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CAPÍTULO 3: PAULO FREIRE E A ALFABETIZAÇÃO DE ADULTOS

3.1 Paulo Freire e sua caminhada

“Ninguém deixa seu mundo, adentrado por suas raízes, com o corpo vazio ou seco. Carregamos conosco a memória de muitas tramas, o corpo molhado de nossa história, de nossa cultura; a memória, às vezes difusa, às vezes nítida, clara, de ruas da infância, da adolescência; a lembrança de algo distante que, de repente, se destaca límpido diante de nós [...].”

(FREIRE em Pedagogia da Esperança, 1992, p.32-33).

Paulo Freire foi uma criança que nasceu e cresceu em um contexto social pouco privilegiado. Resquícios da realidade vivenciada por Freire exerceram influência sobre sua pedagogia comprometida com os oprimidos. Para Freire, a qualidade fundamental para um bom educador era o gosto que esse deveria ter pela vida, afirmando sempre que a vida é que aguça a nossa curiosidade e nos leva ao conhecimento.

Esse homem e educador, durante toda sua trajetória, sempre esteve preocupado e engajado com questões sociais. Prova disso são suas inúmeras contribuições para a educação de jovens e adultos, assim como para as demais modalidades de ensino e suas reflexões no campo político-educacional no Brasil e no mundo.

Conforme os escritos de Paulo Freire, todos devem ter o direito de dizer a sua

palavra, de contar a sua história, a sua realidade e a sua cultura. Assim como eu,

autora desta pesquisa, fiz no capítulo 1, subcapítulo 1.1, no qual relatei, brevemente, a minha vida escolar e acadêmica. Por isso, apresento-lhes agora um pouco da vida desse grande Educador. Não me proponho aqui fazer uma biografia do autor, mas sim trazer alguns aspectos que marcaram fortemente sua trajetória no que se refere a sua caminhada na educação de adultos.

Paulo Reglus Neves Freire era filho de Joaquim Temístocles Freire e de Edeltrudes Neves Freire, conhecido no Brasil e no exterior apenas como Paulo Freire. Nasceu em Recife, Pernambuco, em 19 de setembro de 1921.

Foi com seus pais que Freire aprendeu o diálogo, o qual procurou manter com o mundo, com os homens. Além disso, aprendeu a respeitar as pessoas e que as mãos não serviam para machucar, mas para ensinar a fazer coisas.

Com a crise de 1929, sua família se mudou para Jaboatão, uma cidade próxima a Recife, onde parecia ser mais fácil sobreviver. Mesmo assim, teve uma infância com muitas dificuldades e restrições econômicas. Foi nessa cidade que Freire perdeu seu pai. Essa trama de acontecimentos lhe possibilitou experienciar diversos sentimentos como: dor, perda, sofrimento, fome... mas também, prazer, amor, crescimento e aprendizagens.

Sua alfabetização se deu ainda quando criança pequena, orientada por sua mãe, escrevendo palavras do seu mundo com gravetos à sombra de mangueiras no chão do quintal onde nasceu, na estrada do Encanamento, 724, no Bairro da Casa Amarela.

Aos 10 anos, pensava que no mundo muitas coisas não andavam bem, e mesmo ainda criança, questionava-se sobre o que poderia fazer para ajudar os homens.

Com muita dificuldade, fez o exame de admissão ao ginásio aos 15 anos. Com 20, no curso pré-jurídico, já lera os “Serões Gramaticais” de Carneiro Ribeiro, a “Réplica” e a “Tréplica” de Rui Barbosa. E, assim, começava a introduzir em seus estudos a Filosofia, a Psicologia da linguagem, enquanto se tornava professor de português do ginasial no colégio Osvaldo Cruz, onde havia estudado. Dessa forma, satisfazia seu gosto pelo estudo da língua e ao mesmo tempo ajudava financeiramente seus irmãos.

Atendendo a vocação de ser pai de família, Freire casou-se aos 23 anos, em 1944, com Elza Maia Costa Oliveira. Desse casamento, nasceram cinco filhos: Maria Madalena, Maria Cristina, Maria de Fátima, Joaquim e Lutgardes.

Ela era professora primária, depois se tornou diretora de uma escola. Com Elza e seus filhos, Freire prosseguiu o diálogo que tinha aprendido com seus pais e também pôde aprender muito com ela, como a: coragem, compreensão, capacidade de amar e a ajuda que nunca lhe foi negada. A partir de seu casamento, passou a se dedicar mais aos problemas educacionais do país.

Formado em direito, abandonou a profissão em sua primeira causa: uma dívida. Passou, então, a trabalhar como diretor do Departamento de Educação e de Cultura do SESI, em Pernambuco. Nesse trabalho Freire pôde continuar seu diálogo

com o povo. Depois, de 1946 a 1954, assumiu a Superintendência, onde realizou as suas primeiras experiências com a alfabetização de adultos, as quais o conduziram, em 1961, à elaboração de sua diferenciada proposta de alfabetização de adultos. Esta foi colocada em prática pelo movimento de Cultura Popular do Recife, cujo um dos fundadores foi Paulo Freire. Este movimento, mais tarde, teve continuidade no Serviço de Extensão Cultural da Universidade de Recife e coube a Freire ser seu primeiro diretor. Foi a partir dessa experiência que Freire iniciou sua caminhada na educação de adultos/trabalhadores, não conseguindo ficar inerte frente aos problemas que afetavam a educação, mais especificamente, a alfabetização no País; entendia a alfabetização como um processo político-pedagógico enraizado na realidade de cada alfabetizando como “leitura do mundo e leitura da palavra”.

Enfim, sua trajetória de vida lhe trouxe ricas vivências e experiências que marcaram fortemente sua caminhada como homem e educador. Até que, no dia 2 de maio de 1997, com 75 anos, em São Paulo, Paulo Freire foi vítima de um infarto agudo do miocárdio e acabou falecendo.

Deixo como sugestão aos leitores que quiserem saber mais sobre a vida desse grande Educador a indicação do texto: Paulo Freire por Si Mesmo3, o qual é

uma autobiografia de Freire e compõe uma de suas obras.