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Patrimônio material e imaterial

2. A CULTURA EM FEIRA DE SANTANA

2.4. A diversidade cultural local e suas manifestações

2.4.1. Patrimônio material e imaterial

“Precisamos preservar o patrimônio material e imaterial. Nossa arquitetura quase acabou. Está tudo virando estacionamento. Existem vídeos mostrando a demolição de casarões em Feira. As pessoas vão passando como se fosse uma coisa normal. A casa sendo destruída a marretadas... Em Cachoeira temos uma realidade de preservação. A gente tem um diferencial: uma magia que tem na cidade, que é a identidade. Sinto que em Feira isso não acontece” (entrevistado, Feira de Santana, 2016).

Durante as discussões em grupos e as entrevistas qualitativas, muito se falou a respeito do patrimônio cultural do município de Feira de Santana, ora para valorizar a riqueza e a diversidade deste patrimônio, ora para lamentar sua perda. O texto do Plano Municipal de Cultura confirma que o município apresenta relevante riqueza e diversidade em termos de seu patrimônio material e imaterial, mas, ao mesmo tempo, mostra fragilidade nas ações de proteção e promoção de tal patrimônio.

Feira de Santana é uma cidade rica no que se refere a quantidade e diversidade de seu patrimônio, seja ele material, imaterial ou natural. Encontramos, no município, diversos edifícios históricos, bem como um Mercado de Arte, espaço que se destina a manifestações da cultura popular. Há, ainda, no município, órgãos governamentais e leis municipais para apoio as culturas populares, manifestações do Patrimônio Imaterial, como a Lei municipal do Dia da Capoeira, mas as leis existentes, bem como as políticas, para a preservação do patrimônio (material, imaterial e natural), são insuficientes. É preciso

reconhecer, entretanto, que há certa insuficiência de edifícios históricos, devido a falta de lei de proteção ao patrimônio. (...) No que tange a cultura afro

(terreiros, comunidades quilombolas, comunidade de sambadores, etc.), Feira de Santana conta com espaços de atuação e manifestação para modalidades

diversas da cultura afro. Também agentes e grupos de cultura popular se fazem presentes no cenário cultural da cidade, a exemplo dos capoeiristas, cordelistas, repentistas, sambadores, sanfoneiros, entre outros. No caso específico da capoeira, identificamos, dentre outras ações, rodas de conversa e seminários o que pode levar potencialmente a divulgação e fortalecimento de atividades representativas deste setor. Na área da pesquisa, encontramos pesquisadores e publicações acerca da cultura popular feirense. Todavia os resultados e publicações são desconhecidos por grande parte da comunidade feirense, não havendo incentivo editorial por parte do poder público local. O currículo escolar municipal carece de uma abordagem que abranja programas locais. Os grupos de cultura popular, enfrentam um distanciamento quanto a gestão do espaço planejado, que se dá sem participação popular, e portanto, com pouca

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representatividade. E no espaço existente encontra-se uma concepção

mercadológica de fomento das ações da cultura popular, que não parece ser o melhor tratamento a ser dado ao tema, havendo assim certa descaracterização do patrimônio local. Constata-se, ainda, que não há formação na área e existe pouca conscientização dos feirenses, provocando o desconhecimento da história e da memória local. (p.29)

Tal situação se estende para a relação com o patrimônio natural do município:

No que se refere aos recursos naturais, a região conta com lagoas, rios e olhos d’agua. Embora existam grupos organizados da sociedade civil a favor da manutenção ambiental, verifica-se uma falta de consciência ambiental dos feirenses para com a conservação dos patrimônios naturais da cidade e seus arredores (que já sofreram devastação) e já se vê desequilíbrio ambiental, provocando instabilidade na saúde da população. (p.30)

Ao que se apurou, é pequeno o número de bens tombados em Feira de Santana, tendo grande parte de seu patrimônio já sido descaracterizado ou simplesmente destruído. Muitos bens sequer foram inventariados ou registrados, nem na esfera municipal e nem nas esferas estadual e federal.

Quanto às comunidades quilombolas, há aquelas que já estão registradas, a exemplo da Matinha dos Pretos e Lagoa Grande e outras que estão em fase de reconhecimento. Há que se destacar, de um lado, a existência de pesquisadores voltados ao estudo dessas comunidades e por outro lado, a necessidade de fazer- se o levantamento, mapeamento e divulgação dos quilombos existentes. Em se tratando da cultura afro em si, percebe-se enfraquecimento dos ensinamentos e de suas tradições, além da resistência de algumas comunidades religiosas para com eles. (p.30)

Algumas ações têm sido realizadas, mas ao que tudo indica de maneira incipiente. Entre elas cita-se o tombamento recente, em 2013, pela Lei nº 3.355, de alguns edifícios através do IPAC – Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia. Nesta data foram tombados sete edifícios, ao passo que outros nove tiveram tombamento provisório, aguardando aprovação e ratificação.

