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A FORMAÇÃO DE EDUCADORES DO CAMPO

QUADRO IV – DISCIPLINAS PSICOSSOCIAIS 90 Etapa I (2002.1)

6.   Pedagogia do Movimento (Caldart) Implica a compreensão: do 

Movimento   Social   Popular   (MSP)   como   lugar   de   formação   dos   sujeitos  sociais,   pois   nele   acontecem   processos   de   formação   humana,   e   como  princípio   educativo;   de   que   sujeitos   sociais   se   formam   e   aprendem   a  dinâmica   da   luta   social   organizada   e   de   que   ela   é   a   base   material   deste  processo educativo (na ação ele transforma e se transforma) de que a luta  social que forma os sujeitos é aquela que se produz e reproduz como práxis  revolucionária   da   sociedade   e   da   vida   das   pessoas   (quanto   mais  estranhamento no movimento da história, maior é a formação de sujeitos; de  que o MSP se dá dentro de um processo histórico maior que tem as suas leis  próprias; e que a escola (IEJC), entendida como lugar de formar sujeitos  humanos,   pode   ter   o   MSP   e   o   movimento   da   história   como   princípios  educativos. (ITERRA, 2004a,  p. 17­18, grifos meus).

É   do   seio  da   educação  popular   e   da   educação  socialista  de   onde  partem   as  principais estratégias educacionais, teórico­metodológicas, que constituem este método.  Ambas propostas colocam o ser humano como centro e objetivo do processo de formação  e da transformação social. O trabalho é entendido como fonte de transformação humana e  de sua formação. A educação, espelho de seu mundo é também espaço de contradição  onde a ação humana é essencial. A Pedagogia da Terra está constituída destas matrizes e  de sua própria história de íntima relação com os Movimentos Sociais e as escolas dos  assentamentos. A organicidade desta proposta possibilita a manutenção de uma intensa  troca entre as partes deste vínculo.

A   Pedagogia  da   Terra,  seu   currículo,  está   formada  por   muitas  contribuições  teóricas de autores comprometidos com as classes populares. Como afirma João Pedro  Stédile, muitos são pensadores que foram “esquecidos”  pela classe dominante para que as  gerações atuais não pudessem se apropriar de seu pensamento, de seu exemplo, de suas  reflexões.  Entre  eles  cita  Josué  de  Castro,  Paulo  Freire,  Florestan  Fernandes,  Darcy  Ribeiro, João do Vale, Patativa do Assaré, Câmara Cascudo, Caio Prado Junior, Nelson  Werneck Sodré e outros. Proibiram­nos de conhecê­los, diz Stédile, porque sabem que  seu pensamento e ação são revolucionários no sentido apontado por Marx e Caio Prado 

Junior: de revolucionar as estruturas econômicas e sociais, para que o povo possa se  apropriar coletiva e socialmente dos bens da natureza e das formas de produzir bens,  utilizando­os em favor da melhoria de vida material e cultural (ITERRA, 2003, p.6).

A tarefa dos  intelectuais orgânicos, segundo Gramsci (1978), consiste em dirigir  seu  pensamento  para  a   compreensão  da   realidade,  para  revelar  as   contradições  que  permanecem  ocultas  pela  força  ideológica  e   pelo   poder  repressivo   do  Estado.  Estes  podem e devem oferecer seu trabalho e esforço para promover o direito que os povos têm  de lutar por seus interesses de classe. Para Gramsci (1978, p. 6) 

Todos os homens são intelectuais, poder­se­ia dizer então; mas nem todos os  homens   desempenham   na   sociedade   a   função   de   intelectuais.[...]     Isto  significa  que   se  se  pode   falar  de   intelectuais,  é   impossível  falar   de  não­ intelectuais, porque não existem não­intelectuais. [...] Não existe atividade  humana da qual se possa excluir toda intervenção intelectual, não se pode  separar o homo faber do homo sapiens. Em suma, todo homem, fora de sua  profissão,   desenvolve   uma   atividade   intelectual   qualquer,   ou   seja,   é   um  “filósofo”,  um artista, um homem de gosto, participa de uma  concepção do  mundo, possui uma linha consciente de conduta moral, contribui assim para  manter ou para modificar uma concepção do  mundo, isto é, para promover  novas maneiras de pensar (GRAMSCI, 1978, p 7).

