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Capítulo II Revisão Bibliográfica

2.2 Vírus da Leucemia Felina

2.2.3 Patogenia e Fases da infecção

A infecção por FeLV inicia-se geralmente ao nível da orofaringe, onde o agente se replica nos linfócitos e macrófagos dos linfonodos regionais (Dunham & Graham, 2008; Lutz et al., 2009; Costa & Norsworthy, 2011). Após a exposição ao vírus, a infecção poderá decorrer sob quatro formas diferentes. Factores como a idade e o grau de imunidade do animal aquando da infecção, o subtipo e a carga viral infectante, a via de exposição e a presença concomitante de outras doenças, influenciam o desfecho da infecção, sendo a acção dos linfócitos T citotóxicos preponderante (Flynn, Hanlon & Jarrett, 2000; Hartmann, 2006; Dunham & Graham, 2008; Levy et al., 2008b; Lutz et al., 2009; Costa & Norsworthy, 2011). Actualmente acredita-se que a maioria dos animais consegue reverter para um estado avirémico, nos quais não são detectados Ag’s e apenas se consegue detectar o ADN do provírus no sangue (Hofmann-Lehmann et al., 2001; Torres, Mathiason, Hoover, 2005; Hartmann, 2006; Levy et al., 2008b; Lutz et al., 2009; Costa & Norsworthy, 2011). Este tipo de infecção, denominada “infecção regressiva”, ocorre em cerca de 30-40% dos animais e é acompanhada de uma resposta imunitária eficiente, em que a replicação viral é controlada antes ou aquando da infecção da MO, pelo que a replicação viral ocorre apenas ao nível do tecido linfóide da orofanrínge. A resposta imunitária que se estabelece, em parte humoral e outra celular, protege o animal de exposições subsequentes, provavelmente durante anos, pelo que estes animais têm baixo risco de desenvolver doenças associadas à infecção por FeLV. (Hartmann, 2006; Dunham & Graham, 2008; Levy et al., 2008b; Lutz et al., 2009; Costa & Norsworthy, 2011). Estima-se que cerca de 2% destes animais não tenham Ac’s detectáveis (Hartmann, 2006).

Uma virémia transitória caracteriza a “infecção abortiva”, em que a resposta imunitária que se estabelece não é suficiente para eliminar o vírus precocemente, pelo que este se difunde

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sistemicamente através de linfócitos e monócitos da corrente sanguínea e linfática, atingindo órgãos-alvo como timo, baço, linfonodos e glândulas salivares (Hartmann, 2006; Dunham & Graham, 2008; Lutz et al., 2009; Costa & Norsworthy, 2011). A virémia que se estabelece um a três dias após infecção, é controlada em três a seis, ou no máximo dezasseis semanas, geralmente antes de o vírus atingir a MO (Hartmann, 2006). Muitos destes animais conseguem eliminar o vírus por completo, havendo apenas detecção de proteínas virais, isto é Ag’s, no sangue (antigenémia), e têm baixo risco de desenvolver doenças associadas ao FeLV (Hartmann, 2006).

A integração do vírus no genoma das células do hospedeiro dá origem ao provírus, cuja carga plasmática atinge um pico máximo às três semanas após infecção (Tandon et al., 2005). Devido à infecção das células de divisão rápida da MO, os viriões são produzidos a uma elevada taxa, infectando sobretudo granulócitos e plaquetas, pelo que uma grave virémia secundária se instala entre três a dezasseis semanas (Lutz et al., 2009; Costa & Norsworthy, 2011). A partir deste momento, a eliminação completa do provírus deixa de ser possível (Hartmann, 2006).

Quando o provírus persiste latente ao nível da MO mas não há produção activa de vírus e a antigenémia é apenas transitória, estamos perante uma “infecção latente”, pelo que estes animais não são veículo de infecção para outros (Torres et al., 2005; Hartmann, 2006; Dunham & Graham, 2008; Hofmann-Lehmann et al., 2008; Costa & Norsworthy, 2011). Este tipo de infecção poderá explicar a imunossupressão ou alterações hematopoiéticas malignas observadas em muitos animais negativos ao FeLV (Hartmann, 2006). A reactivação poderá ocorrer em casos de imunossupressão ou stress (gravidez ou lactação), o que contudo parece ser pouco frequente, uma vez que a reactivação vai sendo cada vez mais difícil com o passar do tempo (Rojko, Hoover, Quackenbush & Olsen, 1982; Hartmann, 2006; Lutz et al., 2009; Costa & Norsworthy, 2011). Presume-se que um ano após infecção a reactivação seja pouco provável, sendo praticamente impossível ao fim de dois anos, o que poderá ser explicado pelo tropismo do vírus por células de divisão rápida, em que a informação genética para a produção de partículas virais se vai perdendo ao longo do tempo (Hartmann, 2006). Estima-se que três anos após a infecção, apenas 8% dos animais permaneçam com infecção latente, o que leva alguns autores a considerar a latência apenas como uma fase do processo de eliminação completa do vírus (Hartmann, 2006; Costa & Norsworthy, 2011). Nos casos mais graves uma “infecção progressiva/persistente” estabelece-se quando a carga viral infectante ultrapassa a capacidade eliminatória do sistema imunitário, e o animal não consegue debelar a infecção, tornando-se persistentemente infectado. Esta ocorre quando a virémia se estabelece por mais de dezasseis semanas e caracteriza-se por baixo nível de Ac’s, antigenémia persistente e elevada carga de provírus. Estima-se que este tipo de infecção ocorra em cerca de 30-40% dos animais que contactam com o agente, sendo que a maioria sucumbe num período de três anos por doenças associadas ao FeLV (Lutz,

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Pedersen & Theilen, 1983; Flynn et al., 2000; Flynn, Dunham, Watson & Jarrett, 2002; Torres et al., 2005; Hartmann, 2006; Hofmann-Lehmann et al., 2007; Hofmann-Lehmann et al., 2008; Levy et al., 2008b).

Contudo, a detecção de Ac’s em animais sem uma segunda exposição ao vírus durante anos sugere que os gatos não serão capazes de debelar por completo a infecção por FeLV (Lutz et al., 2009). No entanto, o risco de reactivação da excreção e/ou desenvolvimento de doença parece ser baixo uma vez que a esperança de vida destes animais é semelhante à dos animais não infectados por FeLV (Lutz et al., 2009). O facto de o provírus integrar o genoma das células hematopoiéticas do hospedeiro faz com que nunca chegue a ser eliminado (Cattori, Tandon, Pepin, Lutz & Hofmann-Lehmann, 2006; Dunham & Graham, 2008; Costa & Norsworthy, 2011), o que poderá explicar a persistência dos Ac’s neutralizantes nos animais que recuperam da infecção (Dunham & Graham, 2008; Levy et al., 2008b).

Uma forma atípica da infecção foi já observada em 10% dos animais com inoculação experimental do vírus. Nesta, observa-se uma replicação local persistente ao nível do baço, linfonodos, intestino delgado, glândula mamária, bexiga ou olhos, o que poderá resultar numa produção intermitente ou baixa do Ag p24 (Pacitti et al., 1986 citado por Levy et al., 2008b; Hartmann, 2006; Levy et al., 2008b).