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Patrimônio Histórico existente na Praia de Naufragados Além de peculiaridades culturais de sua comunidade, a Praia de

SUMÁRIO

2 NAUFRAGADOS E ESQUECIDOS: O MODO DE HABITAR CONSTRUIDO NA PRAIA DE NAUFRAGADOS

2.2 A PRAIA DE NAUFRAGADOS

2.2.4 Patrimônio Histórico existente na Praia de Naufragados Além de peculiaridades culturais de sua comunidade, a Praia de

Naufragados conta com importante patrimônio histórico, que merece ser preservado e recuperado. São construções e fortificações que datam dos

séculos XVIII e XIX que, aliadas às memórias dos moradores da região, ajudam a contar a história da ocupação desta região da Ilha de Santa Catarina.

2.2.4.1 O Forte Marechal Moura e o Farol de Naufragados O Forte Marechal Moura foi erguido na Ponta dos Naufragados, no costão oeste da praia, com o objetivo de cruzar fogos com a Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição, na ilha de Araçatuba e assim proteger a entrada da Baía Sul. Foi edificado entre os anos de 1909 e 1913 e sua construção contribuiu para acelerar a economia local.

Fotografia 16. Vista aérea do conjunto arquitetônico do Farol e Forte Marechal Moura (década de oitenta

Fonte : Acervo pessoal de REIS, A.

Fotografia 17. Canhão do Forte Marechal Moura.

Dentre as fortificações que integravam o sistema defensivo da Ilha de Santa Catarina, o Forte Marechal Moura de Naufragados é a mais recente e a única que não foi construída no século XVIII. Foi desativado em 1954, sendo que apenas na década de oitenta do século XX foram demolidas as casas que pertenciam ao Exército, restando no local apenas três canhões.

O Farol de Naufragados, de orientação marítima, está localizado no costão oeste da praia. Foi inaugurado em 1861, período de prosperidade, que levou famílias a migrarem para a região, e construírem empreendimentos como engenhos e investirem nas lavouras de farinha de mandioca. Deste período restaram ruínas de construções feitas com pedras, conchas e óleo de baleia.

Encontra-se sem abandonado e sem conservação. No local foi construído um mirante, para que os visitantes observem a paisagem. A construção é formada por uma torre branca e circular de alvenaria, revestida de pastilhas, num maciço de 30 metros, elevando o conjunto a 42,6 metros acima do nível do mar. O alcance geográfico é de cerca de 33,3 km (18 milhas) e o luminoso, de 10 milhas, com funcionamento por baterias desde 1989. A cúpula original onde abriga o luminoso tinha forma octavada e que além de diferente da atual era bem maior - há mais de 40 anos saiu de Naufragados.

Fotografia 18. O Farol de Naufragados atualmente e na década de sessenta do século XX.

Fonte: Acervo de pessoal de Reis, A. (a esq) e (a dir.) acervo da Autora (2010). Existem apenas vestígios das casas que compunham o complexo do farol e os escombros escondem-se embaixo da vegetação. A falta de fiscalização e abandono dos órgãos competentes propiciou saques e também um processo de deterioração, tornando as estruturas perigosas,

com risco de desabamento e desta forma, foi decidido demolir estas construções. Conforme relatos dos moradores, corroborados pelo trabalho de Reis, A (2003, p. 10),

até a década de 80 havia na Praia de Naufragados uma vila de casas destinada a alojamento com fins militares e controle físico desta mesma área (destruída pelos visitantes ocasionais e transitórios não pertencentes a comunidade, os quais se apropriavam do material destas casas como base para a retirada de, por exemplo, tubos de cobre para a confecção de pesos de redes e tarrafas e madeira para queima de fogueiras e construção de abrigos momentâneos; tendo em vista esta depredação, o exército, com intuito de limpar a área, resolveu e determinou a demolição do que restava daquelas casas.

2.2.4.2 A Casa grande a Capela de São Pedro Fotografia 19. Capela e Casa grande.

A primeira Capela de São Pedro desmoronou na década de oitenta (século XX). Em seu lugar foi construída uma nova edificação, uma construção simples e de pequeno porte, onde é celebrada missa apenas uma vez por ano, durante a Festa de São Pedro, que ocorre no encerramento da pesca da tainha, para agradecer e ao mesmo tempo homenagear o santo protetor dos pescadores. A capela abriga três imagens, entre elas a de Santa Luzia, padroeira de Naufragados.

A Casa Grande apresenta uma arquitetura centenária, pertenceu à família Espírito Santo, e há mais de meio século é utilizada pelos pescadores locais e os sazonais vindos das regiões da Caieira da Barra do Sul, da Tapera da Barra do Sul, do Saquinho, do Ribeirão da Ilha, dentre outras redondezas, que vem ajudar na temporada de pesca da tainha.