Gramsci chama de orgânicos aqueles que representam as idéias, a ideologia e os  interesses   específicos  de   seu   grupo.   Para   promover   novas   maneiras   de   pensar,   o  intelectual orgânico, difunde idéias de acordo com a visão de mundo de sua classe. Porém  –  afirma ­, a força expansiva, a influência histórica de uma nação, não pode ser medida  pela intervenção individual de pessoas singulares, mas pelo fato de que estas pessoas  singulares expressem consciente e organicamente um bloco social nacional (Op. cit.,1978,  p. 67). Assim, o pensamento contra­hegemônico necessita forjar­se também no interior da  Educação Pública, única possibilidade de acesso à educação para as classes populares.  Florestan Fernandes, (1989, p.144), em seu artigo O PT e a Educação,  pergunta­se sobre  a educação numa sociedade dividida em classes sociais.  De fato o que é educar para a liberdade? Seria possível, em uma sociedade de  classes, educar para a liberdade? Permitiria o capitalismo liberar o pobre e o  trabalhador, de um lado, a escola e o professor, de outro, para que estes  processos pedagógicos “educar  para a liberdade”  se tornasse uma realidade?  Por onde passaria, nesse caso, a educação dos educadores para que “educar   para a liberdade”  pudesse concretizar­se?

Qual é o papel do  intelectual orgânico  e suas possibilidades dentro da escola  formal? Para o autor, questionamentos como este tem o sentido de assinalar “o s limites da  educação dentro de uma civilização industrial capitalista”  (FERNANDES, 1989, p.145). 

Em um esforço sistemático para compreender a realidade e denunciar suas contradições,  Florestan Fernandes dizia que: “Se  o educador não quiser ser como o economista, um  ‘sacerdote  da  burguesia’,   ele  precisa  colocar­se  objetivamente   diante   dos   papéis   que  desempenha  em   um   sistema   que   é   formalmente  democrático,  mas   substantivamente  restringe a democracia [...]”  (Op. cit., p. 145). Uma educação que interesse às classes  trabalhadoras seria aquela que impeça que 

a   personalidade   dos   estudantes,   filhos   da   classe   trabalhadora,   fique  deformada   ou   adestrada   como   correias   de   transmissão   de   uma   máquina  operada a distância. [...] é preciso criar ‘elos’  que libertem o trabalhador da  opressão, da condição de oprimido, de modo que o proletário possa ter uma  relação libertária, crítica e revolucionária com a sua situação de existência  material, social e moral (Op. cit., p. 145).

Adverte o mesmo autor que esta revolução “jamais  poderá ser praticada através da  constituição  e da  lei   ordinária, porque  ambos fazem parte  do  sistema  de dominação  social”  (FERNANDES, 1989, p.149). Portanto, ele aponta o limite da escola formal e  assinala para o MST, tanto os limites do projeto de educação do campo dentro do âmbito  institucional, como a tarefa dos movimentos sociais, de atuação e resistência neste mesmo  marco. Ou ainda, segundo Gramsci, “se  se quiser criar uma nova camada de intelectuais,  chegando às mais altas especializações, própria de um grupo [...], será preciso superar  dificuldades inauditas.”  (1978, p. 139).  2.6.1 –  Pedagogia do Oprimido. Voltando a tratar das matrizes, e tratando ainda de intelectuais orgânicos, por sua  predominância e relevância para a noção de formação humana presente na Pedagogia da  Terra, trago Paulo Freire e algumas de suas contribuições. Suas propostas partem de um  entendimento de educação que abrange o sistema, a escola, o educador/a e por fim o  educando/a, alertando para o fato de que não é possível concebê­los separadamente. Destaca­se em seu trabalho, entre outras coisas, seu Método de Alfabetização de  Adultos, uma experiência que partia da realidade do alfabetizando e que impactou a  educação popular122  no Brasil (ANCA, 2002, p. 9).   Sua forma de ver a educação, de 

