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O património cultural é tomado pelas colectividades humanas como um símbolo da sua identidade (sentimento de pertença), que as conduz à sua protecção. Podemos por isso referir o património cultural como uma interpretação simbólica da identidade das comunidades, que promove a solidariedade, cria marcos sociais construindo uma imagem comunitária (Cruces, 1998, p.85).

A origem da palavra “património” esteve desde sempre associada a um conjunto de bens materiais de pertença familiar. Actualmente, e como nos sugere Herbert (1989), o património engloba todos os vestígios tangíveis e intangíveis do passado.

Por isso, pode afirmar-se que o património cultural tanto abarca recursos tangíveis onde estão contidos edifícios, monumentos, espaços naturais, documentos ou objectos de museus, como recursos intangíveis, tais como, usos e costumes, cerimónias, rituais e modos de vida (Timothy e Boyd, 2003). Vallbona & Costa (2003), determinam que todos estes elementos ajudam na afirmação da identidade de um território.

Muitos investigadores concordam em associar o conceito de património cultural ao passado, uma vez que este deve representar uma herança, e como tal, deve ser delegada às gerações futuras (Misiura, 2006; Timothy e Boyd, 2003). Pelo facto de se estabelecer esta relação com o passado, presume-se que deva haver uma escolha daquilo que se quer preservar, passando o património cultural a ter um propósito selectivo (Timothy e Bond, 2003).

Reforçam esta ideia Ashworth e Tunbridge (1996), ao referirem que é a sociedade que determina o que quer herdar do património para transmitir às gerações vindouras.

Hernández e Tresseras (2001), também reflectem acerca do papel do património como “embaixador da cultura” pela forma como liga o passado o presente o futuro e os indivíduos.

Coube à UNESCO4 assegurar a preservação do património cultural a nível mundial. Em Paris (1972), é aprovada a “Convenção para a Protecção do Património Mundial Cultural e Natural”, onde se reflectiu sobre a enorme importância de certos sítios comuns ao património da humanidade. Dessa Convenção definiram-se os seguintes elementos como parte integrante do património cultural e natural:

 Os monumentos: Obras arquitectónicas, de cultura ou de pintura monumentais, elementos ou estruturas de carácter arqueológico, inscrições, grutas e grupos de elementos com valor universal excepcional do ponto de vista histórico, da arte ou da ciência;

 Os conjuntos: Grupos de construções isolados ou reunidos que, em virtude da sua arquitectura, unidade ou integração na paisagem, têm valor universal excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência;

 Os locais de interesse: Obras do homem, ou obras conjugadas do homem e da natureza, e as zonas, incluindo os locais de interesse arqueológico, com um valor universal excepcional do ponto de vista histórico, estético, etnológico ou antropológico (UNESCO, 1972 artigo 1).

A legislação portuguesa refere que na Lei do Património Cultural5 (Diário da República, 2001, p. 5808), são parte integrante do património cultural, “[…] todos os bens que, sendo testemunhos com valor de civilização ou de cultura portadores de interesse cultural relevante, devem ser objecto de especial protecção e valorização”. A mesma lei6 designa

como interesse cultural relevante, o interesse “histórico, paleontológico, arqueológico, arquitectónico, linguístico, documental, artístico, etnográfico, científico, social, industrial ou técnico, dos bens que integram o património cultural reflectirá valores de memória, antiguidade, autenticidade, originalidade, raridade, singularidade ou exemplaridade”.

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Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, criada em 1946 com o objectivo da interacção entre os países mais ricos e os mais pobres para a conservação do património.

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Art.2, nº1

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Choay (2001), admite que o património cultural e os monumentos abrangem um passado cada vez mais ligado ao presente, muito devido à sociedade pós-industrial e às práticas conservacionistas dos edifícios ocorridas nos séculos XIX e XX.

O valor que o património tem não é universal, nas sociedades de tempo cíclico o património histórico não faz sentido, uma vez que existe o eterno retorno. A noção de património é por si só uma construção social, e ele próprio tem uma dimensão social. O turismo é parte integrante desta dimensão social do património.

Na perspectiva de Poria et al. (2003), a prática turística relacionada com o património cultural, fundamentando-se mais na procura do que nos artefactos existentes, uma vez que se estabelecem relações entre o conhecimento do local por parte do turista e as características do património cultural.

Timothy e Boyd (2003), identificam dois contextos diferentes para a procura do património cultural. Nos EUA as visitas estão muito viradas para o meio natural, os parques temáticos e os museus, por outro lado na Europa a envolvência com o património cultural está mais focada nas visitas a cidades e aos centros históricos.

