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3.4 A Educação do Campo: instrumento para pertença camponesa

3.4.1 Pedagogia da Alternância para além da escolarização rural

A educação do campo no Brasil surgiu contra a lógica burguesa do modelo agrícola do país, assim, as primeiras experiências de educação do campo no pais parte dos movimentos religiosos da Igreja Católica para o desenvolvimento das comunidades e dos campesinatos. As Escolas Famílias Agrícolas têm origem em

meados dos anos 1960, quando no estado do Espírito Santo na região sul, nasce a primeira escola para os camponeses daquela região.

Segundo Silva (2011):

Paralelamente, e geralmente articuladas com essas grandes lutas, vão ocorrendo em vários pontos do país, experiências de mobilização e organização de pequenos agricultores em busca de alternativas educacionais que venham de encontro às necessidades e aos desafios colocados pelo momento histórico à agricultura familiar. São experiências que sinalizam que a luta desse segmento não é só pela educação enquanto direito, enquanto conquista democrática, mas, principalmente, por uma educação que, adequada às necessidades sociais históricas, seja também um instrumento capaz de contribuir para a superação das atuais contradições sociais. Neste contexto que se inscrevem as experiências das Escolas Família Agrícola (EFA’S) no Brasil. Inspiradas no modelo francês das Maisons Familiales Rurales, a história das EFA’S no nosso país teve início no final da década de 60, no Estado do Espírito Santo, através de um trabalho comunitário coordenado pelo Movimento Educacional e Promocional do Espírito Santo (MEPES). Buscava-se com esse movimento não apenas a fixação do jovem instruído no campo, mas, fundamentalmente, conscientizá-lo de sua função política junto à história do seu grupo social. (SILVA, 2011, p. 1).

A concepção de ensino pensado foi um processo educacional de consciência nas comunidades em que a escola atendesse à necessidade dos campesinos e ampliasse o desenvolvimento humano e também a pertença da vida no campo para famílias que lá residiam. Sobretudo, a escola para os camponeses tem de possuir características próprias da cultura e do trabalho do campo, e certamente a (EFA) e o movimento da (CEB) foram importantes para o desenvolvimento da lógica de ensino do campesinato no país.

Com essa perspectiva de ensino vai se elaborando mecanismos de experiência pedagógica para a consolidação do ensino camponês, tendo a Educação do Campo como bandeira de luta dos povos do campo. Nesse sentido, a Pedagogia da Alternância nasce como procedimento pedagógico e curricular, buscando, através do trabalho e da educação, mecanismos de valorização dos hábitos campesinos, barrando qualquer forma a desterritorialização do ensino do campo.

Para Silva (2000), o método educacional desenvolvido nos currículos de ensino da (EFA), tem como base central o trabalho e a vivencia social no campo, dos camponeses, de modo que estas são formas de aprendizagem para os educandos e famílias.

[...] No Brasil, a experiência educativa em alternância, iniciou sua caminhada com o nome de Escola Família Rural. Teve início no Estado do Espírito Santo, em meados da década de 1960, por meio do MEPES (Movimento de Educação Promocional do Espírito Santo), instituição filantrópica fundada na cidade de Anchieta – Espírito Santo, em abril de 1968. (ZAMBERLAN, 2003, p. 36).

Assim, a experiência de educação do campo desenvolvida pela (EFA), foi determinante para que as famílias tivessem a permanência garantida no campo. No estado capixaba, ela também foi umas das percursoras de uma formação técnica para jovens do campo, sendo estes formados paras as demandas do campo, técnicos que têm a função de ajudar suas famílias e comunidades acercas das questões técnicas da agricultura. Essa foi uma iniciativa positiva para barrar o processo do êxodo rural e desenvolver um conceito que o campo também é espaço de convivência e de estudo. Possivelmente, as experiências educacionais da (EFA) no campesinato capixaba foram umas das primeiras formas de Educação do Campo no país, onde ainda não tinha a nomenclatura do conceito da Educação do Campo. Mas, a educação da Alternância não possibilitou uma abrangência ampla para toda população campesina do Brasil, devido às dificuldades encontradas pela própria instituição educacional em manter e também pela configuração da conjuntura política na visão do campesinato sobre a proposta de ensino e o afrontamento da luta de classe no campo e na cidade.

Na tentativa de superação dos problemas sociais e do acirramento da luta de classes no Brasil, são retomadas a partir da insatisfação dos trabalhadores (as), a organização dos Movimentos Sociais do campo e da cidade, com objetivo de reivindicar melhorias na qualidade de vida da população, bem como a luta por políticas públicas, tais como a ampliação e democratização da educação para campo e cidade. Portanto, no intuito de desenvolver e fortalecer um ensino do campo se planeja em uma disputa na sociedade, em defesa de uma educação do campo de qualidade de direito a todos.

Diante disso, a educação do campo entende-se como procedimento de luta e de formação dos homens e mulheres. Desse modo, em presença da articulação da educação dos movimentos sociais e das populações do campo o decreto 7.352 de 2010 em seu artigo 1º § 1º inciso I e II (BRASIL, 2010) especifica essas populações como:

I – populações do campo agricultores familiares, extrativistas, pescadores artesanais, ribeirinhas, assentados e acampados da Reforma Agrária, trabalhadores assalariados rurais, quilombolas, caiçaras e povos da floresta, entre outros que produzem suas condições materiais de existência a partir do trabalhadores do meio rural; e [...]