122 Em 1964 estava prevista a instalação de 20 mil Círculos de Cultura para dois milhões de analfabetos.  Experiências como estas acabaram por levá­lo à prisão, acusado de comunista e por exilado durante 16  anos (ANCA, 2002, p. 9).

entender o ser humano e sua formação conformam os fundamentos desta Pedagogia. Sua  contribuição para a educação foi 1. Uma profunda crença na pessoa humana e na sua capacidade de educar­se  como sujeito da história. 2. Uma postura política firme, [...] a capacidade de  sonhar [...] e a humildade de quem sabe que nenhuma obra grandiosa se faz  sozinho, e que é preciso continuar aprendendo sempre. 3. Um jeito do povo  se educar para transformar a realidade. Uma pedagogia que valoriza o saber  do povo, ao mesmo tempo em que o desafia a saber sempre mais. 4. Uma  preocupação   especial   com   a   superação   do   analfabetismo   e   com   uma  pedagogia que alfabetize o povo para ler o mundo. (ANCA, 2002, p. 11). Segundo Fiori (2004, p. 10), a pedagogia de Freire tem como idéia animadora toda  a amplitude humana da “educação  como prática de liberdade”,  o que, em regime de  dominação,  só   se   pode   produzir  e   desenvolver   na   dinâmica   de   uma   pedagogia   do  oprimido. Em seu livro  Pedagogia da Esperança  (2003), Paulo Freire reafirma seus  princípios e avalia seu trabalho, a partir de críticas feitas a seu livro  Pedagogia do 

Oprimido (2004). Como intelectual orgânico das classes populares afirma que “ainda  e 

possivelmente por muito tempo, não é possível entender a história sem as classes sociais,  sem   seus  interesses  em  choque”.   (FREIRE,  2003,  p.   91)123.   Como  costumava  dizer, 

“l ibertando­se, os oprimidos podem libertar os opressores”  (FREIRE, 1993, p. 97). 

Ao tratar do educador/a, o autor alerta que, ­ e esta é uma noção bastante presente  na   Pedagogia  do   Movimento   ­,   quando   este   se   especializa   em   apenas   transmitir  conteúdos, perde algumas qualidades necessárias para o trabalho pedagógico, que é a  ação,  a   reflexão  crítica,  a   curiosidade,  o   questionamento  exigente,   a   inquietação,  a  incerteza. O ato de conhecer pode também, muitas vezes, se deter no outro pólo, ou seja,  o de reduzir a análise da realidade à observação do fato pretensamente objetivo, sem  submetê­lo a um olhar crítico, sem estabelecer conexões com o que já foi produzido por  outros autores. O lugar de partida para a relação do aluno com o conhecimento é o lugar  onde ele se encontra para dali seguir por outros caminhos. Encontramos também em seu  trabalho esta posição sobre a relação com o conhecimento. Quando separamos o produzir conhecimento do conhecer o conhecimento  existente, as escolas se transformam facilmente em espaços para a venda de  conhecimento, o que corresponde à ideologia capitalista. A pesquisa separada  do   ensino   está   fragmentando   o   processo   de   aprendizagem.   Ao   nível   de  universidade,   há   os   professores   que   ensinam   e   os   que   pesquisam   e   isto 

123  Esta noção de Paulo Freire se diferencia da noção de luta de classe presente nos documentos do  Movimento. (ver contradição interna).

