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A escola onde Pedro Henrique trabalha segue o sistema de ciclagem e desenvolve temas, e, segundo Pedro Henrique, a turma em foco é diferenciada. Nesta

classe, ele é “professor-referência” (responsável pela turma) e ministra aulas não apenas de inglês, mas também de português. Para ele, essa “turma é maravilhosa”.

Na descrição que Pedro Henrique faz de sua aula, ele apresenta os objetivos da aula em termos do conteúdo gramatical e lexical, e o texto é usado como pretexto para o ensino gramatical e lexical:

[2] Bom, meu objetivo nessa aula foi trabalhar as countries and nationalities e começar a trabalhar com eles também a questão do I am, you are, he is, mas eu não queria começar a trabalhar o verbo to be na gramática. Eu queria trabalhar de uma forma disfarçada. Então, achei interessante trabalhar as nacionalidades, porque tinha um texto [tirado do livro Steps]. Eu achei esse texto interessante. Trabalharia também o áudio, que tem a fita, e acho que foi legal. A aula foi legal. [...]. Nessa aula, num primeiro momento, teve a exploração do vocabulário. Então eu coloquei no quadro uma gravura do mundo e tentei “elicitar” deles os países que a gente poderia tirar ali de dentro daquele mundo. Aí, depois, eu pedi que eles repetissem os nomes dos países e aí eu peguei e coloquei no quadro “where are you from?” e exemplifiquei para eles “I am from Brazil”. Eu mostrei uma figura para eles também de umas crianças. Aí, nessa figura, eles iriam me dizer de onde essas crianças eram. Aí tinha uma menina da Inglaterra, do Japão, do Brasil, do México. Nessa parte da aula, eles é que me falaram os países, de acordo com o

brainstorm que estava no quadro, que eles tinham visto, eles me deram o nome dos

países. Depois, eu comecei a trabalhar com eles, inclusive eu enfatizei bastante a pergunta “where are you from?”, para ficar bem gravado mesmo e “I am from...” e aí o lugar [de] onde os meninos eram. Eu mostrei a gravura e falei: “Bom, esse menino aqui, se a gente perguntasse para ele “where are you from?”, como é que ele responderia, “I

am from...?”. E aí eles começaram a me falar. Depois disso, eu trabalhei mais um

pouquinho sobre a pergunta e a resposta. Pedi alguns voluntários que fossem ao quadro e dei para cada aluno uma figurinha mostrando uma nacionalidade. Aí, a sala perguntava:

“Where are you from?”. Aí cada um ia falando “I am from...” de acordo com a figurinha

que eles tinham em mãos Depois, eu pedi que eles se sentassem e eu passei o texto, mas antes de eu passar o texto, eu passei a fita, porque eu acho que eu pequei nessa aula ao escrever “where are you from?” no quadro antes de praticar com eles, porque aí há aquele vício da linguagem: eles vêem “I” escrito no quadro e eles pensam que é /i/, /i/ am

from...” E toda hora eu tinha que mostrar para eles que não é /i/, é /ai/. Então, aí eu já

tive esse cuidado, antes de eu passar o texto para eles, eu passei a fita. Pedi que eles repetissem. A gente trabalhou bastante. Aí depois eu passei o texto para eles, a gente trabalhou mais um pouquinho com o texto, pedi que os meninos repetissem o American

Boy e as meninas repetissem a Brazilian girl. Depois eu fiz um monitoramento com eles,

eu falava e eles repetiam. Depois, eles fizeram sozinhos e depois um monitoramento individual, em pares, e eles praticaram o diálogo. Aí como faltavam alguns minutos, para fechar a aula, eu passei algumas perguntinhas em relação ao texto no quadro. O que eu senti nessa aula é que apesar deles estarem nervosos, tanto eles quanto o professor ((risos)), eu senti que o que eu queria passar para eles eu passei. Eles pegaram, não tudo, mas “where are you from?”, nomes de alguns países, thank you, beautiful name... [...]. Eu me senti muito bem nessa aula.

Como se pode notar no final da descrição, Pedro Henrique avalia sua aula positivamente, avaliação essa que não corresponde à compreensão do grupo sobre a aula. Jonas inicia sua fala também fazendo uma avaliação positiva da aula, porque, segundo ele, Pedro Henrique soube utilizar os recursos didáticos (textos, figuras, fotos dos países, fita), usou adequadamente a voz, os gestos e as mímicas, promoveu “drills,

pair work e diálogos”, os alunos tiveram que se apresentar lá na frente, ou seja, ele usou

“reading, listening, speaking e, em casa, os alunos iam treinar o writing”. No entanto, apesar disso, Jonas chama a atenção para o aspecto da aprendizagem, fundamentando-se nas entrevistas realizadas com cinco alunos após a aula:

[3]

[...]. Nós somos profissionais, nós sabemos dar aula de inglês, isso aí ninguém nega. Nós podemos escolher qualquer tema, qualquer parte da estrutura da língua que a aula é um show. Mas será que o aluno aprendeu? O que todos os alunos aprenderam? Você dá aquela aula legal, igual foi essa, depois no final da aula você pergunta: “O que você aprendeu?” “Ah, não sei, isso eu não decorei, não”.“Ah, eu esqueci”. Então, [...] nós, professores de inglês, nós ficamos frustrados: “Pô, mas eu preparei tudo e o aluno não aprende!”

Também nas anotações da pesquisadora feitas após a aula, salientou-se que dos três estágios de uma aula comunicativa – “apresentação”, “prática” e “produção” (Matthews, Spratt e Dangerfield, 1985) –, os dois primeiros foram bem realizados tecnicamente, mas, no estágio de produção, os alunos não produziram a língua livremente. Na verdade, o que eles fizeram foi ler o diálogo do texto.

Depois de algumas falas do grupo, Pedro Henrique também reconhece que, do ponto de vista da aprendizagem, a aula “ficou um pouco a desejar”, mas questiona a validade das entrevistas com os alunos:

[4] [...], where are you from? e what’s your name? eu estou trabalhando com eles desde o começo do ano. Eu dei até uma música para eles, acho que vocês conhecem. Fala assim,

“what’s your name?, how do you do?, what’s your address?, I’d like to say hello.” [...].

E parece que eu não vi na entrevista, what’s your name? [Ana Clara diz que eles mencionaram essa frase] Eles falaram, então? Mas, às vezes, eles até sabem, mas eles não falam. É uma incógnita, não sei.

Como se percebe, os alunos mencionaram “What’s your name?”, mas nenhum dos alunos disse que aprendeu “Where are you from?”. Esse fato é mesmo intrigante, uma vez que a repetição dessa estrutura ocupou grande parte da aula.

Desse modo, pode-se dizer que Pedro Henrique, quando descreve sua aula, não demonstra ter uma compreensão mais ampla do que realmente aconteceu em sala, o que as discussões no grupo puderam lhe mostrar, ou seja, a necessidade de considerar os efeitos que o processo de ensino tem sobre os alunos. Esses efeitos podem ser um indício de que as atividades realizadas em sala não foram tão eficazes quanto parecem ter sido.

Concluindo, a descrição de Pedro Henrique limitou-se às atividades realizadas (perspectiva curricular) e configurou-se em nível micro. E, na reflexão interativa, a avaliação positiva que Pedro Henrique faz de sua aula é questionada quando se consideram as entrevistas com os alunos, permitindo-lhe rever sua primeira avaliação.

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