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CAPÍTULO II – CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO DO MST: ASPECTOS TEÓRICOS E

2.4. Principais correntes pedagógicas do MST

2.4.2. Paulo Freire (1921-1997)

Paulo Freire, assim como Pistrak, teve suas ideias muito bem incorporadas na proposta educacional do MST, tanto no quesito de democratização do acesso a educação quanto na tentativa de implantação do projeto de educação popular. Nele, notam-se vários pontos pelos quais, o Movimento dos Trabalhadores sem Terra, se apropriaram para estruturar a educação escolarizada por eles almejada. Porém, antes de dar seguimento à exposição, vale ressaltar a titulo de esclarecimento, que em Paulo Freire não se encontra nenhuma metodologia ou mesmo um direcionamento didático para o ensino. Observa-se, sim, um pensador que se propôs refletir sobre as novas relações pedagógicas que por sua vez pudessem estar ancoradas na liberdade, justiça, ética e autonomia do humano. Além desse pensador, ser um questionador do tipo de educação ofertada para as classes populares em detrimentos daquela oferecida para a classe mais abastada.

A priori, não se tem o objetivo de dissecar os pormenores das ideias de Freire sobre a

educação, nem mesmo fazer uma visita minuciosa em toda sua produção intelectual que, diga- se de passagem, é imensa. Pretende-se neste caso, apenas de maneira simples e objetiva, registrar os aspectos centrais de seu posicionamento pedagógico, aquela que mais ecoou na proposta de educação do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra.

Antunes (2013), pesquisadora da vida e obra de Freire, identificou que, um dos empenhos de Freire foi à defesa de uma educação emancipadora, dialógica, participativa e democrática que provocassem no humano, tanto homem como na mulher, uma ação libertadora.

O jeito de Paulo Freire de fazer educação perpassava pelo sentido que ele dava a vida e de sua curiosidade em descobrir como homens e mulheres interpretavam o mundo e como esses queriam intervir sobre este para transformá-lo, fato que se evidenciou nos seus escritos, do primeiro (1959) ao último (1997). A autora acrescenta que as analises de Freire partiam sempre dos níveis e das formas como os discentes compreendiam a realidade. (Antunes, 2013, p.28)

Observa-se que Paulo Freire manteve sempre um discurso marcado por severa crítica aquilo que ele denominou de “educação bancária” e neste quesito dizia:

Ditamos ideias. Não trocamos ideias. Discursamos aulas. Não debatemos ou discutimos temas. Trabalhamos sobre o educando. Não trabalhamos com ele. Impomos-lhe uma ordem a que ele não adere, mas se acomoda. Não lhe propiciamos meios para o pensar autêntico, porque recebendo as fórmulas que lhe damos, simplesmente as guarda. Não as incorpora porque a incorporação é o resultado de busca de algo que exige, de quem o tenta, esforço de recriação e de procura. Exige reinvenção. (Freire, 1999, p.104).

Tomando a citação acima para reflexão, amparado pelas análises realizadas da obra de Freire por Antunes (2013), nota-se que a intenção era estimular práticas democráticas no interior da escola e romper com as ações consideradas autoritárias.

O item da gestão democrática foi um dos pontos mais aglutinadores no projeto educacional do MST, não apenas deste estudioso, diga-se de passagem, porém de outros que também advogavam essa forma de gestar a instituição escolar.

No caso de Freire, essa ação democrática foi colocada em prática, ou pelo menos houve um significativo ensaio, quando entre os anos de 1989 a 1991, esteve á frente da

Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Neste período, os princípios que norteavam sua ação eram a participação, descentralização e autonomia, e cujas prioridades deveriam efetivar-se na democratização da gestão, democratização do acesso, nova qualidade de ensino e política de educação de jovens e adultos. (Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, 1991, p.9)

Na prática, Freire buscou alterar o currículo escolar, para que o mesmo fosse mais democrático e dialógico. Além desta medida, criou órgãos educacionais que desenvolvessem ainda mais a prática cidadã no ambiente educacional.

Explicando um pouco mais as ações de Freire, Antunes (2013), relata que a gestão freiriana foi marcada pela tentativa, ainda que sutil, de democratizar tanto o currículo quanto a gestão. Criando instância de colegiado e substituindo as Delegacias Regionais de Educação Municipal por Núcleos de Ação Educativa. Além de promover no espaço escolar uma maior autonomia, estimulando a formação de grêmios estudantis e conselhos escolares. (Antunes, 2013, p.29) Em suma, pode-se depreender dessas ações que, para Freire, a educação estava para além do ensinar e do transmitir informações. Para ele, esta deveria estar vinculada a uma transformação social.

Seguindo na analise das ações pedagógicas de Paulo Freire, Costa (2007) destaca que, todos estes feitos realizados, servem para demonstrar a maneira de pensar de Paulo Freire sobre educação. Tendo em vista que tais ações tornaram-se um divisor de águas na época, tanto a nível local como em outras esferas. Pois, a Pedagogia de Paulo Freire, não só pela sua proposta, mas, sobretudo, pela forma de pensar o “educar”, tornou-se um acalento para quem desejava a ruptura do sistema educacional vigente, e o desenvolvimento de uma educação voltada para o povo, isto é, uma Educação Popular. Que a modo de Freire, significava “um esforço de mobilização, organização e Capacitação das classes populares. Sendo uma prática política misturada à tarefa de educar, onde todo ato educativo é também um ato político”. (Costa, 2007, p.118)

Neste contexto de pensar e fazer educação em Freire havia uma finalidade de gestar um sujeito com condições de apropriar-se de instrumentos de participação para melhor atuar na convivência no grupo, como desejava Freire. Isso significava desenvolver um cidadão mais crítico, propositivo e participativo. Enfim, em Paulo Freire, o Movimento baseou sua proposta pedagógica utilizando-se dos temas geradores para as suas práticas educativas, além de usá-lo na contribuição de questões ditas fundamentais para a luta do MST. E como o Movimento custa afirmar: “Freire foi para eles o que ensinou o caminho para formação da consciência na sua forma política. Ensinou-nós que “estar no mundo e com o mundo” e não

somente aprender a ler a realidade, mas propor-se a modificá-la”. (Bogo, 2007, como citado em Santos, & Paludo, 2015, p. 1174)

Dito isto, aqui se finalizam os sinais que provam que a proposta de educação do MST achou guarida no ideário pedagógico de Freire. E que suas ideias serviram como parâmetros para o desenvolvimento da pedagogia do Movimento.