implica uma separação que impede que o processo de ensino aprendizagem  seja completo (FREIRE, 1997, p.19). Concordo com o autor, que especificamente na formação de educadores/as, a nível  universitário, é necessária a tradicional unidade entre pesquisa e ensino, envolvendo o  professor e estudante.  Freire dirige ainda sua crítica ao professor da escola fundamental, destacando  falhas tanto em sua formação como em seu método. Segundo o autor, há necessidade de  uma   relação   mais   clara   e   elaborada  com   o   conhecimento,   do   que   a   que   se   tem  habitualmente   na   escola,  afirma   Freire   (1997),   pois,   tradicionalmente  um   professor  libertador que não empurre o conhecimento goela abaixo dos alunos é um professor que  gera desconfiança. Portanto, não é tão simples a formulação deste modelo. “Não  é que  sejamos contra a disciplina intelectual. Ela é absolutamente indispensável”  (FREIRE,  1997, p. 22) comenta o autor. Ler, para ele é reescrever o que se está lendo. Paulo Freire  potencializa o trabalho do professor em todas as suas dimensões, enfatizando o método  como meio para chegar ao conteúdo necessário para aprendizagem.  A pedagogia de Freire (1987, p. 126) propõe a abertura para o diálogo com o  educando. Vale destacar que a valorização do aluno é também uma característica da  Escola Nova que exerceu forte influência no pensamento psicológico educacional, que  reforçou uma certa psicologização da educação, como veremos no capítulo III. Freire  defende a valorização do educando em nome da politicidade do ato educativo: não existe  educação neutra para ele. A proposta pedagógica freireana coloca o contexto social como  fonte do "conteúdo"  a ser trabalhado pelo educador. E é este conteúdo que deve se  desenvolver   em   direção   à   teoria.   A   prática   educativa   será   mais   eficaz   quando,  possibilitando  ao   educando/a   os   conhecimentos  fundamentais   do   campo   em   que   se  formam,  os  desafie  a  construir  uma  compreensão  crítica  de  sua  presença  no  mundo  (FREIRE, 2000, p. 92).

O  segundo princípio do método  freireano  diz  respeito  à dialogicidade  do  ato  educativo (FEITOSA, 1999). Sendo assim, para Freire a relação pedagógica necessita ser,  acima   de   tudo,   uma   relação  dialógica.  Essa   premissa   está   presente  no   método   em  diferentes situações: entre educador e educando, entre educando, educador e o objeto do  conhecimento, ou seja, entre natureza e cultura. Nos "Círculos Populares de Cultura"  propostos por Paulo Freire as salas de aula transformaram­se em fóruns de debate. Neles  os alfabetizandos aprendiam a ler as letras e o mundo e a escrever a palavra e também a  sua própria história A atitude dialógica é, antes de tudo, uma atitude de amor, humildade 

e fé nos homens, no seu poder de fazer e de refazer, de criar e de recriar (FREIRE, 1987,  p.81).

O trabalho de Freire propiciou a formulação de uma proposta educacional dirigida  aos  trabalhadores.  Poderíamos   dizer,  conforme  Ribeiro  (2005,  p.203),  que  o   projeto  pedagógico   do   MST124  parece   ter   suas   raízes   nas   experiências   do   socialismo 

revolucionário e encontrar grande parte de sua direção pedagógica nos trabalhos de Paulo  Freire.  Sua  influência,  portanto,   na  proposta  da  Pedagogia  da  Terra,  está   na  ênfase  teórico/metodológica,  na   medida   em   que   problematiza  a   relação  educador/educando,  ensino/aprendizagem, e é também filosófica, pois supõe uma concepção de ser humano  histórico.  2.6.2 –  A Pedagogia Socialista A pedagogia do MST está fundamentada, também, na pedagogia socialista, no  entanto um projeto de escola socialista somente poderá existir em uma sociedade sem  classes. Neste sentido, a ocupação da escola em uma sociedade classista se dará sempre  em forma de confronto entre o projeto social popular e o projeto hegemônico. A formação  integral socialista surge primeiramente nas propostas de Marx e Engels, no Manifesto do 

Partido   Comunista  (s/d   e   de   Marx,   em  Crítica   a   el   Programa   de   Gotha,   1979), 

relacionada à educação pública e ao trabalho infantil (RIBEIRO, 2005, p. 213). Segundo a  autora essas são propostas feitas no século XIX, no calor dos movimentos operários de  1848 e da formação da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT ­1864). 

