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CAPÍTULO 1 – A CIDADE DE SÃO SEBASTIÃO E O PATRIMÔNIO CULTURAL DO MUNICÍPIO

1.2 O PATRIMÔNIO CULTURAL

O conceito de patrimônio subdivide-se de acordo com a UNESCO em duas categorias: patrimônio natural relacionado ao meio ambiente são os recursos naturais como florestas, rios, cachoeiras e a segunda refere-se ao patrimônio cultural que se subdivide em intangível, que corresponde ao conhecimento, às técnicas, ao saber fazer e ao tangível, que se refere aos bens culturais que englobam objetos, artefatos e bens edificados obtidos a partir do meio ambiente. Neste trabalho o patrimônio será caracterizado como patrimônio natural para o meio ambiente como as praias e matas, patrimônio cultural para bens edificados e monumentos e patrimônio cultural intangível para o artesanato, danças e festas típicas.

Em 1972 foi realizada uma convenção pela UNESCO com o objetivo de proteger o patrimônio cultural e natural. Foi elaborado um inventário dos bens mundiais que se encontravam ameaçados de destruição devido ao desgaste natural e à expansão econômica e social (UNESCO, 1972). Segundo esta convenção, o conceito de patrimônio cultural tangível se aplica aos monumentos, esculturas, obras arquitetônicas e pinturas monumentais; os conjuntos através de construções isoladas ou reunidas que pelo seu estilo arquitetônico

33 apresentam valor histórico; os sítios com obras do homem e ou da natureza, assim como sítios arqueológicos com inestimável valor histórico ou antropológico.

Em setembro de 1977 o Brasil aderiu a esta convenção com a intenção de incluir alguns bens na relação de patrimônio mundial. Tratava-se de uma iniciativa que buscava conseguir o registro e preservar uma parte da história do país, tentando impedir que a urbanização e modernização dos municípios destruíssem boa parte desse patrimônio.

Segundo Rodrigues (2005, p. 22):

A finalidade do patrimônio, originalmente tida como a de representar o passado das nações, multiplicou: existe a visão do poder público, que pretende a valorização dos bens como mercadorias culturais e a de parte da sociedade, que o vê como um fator de qualidade de vida -, no Brasil o patrimônio oscila entre tornar-se um cenário teatralizado, como o pelourinho, na Bahia, ou mal conservado, onde os exemplos são numerosos.

Para Bastos (2004) o conceito de patrimônio cultural é recente e pode ser entendido como um amplo e diversificado conjunto de bens culturais, expressões e os fazeres das classes populares. Já para Rodrigues (2005, p. 16), “O patrimônio passou a constituir uma coleção simbólica unificadora, que procurava dar base cultural idêntica a todos, embora os grupos sociais e étnicos presentes em um mesmo território fossem diversos.” Passou a ser, assim, uma construção social de extrema importância política.

O patrimônio cultural é composto por bens históricos e naturais que podem ter sido importantes no passado para alguns grupos sociais. Ou ainda, segundo definição do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios - ICOMOS (1985):

O patrimônio cultural de um povo compreende as obras de seus artistas, arquitetos, músicos, escritores e sábios, assim como as criações anônimas surgidas da alma popular e o conjunto de valores que dão sentido à vida. A língua, os ritos, as crenças, os lugares e monumentos históricos, a cultura, as obras de arte e os arquivos e bibliotecas. Qualquer povo tem o direito e o dever de defender e preservar o Patrimônio Cultural, já que as sociedades se reconhecem a si mesmas através dos valores em que se encontram fontes de inspiração criadora.

E para garantir que pelo menos alguns possam ser preservados foi idealizado o processo de tombamento5. Segundo o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais – IEPHA o tombamento é um instrumento legal, aplicado por ato

5 “O tombamento é um ato administrativo realizado pelo Poder Público, nos níveis federal, estadual ou

municipal. Os tombamentos federais são da responsabilidade do Iphan e começam pelo pedido de abertura do processo, por iniciativa de qualquer cidadão ou instituição pública. Tem como objetivo preservar bens de valor histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e também de valor afetivo para a população, impedindo a destruição e/ou descaracterização de tais bens.” (DOMSCHKE, 1998, p. 11).

34 administrativo onde o valor cultural do bem é reconhecido e se institui sobre ele um regime especial de proteção.