2.2.4.3 A Fortaleza de Araçatuba

Entre a Ilha de Santa Catarina e o continente, no ponto mais estreito do canal e fronteiro à Ponta dos Naufragados está a Ilha de Araçatuba, onde foi erguido em 1742 o Forte de Nossa Senhora da Conceição, guardando a entrada daquela barra. Este monumento, tombado como Patrimônio Histórico Nacional, está ligado à importância político-militar do litoral do Brasil Meridional durante o século XVIII.

Faz parte de um complexo arquitetônico projetado pelo Brigadeiro José da Silva Paes, primeiro governador da Capitania de Santa Catarina. A Fortaleza de Araçatuba em conjunto com as três fortificações que guardam a entrada da Barra Norte da Ilha de Santa Catarina tem despertado o interesse geral pela sua bela arquitetura e paisagem e por representar juntamente com as demais a importância histórica da Ilha de Santa Catarina.

Era considerada a porta de entrada para o Rio da Prata e por isto disputada por portugueses e espanhóis nos tempos coloniais. Pela sua situação e dificuldade de acesso terrestre este monumento é considerado uma verdadeira fortaleza, dominando a entrada da Barra e a Praia de Naufragados. A Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição de Araçatuba é uma das razões elencadas no Decreto que instituiu o PEST para a anexação desta área ao Parque.

Fotografia 20. Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição de Araçatuba.

Fonte: Acervo da autora (2011)

Desativada em 1937, chegou a ser utilizada pela Marinha do Brasil como alvo para exercícios de tiro real. Foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1980. A partir de 2001, a administração da ilha, com seu conjunto arquitetônico, passou para a Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, que lhe procedeu a levantamento, visando a sua restauração, no âmbito do "Projeto Fortalezas da Ilha de Santa Catarina"16.

2.3 NAUFRAGADOS EM SEU CONTEXTO: O PARQUE ESTADUAL DA SERRA DO TABULEIRO

16 O Projeto Fortalezas da Ilha de Santa Catarina foi criado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) com o objetivo de restaurar e revitalizar as fortificações construídas pelos portugueses no século XVIII para proteger a Ilha de Santa Catarina. Hoje temos totalmente restauradas as fortalezas de Santa Cruz de Anhatomirim (1739 -Ilha de Anhatomirim), São José da Ponta Grossa (1740 – Ilha de Santa Catarina) e a de Santo Antônio de Ratones (1740 – Ilha de Ratones Grande). O Projeto Fortalezas da Ilha está ligado diretamente à Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da UFSC, que mantém as três fortificações abertas à visitação durante o ano todo. Maiores informações podem ser obtidas em www.fortalezas.ufsc.br.

A partir de meados da década de setenta, o ambientalismo passa a ter maior expressão na sociedade brasileira, resultado, dentre outros fatores da repercussão negativa do discurso desenvolvimentista brasileiro no cenário internacional após a Conferência de Estocolmo, em 1972. O Brasil teve papel de destaque na Conferência, como organizador do bloco dos países em desenvolvimento que viam no aumento das restrições ambientais uma interferência nos planos nacionais de desenvolvimento.

Em 1973, visando minimizar o impacto negativo de sua atuação na Conferencia de Estocolmo, passam a ser tomadas ações isoladas pelo governo brasileiro na preservação ambiental, como a criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA) vinculada ao Ministério do Interior, com a função de traçar estratégias para conservação do meio ambiente e para o uso racional dos recursos naturais.

Como parte destas ações isoladas, em Santa Catarina criou-se, através do Decreto 1.260/1975 (foi retificado mais tarde, pelo Decreto 17.720/82), durante o governo de Antônio Carlos Konder Reis, o Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, idealizado pelos botânicos conservacionistas Raolino Reitz e Roberto Klein, que após percorrerem grande parte do Estado em suas pesquisas botânicas, encontraram na Serra do Tabuleiro condições únicas de biodiversidade.

A área do Parque possui variada vegetação, reunindo cinco das seis composições botânicas do Estado. Começa no litoral, com a paisagem da Restinga, sobe a serra, alcançando o planalto em meio à vegetação dos Pinhais, passando, nessa transição, pela Floresta Pluvial da Encosta Atlântica, vegetação da Matinha Nebular e os Campos de Altitude da chapada da serra. (FATMA, 2003)

O Parque Estadual da Serra do Tabuleiro é a maior área de conservação ambiental de Santa Catarina, com 87.405 hectares, e possui importância estratégica, pois além da biodiversidade, guarda também as nascentes de sete rios, incluindo os que abastecem a Grande Florianópolis. Originalmente o Parque transformou em área de proteção integral parte do território de nove municípios, nove ilhas e também a ponta sul da Ilha de Santa Catarina, onde se localiza a Praia de Naufragados.

2.3.1 O Decreto Estadual n°1.260, de 01 de novembro de 1975