O Quadro 5 traz os bens tombados no município, segundo informações do IPAC, todos em esfera estadual. Não constam bens tombados pelo IPHAN / esfera federal.

64 Quadro 5 – Patrimônio tombado em Feira de Santana

Denominação do Bem Cultural Livro de Inscrição Âmbito de

Proteção Capela de Nossa Senhora dos

Remédios

Livro do Tombamento dos Bens Imóveis Estado Catedral de Santana Livro do Tombamento dos Bens Imóveis Estado Coreto da Praça Bernardino Bahia Livro do Tombamento dos Bens Imóveis Estado Coreto da Praça da Matriz Livro do Tombamento dos Bens Imóveis Estado Coreto da Praça Fróes da Motta Livro do Tombamento dos Bens Imóveis Estado Filarmônica 25 de Março Livro do Tombamento dos Bens Imóveis Estado Igreja Senhor dos Passos Livro do Tombamento dos Bens Imóveis Estado Matriz de São José de Itapororocas Livro do Tombamento dos Bens Imóveis Estado Paço Municipal (Feira de Santana) Livro do Tombamento dos Bens Imóveis Estado

Painel do Artista Lênio Braga (Terminal Rodoviário)

Livro do Tombamento dos Bens Imóveis Estado Prédio da Escola Maria Quitéria Livro do Tombamento dos Bens Imóveis Estado Prédio da Santa Casa da Misericórdia

(Feira de Santana)

Livro do Tombamento dos Bens Imóveis Estado Prédio da Vila Froés da Motta Livro do Tombamento dos Bens Imóveis Estado Prédio do Arquivo Público Municipal Livro do Tombamento dos Bens Imóveis Estado

Prédio do Grupo Escolar J.J. Seabra (Antiga Escola Normal Rural)

Livro do Tombamento dos Bens Imóveis Estado Prédio Mercado Municipal (Feira de

Santana)

Livro do Tombamento dos Bens Imóveis Estado

FONTE: IPAC / SIPAC – Sistema de informações do patrimônio cultural da Bahia.

O município também tem manifestações que são tombadas em esfera estadual e federal, mas não têm território específico de ocorrência, ou melhor, são disseminadas por vários territórios. Entre elas pode-se citar o Ofício do Vaqueiro, tombado pelo estado e inscrito no Livro do Registro Especial dos Saberes e Modos de Fazer; a Capoeira, tombada pelo estado e inscrita no Livro do Registro Especial das Expressões Lúdicas e Artísticas; o Ofício dos mestres de capoeira, tombamento federal inscrito no Livro de Registro dos Saberes e a Roda de Capoeira, também tombada pela União e inscrita no Livro de Registro das Formas de Expressão.

Entre as várias ações propostas no PMC na área de patrimônio e memória realçam:

 Encaminhar projeto de Lei de preservação e tombamento do patrimônio cultural do município;

65  Firmar convênio com IPHAN e com IPAC para realização de tombamentos

federais e estaduais em patrimônios materiais e naturais no município;

 Firmar convênio com instituições governamentais relacionados à preservação patrimonial;

 Levantamento sistematizado e catalogação dos patrimônios materiais e naturais existentes na cidade;

 Realização de oficinas e seminários acerca da conscientização ao patrimônio;  Estimular a conscientização patrimonial dos cidadãos feirenses;

 Destinar apoio financeiro para ações relacionadas a publicações, registros, exposições fotográficas e/ou, videográficas acerca da memória e patrimônio material/imaterial de Feira de Santana;

 Promover oficinas anuais de conscientização ao Patrimônio em parceria com escolas e espaços culturais.

Enquanto as ações propostas no Plano não se efetivam, entrevistados apontam que o município tem visto grandes perdas em seu patrimônio cultural – imaterial e material / arquitetônico e em sua memória. Não apenas muitos prédios foram derrubados nos últimos cinco anos, mas também o patrimônio imaterial tem sido perdido e desvalorizado.

Entre as manifestações perdidas ou em processo de descaracterização foi citada a Quixabinha dos Pretos - patrimônio do samba da zona rural não valorizado e reconhecido. Também se mencionou a existência de várias comunidades tradicionais e quilombolas, algumas reconhecidas e mapeadas, outras não.

Por fim, vale destacar a própria Festa da Padroeira, que teve seu início no século XIX e que, segundo entrevistados, foi descaracterizada por um dos padres que passou pela cidade no início da década de 1980, retirando a “parte profana da festa”, chamada pelo Bando Anunciador. Nas palavras de um dos entrevistados: “a Festa de Santana acabou, era a mais tradicional da cidade. Tinha tiroteio, morte, discurso político, show e bebedeira. Já tem mais de 20 anos que acabou.” Hoje está sendo tentado um resgate do bando pelos movimentos culturais locais, mas ainda falta resgatar outros dois momentos da festa, a Levagem da lenha e a lavagem da igreja, em paralelo às manifestações

66 culturais, capoeira e rodas de samba, além de barraquinhas que originalmente acompanhavam as comemorações13.