Estreitando a relação do património cultural com a actividade turística, gradualmente assiste-se a uma massificação do turismo tonando-se esta actividade acessível a particamente todas as classes sociais onde a ausência de preocupação ambiental e cultural das comunidades receptoras foi uma constante.

Neste contexto verificou-se uma evolução em alguns tipos de turismo como o turismo cultural, religioso, termal, sol e mar, negócios e de natureza, onde se desenvolveu um agravamento da carga nas suas três vertentes, ecológica, social e turística7 (Silva, 1988; Joaquim, 1997; WTO, 1993).

As anteriores práticas massificadas passam a ser rotuladas como prejudiciais nomeadamente na destruição do meio ambiente e na degradação cultural. Desta forma

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De acordo com a Organização Mundial do Turismo (OMT) a capacidade de carga ecológica significa o nível a partir do qual ocorrem impactos ecológicos negativos e com consequências prejudiciais para o futuro; a capacidade de carga turística representa o nível a partir do qual as experiências dos visitantes se revelam insatisfatórias; a capacidade de carga social é o nível a partir do qual ocorrem mudanças sociais inaceitáveis no grupo de origem/comunidade local, ou de acolhimento.

houve a necessidade de assegurar que o turismo respeitasse tanto culturas como ambientes, e que as receitas geradas pela actividade fossem aproveitadas para a conservação e preservação do património, o que se traduz também em benefícios sociais e económicos par as comunidades (Henriques, 2003).

A Conferência de Manila8 (Lanfant, 1991) pretende valorizar e promover uma nova concepção de turismo, nas suas vertentes, económica, social e cultural, ecológica e ambiental9.

Moiteiro e Silva (2005), referem também alguns destes efeitos menos agradáveis que esta actividade pode exercer no património: “Fluxos incontrolados de turistas implicam geralmente um agravamento dos níveis de poluição e um aumento dos custos de manutenção do património ou das próprias localidades nas quais se integra”.

Por outro lado os mesmos autores acrescentam que “o uso social do património poderá trazer uma multiplicidade de vantagens”, ressaltando o “efeito multiplicador do turismo, segundo o qual todos os demais aspectos da vida económica, social, cultural e política são estimulados no seu desenvolvimento” (Moiteiro e Silva, 2005).

Na mesma linha de pensamento, Misiura (2006), constata que alguns dos efeitos positivos desta junção entre património e turismo poderão passar pela regeneração urbana, pela criação de novas actividades económicas e pelo reaparecimento de antigas tradições.

Numa outra perspectiva que conduz à realização pessoal, Almeida (como citado em Coelho, J. et al. 2012), defende que o turismo cultural, “ […] pode proporcionar uma

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A Conferência de Manila promovida pela WTO em 1980 representa uma das primeiras tentativas de reinvenção das práticas turísticas através da discussão de um conjunto de pressupostos conceptuais que estão na base da relação entre o turista, as comunidades locais e os agentes de desenvolvimento turístico. Após a realização da Conferência de Manila em 1980 assiste-se à multiplicação de encontros de carácter científico, nacionais, regionais e internacionais com a elaboração de documentos oficiais como declarações de intenções, códigos de conduta referentes à atividade turística. Exemplos são a Declaração de Tamanrasset promovida de WTO em 1989 defensora do turismo alternativo e respeitador do ambiente e das comunidades de acolhimento

(Joaquim 1997) em todas as componentes-práticas sociais, culturais, manifestações populares,

arquitectónicas entre outras.

9 Os objectivos explicitados na Conferência de Manila de 1980 foram a “protecção e preservação

do meio ambiente, da estrutura ecológica e do património natural, histórico e cultural do país; a óptima utilização qualitativa de recursos turísticos existentes ou potenciais do país, compreendendo o conjunto do património cultural, artístico, histórico e espiritual, afirmando o princípio da autenticidade e evitando a sua deformação e a sua falsificação” (Joaquim 1997, p.75).

integração de diferenças culturais e uma compreensão mútua entre os Povos, o Turismo fomenta o desenvolvimento da humanidade, tão necessário para a ausência de conflitos”.

Uma vez que a presente investigação pretende avaliar através da experiência turística factores que a podem intensificar, e de acordo com Misiura (2006), são identificados novos parâmetros associados ao património cultural:

 Nostalgia – emoções associadas ao passado;

 Memorabilia – experiências que deixam memórias positivas pelo despertar de emoções;

 Multiculturalismo – representação de todas as culturas.

O património constitui todos os elementos que integram a identidade dos Povos, contribuindo para a sua diferenciação. Apontamos o museu, uma vez que o propósito deste trabalho está assente neste tema, como uma das vias para a difusão do legado cultural (tangível e intangível) das comunidades às gerações presentes e futuras.