Gramsci, por sua vez, estuda a escola tradicional e observa com desconfiança a  Escola Nova, avaliando detalhadamente as características de ambas. Valoriza na escola  tradicional o que ele chamou de educação “desin teressada”,  pois ensinava “não  para uso e  necessidade imediatos e sim para assimilar valores éticos­morais”  (NOSELLA, 1992, p.  108).   Com   esta   compreensão  ele   propõe   a   superação  da   escola   profissionalizante  tradicional,  baseada  no   caráter  unilateral  da   divisão  do   trabalho,  por  uma  formação 

omnilateral, que, numa concepção socialista de escola, teria seu caráter profissionalizante 

somente no 3º grau. Esta proposta foi elaborada por Gramsci, nos anos de 1920, como  uma contribuição ao Partido Comunista Italiano, caso este chegasse ao governo. Segundo 

124 Aspectos específico da influência de Paulo Freire na experiência pedagógica do MST também podem  ser encontrados em Andreatta (2005).

Machado (1989), em seu estudo sobre a escola unitária, na tradição marxista e nos aportes  de   Lênin   e   Gramsci,   os   elementos   caracterizadores  de   uma   terceira  corrente.  Esta  contribuição se baseia no pressuposto de que a unificação somente é possível quando  forem suprimidas as causas que originam as diferenciações; o alcance destes objetivos  depende da solução das contradições que constituem as amarras ao desenvolvimento da  sociedade125. A Revolução que criou a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a partir da  Revolução Bolchevique de 1917, foi berço de muitas experiências inovadoras no campo  das artes, da ciência, da educação, favorecendo a pesquisa nas mais diversas áreas. Estas  experiências,  porém,   se   concretizaram  em   meio   aos   conflitos   da   guerra  civil.   Para  construir um novo processo os revolucionários não enfrentavam somente a resistência da  burguesia burocratizada. A educação do “home m novo”  foi acompanhada de dificuldades  materiais, da fome, devido à sabotagem de grupos que não apoiavam a revolução, e da  falta de preparo dos militantes para a formulação dos passos necessários para esta tarefa.  Mesmo assim, grandes educadores desta época destacam­se, como Makarenko e Pistrak,  cujos trabalhos e contribuições para a educação têm sido mais estudados pelo MST e  compõem parte de sua proposta pedagógica. 

Tem,  bastante   de   Paulo   Freire,   tem   Josué   de   Castro,   tem   Florestan  Fernandes, tem outros que também passaram, que contribuem nos processos  de formação humana e que estão colocados aqui.[...] aqui se estuda Rosa  Luxemburgo, Che Guevara, tantos outros se estuda também. Mas, em termos  pedagógicos,  metodológicos,  de   proposta  educacional,  [...]   pra  mim,   eles  bebem   muito   profundamente   é   do   Makarenko   e   do   Pistrak  (Entrevista,  Educadora S. 02/06/2006). Conforme esta educadora, já em 1990 vários autores, além dos brasileiros, tanto  pedagogos, como psicólogos, eram estudados nos cursos de formação do Movimento. Ela  relata sua experiência em Braga/RS e relembra: Eu sempre gostei de trabalhar com eles.  Na verdade quando a gente trabalha  com eles, não pode ser sectário, tipo eu vou pegar esse autor e usar só esse, eu   sempre   costumo  fazer   um   contraponto,  por   exemplo:  quando  trabalho  a  psicologia da criança, eu gosto de mostrar pra eles qual é a diferença que  tem,[...]   entre   Piaget   e   Vygotski.   Onde   os   dois   se   diferenciam,   onde   se 