II – escola do campo aquela situada em área rural, conforme definida pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, ou aquela situação em área urbana, deste que atenda predominantemente a população do campo. (BRASIL, 2010).

Os movimentos sociais dos trabalhadores do campo, através desse procedimento legal, reivindicam ações mais presentes de políticas públicas para as populações campesinas, que ofereça as questões técnicas de produções, uma educação dos trabalhadores do campo, com objetivo de melhorar a vida no campo para todos, ampliando, então, o conhecimento e o bem-estar social.

Nos meados dos 1990 os movimentos sociais do campo consolidam uma agenda para a sociedade brasileira, por melhoria de vida no campo e acesso aos processos de ensino nas comunidades camponesas, tendo como base o cotidiano social e o trabalho do campo como processo de aprendizagem.

Sob o mesmo ponto de vista, a educação se fortalece dentro dos movimentos sociais camponeses que decidem construir uma política/pedagógica para as escolas do campo, tendo como base a vida cotidiano do campesinato e o trabalho como processos educativos, aspectos centrais do ensino nos currículos das escolas. Com essa motivação, a participação de vários movimentos sociais e entidades do campo foram cruciais para o desenvolvimento do conceito da Educação Do Campo, para ser debatido em toda sociedade brasileira, que seja pensada dentro dos espaços do campo e não algo de fora para dentro como era estruturada.

Nesse sentido,

[...] A Educação do Campo nasceu como crítica à realidade educacional da população que vive do trabalho do campo e tomando posição no confronto de projetos de educação contra uma visão instrumentalizadora da educação, colocada a serviço das demandas de um determinado modelo de desenvolvimento do campo (que sempre dominou a chamada ‘educação rural’), a afirmação da educação como formação humana, omnilateral e de perspectiva emancipatória, vinculada a projetos históricos, de longo prazo. (CALDART, 2008).

Para Caldart (2004), a Educação do Campo vem à tona quando os movimentos sociais levantam a bandeira de luta por direitos sociais nos espaços campesinos,

assim nos meados dos anos 1990, com a elaboração das Diretrizes Operacionais do Campo e a própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, (LDB) 9394/96, esses procedimentos formam o corpo legal para o desenvolvimento da Educação do Campo e dos camponeses com suas pedagogias e métodos de experiências educacionais. Entretanto, isso não dá desenvolvimento para uma educação no campo descontextualizada pensada de fora do contexto social do camponês.

A educação do campo tem como perspectiva a formação dos sujeitos para consciência da sua existência social do seu convívio, assim o ensino tem que está em consonância para as atividades de conscientização dos seus educandos e comunidade.

Desta forma, os processos pedagógicos das escolas do campo, apontam que a comunidade e a família como peças fundamentais para o andamento e o desenvolvimento da concepção pedagógica das escolas do campo. Sendo assim, o ensino perpassa as estruturas escolares e pedagógicas, culminando com uma educação social, coletivas e política, sendo um conhecimento útil associado à vida humana (CALDART, 2004, 224-225).

Certamente, o desenvolvimento das questões da Educação do Campo parte das conquistas dos movimentos sociais por políticas públicas para escolas e capitação para os educadores, como fator importante para o fortalecimento desse conceito. Todavia, é compreensivo que a escola faça parte do Estado atual e nele temos que construir mecanismos para desenvolver ações para consciência da população, acerca das contradições sociais. Assim, a escola e o trabalho são processos de formação mais próximo da classe trabalhadora, para construir uma consciência emancipatória.

A educação para o (MST) possui características bastante diferente da educação tradicional. Para o movimento, a educação não é algo fragmentado socialmente. Ela é um dos espaços de formação e certamente não pode ficar atrelada ao modelo de um sistema de contradição e, sendo assim, o movimento caracteriza que o ensino é voltado para o conhecimento pleno e aberto a todas dimensões, sendo um conhecimento útil voltado para as necessidades humanas.

De fato, a Educação do Campo no estado capixaba tem um caráter muito peculiar, porque é uma educação que foi forjada nas comunidades do campesinato, pensada exclusivamente para fortalecer a permaneça da família no campo, tendo na dignidade e sua autonomia nos meios de produção. Assim, a educação possui mecanismos de organização que oferece um ensino concreto para os estudantes, e

não abstrato como é praticado nas escolas do ensino tradicional. Porém, as metodologias das concepções pedagógicas e os conteúdos curriculares são procedimentos educacionais que valorizam a cultura e o trabalho dos camponeses, dando à educação um espaço de divulgação e de aprendizagem no cotidiano do campo.

Nesse sentido,

A educação do campo constitui-se como luta social pelo acesso dos trabalhadores do campo à educação (e não a qualquer educação) feita por eles mesmos e não apenas em seu nome. A educação do Campo não é para nem apenas com, mais sim, dos camponeses, expressão legítima de uma pedagogia do oprimido. (CALDART, 2012, p. 261). Em síntese, a educação não deve ser concebida como objeto de capitalização e de empoderamento econômico; antes, o ensino precisa ser algo útil e social aberto a toda população sem nenhuma restrição cultural, racial, ideológica ou econômica. Afinal, a educação liberta homens e mulheres de suas prisões sociais e não pode ser arquitetada como ato excludente.

3.4.2 A origem da concepção de Educação do MST – Espírito Santo e a