Antigamente, quem decidia se um bem seria tombado ou não era o Museu Histórico Nacional, foi fundado em 1922 e dirigido por Gustav Dodt Barroso Fortaleza6. Em 1934 o museu teve sua estrutura ampliada agregando a Inspetoria de Monumentos Nacionais. Antes disso as inspetorias estaduais então existentes protegiam o que se julgava ser patrimônio histórico (FLÔRES, 2007).

O então presidente da República dos Estados Unidos do Brasil, Getúlio Vargas, encomendou ao então Ministro da Cultura Gustavo Capanema, uma maneira de proteger os bens históricos materiais e imateriais do Brasil, tendo sido este um dos primeiros passos para a preservação da memória histórica do Brasil. O gabinete do ministério era dirigido pelo escritor mineiro Carlos Drummond de Andrade, e sua equipe era composta de artistas e intelectuais comprometidos com a integridade cultural, como Manuel Bandeira, Prudente de Moraes Neto, Luís Jardim, Afonso Arinos, Lucio Costa e incluindo o próprio Drummond.

Em 1934, o escritor Mário de Andrade, a pedido do Ministro Gustavo Capanema, elaborou um anteprojeto de lei de proteção do patrimônio artístico nacional, propondo a criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - SPHAN. Esta proposta é reformulada por Rodrigo Melo Franco de Andrade, sendo aprovada pelas instituições competentes a criação do SPHAN, em 1936. Neste mesmo ano esse serviço inicia a sua atuação que é consolidada com o estabelecimento do instituto do tombamento, Decreto-Lei nº25 de 10/11/1937, normatizando os procedimentos de tutela no Brasil, em 1937 (PONTUAL; PICCOLO, 2008).

O decreto-lei assinado por Getúlio Vargas criou o SPHAN, hoje Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, com a responsabilidade de ser o órgão brasileiro responsável por garantir os meios para a preservação do patrimônio histórico e artístico nacional.

De 1937 até 1969, quando morreu, Rodrigo Melo Franco de Andrade manteve seu cargo de diretor do Patrimônio. A instituição veio a ser posteriormente Departamento, Instituto, Secretaria e, de novo, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), como se chama atualmente.

O projeto original de Mário de Andrade recebeu modificações significativas trazidas pela orientação de Rodrigo Melo Franco de Andrade ao longo dos 30 anos em que esteve à

6 Historiador representante da literatura regional nordestina, cultivou a história e o folclore.

35 frente do SPHAN. Durante esse período o SPHAN norteou sua política pelas noções de "tradição" e de "civilização", dando especial ênfase à relação com o passado. Os bens culturais classificados como patrimônio deveriam fazer a mediação entre os heróis nacionais, os personagens históricos, os brasileiros de ontem e os de hoje. Essa apropriação do passado era concebida como um instrumento para educar a população a respeito da unidade e permanência da nação.

Conforme Potira Augusto (2008) “Eu sei que existem casas que são tombadas, acho

que é esse o nome, pois não podem ser demolidas. A cidade tem uma parte muito antiga”. Tal

afirmação revela a idéia que a comunidade local tem do significado de tombamento e sua importância na manutenção do patrimônio cultural e da memória.

Ao longo das décadas em que Rodrigo Melo Franco de Andrade e seu grupo estiveram à frente do SPHAN, os tombamentos incidiram majoritariamente sobre a arte e a arquitetura barrocas concentradas em Minas Gerais, principalmente nos monumentos religiosos católicos (http://www.cpdoc.fgv.br/nav_historia/).

No Estado de São Paulo, o órgão encarregado da proteção do patrimônio cultural e natural é o Condephaat, criado por meio da Lei nº 10.247, de 22 de outubro de 1968, assinada pelo governador Roberto de Abreu Sodré, com a finalidade de proteger, valorizar e divulgar o patrimônio cultural. Um ano antes, o governador promoveu uma reforma administrativa que unificou as atividades oficiais de Turismo, cultura e esportes, a fim de melhor coordená-las. Assim foi criada a Secretaria de Cultura, esporte e Turismo a qual ficou subordinado o Condephaat (RODRIGUES, 2005, p. 21). Estas atribuições foram confirmadas, em 1989, pela Constituição do Estado de São Paulo.

Na cidade de São Sebastião, segundo o sítio da prefeitura, na esfera municipal existe o Departamento de Patrimônio Histórico e Cultural que visa a promoção de estudos, pesquisas e intervenções voltados ao patrimônio histórico e cultural. Compete ao Município, no exercício de sua autonomia, legislar sobre tudo quanto respeite ao interesse local, tendo como objetivo o pleno desenvolvimento de suas funções sociais, promover a proteção do patrimônio histórico-cultural, observadas a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual.

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