125 Existe, porém, uma unificação proposta pela escola burguesa, que, por sua vez, surge no século XIX  para fortalecer a luta do Estado contra a Igreja no domínio sobre a educação e pela unidade nacional. No  Brasil isto ocorreu no início do século XX. “Marx  e Engels vinculavam esta centralização política à luta  da burguesia de sujeição de toda a sociedade do campo e da cidade ao seu comando, como decorrência da  centralização e concentração dos meios de produção em suas mãos” (MACHADO,  1989, p. 47).

aproximam, onde se distanciam, porque que eu particularmente sempre digo  que eu gosto do Vigotsky né, então eu procuro levar o Vigotsky, o Luria, o   Leontiev. Naquela época, que era bem difícil de conseguir as coisas, que não  tinha... Mas aqui a gentia ia conversando com um com outro, a primeiro que  tinha era aquele livro [...] Formação social da mente, mas a gente tinha que  ler   mais   de   uma   vez   porque  eu   achei   muito   difícil  naquela  época,   pra  entender,   mas   procurava   já   levar.   Gostava  de   trabalhar  um   pouco  com  Rogers,  também  levava  coisas  de   Jung,  de  Freud,   dava  uma  visão  geral,  procurava   trabalhar   diferentes   escolas,   como   é   que   as   escolas   se  apresentavam,  como  elas  eram   aceitas,  quem  as  utilizavam  e   também  na  própria União Soviética né, no tempo da revolução(Entrevista, Educadora S.  02/06/2006). Este relato indica o esforço de oferecer, para os cursos formais, um conteúdo rico,  com diversos autores da psicologia, destacando entre eles aqueles que possibilitassem  uma visão crítica, no âmbito da psicologia. Esta educadora também faz um destaque para  qualidade da formação dos/as educandos/as –  preparados tanto nos cursos de educação  popular quanto na própria militância partidária ­. Afirma que possuíam, naquela época,  um elevado conhecimento teórico e leituras muito profundas sobre a realidade nacional e  internacional.  No   que  se   refere  à   formação  humana  e   pedagógica,  Tragtemberg,  no  prefácio à obra de Pistrak (1981), fala sobre a contribuição destes dois autores. Segundo o  autor, a experiência de Makarenko difere da de Pistrak, pois, desenvolveu­se em espaços  sociais distintos e com populações distintas. Makarenko teria, por esta razão, fundado  uma pedagogia sem escola, que teria nascido das trágicas circunstâncias da Guerra Civil  que gerou milhares de jovens órfãos e, portanto, pouco teria a dizer sobre a escola.  No entanto, como se observa no MST, este autor adquiriu um papel básico na  formulação de sua proposta pedagógica, justamente porque partia do princípio de que é  possível influenciar na transformação humana, de maneira significativa, através da escola.  Como   conta   o   próprio   Makarenko  (1986,   p.10),   depois   de   receber  uma   formação  pedagógica que considerou rudimentar, o mesmo trabalhou vários anos em uma escola  primária, como educador, em sua própria comunidade, o que lhe proporcionou algum  conhecimento   sobre   o   trabalho  pedagógico   e   escolar.  Posteriormente,  ingressou   na  Colônia Gorki onde iniciou seu trabalho com menores, que durou 16 anos.  Makarenko em muitos momentos de seu livro Poemas Pedagógicos (s/d) alude à  importância de seu projeto estar apoiado e comprometido com a construção de um novo  Estado socialista, e a preparação do novo homem. Muito do que logrou em seu trabalho  educativo com as crianças órfãs e delinqüentes se deve às profundas transformações de  seu país e ao clima de esperança reinante. O processo revolucionário adquire grande  importância   para   o   crescimento   e   desenvolvimentos   teórico/prático  do   pensamento  crítico.   A   participação  do   Estado   na   formulação   de   novas   políticas   possibilitou   o 

envolvimento dos mais diversos setores da população no desenvolvimento do projeto  socialista. No entanto, na década de 1930 ocorreram mudanças de rumo na Revolução. A  versão burocratizada do socialismo, dirigida por Stalin, limitou as transformações em  curso. 

A   chamada  pedagogia  socialista   nasce   na   União   das   Repúblicas   Socialistas 

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