma resposta imunológica mais eficaz, quando se procedeu à inoculação utilizando culturas de promastigotas obtidas em laboratório (Santos-Gomes et al., 2003).

Estudos de anticorpos monoclonais, realizados em cães experimentalmente infectados, demonstraram que a IgM foi encontrada posteriormente à IgG, indiciando que a IgM não pode ser usada numa fase inicial para o diagnostico de LCan e que a principal imunoglobulina produzida na LCan é a IgG, presente um a quatro meses após a infecção (Doctoral & Simó, 2009).

A IgE apenas é expressiva em animais com sinais clínicos, direccionando-a como marcador da doença activa. A IgA, também encontrada em cães com sintomatologia, está possivelmente associada à ocorrência de lesões nas mucosas (Maia & Campino, 2008).

De acordo com a carga parasitária e sinais clínicos, relacionou-se que IgG e IgA são as imunoglobulinas mais indicadas para o diagnóstico (Doctoral & Simó, 2009), sendo que IgG, IgA e IgM está presente em 64% dos cães com sintomatologia.

A melhora do estado clínico do canídeo após tratamento correlaciona-se com uma diminuição das concentrações de IgG anti-Leishmania, embora estas possam persistir por vários anos em baixas concentrações.

Apesar de todos os estudos efectuados, a correlação minuciosa entre as concentrações de IgG1 e IgG2 e as respostas do tipo Th2 ou Th1, respectivamente, não mostram um consenso

absoluto (Maia & Campino, 2008).

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