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2.7 PEDAGOGIA SIMBÓLICA JUNGUIANA

2.7.1 Pedagogia Simbólica Junguiana: pedagogia da vivência

A convergência cultural do movimento holístico que abriu esse século, com a forte tendência de reunir praticamente todas as áreas do conhecimento, representa um movimento dinâmico de reação à fragmentação e a disciplinarização do saber, buscando resgatar uma visão interdisciplinar de conjunto das diversas atividades humanas. Esse movimento cultural é considerado por Byington (2003) de extrema relevância para o planeta, pois o trauma da separação entre ciência e religião, ocorrido no final do século XVIII, afetou não só a cultura moderna, como também a pedagogia. Nessa dissociação, elevou-se o status do objetivo como sinônimo da verdade, em detrimento do

subjetivo identificado como erro. Assim, a partir da PSJ, é possível identificar a existência de correntes pedagógicas cujas características ora incluem os preceitos morais subjetivos, juntamente com o conhecimento, ora se atêm ao aspecto objetivo, subtraindo assim “[...] a interação subjetivo-objetivo dentro da totalidade existencial e cósmica” (BYINGTON, 2003, p. 20). A PSJ contempla essas duas abordagens, englobando a inter-relação sujeito-objeto. Porém, insere-os no processo da busca pela auto-realização. Assim, propõe um saber iniciático, centrado na elaboração dos símbolos, orientado pela ciência simbólica. A busca está baseada no método científico e torna-se iniciática pela vivência, pois o saber é aprendido e apreendido através do vivido, experienciado.

A proposta da PSJ é resgatar a vivência emocional e prazerosa no ensino, para aprofundar o aprendizado. Está baseada na formação e no desenvolvimento da personalidade, incluindo assim todas as dimensões da vida, a saber: “corpo, natureza, sociedade, ideia, imagem, emoção, palavra, número e comportamento” (BYINGTON, 2003, p 15). A ênfase está na vivência, evocando a imaginação, a fim de reunir o objetivo e o subjetivo dentro da dimensão simbólica, para vivenciar o aprendizado. Transfere, então, o foco tradicionalmente centrado na abstração, na razão, em favor do desenvolvimento da personalidade e da cultura, tornando o aprendizado lúdico, emocional, estimulante e emergente da relação transferencial amorosa entre todos os envolvidos no contexto educativo. Defende a ideia de que “Não se pode ensinar utilizando-se somente o pensamento, a sensação [...]” (BYINGTON, 2008, p. 17), pois se negligencia assim a totalidade do ser, a relação entre o racional e o emocional, deixando-se de lado o potencial psíquico do aprendizado. Acrescenta que “É essa integração existencial da inteligência que situa qualquer vivência do aprender e do saber como algo sempre relativo, porque simbólico, podendo ser dominantemente bom ou mau, criativo ou defensivo, pois tudo isso é parte da ascese à sabedoria” (BYINGTON, 2003, p. 276).

A mensagem principal da PSJ é “quem vivencia não decora”, como ocorre com quem estuda sem vivência, assimilando no nível racional e logo esquecendo. Em suas pesquisas, Byington (2003) constatou que nas teorias pedagógicas e psicológicas a ênfase está no aprendizado racional, frequentemente no nível superficial. Justifica sua assertiva considerando a alta percentagem de esquecimento daquilo que é aprendido. Para o teórico, fazem-se necessárias urgentemente pesquisas de estudos estatísticos que possam apontar essas fragilidades no processo de aprendizagem. Devido à tradição pedagógica, o

procedimento adotado na educação é a repetição na íntegra dos conteúdos repassados pelo professor, idolatrando um ensino sem a vivência profunda e propiciando o esquecimento dos conteúdos. Adicionalmente, identifica outra forma de ensino: construído de forma exclusivamente racional, sem decoreba, mas buscando a verdade pela lógica, ou seja, por meio do qual as pessoas raciocinam e aprendem logicamente. Entretanto, outra forma bem diferente se dá quando se vivencia o aprendizado racional e emocionalmente, com as experiências da vida. Ratifica o teórico que “[...] o principal fator que separa a erudição da sabedoria é a vivência e a compreensão da sua função no processo existencial” (BYINGTON, 2003, p. 19).

Na compreensão de Furlanetto (2010), os sujeitos decodificam o mundo físico não apenas formulando conceitos pautados na razão, mas atribuindo sentidos para o que experimentam e vêem. Atribuir sentido é algo que não se dá apenas no plano da consciência, mas inclui aspectos inconscientes e requer não só a utilização da razão, mas de outras funções psíquicas, como a intuição, a emoção e a imaginação.

Nessa direção, o arcabouço teórico defendido por Byington (2003) é um referencial pedagógico que busca inter-relacionar ao mesmo tempo aprendizado, utilidade, trabalho e fontes de produção com os conteúdos ensinados, relacionando-os simbolicamente com a totalidade da vida. Portanto, uma concepção pedagógica centrada no “[...] processo emocional, cognitivo e existencial do indivíduo, da cultura, do Planeta e do Cosmos” (BYINGTON, 2003, p. 15). Para Furlanetto (1997, p. 94), “a relação que o indivíduo estabelece com o conhecimento percorre o mesmo caminho que as outras relações estabelecidas por ele, com pessoas e objetos”.

A matriz cultural da PSJ enraíza-se nas obras de Piaget, Neumann, Freud, Melanie Klein, Heidegger, Teilhard de Chardin e, principalmente, de Carl Jung, cuja dimensão simbólica, inspiradora da obra de Jung, levou Byington a denominar sua teoria de Junguiana (BYINGTON, 2003). Segundo Byington (2003), existem muitas aproximações de seu estudo com as demais abordagens da pedagogia moderna, pois quase todas identificam e buscam ultrapassar as limitações tradicionais de conceber o aprendizado, ou seja, o excesso de verbalismo, a dissociação entre o aprendido e o vivido, e, essencialmente, a separação entre sujeito e objeto. O pesquisador ressalta a estreita relação de sua abordagem com as contribuições Piagetianas. Entretanto, identifica uma diferença de natureza metodológica: a perspectiva de Piaget tem uma influência dominante da psicologia comportamental e cognitiva, com ênfase nas funções

pensamento, sensação e atitude extrovertida. Por outro lado, a PSJ desenvolve-se com as quatro funções da consciência – pensamento, sensação, sentimento e intuição, além de duas atitudes: extroversão e introversão. Nessa perspectiva, o ensino vale-se do potencial psíquico no aprendizado e não apenas de uma parte, residindo nesse aspecto a diferença entre “a inteligência do Ego e a inteligência do Self” (BYINGTON, 2003, p. 71). Outra convergência conceitual se dá com a concepção da pedagogia social participativa de Freire e, igualmente, com a abordagem imaginativa de Monteiro Lobato.

2.7.2 Conceitos norteadores da Pedagogia Simbólica Junguiana

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