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A utilização de meios para melhorar a qualidade de vida e para controlar a morbilidade na população idosa fez com que o número de idosos aumentasse de forma expansiva nos últimos tempos. A recente transformação populacional de alta fecundidade e de alta mortalidade para reduzida fecundidade e cada vez mais baixa mortalidade, fenómeno denominado transição demográfica, favoreceu o aumento progressivo da população idosa.

(89)

Ainda que envelhecer e adoecer não sejam sinónimos, sabe-se que o aumento da idade promove alterações anatómicas e fisiológicas que tornam os idosos mais vulneráveis ao aparecimento de DCV, doenças respiratórias, neoplásicas, cerebrovasculares, osteoarticulares, renais e endócrinas, que podem ou não estar associadas. (89)

7.1. Doenças cardiovasculares

A idade pode ser interpretada como um aumento do tempo de exposição aos fatores tradicionais de risco para DCV, como hipertensão, diabetes, tabagismo, dislipidemia e sedentarismo. Com a idade, as alterações na estrutura e funcionalidade cardiovascular podem potenciar os efeitos dos fatores de risco tradicionais. Assim, o aumento das DCV observado em pessoas mais velhas pode ser visto como uma interação entre a idade (tempo de exposição), fatores de risco cardiovasculares e predisposição genética. (90) O

aumento da prevalência de doença vascular com o envelhecimento está associado com um aumento concomitante da prevalência de DRC. (91)

7.2. Diabetes Mellitus

A prevalência da diabetes Mellitus nos idosos pode variar entre 20 a 30%. Na nona década de vida, 50% dos indivíduos poderão apresentar alterações na tolerância à glicose, podendo necessitar de terapêutica com insulina. Atualmente, a diabetes é a causa mais frequente de DRC nos Estados Unidos, quer na população geral quer na idosa. (92)

7.3. Hipertensão arterial sistémica

Em todo o mundo, mais de metade dos idosos são hipertensos. Nos Estados Unidos, aproximadamente 50% dos indivíduos com idade superior a 65 anos apresentam um aumento da pressão arterial sistólica (PAS) e/ou diastólica (PAD), com graves consequências sistémicas, como EAM, insuficiência cardíaca, doença vascular periférica e insuficiência renal. A diminuição da elasticidade dos vasos, o aumento de aterosclerose com consequente aumento da resistência vascular periférica, a diminuição da função β- adrenérgica, permanecendo normal a função α-adrenérgica, são das principais alterações fisiopatológicas responsáveis pela presença de hipertensão no idoso. (92)

7.4. Glomerulopatias

De entre as causas mais comuns de doença renal primária destacam-se a glomerulonefrite membranosa (45%) e a glomerulonefrite de lesões mínimas (16%). No que diz respeito às causas secundárias, destacam-se a diabetes, vasculite e amiloidose. A proteinúria é usualmente um bom marcador de doença glomerular e torna-se mais protuberante nos doentes com hipertensão arterial, aumentando a taxa de morbilidade e mortalidade neste grupo. (92)

7.5. Infeção do trato urinário

A bacteriúria assintomática e sintomática apresentam elevada frequência na população idosa. Existem várias razões para este facto, tais como, uropatia obstrutiva, perda de atividade bactericida da secreção prostática, prolapsos, incontinência fecal, demência, doença neuromuscular, cateterização vesical e menor produção de proteína de Tamm- Horsfall. (92)

7.6. Alterações na função endócrina

Com a idade ocorrem diversas alterações na função endócrina, incluindo o decréscimo de testosterona e dos níveis de hormona do crescimento. (48)

7.6.1. Insuficiência androgénica

Os androgénios têm um efeito estimulador sobre a eritropoiese, sendo o tratamento hormonal eficaz para alguns doentes com anemia hipoplástica ou aplástica. Os doentes com deficiência em androgénios, observada depois de orquiectomia ou após o término de terapêutica androgénica para cancro da próstata, apresentam uma queda no nível de Hb, sendo esta diminuição mais acentuada nos doentes com restrição hormonal completa e radioterapia. Assim, o declínio de androgénios que se observa com a idade contribui provavelmente para aumentar a redução da massa eritroide e, portanto, para o desenvolvimento de anemia. (9)

Ferrucci et al (93) , no estudo InCHIANTI, avaliaram o nível de testosterona em 905

participantes, um estudo epidemiológico de coorte em homens e mulheres com idade ≥ 65 anos. Para ambos os sexos houve uma relação linear entre os níveis de testosterona e de Hb. No entanto, embora a associação entre os baixos níveis de testosterona e os baixos níveis de Hb fosse estatisticamente significativa, alguns participantes com baixos níveis de testosterona não apresentavam anemia e alguns que eram anémicos tinham níveis normais de testosterona. Mas, para os indivíduos que tinham baixo nível de testosterona mas não tinham anemia até ao momento inicial da avaliação, observou-se um aumento do risco de anemia, evidenciado pela reavaliação efetuada 3 anos depois. Assim, o declínio

nos níveis séricos de testosterona, relacionado com a idade, é, provavelmente, um fator de risco para AI. Os autores do estudo sugerem que os baixos níveis de testosterona devem ser considerados como uma causa de anemia em idosos, especialmente quando outras causas plausíveis foram excluídas e em indivíduos com défices nutricionais nos quais a suplementação com ferro e vitaminas é ineficaz.

7.6.2. Decréscimo da hormona do crescimento

A secreção da hormona do crescimento diminui com a idade. O efeito desta hormona na eritropoiese parece ser mediado pelo insulin-like growth factor-I. Atua inibindo a apoptose e potenciando os efeitos da Epo e de outras citocinas. A hormona do crescimento pode levar ao aumento dos níveis de Epo, possivelmente por estimular a sua síntese hepática. A administração da hormona do crescimento condiciona a melhoria na anemia em ratos hipofisectomisados, e em crianças e adultos com deficiência nesta hormona. A hormona do crescimento pode também afetar o volume plasmático. (48) Num estudo em

adultos deficientes em hormona do crescimento a administração da mesma levou a um aumento na massa eritroide com decréscimo no VGM, HGM e níveis séricos de ferritina, embora a concentração de Hb não tenha sofrido alterações significativas (94) Assim, o

impacto da diminuição da hormona do crescimento na eritropoiese, em idosos, e o seu papel no desenvolvimento da anemia requer mais estudos. (48)

8. Alterações vasculares e renais associadas ao

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